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sábado, 21 de novembro de 2009

ORIXÁ, O ANCESTRAL DO FUTURO

ANCESTRAL DO FUTURO


-"Para a maioria dos ocidentais que buscam entender e se beneficiar de práticas religiosas que, em sua maior parte, perderam-se após a Revolução Industrial e Cartesiana, é uma armadilha fácil pensar que Sabedoria Mística é coisa dos Antigos. Outra armadilha mais fácil ainda é pensar que só se identificando ou achando os textos, as orações, os oferecimentos em suas formas e linguagem absolutamente originais, nós poderemos esperar reproduzir os resultados místicos que eram comuns entre povos que viveram à milhares de anos atrás. Pensar e agir assim é, realmente, uma armadilha e significa enveredar por uma rua de mão única em direção a um destino inatingível! Esta armadilha é armada por preconceitos culturais e por aqueles que precisam se sentir "melhor" do que os outros membros da raça humana"-.

(Baba Ola Olu / Philip Neimark, em março/1998)


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A Armadilha do Tempo Passado

Desde cedo, eu experimentei junto a mim a "presença" do Orisa Orunmila, ao qual hoje sou devotado. Mas, sentia-me confuso quanto a isso especialmente quando me achava entre espiritualistas meus confrades e com eles discutia a essência de nossa própria forma de louvação bem brasileira aos Orixás: a Umbanda Esotérica.
Freqüentemente, nesses momentos, quando eu respeitosamente questionava meus maiores com relação às origens de certos rituais dos Orixás cultuados na Umbanda Esotérica, paradoxalmente eu esbarrava em um forte preconceito cultural anti-africano, o qual classificava tais origens pejorativamente como "africanismo" e que era mais sucintamente expressado pelo pensamento de que os conhecimentos africanos estavam 300 anos fora de sintonia e que, agora, éramos "nós" os que atualmente detinham os reais segredos do poder místico.
E a origem desta minha interrogação era que o nome do Orisa Orunmila Ifa não estava incluído dentre os sete nomes principais que atribuíamos aos Orixás Ancestrais na Umbanda Esotérica: Oxalá, Ogum, Oxossi, Xango, Yemanjá, Yori e Yorimá.
Tal relação de nomes hierárquicos era a honrada convicção daquele grupo a aquele tempo e tudo em nome de uma Sabedoria que consideravam mais antiga ainda do que a Africana: a Sabedoria Esotérica. Eu acabava por me conformar com tal "convicção", mas sentia-me um prisioneiro no quarto fechado do conhecimento alheio. Um dia rebelei-me espiritualmente contra tudo e todos! Decidi iniciar minha própria jornada à procura de conhecimentos, mas não tinha parâmetros definidos.
Eu só tinha dúvidas que me atormentavam:

Por que um Orisa que não era cultuado na Umbanda Esotérica "gritava" em minha cabeça tradições que não eram as de meus ancestrais raciais?
Por que um adivinho que não era da religião afro-brasileira, afirmara que eu era um Babatunde (um Pai que retornou), sem que nenhum de nós dois soubéssemos, à aquela época, o que tal palavra significava?
Por que uma Entidade Espiritual da Umbanda, insistia que eu fosse submergido na Eerupee, a Lama, quando nenhum de meus mestres conhecia um tal ritual?
Então, em minha jornada que pensei solitária, pois, na verdade, eu estava sendo guiado por mestres espirituais desencarnados, deparei-me novamente com um aforisma esotérico que antes me parecia banal: conhece a ti mesmo!
E, desta vez, fez-se luz em minha mente: como eu poderia conhecer o mistério dos Orixás se eu não havia ainda decifrado o enigma de mim mesmo?
A reflexão sobre este ponto fez-me assumir o problema de minha própria alteridade bem brasileira: se eu acreditava na reencarnação, tinha que assumir que dentro de mim eu carregava as marcas do destino de meus antepassados índios espoliados, de negros escravizados e de brancos opressores! No entanto, eu aceitara como verdadeira a supremacia da herança espiritual helena-semítica, consubstanciada na Sabedoria Esotérica, em detrimento de todas as outras.
E esta minha jornada à procura de conhecimentos levou-me a explorar, descobrir e assimilar as convicções de raiz das etnias africanas Bantu e Sudanesa, bem como também as convicções de raiz da raça Tupi-Guarani brasileira e as dos Egípcio-Heleno-Semita que realmente compõem os Três Pilares da Umbanda Esotérica, constituindo-se na Filosofia das Forças Vitais da Natureza.
E, assim, eu que já era um Mestre de Linha da Umbanda, forjei-me também em Babalawo, Pajé e Místico Esotérico!
Foi então que pude preencher a lacuna da existência do Orisa Orunmila Ifa na Umbanda Esotérica por compreender que sob a denominação de "Yorimá", o qual, neste credo, é "patrono" da Falange dos "Pretos-velhos", primeiramente existia a figura do Orisa Obaluaiye, o Senhor da Terra da Vida, e, acima dele, a do Orisa Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos.
Da mesma forma, a denominação "Yori" atribuída à Falange das "Crianças" da Umbanda e cujos "patronos" são São Cosme e São Damião, havia eclipsado os Gêmeos Sagrados Ibeji, chamados Taiwo e Kehinde! Também os Ere e os Tobossi africanos haviam sido sincretizados no terceiro gêmeo africano - Idowu - aquele que, na Umbanda, é conhecido por "Doum"!
Axé! Eu havia realizado minha própria síntese esotérica!
A partir dessa síntese, confirmei a mim próprio o que já presentia: que em termos de Umbanda Esotérica, as denominações Tupan, Zambi, Olorun e Jeovah são nomes diferentes nos quais diferentes raças expressam o mesmo conceito de Deus Único, Onipotente e Onipresente!
E quer os chamemos por Guaracy, Yacy e Rudá - Xangô, Yemanjá e Yori - São Gerônimo, N.S. da Conceição e São Cosme e São Damião, todos são Seres Espirituais de Origem Divina para os que assim os chamam e que todos eles, incluídos os demais restantes, eu posso agrupar sob a denominação genérica e atual de Orixás Ancestrais, sem com isso estar ofendendo, por diminuir ou engrandecer, nenhuma corrente religiosa. O ponto de semelhança entre eles é inquestionável em sua grandeza: Deus!
Passou-se o tempo e, nos dias atuais, eu esperava que todos nós praticantes da Filosofia das Forças Vitais da Natureza já tivéssemos crescido em conhecimentos e que, após 30 anos, pudéssemos enfocar as semelhanças básicas daquilo em que cada um acredita e desta forma ter respeito pelas diferenças críticas em nossas práticas religiosas individuais.
Mas, a pouco tempo atrás, eu senti, melhor dizendo, eu li, nas palavras de um Ifa Babalawo altamente educado e respeitado, missionário africano baseado na Califórnia - EUA, quase o mesmo antigo preconceito cultural que havia tentado me enjaular no passado, só que em sentido inteiramente oposto.
Em sua honrada convicção, ele generosamente estendia sua mão aos descendentes daqueles que haviam sido exilados de suas pátrias pela diáspora da escravidão, expressando em forma de parábola a convicção de que o conhecimento místico atual das religiões de origem Afro, na América do Norte e América Latina, era como "águas barrentas": este conhecimento místico tinha tido seu valor na sustentação da crença nos Awon Orisa no período de provações, mas agora era dispensável porque, através daquele que assim se expressava e de seus confrades, todos poderiam beber a "água límpida" da Antiga Sabedoria Africana.
Esta é a honrada e generosa convicção daquele Babalawo e seus confrades. Mas, após quase 400 anos de sangue, suor e lágrimas para ter o direito de expressar livremente nossas crenças religiosas neste Brasil, não pude aceitar a implicação, subentendida em suas palavras, de que as convicções de cunho exclusivamente africano são as únicas de real valor ou sabedoria.
E, então, meditando sobre todos esses desencontros espirituais, passados e presentes, operou-se em mim nova síntese suplementar: eu resolvi, sem abrir mão dos títulos de Mestre Itaoman e o de Babalawo Babatunde por mim conquistados na Umbanda Esotérica, adotar os simples nomes espirituais de Oberefun Si Okojumide (Yoruba) e Piron (Tupi-Guarani) e que me foram outorgados e mandados usar por meus Mestres Espirituais como sêlos de proteção e penhor de perdão alcançado por meus erros passados, através de meus méritos passados, presentes e futuros.
O primeiro nome - o africano - me foi revelado num Jogo de Búzios por um "Preto Velho", Pai Vicente de Angola (etnia Bantu), mas é expresso em Yoruba (etnia Sudanesa) significando "Aquele que rezava para o navio aportar logo", tamanho fôra seu sofrimento e horror a bordo do navio negreiro, horror e sofrimento estes que foram comuns a todos na Diáspora.
Louvo aqui àquele Babalawo que "A da Ifa fun" ou "criou Ifá para mim" naquele Jogo de Búzios, o mais correto e imparcial que já ví em toda minha vida.
O segundo deles - o indígena - significando "Falcão", revelou-me diretamente meu Mestre Xamânico Espiritual Caboclo Pedra Preta, em uma visão astral na contra-partida espiritual de nossa Cachoeira Sagrada na "Terra da Pedra da Cruz de Fogo", que é o que significa o topônimo "Itacuruçá", cidade berço e sede da T.U.O. - Tenda Umbandísta Oriental aonde pontificou meu Mestre Yapacani na Corrente das Santas Almas Benditas do Cruzeiro Divino.
Adotei-os porque eles representam a angústia e o desespêro, mas também toda esperança daqueles que tiveram de fazer a longa travessia do oceano para serem escravizados em terras estranhas e aí aprender e aceitar as individualidades religiosas ancestrais de cada grupo étnico já aqui existentes, também massacrados e espoliados de seus direitos, mesclando seus conceitos espirituais em uma nova forma religiosa momentânea que lhes desse um ponto de resistência comum, transformando-a assim em semente de sobrevivência espiritual para seus descendentes.
E assim o fiz porque senti que em ambos os casos anteriormente relatados, separados por quase 30 anos, a fraqueza humana que precisa sentir que o seu próprio modo é o melhor ou o único modo, diminui o potencial do Mana, da Benção, da Mandinga e do Axé de todas as Divindades, porque exclui o conhecimento ou a sabedoria de qualquer outra pessoa ou grupo diferente daqueles que se erigem em árbitros da Espiritualidade.
Se eu também me colocasse nessa posição de árbitro do que vale a pena ou não, nunca poderia avaliar o trabalho de outros, cujas prática e ritual podem diferir honestamente do modo como encaro a Realidade Paralela, porque agir desta forma seria o mesmo que auto questionar a própria autoridade absoluta da qual eu pudesse me sentir investido.
E, assim, aumentei meu conhecimento espiritual sobre mim mesmo, pois resolvi não ficar congelado em minha prática ritual, recusando-me a usar sempre e sempre as mesmas experiências passadas dos outros, sem nunca acrescentar nada de bom ao Porvir. Pois, esta posição de árbitro da Espiritualidade me faria, em vez de navegante do Rio do Conhecimento, um náufrago, não em "águas barrentas", mas em águas estagnadas!
E eis o que o conhecimento de mim próprio me ensinou:
Acredito em Deus: Único, Absoluto, Onipresente e Onisciente seja qual for o Nome que a Humanidade Lhe atribua através dos Tempos e Lugares.
Tenho como minha verdade que Ele reflete sua Infinita Bondade pelo Universo de sua Criação, através de Seres Espirituais de Origem Divina a quem denomino de Orixás Ancestrais.
Compreendo o Mana, a Benção, a Mandinda e o Axé (Força Espiritual) dos Orixás Ancestrais como energia vivente, atuante e onipresente em nome de Deus por todo o Universo, não como estórias dos Contos da Carochinha de qualquer origem!
Tenho como Básico que a Espiritualidade pode se expressar de muitas formas.
Aceito que grupos diferentes que, por diferentes razões, começaram a usar este "feixe" de energias de modos diferentes, agem de modo perfeitamente lógico: simplesmente é um reconhecimento das condições e realidades atuais donde eles praticam as suas convicções.
Acredito que todas as Entidades Espirituais Superiores entendem as mudanças de comportamento, meios e palavras que foram impostas aos descendentes de seus antigos fiéis por meios sociais adversos como conquista, escravidão e colonização, não ficando passivas e ferreamente agarradas ao Passado como se fossem seres humanos.
Afirmo que Elas são o Eterno Presente, seja de que forma esse Presente se afigure a cada um dos humanos!
Decidi que em vez de enfocar meus esforços nas diferenças em ritual, palavras, idioma ou oferendas, prefirei sempre enfocar o fato de que, se o que se pratica é feito com carinho e devoção, com caráter e consideração, os resultados serão realizados!
Assim, vidas podem ser melhoradas; enfermidade pode tornar-se saúde; pobreza pode dar vez à abundância; ignorância pode ser mudada em conhecimento. Em última instância, importa aos beneficiários destas transformações que palavras e em que língua, que ritual ou quais oferendas realizam essas benesses???
Mas, ainda hoje, cada grupo religioso atual tende a rejeitar muita coisa de outro grupo por causa das diferenças que lhes foram impostas pela realidade do cotidiano, cada um achando que a "sua" própria maneira é a "única" correta, e, muito freqüentemente, os homens põem em julgamento não os resultados, mas sim se eles foram obtidos pelos meios que eles acham os únicos corretos. Se esses meios não refletirem seus próprios modos, serão capazes de negar que aqueles resultados foram propiciados pelas Divindades e dirão, do alto de sua Antiga Sabedoria: pura sorte!
Fé na Essência da Sabedoria Divina dos Orixás Ancestrais, prefiro eu dizer! Pois, se nós aprendermos a utilizar e trabalhar com estas energias viventes da Realidade Paralela na Realidade em que hoje nós vivemos, para mim, os modos antigos já mudaram: eles já não são mais Sabedoria Antiga e sim, simplesmente, Sabedoria.
E, desta forma, conhecendo a mim próprio, resolvi o paradigma de minha crença pessoal: a Sabedoria dos Orixás Ancestrais não é algum Mistério Antigo, congelado ou encapsulado no tempo. Ela é eterna e infinita, sempre pertinente ao tempo e condições em que é aplicada.
Assim, o Odu de um Jogo de Ifá "lançado" para um indivíduo em 2000 tem pouquíssima referência com a forma "específica" deste mesmo Odu à 500 anos atrás em uma cultura totalmente diferente: deste Odu, só me resta aceitar a "essência de sua Sabedoria". Ou seja, os Odu, viventes e atuais, devem ser aplicados e interpretados em relação a energia de um ser humano que vive no tempo presente e em relação à forma cultural a que ele pertence. O mesmo se aplica a seus rituais e orações. E isto é saber aplicar a Essência da Sabedoria dos Odu de Ifa, quando nos diz no Odu Ogunda Meji:

-"Ifá, quem é capaz de levar alguém ao Infinito e
estar sempre acompanhando esta pessoa?"-

E da compreensão de todas essas Essências dos Odus, adveio-me o auto conhecimento que o Orisa Orunmila Ifa me concedeu, pois hoje eu sei que quando minha Ori Orun ("cabeça-no-além") se "ajoelhou" perante o Todo Poderoso e Misericordioso Olorun foi para pedir-Lhe que me concedesse a honra de poder tornar-me um Ancestral do Futuro, por ser um dos compiladores do marco atual brasileiro de uma nova maneira de sentir, pensar, traduzir e expressar a Sabedoria dos Orixás Ancestrais, trazendo-a para a compreensão deste povo, neste tempo, neste dia e nesta hora.
E, ao estender a todos os que aqui lêm a oportunidade de Auto Conhecimento, através deste "Espelho Mágico Virtual", eu estarei bem cumprindo o meu Destino nesta Terra-da-Vida. Que tu procures bem cumprir o teu, se ele for, como o meu, o de estar sempre aprendendo, uma vez que aquele que só sabe ensinar é porque nada aprendeu!

Mana, Aché e Bençãos.
Piron
Itaoman
Babatunde Oberefun Si Okojumide

A RAIZ AFRICANA

1 - ILE IFA



2 - Ilu Aiye Odara

3 - Awon Babalawo

4 - Awon Orisa

5 - Imole Esu
6 - A Diáspora Negra no Brasil


1 - ILE IFA
A CASA DE ORUNMILA-IFA
Ifá é um Sistema de Oráculo Sagrado originário da milenar cultura africana Iorubá e é parte integrante da religião naturalista que nos foi legada pelos descendentes dos povos africanos sudaneses escravizados no Brasil.
Enretanto, com o passar de mais de um século de sua chegada, miscigenou-se com anteriores conhecimentos espirituais Bantos e Angolenses aqui já aclimatados a mais de dois séculos, esta simbiose vindo a constituir-se em um dos Três Pilares Místicos sobre os quais ergueu-se a Umbanda do Brasil, à ela legando, dentre outros, dois elementos principais: o conceito dos Orixás e o Jogo dos Búzios.
Mas, foi só tardiamente, quando passadas as fases da escravização e colonizacão, que os estudiosos do esoterismo das religiões africanas reformuladas no Brasil deram-se conta de que, subjacente às graciosas e/ou confusas lendas dos escravos africanos, existiam uma Teogonia, uma Mística e uma Liturgia de grande alcance espiritual, cultural e social que haviam sustentado a fé dos descendentes daqueles povos, mesmo na tragédia da escravidão.

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E foi assim que os estudiosos confirmaram que os Awon Babalawo ou os "muitos Senhores do Segredo" (título pelo qual os sacerdotes africanos eram conhecidos) sempre tiveram e ainda têm uma bela, firme e complexa visão própria da Existência Humana, na qual o Orun ou "Mundo Sobrenatural" está em estreita relação com o Aiye ou "Mundo Natural", considerados complementares entre si e que se fundem completa, harmônica e belamente na Ilu Aiye ou "Terra da Vida", ou seja, a própria Natureza Terrestre.
Desta forma, a Religião dos Orixás, além de viva e atuante, é também fruto da convivência mais que milenar de nossos ancestrais africanos com a Natureza ou, talvez, que o seu modo ver a Natureza fosse fruto de sua atávica convivência com as suas Entidades Sobrenaturais.
Então, como também deposito minha fé nos Orixás e tendo recebido em minha Iniciação o título de Babatunde ou um "Pai que retornou", espelhando-me nos conhecimentos ensinados nos ese itan ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", os quais se constituem na Tradicão Oral Ancestral dos Awon Babalawo e que fazem parte de sua memória atávica por mais de 2.000 (dois mil) anos, vou discorrer aqui sobre a concepção da Ilu Aiye ou "Terra da Vida" ou "Casa de Ifá", com toda fé nos Awon Orisa, mas também adaptando a Tradição Ancestral Africana ao entendimento das pessoas, tempo e lugar atuais.
Pois é isto que me confere a qualidade de Babalaô que sou nesta Nova Terra da Vida, o Brasil, sem que entretanto me esqueça da necessária e proverbial prudência que sempre foram apanágio dos Baba Li Awo para que não Ohun mi, ou seja, "não recaia sobre mim" a responsabilidade de haver porventura traído algum Ero ou "segredo" dos quais sou um dos guardiões.

Assim sendo, os nossos Awon Odu ou "Fundamentos da Tradicão Oral", passados da bôca do mestre ao ouvido do discípuo,afirmam que a Existência transcorre em dois grandes planos:
1 - Orun ou Mundo Sobrenatural ou Além
2 - Aiye ou Mundo Natural ou Terra-da-Vida

Mas esses dois grandes planos de Existência não são assim tão distintos, pois os Versos dos Contos de Ifá contam que as Entidades Sobrenaturais já "viveram" sobre a Terra no Ode Aiye ou "Local Terrestre para as Divindades", quando elas aqui vieram reger a Criação do Mundo Natural.
Além disso, esta tradição religiosa afirma que tudo o que existiu, existe ou existirá no Mundo Natural foi plasmado no Mundo Sobrenatural e lá tem o seu exato Duplo. Desta sorte, todos os Seres existentes são denominados por um só termo: Ara ou "Corpo" ou "Ser Existente".

Estes Ara ou "Seres Existentes" podem ser, conforme as suas qualidades:
1.1 - Ara Orun ou Seres Existentes no Além
1.2 - Ara Aiye ou Seres Existentes na Terra

Os Ara Orun dividem-se em duas categorias principais:
1.1.1 - Os Ara Orun Imole ou Seres Existentes no Além de Categoria Divina",
os quais estão associados à estrutura do Cosmo e da Natureza Terrestre;
1.1.2 - Os Ara Orun Onile ou "Seres Existentes no Além Ancestrais de Terrestres",
que estão ligados à estrutura da Sociedade.

Vejamos agora quem são eles :

1.1.1 - Os Ara Orun Imole ou "Seres Existentes no Além de Categoria Divina".

Os Versos dos Contos de Ifá falam com freqüência em 600 (seiscentos) Ara Orun Imole, entre os quais situam-se os Orisa ou "Imole Funfun" ou "do Branco" mas, isto significa muito mais que este número místico tinha a função de emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que importa em dizer-se que eles, os Imole, são uma grande quantidade desconhecida.
Estes Versos deixam entrever que existem graduações de ordem, digamos, funcional, nesse grandioso conceito de Divindade, as quais se situam nos Meseesan Orun ou "Nove Além", ou, melhor dizendo, os Nove Planos de Existência desta Tradicão Africana Sudanesa.
Todos estes Planos de Existência no Além, os quais seria fastidioso tentar aqui definir, têm a Ile ou "Terra", como eixo central e comum de suas esferas de ação e, portanto, como ponto de passagem e de retorno para que todos os Ara por ela, a Terra, intercambiem os seus planos de existências diferenciadas.
Para isso, necessitam de um meio, quer ele seja os seus sacerdotes ou os seus Filhos de Santo ou, preferencialmente, seus lugares sagrados e devocionais, tal como era o caso dos Origi ou "Montículo Sagrado" do Orisa Orunmila na Cidade Santa de Ile Ife em África, a Ilu Aiye Odara ou "Terra da Vida Feliz". Este também é o caso, no Brasil, dos atuais Peji ou "Assentamentos" dos Candomblés de Nação Africana e dos Congás dos Umbandistas.
Daí a Terra ser invocada e chamada a testemunhar em todos os tipos de pactos, particularmente em relação à guarda de segredos. Ki Ile Jeeri ou "que a Terra testemunhe" é a mais ritual das fórmulas empregadas em juramentos solenes e daí que todo o Assentamento de um Ôrixá deva ser baseado na Ota ou Pedra que lhe seja própria, "assentada", consagrada e "alimentada" por seus fiéis e estes dizerem: -"A força dos Orixás está na pedra."-
O que eqüivale a dizer-se: na "Terra" ou na "Natureza"! Portanto, como disse anteriormente, Terra e Além estão indissoluvelmente interligados em minha mente e daí também saber que todos os "Além" podem se intercambiar nesta Terra da Vida e que todos os Seres que nela existem, mesmo os inanimados, possuem Ase, a Centelha de Energia da Vontade Divina (Aba) que os criou e os faz existir (Iwa). Daí muitos desavisados tratarem os fiéis aos Orixás por "animistas", misturando o conceito de Ase com o conceito de "alma" ou "espírito" de suas próprias filosofias religiosas.

1.1.2 - Os Ara Orun Onile ou Seres Existentes no Além Ancestrais de Terrestres.

E no Mito da Criação do Mundo, como conseqüência da existência de Vida na Terra, apareceu a outra classe de criaturas Ara Orun da Religião dos Orixás : os Onile, de Oni (Senhor) + Ile (Terra), ou seja, os "Senhores da Terra".
Os Onile ou "Senhores da Terra" ou, ainda melhor, os "Ancestrais", aqueles entes falecidos que por suas ações passadas foram semi-divinizados por seus descendentes, sendo que, embora estejam no Além não são Divindades e estão ligados à estrutura da Sociedade.
Estes Senhores da aterra que tiveram as suas Ori Orun ou "Cabeça-no-Além" também criadas por OLORUN (Deus), puderam tornar-se em Ara Aiye ou "Seres da Terra" e sobre a Terra da Vida existir para consumar o seu Iwa ou sua "Existência" ou "Destino" com a própria Ori Inu ou "Cabeça-Interna" ou "Individualidade Terrestre", para no seu Ol'ojo ou "Dia Marcado" retornar ao Além para acrescentar a seu Ara Orun ou "Duplo no Além" ou "matriz espiritual primordial", todos os méritos ou deméritos de suas ações praticadas na Terra da Vida, adquirindo, dentro de condições especiais, após a primeira desencarnação, a qualidade de Onile ou "Ancestral".
E é aqui que Orun e Aiye intercambiam-se ainda mais:

1.2 - Ara Aiye ou Seres da Terra

Assim sendo, ainda que seja perante OLORUN que cada Ara Orun e/ou Onile deva "ajoelhar-se" para pedir o seu novo Destino antes de reencarnar-se, sendo ÊLE o seu verdadeiro Eleda ou "Criador", ao renascer na Terra da Vida o novo Ser Vivente tem o seu Destino controlado pelo Orisa Orunmila-Ifa, que através do Oráculo de Ifá dos Babalawos, com seus conselhos, exemplos, parábolas e "falas" conhecidas por Odu ou "Essência dos Fundamentos de Tradição Oral", ajudam cada Ser Humano a bem consumar o Destino por ele próprio solicitado a OLORUN.
Assim, toda a Natureza criada por OLORUN é também a "Casa de Ifá" e todos os Seres Humanos são suas Omo ou "Crianças" e é por isso também que os fieis tratam os Babalawos por Baba ou "Pai", ainda que Baba também possa se traduzir por "Senhor".
Também é verdade que, neste processo de reincarnação, o Ser que deverá vir à Terra da Vida solicita ou aceita estar ligado a algum Imole Irunmole ou Imole Igbamole (ser masculino e ser feminino: qualidades humanas emprestadas aos Imoles), que também lhe "comunicarão" algumas qualidades de sua matéria primordial (Ase Funfun ou "do Branco", Ase Dudu ou "do Preto" e Ase Pupo ou do "Vermelho"). Desta forma, na Terra-da-Vida, este novo Ser Vivente deve devotar-se a algum Irunmole (Entidade Espiritual Masculina) e/ou Igbamole (Entidade Espiritual Feminina) ou por ele/ela ser "possuído" no transe mediúnico.
Esta Entidade Espiritual comunicante com o novo Ser Vivente, depois de detectada e confirmada a sua influência pelos processos do Oráculo de Ifá, deve ser considerada como o "possuidor" da Ori Inu ou "Cabeça Interna", ou seja, da nova "Personalidade Individual Terrestre" daquele novo Ser Humano e/ou Ancestral novamente encarnado, ou seja, o seu Oluware, portanto, e no máximo, o seu Oba Mi ou "Meu Senhor" ou Iya Mi ou "Minha Senhora", pois que o seu verdadeiro Criador sempre foi, é e será Deus.
Assim, sempre por intermédio do Orisa Orunmila em sua Divinação Sagrada de Ifá, aqueles demais Awon Orisa podem ajudar ou cobrar do Ser Humano os compromissos com eles assumidos, de forma que ele possa bem consumar seu Destino ou corrigir os desvios que poderão levá-lo ao fracasso, mas sem jamais interferir no livre arbítrio de cada ser.
Foi sobretudo este relacionamento "pré-estabelecido no Além" com os Awon Imole ou "Seres Sobrenaturais de Categoria Divina" a parte da Teologia Iorubá que foi a mais lembradada pelos descendentes de seus féis escravizados e que levou à criação dos Candomblés de Nação Africana no Brasil para cultuá-los, assim como, foi o Culto aos Awon Onile ou "Ancestrais" a parte mais absorvida e praticada pela Umbanda do Brasil.
Entretanto, é somente o Ara Orun Imole Irunmole Oju Kotun Orisa Funfun Orunmula-Ifa que é o verdadeiro Arauto dos Desígnios Absolutos de Deus sobre o Destino de todos os Seres Terrestres, destino este que pode ser confirmado ou corrigido pela Divinação Sagrada de Ifá, para que cada "Criança" nascida na "Casa de Ifá" tenha condições espirituais de muito bem cumprir aquilo que ele próprio solicitou a Olorun no Além e, assim, poder apresentar-se novamente perante Êle em seu Ol'ojo ou "Dia Marcado" para retornar ao Além, acrescentando a seu Duplo no Além a Soma de seus sucessos ou fracassos em relação a seu Destino nesta Terra da Vida, já não tão Ilu Aiye Odara.
E esta é a verdadeira função da Divinação Sagrada de Ifá : fazer com que as "Crianças" de Orisa Orunmila-Ifa cresçam em méritos espirituais por conhecerem à si próprias e bem cumprir o seu próprio Destino livremente escolhido no Além perante Deus!

2.

ILU AIYE ODARA
ÁFRICA - A TERRA DA VIDA FELIZ

ILU AIYE ODARA Já em época pré-historica, na região geográfica africana compreendida entre a confluência dos rios Benue-Níger e o Lago Chade, floresceu uma civilização agro-pastoril que viria a servir de base às futuras migrações de povos que, a partir dela, desenvolveriam uma nova unidade cultural e lingüística.
Esta cultura-base recebeu dos arqueólogos o nome de "Cultura de Nok" e foi lá, na Província de Zaria da Nigéria atual, que o arqueólogo B. Fagg desenterrou as famosas "cabeças em terracota", esculpidas com tal realismo que são consideradas precursoras das maravilhosas esculturas das cidades de Ile Ife e Benin.
Sobre esta região relataria o historiador africano Joseph Ki-Zerbo (I972):
-"Em Nok, as camadas sucessivas de vestígios denotam uma longa ocupação dos locais e um domínio já antigo da técnica do ferro. A descoberta de enxadas indica uma importante atividade agrícola. Outros vestígios assinalam a prática da criação de gado e um gosto pronunciado por adornos. Em Daima (Nigéria do Norte), outros vestígios do ferro são datados de 450 a.C. até 95 d.C."-
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Esta região, com sua comprovada antigüidade, atraiu povos imigrantes que, guiados pelos Reis-Ferreiros das ancestrais lendas africanas, aí criaram os primeiros núcleos politicamente estruturados e dai partiram para conquistar e povoar extensas áreas a oeste, sudoeste e sudeste do Continente Africano.
Muito pouco se sabe desses tempos pré-históricos, exceto pelas lendas desses Reis-Ferreiros, lendas essas que se confundem com as posteriores lendas do aparecimento do Orisa Ogum Asiwaju ou "A Divindade Ogum, aquela que toma a dianteira" e que se confundem, também, com o desenvolvimento de urna nova forma de aglutinação política - a de cidades-estados - as quais, no início do III século d.C., já estavam consolidadas historicamente.
Do século III até o século XV, o conhecimento da cultura destes povos só é preenchido, em parte, por obras etnográficas e antropológicas como as de Joseph Ki-Zerbo e Cheik Anta Diop, sociólogos e historiadores africanos que se socorrem dos antigos textos de viajantes árabes, como Al Masudi e lbn Hawkal (séc. X), AI Bakri (séc. XI), Abul Feda (séc. XIV) e Mahmud Kati (séc. XVI), que descreveram as regiões, os povos e suas histórias em obras que se tornaram clássicos históricos, como o Tarik Es Sudan (AI Bakri) e o Tarik El Fettach (Mahmud Kati), obras que são pouquíssimo difundidas nos meios culturais ocidentais.
Desta forma, pela informação de viajantes eruditos árabes e a partir da difusão da religião islâmica entre os povos de raça negra, toma-se conhecimento da existência de uma poderosa confederação de cidades-estados, a Ilu Ulkumy, situada por eles na mesma região africana a que anteriormente nos referimos, entre o Rio Volta e a confluência dos rios Benue-Níger, indo ainda do Oceano Atlântico ao lago Chade, logicamente uma região maior do que aquela que inicialmente citamos como Nok, pois representa mais de 1.500 anos de expansão territorial dos primeiros Reis-Ferreiros.
Mas é, sobretudo, por sua expansão cultural e religiosa, com seu fortíssimo conteúdo mítico que sabemos que o início da formação dessas cidades-estados Ulkumy confunde-se com as lendas místicas dos Awon Orisa ou as muitas Divindades, mormente:
1. As de Oduduwa, Orunmila e Ooni para a cidade santa de Ile Ife.
2. As de Osun para a região de Ijesa e Ijebu.
3. As de Esu para Ile Ife e Ketu.
4. As de Oranmiyan e Sango, para a região da cidade de Oyo.
5. As de Ogum para a região Ekiti, Ire e Ondo.
6. As de Yemoja para a região de Egba.
É preciso, ainda, remarcar a precedência de outras Divindades anteriores a estes Awon Orisa fundadores de Dinastias, (os heróis conquistadores, ao assumirem o poder, adotavam o nome da Divindade protetora de seu clã vitorioso), precedência esta que mais faz recuar o aparecimento da civilização nesta área. Aquelas Divindades anteriores foram assimiladas ao Panteão Divino Ulkumy, tais como Osumare, Nana Buruku e Obaluaiye, pois já faziam parte da civilização anterior à Idade do Ferro e dos lendários Reis-Ferreiros.
E, assim, sem dúvidas, foi a religião dos Awon Orisa, emanada da Cidade Santa de Ile Ife, que representou o "cimento" espiritual e cultural que agrupou e deu forma política às cidades-estados Ulkumy que, já no século IV d.C., falavam dialetos regionais de uma mesma língua e partilhavam da mesma cultura e costumes, além da mesma e única religião.
Era da Cidade Santa de lle Ife que, nos primeiros tempos, emanava todo o poder teocrático e era para ela também que regressavam os "restos mortais" e as insígnias reais de todos os Alafin, Oba e Oni, ou seja, dos Reis de Ilu Ulkumy e que reinaram sobre Owo, Save, Popo, Benin, Ketu, Oyo, Ijebu, Ilesa, Onistisa e outros reinos menores, tão forte era essa sua referência centralizadora de retorno à origem mítica e mística.
Mesmo quando as entidades espirituais Ulkumy, os Awon Orisa, mudaram de denominação em algum desses reinos, como para Vodun no Daomé, foram sempre a liturgia e a ritualística emanadas da cidade santa de Ile Ife que mantiveram o vínculo recíproco entre essas cidades-estados e ancestralidade Ulkumy, mesmo com acréscimos ou supressões causados por regionalismos ocasionais.
E a medida deste poder teocrático nos é dada por Joseh Kizerbo:
-"A gente de Oyó tinha, de resto, um terrível meio de controle sobre o Oni (Rei). Quando este se tornava culpado de exação ou crime escandaloso, obrigavam-no a andar com uma cabaça vazia ou então com ovos de papagaios. Era o primeiro dos Oyo-Mesi o encarregado de levar ao rei esta terrível monção de censura. Dirigia-se, aliás, a ele em termos carregados de humos negro: "as nossas sessões de Adivinhação", dizia-lhe ele, "revelam-nos que seu destino é mau e que seu Orun (seu outro ser celeste) já não tolera que continue aqui na Terra. Pedimo-lhe, pois, que vá dormir." E o soberano devia envenenar-se a seguir."-
E, se o Oyo-Mesi tinha tal poder era porque desde os tempos lendários havia se consolidado o poder religioso com o poder governante, sendo os Reis de certa forma controlados ritualmente pelos Awoni Babalawo ou os "Sacerdotes do Orisa Orunmila-Ifa" para os assuntos reais recrutados entre os membros da 16 famílias aristocratas fundadoras de Ile Ife que controlavam uma sociedade religiosa secreta, a Ogsoboni, a qual congregava todos os Awon Babalawo que, com freqüência, também compunham o Conselho de Chefes de Clãs Familiares das Municipalidades.
E apesar de que cada cidade de origem Ulkumy ser, teoricamente, independente das demais, todas elas obedeciam a este comando teocrático e confederativo maior que controlava extensas regiões geográficas, sendo que várias dessas cidades maiores tinham mais de 100.000 (cem mil) habitantes à época dos primeiros contatos com viajantes islâmicos e, muito mais, posteriormente, quando do advento dos primeiros viajantes europeus.
Sieur de Ia Croix (I688), viajante francês do século XVII, publicou em Lião, França, um relato de sua estada entre os Ulkumy, onde descreve a cidade de Benin, à aquela época! Eis apenas uma pequeníssima parcela dessa descrição:
-"Era uma cidade com planta retangular, murada e cercada de um fosso profundo ... Havia trinta grandes ruas muito direitas, com 26 "pés" de largura, com uma infinidade de ruas transversais ... As casas estavam perto umas das outras e alinhadas em boa ordem ... Estes povos não ficam atrás dos holandeses em limpeza ... Lavam e esfregam tão bem as suas casas, que elas se encontram polidas e brilhantes ... Estes pretos são muito mais civilizados que outros desta Costa. São gente que tem boas leis e uma polícia bem organizada, gente que vive em boa harmonia e que acumula de atenções os estrangeiros que vêm comerciar ao seu país."-
Nessa mesma época, outro viajante, Olfert Dapper (1686), embora não tenha vivido entre eles e deles tenha conhecido apenas sua fama entre seus conquistados, assim nos fala:
-"Este território, entre Ardres (Allada) e Benin situa-se. Os indivíduos deste país são guerreiros temíveis, invadindo várias vezes Allada com um exército de várias centenas de milhares de cavaleiros."-
Mas a influência sociocultural desses ferozes guerreiros era também proporcional à sua beligerância, tanto que o próprio Dapper acrescenta:
-"... e é curioso que o povo de Ardres (Allada) fale o Ulkumy de preferência à sua própria língua."-
E se a influência Ulkumy era desta ordem, não era somente pelo poder das armas, mas também pela possibilidade dos vencidos integrarem-se na Confederação e absorverem, assim, os benefícios de uma cultura social e comercial superior à sua.
Porque já à esta época (sec. XVII), os Ulkumy eram, além de conquistadores, civilizadores de extensas regiões geográficas, implantando um sistema de governo com base na municipalidade, com um regente local - o Baalé - que governava por um período de 14 anos, coadjuvado por um Conselho de Chefes de Clãs Familiares que desempenhavam as funções de "guarda dos costumes", polícia municipal, coletoria de impostos, tribunal regional e controle aduaneiro das portas de muralhas citadinas e, com freqüência, eram os Babalawo ou "Sacerdotes do Orisa Orunmila-Ifa" que exerciam também estas funções. Tinham, pois, uma classe sacerdotal influente, respeitada e atuante nos negócios do Estado.
Nessas cidades funcionavam mercados locais, regionais e algumas delas eram cidades notadamente mercantilistas a nível internacional, com profissões e manufaturas, tais corno: construtores, armadores, tecelões, oleiros, vidreiros, entalhadores, escultores, fundidores e ourives, organizando-se em Corporações de Ofícios, muitas das quais trabalhavam sob regime de monopólio real.
Para isso, além do sistema monetário citadino que usava o Owo ou "Búzio" como moeda interna, dispunham de outros sistemas de troca baseados em barras de ferro, bronze e de sal gema para transações regionais e, também, pepitas e ouro em pó para seus negócios internacionais praticados através das rotas comerciais árabes do Mar Mediterrâneo e do Oceano Índico.
Toda essa cultura de extremo vigor, beleza e qualidade, da qual só pudemos dar aqui uma pálida idéia, começou a ruir com a chegada dos primeiros aventureiros, primeiramente árabes e depois europeus, nos meados do século XVIII e acentuou-se com o aumento do tráfico negreiro com os holandeses, franceses e ingleses municiando com armas de fogo, às vezes com excelente qualidade, todas as fações internas que passaram a se degladiar para, qualquer que fosse o resultado das contendas, continuar recolhendo o "Ouro Negro" para as suas incipientes feitorias coloniais nas Américas e na Ásia.
Nessas contendas, os habitantes de Ilu Ulkumy (e posteriormente também seus inimigos) foram escravizados e amostrados como simples "símilles" de "macacos pagãos que viviam trepados em árvores" e chamados por Lucumis (pelos espanhóis em Cuba), Yarribas ou Yorubas (pelos Ingleses nas Antilhas e América), ou pior, por Nàgôs (pelos franceses e portugueses) em seu suposto sentido mais pejorativo de "lixo" como os apodavam seus inimigos daomeanos e como se difundia nas Colônias a que foram aportados, na tentativa de se justificar o nefando tráfico negreiro.


3.

AWON BABALAWO - OS PAIS DO SEGREDO

OYE TI O BA WU ENI
NI A TA IFA ENI PA
"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual recebemos para jogar Ifá"

Em que pese que cada uma das Divindades que eram cultuadas na África Sudanesa tivessem o seu próprio "corpus" sacerdotal, os elementos principais do sacerdócio eram os sacerdotes do Orisa Funfun Orunmila, cuja Divinação Sagrada de Ifá regia a vida espiritual dos Yoruba.
Nos antigos tempos, todos os sacerdotes do Orisa Orunmila Ifa eram saudados pelo termo genérico de Ol'orunmila ou "Aquele que tem Orunmila". Aqueles que o povo sabia mais ligados à Divinação Sagrada, saudavam-nos como Baba Onifa.
Mas, no exercício de suas funções específicas, os Sacerdotes do Orisa Orunmila eram denominados por Baba Li Awo, ou seja, o Pai (baba) + que Tem (li) + o Segredo (awo), termo este que foi simplificado para Babalawo ou Babalaô nos atuais compêndios eruditos. O Babalawo era, pois, o ponto central em volta do qual gravitava a Ritualística e a Liturgia Yoruba.



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Isto porque as funções de um Babalawo não se restringiam à Divinação Sagrada e nem ao culto organizado do Orisa Orunmila: ele tinha que ter conhecimentos especializados sobre os cultos de todas as outras Imole ou "Divindades" e, nessa faixa, atuava tanto no atendimento aos devotos de todos os Imole, quanto no aconselhamento e assessoramento aos sacerdotes dos mesmos Imole.
E também porque, fosse qual fosse a devoção de um Yoruba, antes de tudo mais, seu primeiro dever era com si próprio, ou seja, o dever de bem consumar o seu Iwa ou "Destino", que havia sido livremente escolhido por sua Ori Orun ou "Cabeça no Além", ou seja, antes de se tornar um Ara Aiye ou "Corpo da Vida" com a sua correspondente Ori Inu ou "Cabeça Individual" nesta Ilu Aiye ou "Terra da Vida". E, especificamente nisso, só um Babalawo podia ajudá-lo, guiá-lo ou socorrê-lo.
E era por ser um sacerdote do Orisa que é o Arauto dos Destinos dos Humanos que, ainda que um Babalawo atuasse na área específica de outros sacerdotes; conhecesse ou receitasse aplicação de mais ou menos 400 Ewe ou "Folhas Sagradas" e "Medicinais"; controlasse a prescrição e a execução das Adimu ou "Oferendas Defensivas"; exercesse o controle do Oso ou "Poder Mágico", sendo portanto um Ifatoso ou Ifá (ifa) + Tem (Ti) + Poder (Oso) ou, portanto, "Aquele que tem o poder mágico de Ifá" para o manejo dos objetos rituais portadores do Ase ou "Força Mágica Vital"; receitassem e aplicassem as Ogun ou "Práticas de Medicina Natural, Mágica e Psico-Somática"; defendessem aos fiéis dos Aje ou "Feitiços"; praticassem os Ipese ou "Magias Retaliatórias" e fornecessem os Awure ou "Amuletos de Boa Sorte", a sua máxima especialização era a prática constante do A da Ifa fun, ou seja, a "Divinação Sagrada de Ifá", através dos instrumentos consagrados Opon e Opele, para revelar aos fiéis qual era o seu Kpoli ou "Destino Pessoal".
Com tantas responsabilidades, um Babalawo precisava ter um intenso treinamento específico que, em geral, começava aos 7 anos de idade e, na verdade, só terminava por sua morte, uma vez que, devendo ele próprio ensinar o Awo ou "Segredo" a outro futuro Babalawo antes de sua própria morte, ensinar tornava-se uma nova forma de continuar aprendendo com a experiência de seus ancestrais.
Aproximando-se, assim, desde a tenra idade à um Ojugbonan ou "Mestre de Ensino", um menino Yoruba agregava-se à família do mesmo e passava a ser conhecido como umOmo Awo ou "Filho do Segredo" e tinha a obrigação de obedecer e servir ao seu Mestre como obedeceria e serviria a seu próprio pai.
Mais tarde, em pleno aprendizado, quando já acompanhava o seu mestre em suas saídas públicas, este aprendiz recebia a denominação de Akopo ou "Aquele que carrega a Bolsa", numa clara alusão à sua nova obrigação de carregar a Apo ou "Bolsa" que continha os Abira ou "Conjunto de Objetos Sagrados" que seu Mestre usava ao praticar a Divinação Sagrada.
Como Akopo, o menino em crescimento era submetido à uma disciplina curricular intensa onde se testava, antes de tudo, a sua capacidade de memorização. Além da observação visual e auditiva das práticas de seu Mestre, o aprendiz praticava a identificação e a memorização das 16 (dezesseis) figuras gráficas básicas, chamadas Ona Ifa, para depois então aprender e memorizar as totais 256 (duzentas e cinqüenta e seis) possíveis combinações capazes de serem feitas.
Era quando ele já começava a praticar com a forma rudimentar do instrumento Opele ou "Corrente de Ifá" preparado para ele por seu Mestre. Assim, ele aprendia que ao combinar entre si as Ona Ifa dos 16 Odu Baba ou "Fundamentos de Tradição Básicos", formavam-se 256 novas figuras combinadas, mas entre si derivadas e, portanto, denominadas Omo Odu ou "Filhos de Odu". E se o 1º Odu aparecesse combinado com ele mesmo - e isso era válido e possível para todos os 16 Odu básicos - estas figuras duplicadas eram chamadas de Odu Meji ou "Odu de Dois", ou ainda melhor, "Odu Duplo".
Depois, ele aprendia a Ordem de Precedência Hierárquica entre esses 256 Omo Odu, ordem de precedência esta que viria a se constituir na base de sua decisão na prática do Igboigbo ou "procurar o Oculto", quando da escolha entre respostas alternativas à uma pergunta específica.
Em seguida, ele aprendia a própria essência da Divinação Sagrada: a memorização dos Ese Itan Ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", os quais faziam parte de um conjunto maior, os Itan Atowodowo ou "Contos dos Tempos Ancestrais" que se constituíam-se nas Escrituras Sagradas dos Yoruba, na realidade jamais escritas, mas lembradas oralmente de geração para geração por mais de um milênio.
Por teoria, os Akopo que aspiravam vir a ser um Babalawo precisavam memorizar pelo menos 4 (quatro) Ese ou "Versos" para cada um dos 256 Omo Odu, o que representava a memorização de 1024 Ese para que ele pudesse começar a praticar por conta própria. Entretanto, na prática, era admitido que ele começasse à adivinhar quando já soubesse, pelo menos, 1 (hum) Ese para cada um dos 256 Omo Odu.
Após isso, ele aprendia e praticava a correta composição e execução dos Adimu ou "Sacrifícios Propiciatórios" - na verdade, este termo significava "Abrigar-se" - prescritos nos Ese Itan Ifa, enquanto procurava aumentar o seu conhecimento sobre as Ewe Ifa ou "Folhas Sagradas de Ifá" e as Ewe Ifin ou "Folhas de Limpeza" e mais as 300 e poucas Ewe Orisa ou "Folhas Sagradas dos Orisa" que estavam ligadas à Divinação Sagrada.
Só então ele aprendia sobre as Oogun (medicinas), os Aje (feitiços), os Ipese (magias retaliatórias) e os Awure (amuletos de boa sorte) nos quais podia aplicar todo esse conhecimento adquirido tão exaustivamente.
Se o antigo Akopo conseguia chegar até nesse ponto, ele recebia de seu Ojugnonan o seu cobiçado prêmio: a sua Owo Awo ou "Mão do Segredo", a famosa "Mão de Ifá".



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A "Mão de Ifá" era, pois, a coroação de anos de esforços e estudos, sendo sancionada em ritual próprio que promovia a junção do Natural com o Sobrenatural, do Método com a Intuição Psíquica, induzida pelo transe mediúnico leve, que abria canais da percepção extra-sensorial do Babalawo para a presença do Ase dos Orisa Orunmila Ifa e do Imole Esu, já que o Babalawo jamais "caía" em transe mediúnico possessivo, sendo essa, na verdade, além de todos os conhecimentos já referidos, a grande diferença oculta, o Ero ou "Segredo" exotérico, entre o verdadeiro Babalawo (Senhor do Segredo) e o Babal’Orisa (Pai do Orisa) ou "Pai-de-Santo".
Esta "Mão de Ifá" era representada materialmente por um conjunto de 16 (dezesseis) caroços dos frutos do Dendêzeiro, limpos de suas cascas moles, suas cascas duras polidas pelo uso constante e consagrados em ritual próprio, conhecidos em específico por Ikin (coquinhos de dendê), juntamente com um tabuleiro de madeira, geralmente circular, com mais ou menos 35 cm de diâmetro, levemente polido o seu fundo, mas com uma borda entalhada mais alta, a qual delimitava um "espaço sagrado", tabuleiro este chamado de Opon Ifa, justamente o "Tabuleiro de Ifá". Como o termo Awo pode significar "segredo" ou "tabuleiro", os Babalawo também eram conhecidos pelo título de "O Senhor do Tabuleiro".
Recebia também o segundo instrumento consagrado, o Opele Ifa ou a "Corrente de Ifá", agora confeccionado com uma dupla corrente de ferro, cada lado mantendo juntas 4 meias-sementes da oko (árvore) Opele Oga (Schebera Columgensis), derivando daí o nome pelo qual este instrumento era conhecido.
Mas, antes de receber estes instrumentos consagrados, o antigo Omo Awo, tendo passado pela fase de Akopo, era submetido agora a um dos rituais mais antigos da Humanidade: ele era "mergulhado" na Eerupe ou "Lama", matéria prima primordial da Existência, matéria de onde viemos e para qual um dia voltaremos e onde, ritualmente, "morria" o antigo Omo Awo e "nascia" o novo Babalawo.
Só a partir daí, o novo Babalawo podia praticar a Divinação Sagrada por si próprio mas, mesmo assim, à cada 16 dias, no Ojo Awo ou "Dia do Segredo", ele devia se reunir com seu Ojugnonan, para continuar seus estudos e, com isso, ser apoiado pelo mesmo em sua incipiente prática pública.
Tentei transmitir aqui, aos leitores, parte das dificuldades da Iniciação de um verdadeiro Babalawo do passado; não sei se consegui, mas tenho a certeza que nem mesmo aqueles que já passaram pelas Iniciações dos "Terreiros de Nação", poderiam minimizar este tipo de Iniciação, tal como era praticada naquela época. De mais a mais, sociológica e religiosamente falando, a Iniciação ao Sacerdócio do Orisa Orunmila era e ainda é a única iniciação intelectual entre todos os outros cultos aos Orisa e Ebora.
Ademais, como existiam 4 (quatro) graduações superiores na carreira de um Babalawo, sendo que a última tinha 16 (dezesseis) supra-divisões, pode-se sentir que o tempo de estudos e práticas de um Babalawo não terminava nunca e tornar-se respeitado e em ascensão na "carreira" escolhida, era tarefa para toda uma vida.
E se falamos em "carreira" é em sentido figurado, porque ninguém pretendia tornar-se Babalawo para ganhar dinheiro, pois era popularmente conhecido um Verso dos Contos de Ifá:
-"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifá eni pá"-
-"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual receberemos para jogar Ifá"-

Assim, alguém era encaminhado ou encaminhava-se para ser um Babalawo em decorrência do cumprimento do seu próprio Iwa ou "Destino", revelado pela própria Divinação, embora também fosse bem conhecido um outro ditado popular, o qual consagrava o "status" social de um Babalawo :

-" Um ancião que aprendeu Ifá, não precisa comer nozes de Kolla deterioradas."-

Porque não era quanto ganhava um Babalawo de Eru ou "Pagamento" que fazia a sua fama; a sua reputação era proporcional ao seu sucesso em aliviar as aflições de seus fiéis consulentes e não os seus bolsos: nos Versos dos Contos de Ifá pode-se ler que até o pequeno pagamento estipulado para seus serviços, muitas vezes, era determinado que parte dele deveria ser disribuído entre os necessitados ou financiar um repasto comunal.
Daí a maior procura de seus serviços e, à medida que sua reputação se firmava, ele ascendia à classe dos Oluwo ou "Senhores do Segredo", tendo acesso à cargos públicos e jamais precisaria, "comer nozes de Kolla deterioradas", isto é, não passaria dificuldades financeiras. Mas, a única forma para isso era estudar, praticar muito e bem cumprir seus deveres rituais para com o Orisa Orunmila, não lhe bastando somente uma efêmera fama.
Mas isso não era fácil se ele não estivesse realmente capacitado, porque embora fosse possível, mais teórica que praticamente, a um Babalawo inescrupuloso obter destreza suficiente no manejo dos Ikin ou "Coquinhos de Dendê" para forçar o "aparecimento" de uma determinada Ona Ifa 0u "Trilha de Ifá" que lhe interessasse, ele sempre esbarraria no fato de seus consulentes conhecerem meios de impedir tal prática, mesmo que, aparentemente, o Babalawo estivesse seguindo o sistema regular de normas.
E isto era uma das mais importantes conseqüências da ação divulgadora dos Akisa ou "Aqueles que louvam a Divindade", leigos graduados no culto e que recitavam para o povo as lendas e os louvores do sistema, nas quais apareciam com freqüência precedentes históricos que clarificavam, na mente dos consulentes, quais eram as regras a serem obedecidas pelos Babalawo. Qualquer desvio mínimo destas regras por parte de um Babalawo, era imediatamente repudiado pelo consulente e severamente punido pela Confraria de seus pares.
Ademais, o Babalawo que intentasse qualquer desonestidade, mesmo que fosse para agradar ao consulente, ainda esbarraria no fato de que, além de não precisar dizer-lhe qual o objetivo que o levava à consulta, este podia até inverter ocultamente este seu objetivo, mesmo no caso de escolha entre respostas alternativas.
Portanto, ser um Babalawo não era uma tarefa fácil e graciosa, mas sim árdua e espinhosa em estudo, prática, tempo, memória e perspicácia ao usá-la, embora a sua "carreira" fosse passível de erguê-lo, social e politicamente, na sociedade Yoruba, até acima do poder dos Oni ou "Reis", pois até estes deviam consultar a Divinação Sagrada, senão para si mesmo, mas necessariamente para os próprios "Negócios do Estado", pois também o alto funcionalismo do Estado era escolhido ou sancionado pela Divinação Sagrada.



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Assim sendo, todo Babalawo se esforçava para alcançar, sucessivamente, as 3 (três) categorias imediatamente superiores de sua "carreira" e, se alcançadas estas três, estivesse habilitado também por seu nascimento em uma das 16 (dezesseis) famílias nobres fundadoras de Ile Ife ou "Cidade Santa de Ifé", ele habilitava-se a disputar ainda uma das 16 (dezesseis) supra-divisões hierárquicas e vitalícias dos Awoni Babalawo ou "Adivinhos dos Segredos do Rei" ou do "Estado".
O primeiro degrau desta ascensão na carreira religiosa era a condição de Elegan ou "Aquele que tem Elegan" e aqui compreendendo-se "Elegan" como o conjunto composto pela já conhecida Apo ou "Bolsa", mais o seu conteúdo Abira ou "Conjunto de objetos sagrados e folhas medicinais", todos eles portadores de Ase Orisa (força Mágica dos Orisa) e com os quais se praticava, além da Divinação Sagrada, uma terapia médica natural e psico-somática. Quase sempre, nesta fase, eram desvinculados de qualquer cidade, sendo muitas vezes itinerantes.
Ao contrário dos mais graduados, o Babalawo Elegan era obrigado a manter a sua cabeça sempre totalmente raspada e a descobrí-la, caso portasse alguma cobertura, quando em presença de outros Babalawo de categorias superiores.
O segundo degrau de ascensão na carreira, após alguns anos de prática, era a obtenção da condição de Ol'osu ou "Aquele que Tem o Tufo de Cabelos", numa clara alusão da permissão de deixar crescer um "tufo" de cabelos circular, na parte lateral posterior direita do crânio raspado, demonstrando assim que já eram plenamente habilitados e em pé de igualdade com os Adosu dos outros Orisa, os quais usavam o mesmo Osu ou "Tufo de Cabelos" (Na verdade, nestes, "Osu" não é só um "tufo de cabelos").
Mas para ser um Ol'osu, o Babalawo precisava pertencer à uma família estabelecida em uma vila ou cidade que tivesse erguido um Origi, um pequeno "monumento religioso", um protegido montículo de terra batida de mais ou menos 35 cm de altura, quase sempre muitíssimo antigo, recoberto de "cacos" de cerâmica ou de louça quebrada, com uma pedra pontuda no topo, projetando-se para cima. Embora o conteúdo do Origi fosse, devesse e deva permanecer secreto, era notório ali a dedicação ao Imole Esu Agba, o "Esu Ancestral".
Era quando atingia este estágio de Ol'osu que o Babalawo tinha direito a possuir a sua segunda Owo Ifa, a segunda "Mão de Ifá", ou seja, o seu 2º conjunto de Ikin ou "conjunto de 16 coquinhos de dendê", que todo Babalawo Ol'osu devia possuir.
O terceiro degrau na ascensão religiosa de um Babalawo era a condição de Ol’Odu ou "Aquele que Tem o Odu". Embora o termo Yoruba Odu, em seu significado mais restrito, signifique algo "grande" ou "volumoso", no Culto do Orisa Orunmila, este termo tem três outros sentidos referenciais:


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Primeiro sentido referencial:
- nele, Odu pode significar a "Figura Gráfica" que é riscada no Iyerosun ou "Pó Branco Consagrado" do Opon ou "Tabuleiro";
Segundo sentido referencial:
- nele, Odu pode significar o conjunto de Ese (Verso)de um Itan Ifá (Conto de Ifá), ligados ritualmente às 256 figuras gráficas acima citadas. É quando o termo Odu merece realmente o designativo de "Fundamento de Tradição";
Terceiro sentido referencial:
- nele, Odu designa especificamente um "objeto físico", um recipiente de madeira, de forma cilíndrica, pintado nas cores brancas, vermelha e preta e que simbolizavam respectivamente os princípios do Iwa ou "Poder da Existência", do Ase ou "Poder da Realização" e do Aba ou "Poder da Essência", cujos elementos físicos portadores da magia de cada um destes poderes acham-se no seu interior, e, ainda, respectivamente, representam os Imole Irinwo Funfun ou os "Orixás Geradores da Brancura", as Igbamole Iyami Dudu ou as "Eborás Grandes Mães Gestantes da Negritude" e os Orisa Omokurin e Ebora Omobirin Pupo ou os "Orixás e Eborás Descendentes da Vermelhidão".
Assim, pois, este Odu, enquanto objeto material, era um símbolo de extraordinário poder e era típico da Cultura Yoruba, com a sua prática junção do Natural com o Sobrenatural, que os Babalawo Ol’Odu pudessem usar estes Odu, enquanto objetos, como assento ritual em cerimônias públicas, mas consistindo, entretanto, grave sacrilégio que estranhos sequer tentassem abrí-los.
Normalmente, este objeto sagrado, o Odu, era guardado sobre a Itage ou "Plataforma de terra batida" mais alta que o chão do Sasara ou "Alcova" do Akodi Okanran ou "cômodo principal" do Ile Ifa ou a "Casa de Ifá", onde era terminantemente proibida a entrada de mulheres e, até, de homens não iniciados no culto. Desta forma, estes Odu e até sua versão menor, o Apere, eram construidos de forma a não serem facilmente abertos, pois dizia a lenda, não sem uma certa ironia:

-"Jamais deveria ser aberto, a menos que o devoto estivesse
extraordinariamente angustiado e, por conseguinte, ansioso por deixar este mundo"-

Portanto, ser um Babalawo Ol’Odu era ser o detentor de um extraordinário Oso ou "Poder Mágico" e só a partir deste ponto um Babalawo era realmente um Ifatoso ou "Aquele que tem o Poder Mágico de Ifá".
Eram estas, pois, em resumo, as três primeiras graduações que um Babalawo podia alcançar por seus próprios e exclusivos méritos.
A seguir, ou paralelamente à terceira graduação especial, havia um outro posto que era mais um reconhecimento de mérito específico, de certa forma um título honorífico, mas que era necessário para se alcançar algumas funções públicas e, até indispensável à algumas outras: era o título honorífico de Oluwo ou Senhor do Segredo.
Por exemplo: um Babalawo assistente dos Awoni Babalawo tinha que ser um Ojugnonan ou Mestre. Mas isto podia ser alcançado pelo reconhecimento dos méritos de pedagogo de um Babalawo, o que o tornava, automaticamente, num Oluwo.
E assim chegamos ao patamar maior do Sacerdócio do Orisa Orunmila Ifá e, portanto, do Credo Yoruba, o quarto degrau da ascensão da carreira religiosa de um Babalawo: a categoria superior dos Awoni ou Adivinhos Reais.
É verdade que o acesso a esta categoria superior era restrito aos Omo Bíbi ou Bem Nascidos da Cidade Santa de Ilê Ifé. Entretanto, tal procedência e descendência ilustre não eliminava a necessidade de um Omo Awo iniciante percorrer todo o processo iniciatório Elegan -Osu - Ôl’Odu para alcançar o título honorífico de Oluwo. O fato de um Omo Awo ser também um Omo Bíbi não lhe abria todas as portas : apenas não lhe fechava a última.
Assim, teoricamente, qualquer Babalawo iniciante podia aspirar vir a ser algum dia, um Awoni desde que:
1) - fosse um Babalawo praticante;
2) - tivesse "status" de Ôl’Odu;
3) - obtivesse a reputação de Oluwo;
4) - fosse nascido em Ilê Ifé e em uma das 16 famílias aristocratas.
Na realidade, todos os não nascidos em Ilê Ifé jamais chegariam ao posto de Awoni e seriam sempre considerados Elú ou Estrangeiro na Cidade Santa de Ifé pelos Awoni Babalawo.
Mas, os que ascendiam à categoria de Awoni Babalawo, obtinham uma função específica vitalícia, ligada a um título também específico, a saber, por ordem de importância : Araba, Agbonbon, Agesinyowa, Aseda, Akoda, Amosun, Afedigba, Adilofu, Obakim, Ôlorí Iharêfá, Lodagba, Jolofinpe, Megbon, TedImole, Erinmi, Elesi.
Mas, na verdade, tirando-se o título de Araba que tinha a primazia do Culto e o de Ôlorí Iharêfá que era chefe dos Babalawo que se encarregavam de assuntos do Estado, tratava-se mais de uma titulação aristocrática do que uma graduação religiosa, sobretudo se nos lembrarmos de que a tradição política Yoruba diz que foram 16 Chefes de Clãs Familiares que se reuniram para a fundação da Cidade Santa de Ilê Ifé, assim como a tradição religiosa reza que também 16 eram os Imole que vieram ajudar a reger a criação do Âiyé, instalando-se no Odé Âiyé, a morada das Divindades quando estiveram na Terra.
Como na Divinação Sagrada tudo é 16 + 1, aos 16 Babalawo Awoni devemos acrescentar o Oni ou Rei que, na verdade, em Ilê Ifé, era um teocrata submetido à uma sociedade secreta religiosa -a Oxôgboni- do mesmo modo que aos 16 Imole do Odé Âiyé acresceu-se o Imole Esu.
E, na verdade, havia mais uma restrição na carreira final de um Babalawo : o título de Araba, sendo o mais importante, era exclusivo do clã familiar Ilê Oketaxé, o aristocrata Clã da Casa dos Oketaxé. Mas, à parte o título de Araba, os outros 15 títulos dos Awoni eram hierarquizados segundo a antigüidade no posto que era ocupado vitaliciamente.
Como o Credo Yoruba asseverava que os Orisa são atraídos do Ôrun para o Âiyé pelo som dos tambores sagrados, também o Orisa Orunmila tinha os seus tambores: chamavam-se Firigba, Jongbondan e Keregidi. Todos os anos eles soavam, atraindo Orisa Orunmila, em 4 Grandes Festivais:

êgbodó Oni: o Festival dos Inhames Novos do Rei, realizado em Junho;
êgbodó Erio: o Festival dos Inhames Novos dos Oluwo, feito em Julho ;
êgbodó Ifé: o Festival dos Inhame Novos na Cidade de Ifé, em Agosto;
êwurin: o Festival realizado em Setembro.

Nestes Festivais, somente os Awoni podiam dançar portando o Ìrùkêrê ou Chicote-Insígnia, feito de pêlos da barbicha de bode com o grosso cabo de 1" (uma polegada), símbolo de seu "status" no culto e, portanto, também de seu aristocrático nascimento.
Como vimos no início deste relato, o Povo Yoruba saudava os devotos do Orisa Orunmila por diversas denominações, conforme a atuação, fama e/ou categoria que identificava nos mesmos. Portanto, impõem-se uma pergunta :
Como o povo identificava as diversas categorias de Babalawo?
Como se pareciam ou se diferenciavam eles?



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Em primeiro lugar, os Babalawo não se vestiam, necessariamente, só de branco; podiam usar também o azul médio por questões puramente práticas: vestes desta cor sujam menos. E os Awoni, sendo aristocratas, desde muitos séculos atrás, talvez antes dos europeus, obtinham dos comerciantes árabes a seda multicolor, por ser esta muito leve e, se usada em vestes amplas, muito frescas no verão.
E no inverno, por motivos climáticos inversos, introduziu-se o tecido adamascado árabe e, depois, o veludo europeu. E, no início, estas vestes, mormente no verão africano, restringiam-se a um grande pano retangular, enrolado e preso à cintura, indo da mesma ao final das canelas.
Foi o relacionamento inicial com os povos negros já islamizados como os Fulbas, Peules e Haussás que introduziu o costume de usar vestes do tipo "cáftan" árabe, às quais se sobrepunham, para dignificação, mantos leves e esvoaçantes. Também a aculturação Islâmica promoveu a substituição dos tradicionais chapéus de palha finamente trançada em formato cônico, por gorros de seção cilíndrica ou turbantes, mas o uso de turbantes era privativo dos Awoni Babalawo.
Calçados, do tipo sandálias pesadas, só eram usadas em longas caminhadas por quase todos, mas a Islamização introduziu as "babuchas", tipo de chinelo de couro tratado, sem salto, no estilo oriental, para os Omo Bíbi.
Vemos assim que, só pelas vestes, não era possível identificar-se um Babalawo, a não ser entre os mais aristocrátas e os demais mortais!
Então, olhava-se para as suas cabeças. Os Elegan tinham-nas obrigatoriamente raspadas; os Osu e Ôl’Odu deixavam crescer nas cabeças raspadas um tufo circular de cabelos, na parte lateral direita do crânio, tufo este aparado curto no caso dos Osu, mas que poderia ser longo e trançado no caso dos Ôl’Odu. Mas, somente os Awoni usavam neste Ôsù, o Ekódidé, ou seja, uma pena vermelha da cauda do papagaio cinzento africano.
Em seguida, podia-se visualizar os braços e o tórax dos Babalawo: todos eles, de qualquer categoria, usavam o Idê Ifá ou Bracelete de contas castanhas e verdes claras, atado no pulso esquerdo. Mas somente de um Ôl’Odu para cima, ou, se muito famoso, um Oluwo, ousava acrescentar a este bracelete uma Opala cor de rosa ou, se não tivesse recursos para isso, uma conta de cerâmica dessa mesma cor.
E, no pescoço, os Babalawo usavam cordões de pequeníssimas contas castanhas, torcidos juntos e com dez grandes contas verdes e brancas colocadas em espaços regulares. Os Awoni, se abastados, podiam ainda usar no pescoço um dispendioso colar de contas de coral vermelho. E, finalmente, cruzando o peito apoiado no ombro direito o Edigbá, um colar de longos cordões de contas especiais, feitas com seção transversal de caroços de Dendê ou ponta de chifre de gado.
Nas mãos, quando saiam para praticar a Divinação Sagrada, todos os Babalawo podiam usar o Ìrùkêrê, mas feito com longos pelos do rabo de vaca e com cabo de pouca espessura. Podiam, também, portar a Irofá ou Vareta Divinatória, com a qual se podia chamar a atenção do Orisa Orunmila para as aflições de seus consulentes, batendo-a de encontro ao Opon. E quando dois Awoni se encontravam nas ruas, cruzavam os seus Ìrùkêrê, com os respectivos cabos para baixo, saudando-se com a senha ritual de Ifá: -"Ogbêdù! Ogbomurin!"-
Além disso, os Babalawo, em ocasiões solenes, caminhavam em procissão apoiando-se nos seus Ôpá Orêrê, ou seja, em seus Cajados de Ferro, com pequenas sinetas cônicas, que retiniam cada vez que o cajado apoiava-se no solo.
Este cajado, quando não transportado, era cravado em pé, com muito cuidado, no solo do pátio da casa de seu dono e era a insígnia mais respeitada e temida dos Babalawo, não só por seus fiéis mas também por eles próprios. Recebia sacrifícios rituais junto aos Origi e acreditava-se ser ele a sentinela do sono dos Babalawo e, quando fincado ao solo, não podia cair sem sérios motivos que o derrubassem, pois neste caso, acreditava-se que seu dono já havia cumprido o seu Iwa e aproximar-se-ia o seu Ôl’ojó ou Dia Marcado, seu tempo aprazado para voltar ao Ôrun. Assim, quando da morte de um Babalawo, o seu Ôpá Orêrê era intencionalmente derrubado.
E quando se verificava que um Babalawo estava acompanhado de um Akopo, tornava-se evidente que se estava diante de um Babalawo Ôjúbona, um Mestre de Ensino. E esta função de Ogjubona era para um verdadeiro Babalawo, uma das suas funções mais importantes, já que outra das mais severas sanções que pesava sobre ele era o fato de que se ele não formasse, pelo menos, um Elegan ou aprendiz, a sua Ebikeji Ôrun ou Segunda Pessoa no Além, ou melhor, a sua Matriz Astral, não poderia achar descanso entre os seus Baba Âgbâ ou Antepassados.
Vê-se, assim, que o "status" de Babalawo não era uma sinecura e, muito menos, isento de trabalhos e riscos. A sua tarefa era difícil e patrulhada por severa regras de conduta que deveriam servir de base técnica e moral para a ação, pelo menos pública, dos atuais "Babalaôs":
O Babalawo Awoni não podia:
- envolver-se com a mulher de outro, inclusive sua Apetebi ou Companheira Ritual;
- praticar Âjé ou Feitiço contra outro Awoni;
- conspirar contra os seus pares;
- abandonar outro Awoni que estivesse em dificuldades, sem tomar providências para que tudo ficasse em ordem com o necessitado;
- falar mal de outro, fora do âmbito de sua Confraria, mesmo o outro sendo culpado;
- divulgar o teor das discussões travadas em seus encontros formais na Confraria Oxôgboni ou Sociedade Secreta, mesmo que se tratasse de punições contra culpados ou desagravo de inocentes.
Estas regras aplicavam-se e aplicam-se a todos os Babalawo. E, como sou Babalawo em cuja Ori Inu ou "cabeça interna" ou "personalidade", o Orisa Orunmila já "gritou", acrescento à essas regras acima, outras duas vindas também da milenar sabedoria Yoruba e que eram aplicáveis à qualquer categoria de Babalawo:

Obé ti o mu ki gbé kuku ará ré
-"Por mais afiada que seja a faca,
ela não pode riscar seu próprio cabo ."-
-" Não se pode barganhar com as coisas de Ifá,
como se faz com as coisas na praça do mercado ."-

O que equivale a dizer-se que nenhum Babalawo podia realizar a Divinação Sagrada em proveito próprio e/ou barganhar com o Destino dos fiéis dos Awon Orisa.
Foi por respeitarem e, principalmente, fazerem respeitar estas poucas regras básicas que essa linhagem de homens religiosos, os Babalawo, conseguiu estabelecer por mais de 1400 anos, em sua própria terra e entre seus próprios fiéis, uma reputação de dedicação e honestidade. E é um eminente etnógrafo e pesquisador ocidental, W. Bascon (1969) quem remarca este fato:

- "é significativo que nenhum dos divinadores de Ifé
conquistou a reputação de cobrar em excesso."-

Assim, foi em respeito à essa antiga, merecida e honrosa reputação, que eu escrevi, quase sempre, usando o tempo do verbo no passado, pois notícias recentes de viajantes e etnólogos radicados no território desses antigos Impérios (Nigéria, Benin, Daomey e Togo), demonstram que quase trezentos anos de "guerra, suor e lágrimas" desmantelou a estrutura sócio-religiosa-cultural daquele povo e muitos se esqueceram, não conheceram ou desobedeceram ao antigo provérbio Ulkumy-Nàgô:
-"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifa eni pa"-
-"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual recebemos para jogar Ifá "-


Mana, Axé e Benção
Baba Oberefun Si Okojumide

4.

AWON ORISA - OS MUITOS ORIXÁS

Origens do Conceito dos Orixás

As origens do conceito dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina dos povos sudaneses é tão antiga que perde-se na Noite dos Tempos Passados. Mas, a estratificação de seus graus hierárquicos já é identificável a partir do III século D.C. e é extremamente complexa por refletir também o início da organização social e política daqueles povos.
Léo Frobenius (1913), erudito pesquisador e etnógrafo ocidental, estudando a religião dos Iorubás, principalmente à época em que a mesma ainda não havia assimilado conceitos religiosos alienígenas de origens islâmica e cristã, disse com propriedade:
"A religião dos Iorubás encontrava-se num estágio requintado de evolução, podendo medir-se pela religião grega, quer pelo número de episódios, quer pela riqueza de personagens, quer pela profundidade das instituições."
E os episódios, os personagens e a profundidade das instituições encontram-se nos milenares Ese Itan Ifa (Versos dos Contos de Ifá) dos Itan Atowodowo (Contos dos Tempos Imemoriais) preservados pela Tradição Oral dos Iorubás por mais de dois mil anos.
E dado que indubitavelmente foi a Tradição dos Sudaneses que legou à Umbanda o Conceito dos Orixás, vamos aqui discorrer sobre eles de acordo com o Mito da Criação Universal, segundo os próprios Iorubás.



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Do Mito da Criação Universal, segundo os Iorubás.

Os milenares Ese Itan Ifa (Versos dos Contos de Ifá) em seus Odu (Fundamentos de Tradição Oral), falam com freqüência nos Awon Imole, isto é, nos "Muitos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina":
"Awon Irinwo Irunmole oju kotun, ati awon Igbamole oju kosi."
"Muitos Irinwo Irunmole do Lado Direito e muitas Igbamole do Lado Esquerdo."
Outras vezes, falam em 600 (seiscentos) Imole, classificando-os em 400 (quatrocentos) Irunmole (Divindades Masculinas) e em 200 (duzentas) Igbamole (Divindades Femininas).
Mas, isto significa muito mais que os Imole eram e são considerados como divididos em Irinwo Imole ou Irunmole ou "Divindades Geradores" e Igba Imole ou Igbamole ou "Divindades Gestantes" e todos os pesquisadores eruditos e os religiosos africanos também estão de acordo em considerar lógica a tradição de que estes 600 Imole são um número místico com a função de emprestar grandeza ao conceito de Divindade, o que importa em dizer-se que eles, os Imole, já eram e ainda são uma grande quantidade desconhecida.
Assim sendo, na Teogonia Iorubá, no mais alto dos Meesan Orun ou "Nove Além" ou "Planos da Existência", denominado Ajal'orun ou "Teto do Além", portanto, no ápice do poder espiritual, está OLORUN, justamente "Aquele que" (O) + "tem" (LI) + "o Além" (ORUN).
Ele é o Ala Iwa Aba L'Ase ou "Supremo Criador dos Princípios e Poderes que tornam possíveis e regulam toda a Existência" em todos os seus Nove Planos:
- o Iwa ou a "Qualidade do Branco" ou "Poder da Existência";
- o Ase ou a "Qualidade do Vermelho" ou "Poder da Realização" que dinamiza a Existência;
- o Aba ou a "Qualidade do Preto" ou "Poder da Essência" que dá propósito à Realização.
Ele não era considerado, pois, um Imole: para o Povo Iorubá OLORUN é a denominação para o conceito de Deus Uno, Todo Poderoso, Infinito e Eterno!
Daí o distanciamento que todos os outros Seres Espirituais têm que Dele manter, pois nada na Criação é capaz de suportar-Lhe o magnífico esplendor, sem a sua expressa permissão!
Consoante este conceito universal de Deus, Incriado e Criador, Único e Todo-Poderoso, OLORUN não tem culto específico e nem sacerdócio particularizado. Mas, apesar disso, Ele não é tão remoto ou indiferente aos assuntos humanos. Pelo contrário, Ele está sempre muito próximo aos Seres de sua Criação: as preces e os apelos sinceros do coração humano O alcançam.

Então, consoante o Mito da Criação da Tradição Iorubá:

"OLORUN, com seu próprio Hálito Divino, criou o Irunmole Orisa Orisanla, de Orisa (Ôrixá) + Nla (Grande), a "Grande Divindade Masculina da Qualidade do Branco".
Em seguida, OLORUN criou a Igbamole Oduduwa, a Iyangba, de Iya (Mãe) + Ni Gba (que recebe), a "Grande Divindade Mãe da Qualidade do Preto".
Ao Irunmole Orisa Orisanla e à Igbamole Oduduwa, OLORUN delegou os poderes para a geração e gestação de todas as condições para que os Seres existissem no Além e no Universo.
Em terceiro lugar, com a Eerupe ou "Lama", mistura de Água e Terra, mas também vivificada por Seu Hálito e Centelha Divina (Fogo e Ar), OLORUN criou o Imole Esu Agba, o "Terceira Cabaça", ou "Terceiro Ser Criado" ou ainda, o "Esu Ancestral", o Imole da Dinamização, da Transformação e da Restituição, quer no Além ou quer na Terra-da-Vida e, portanto, portador de todas as Qualidades do Vermelho, do Preto e do Branco.
O Imole Esu Agba é, portanto, o primeiro Ara Orun ou "Corpo do Além", ou seja, a "Primeira Individualidade Espiritual" a ser criada com o concurso da Matéria combinada: Fogo (Centelha Divina), Ar (Hálito Divino), Água e Terra (Eerupe, a Lama).
Sua qualidade de "Terceiro Ser Criado" o constituiu em Osije ou "Mensageiro Divino" com permissão expressa de se apresentar perante OLORUN que somente receberá Oferendas se elas forem conduzidas por Imole Esu Osije.
Em seguida, houve a Criação de todos os Awon Imole, os muitos "Seres Sobrenaturais de Categoria Divina", ainda criados diretamente por OLORUN, ou seja:
Num primeiro momento da Criação, OLORUN criou os Awon Irunmole Orisa Funfun (os Seres Sobrenaturais Masculinos da Qualidade do Branco). Conheceram-se 50 (cinqüenta) deles que realmente portam o nominativo Orisa e que são considerados não gerados mas geradores; pertencem ao Oju Kotum (Lado Direito); ao Irinwo (Poder Gerador Masculino); à Iwa (Classe de Poder da Existência), expressado materialmente pela cor Funfun (Branca).
O principal Irunmole Orisa Funfun é, como já vimos, Orisanla. Daí decorre seu maior título Obatala - de Oba (Senhor) + Ni (tem) + Ala ( a Veste Branca), ou seja, o "Senhor que tem a Veste Branca".
Em seguida, vem o Orisa Funfun cujo título é Orunmila, porque dizem os Awon Babalawo ancestrais de Ile Ife, a Cidade Santa dos Iorubás, que este nominativo significa "Aquele que pode abrir o Além", provindo de : Orun (Além) + Emi (Eu) + Ela (Abrir). E é realmente Orunmila, o Orisa que responde à preces dos Humanos, através do A Da Ifa Fun ou "Criar Ifá para alguém" de sua Adivinhação Sagrada pelo Opon Ifa (Tabuleiro de Ifá) e o Opele Ifa (Corrente de Ifá).
Desta forma, Orunmila-Ifa é o Arauto dos Desígnios de Deus para os Destinos Humanos e que, para isso, pode apresentar-se frente a OLORUN e suportar-lhe o magnífico esplendor.
Num segundo momento da Criação, OLORUN criou as Awon Igbamole Iyangba Dudu (os Seres Sobrenaturais Femininos Grandes Mães da Qualidade do Preto), dentre elas a Iyangba Nanan Buruku ou a Grande Mãe Ancestral da Qualidade do Preto (dudu), ainda que por vezes se as chamem pelo termo Iya Mi ou "Senhora Minha".
Elas pertencem ao Oju Kosi (Lado Esquerdo), à Igba (Poder Gestante Feminino), à Aba (Classe de Poder da Essência), expressado materialmente pela cor Dudu (Preta). Conheceram-se muitas delas que são consideradas as "não geradas" mas "gestantes". Entre elas podemos citar : Yemideregbe ou "Aquela que vem da Laguna" que, no Brasil, é conhecida como Iemanja ou "a Mãe dos Filhos-peixes".
Do relacionamento mitológico dos Irunmole Irinwo Funfun com as Igbamole Iyangba Dudu, surgiriam outras duas classes de Seres Sobrenaturais considerados como Descendentes Masculinos e Descendentes Femininos desses relacionamentos:
Os Omode Okunrin ou "Descendentes Masculinos" pertencem ao Ase (Classe de Poder da Realização), expressado materialmente pela cor Pupo (Vermelha), ou então, por múltiplas combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto ao Ojun Kotum (Lado Direito da Criação) e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Funfun (Qualidade da Brancura), são também denominados por Orisa Omode Okunrin ou seja "Orixá Descendente Masculino".
As Omode Obirin ou "Descendentes Femininos" também pertencem ao Ase (Classe de Poder da Realização), expressado materialmente pela cor Pupo (Vermelha), ou então, por múltiplas combinações das três cores-símbolos: Branco, Preto e Vermelho. Classificam-se junto ao Oju Kosi (Lado Esquerdo da Criação), e, apesar de não pertencerem exclusivamente ao Dudu (Preto), são também tratadas por Ebora Iyami, porque este termo também pode traduzir-se por "Senhora" (Iya) "Minha" (mi), o que gerou muitas confusões posteriores entre os conceitos das Entidades Grandes Mães Gestantes (Iyangba Iyami = Minha Grande Mãe Ancestral) e o das Entidades Filhas Geradas (as Ebora Iyami = Entidade Feminina Senhora Minha), quando da transposição, durante o cativeiro no Brasil, da Teologia em língua Iorubá para as Lendas contadas em língua portuguesa estropiada.
Vê-se, assim, que a classificação de Imole (Seres Sobrenaturais de Categoria Divina) abrange a todos os Ara Orun (Seres do Além) que não sejam os Onile (Senhores da Terra ou Ancestrais). Ela é uma classificação superior comum a todos os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina.
Assim, ao se dizer que tal ou qual Entidade Espiritual é, ou não, um Orisa ou uma Iyami ou uma Ebora, não se está de maneira alguma rebaixando o seu "status" espiritual e sim melhor qualificando-o quanto a sua função/atuação na Hierarquia Divina.
Desta forma, quanto à sua atuação mais ancestral, aceita e ensinada pelos Babalawo, o Imole Esu não é um Orisa porque não pertence à Brancura. Ele pertence à uma categoria única, exclusiva e importantíssima na Classe dos Imole: a posição de Terceiro Criado diretamente por OLORUN.
Imole Esu, não tendo sido gerado, também não é gerador; pertence igualmente ao Oju Kotun e ao Oju Kosi, pois como Osije ou "Mensageiro Divino" anda por todos os Nove Além. Por ser o Grande Dispensador do Poder do Iwa, Aba e Ase carrega em seu Ado Iran (Cabaça Mágica) as múltiplas combinações das três cores-símbolos Funfun, Dudu e Pupo. Também, por delegação unânime de todos os Orisa, das Iyami, dos Orisa Omode Okunrin e as Ebora Omode Obirin, ele é o Enugbarijo (o Boca Coletiva), capaz de falar por todos nós a OLORUN no momento que em que for cumprir sua missão de Mensageiro Divino.
Assim sendo, toda essa classificação dos Seres Sobrenaturais de Categoria Divina, hoje conhecida como parte da "Dijina dos Ôrixás", é muito importante quando dos rituais de "feitura" dos fiéis e/ou do "Assentamento" de uma Entidade Espiritual num lugar devocional mas, no Brasil, após a perda de valores iniciatórios causada pela escravidão e a catequese católica forçada, mais a conseqüente reunião de todos os Seres Sobrenaturais em um só espaço físico - inicialmente o do Candomblé de Nação - o apelativo de "Ôrixá" firmou-se para designar a todos os Seres Sobrenaturais de Categoria Divina indiscriminadamente, quer fossem da Direita ou da Esquerda, ou, quer fossem "Pais", "Mães" ou "Filhos", quer, ainda, fossem da qualidade do Preto ou do Vermelho. Alguns, até chamam Esu por "Ôrixá" porque pressentem sua importância, mas desconhecem sua verdadeira essência !!!
O próprio Orisanla, no Brasil, ficou mais conhecido pela contração do termo Orisa Nla em Orinxanalá, depois em Oxanlá e posteriormente criando-se a nova fonética "Oxalá", sob a qual é passou a ser muitas vezes confundido com OLORUN e, outras vezes, sincretizado com as características católicas e esotéricas do Senhor Jesus, o Cristo.
A principal Igbamole Ebora Dudu é a grande Divindade do Preto, a Igbamole Iyangba Oduduwa que é a Parceira Gestante do Casal Divino, mas que está praticamente esquecida no Brasil. Como esquecidos estão Oranfe, Agbona, Erikiran, Erinle, Oluwa, Oke, Agbala, Ikire, Hoho, Ija, Olufon, Eteko, Oluorogbo, Oluwonfin, Oxaogiyan, etc...
Desta forma, assim, mais tardiamente, a própria a Umbanda Esotérica fixou seus parâmetros sobre as características esotéricas de apenas um Orisa Funfun, cinco Irunmole e uma Iyami, mas também chamando a todos por "Ôrixá": Oxalá, Ogum, Oxosse, Xangô, Yemanjá, Yori (Ibeje), Yorimá (Obaluaiye).
Mas, ainda no Brasil, o maior dos esquecidos foi o Ara Orun Imole Irunmole Orisa Funfun Oju Kotum Orunmila Ifa, o Senhor dos Destinos Humanos e, talvez, por isso, este país não encontre o rumo da felicidade e da justiça social que espero em OLORUN que ele mereça e, um dia, alcance.
Assim sendo, esta HP existe para redimir tal esquecimento !!!


Mana, Axé e Benção
Baba Oberefun Si Okojumide

5.

IMOLE ESU
"Esu, aqui está minha Oferenda!
Por favor, diga a Olorun
que aceite esta Oferenda
e alivie meu sofrimento! "
— Fórmula ritual com que os fiéis devem oferecer o Ebo destinado ao Imole Esu —
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PARA COMPREENDER QUEM É ESU
Uma das divindades ancestrais iorubanas que mais escandalizou, confundiu e exasperou aos primeiros catequistas árabes e europeus em África foi o Imole Esu, sobretudo porque eles, reagindo aos estímulos de seus próprios subconscientes e aos tabus sócio-religioso-culturais da época, superestimaram um dos atributos deste Imole, qual seja, o de estimulador e regulador da natural atividade sexual, sem a qual não há procriação animal ou humana.
À época, esses primeiros catequistas não se deram conta que estavam imergindo em uma civilização africana autóctone e guerreira, agrícola e pastoril, aonde a atividade sexual regulamentada pela sociedade não era um "pecado" e sim uma benção sempre solicitada às Divindades porque significava a segurança de uma grande descendência.
Sim, o mesmo conceito bíblico do "crescei e multiplicai-vos"!
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( Vou ler depois )
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Mas, na sua feroz repressão a este atributo e à sua representação fálica, esses catequistas "esqueceram-se" das outras atividades primordiais desse Imole! E esse "esquecimento" influenciou duradouramente até aos iorubanos escravizados e "catequizados" no Brasil, fazendo com que eles pouco repassassem aos seus futuros descendentes e/ou dependentes religiosos outros atributos mais importantes que haviam por detrás daquela representação fálica agora repudiada.
Do Mito da Criação Universal, segundo os Iorubás.
É em respeito ao conceito ancestral que os Iorubanos tinham de suas Divindades que enumerarei aqui os principais 16 (dezesseis) títulos descritivos dos atributos que o Imole Esu tinha antes do advento de sua "conversão" forçada em "diabo", em nome de uma pretensa superioridade racial e cultural de "conquistadores" que levaram à África mais de trezentos anos de guerras, sangue, suor e lágrimas.
Também só nos referiremos aqui a Esu por seu título ancestral iorubano de Imole ou "Ser Sobrenatural de Categoria Divina", para bem diferenciá-lo do conceito de Satã, Caipora ou Êxú de Tronqueira que a perda de valores religiososo africanos, causada sobretudo pela escravidão e o sincretismo forçado com o Catolicismo e o Islamismo, permitiu insinuar-se até na mente de muitos que se dizem "Pai de Santo", quanto mais na mente de seus mais simples seguidores atuais.
Assim, com o devido respeito, começamos por saudar ao Imole Esu:
Mo ju iba, Esu Oba Baba awon Esu! Iba se, o!
Saudações, Esu Senhor e Pai de todos os Esus!
Que esta homenagem se cumpra!
E pedimos-lhe Ago ou "licença" para citar o seu Orisirisi ou "Contos Imemoriais" onde se fala de seus dezesseis maiores atributos, sobretudo ligados ao Culto de Ifá, e que são tão negligenciados hoje em dia até pelos seus El'esu ou "Sacerdote de Esu"!
Eis aqui seus dezesseis títulos e suas correspondentes "qualidades", os quais sempre foram ligados aos 16 Odu ou "Fundamentos de Tradição" dos Itan Ifa ou "Contos de Ifá" de Ile Ife ou "Cidade Santa de Ifé":
1. Esu Yangi - o Senhor da Laterita Vermelha
2. Esu Agba - o Senhor Ancestral
3. Esu Igba Keta - o Senhor da Terceira Cabaça
4. Esu Okoto - o Senhor do Caracol
5. Esu Oba Baba Esu - o Rei e Pai de todos os Eshus
6. Esu Odara - o Senhor da Felicidade
7. Esu Osije - o Mensageiro Divino
8. Esu Eleru - o Senhor da Obrigação Ritual
9. Esu Enu Gbarijo - o Senhor da Boca Coletiva
10. Esu Elegbara - o Senhor do Poder Mágico
11. Esu Bara - o Senhor do Corpo
12. Esu L'Onan - o Senhor dos Caminhos
13. Esu Ol'Obe - o Senhor da Faca
14. Esu El'Ebo - o Senhor das Oferendas
15. Esu Alafia - o Senhor da Satisfação Pessoal
16. Esu Oduso - o Vigia dos Odus
Pouca semelhança entre estes nomes e aqueles que, hoje em dia, se lhe atribuem? Paciência! Somem a estes nomes 350 anos de guerras, escravidão, aculturação por sobrevivência e catequese forçada "goela abaixo" dos vencidos e chegaremos facilmente, com o devido respeito, às "Tronqueiras" e à troca de nomes do "Senhor da Laterita" por "Exú do Lodo", o "Senhor dos Caminhos" por Exú "Tranca-Ruas" e o "Senhor do Corpo" por "Exú Caveira", como veremos a seguir. Assim, tendo visto as denominações, vejamos agora as qualificações.
Esu Yangi é a sua primeira forma mais importante e a que lhe confere a qualidade de Imole ou "Divindade", pois nos Ritos da Criação, segundo o Credo Iorubá:

-"O ar e as águas moveram-se conjuntamente e
uma parte deles mesmos transformou-se em lama.
Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo,
a primeira matéria dotada de forma,
um rochedo avermelhado e lamacento.
OLORUN admirou esta forma e soprou sobre o montículo,
insuflando-lhe Seu Hálito e lhe deu vida.
Esta forma, a primeira dotada de existência individual,
um rochedo de Laterita,
era Esu Yangi."-
Assim, fica claro que Imole Esu foi criado diretamente por OLORUN, mas não da própria e primordial matéria divina, da qual Ele já havia feito Obatala e Oduduwa, o Casal Divino, mas sim daquela matéria que iria formar toda existência genérica subseqüente, ou seja, a Eerupe ou "Lama", da qual seria criada também toda a Humanidade que um dia Ebora Iku ou a "Morte" devolverá a essa mesma lama.
Então, Imole Esu é o primeiro Ser criado da Existência Genérica e o símbolo por excelência do Elemento Criado. Por isso ele é chamado também de Esu Agba ou "Eshu Ancestral". Assim, os seus assentamentos ou sacrários mais antigos e tradicionais eram um simples pedaço de Laterita vermelha enfiado no solo, na Orita Meta ou "Encruzilhada de Três Caminhos". Algumas vezes, a Laterita vermelha estaria cercada por 7, 14 ou 21 hastes de ferro, mas deste metal bem enferrujado que é o "esqueleto" do metal novo.
Como os mitos da Criação, segundo os Iorubás, demonstram que Imole Esu foi criado logo após Obatala e Oduduwa por OLORUN, ele é, portanto, o Igba Keta ou a "Terceira Cabaça" ou o "Terceiro Criado", sendo símbolo da Existência Diferenciada e, em conseqüência, o elemento dinâmico que leva à propulsão, à mobilização, à transformação e ao crescimento. Nesta variante múltipla, ele é o princípio dinâmico que participa forçosamente de tudo o que virá a existir.
E assim foi-se processando a Criação, segundo o Credo Iorubá.
Os Orisirisi Esu continuam contando como Imole Esu logo descontrolou-se e começou a devorar toda a existência, sendo obrigado por Orunmila, após uma longa perseguição, a vomitar tudo de volta; entretanto, tudo em maior quantidade, muito melhor e mais perfeito do que quando o ingerira.
E, tendo sido picado em milhares de pedaços pela espada de Orunmila, transformou-se no "Mais Um" ou o "Um multiplicado pelo Infinito", no Esu Okoto ou "Eshu do Caracol", cuja estrutura óssea espiralada parte de um ponto único, abrindo-se para o Infinito e no qual os Iorubanos conceituavam o crescimento e a multiplicação.
Desta forma, Esu Yangi também multiplicou-se “infinitamente" e, tendo se tornado no símbolo da restituição e da recomposição, tornou-se ele próprio no Oba Baba Esu ou "Rei" e o "Pai" de todos os outros Imole Esu que dele seriam e foram "cortados” e que para sempre acompanhariam os Imole e todos os mortais.
Os Ese Itan Ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", contam-nos a razão da denominação das outras variantes múltiplas de Imole Esu.
Numa explanação livre dos versos desses Contos, no que se refere ao Imole Osetuwa, podemos ler que quando os Imole vieram à Terra para coadjuvar Obatala e Oduduwa a reger a Criação, OLORUN ensinou-lhes tudo quanto precisavam saber para que a vida na Terra fosse Odara ou "Feliz".
Mas, apesar de os Imole fazerem tudo quanto lhes tinha sido prescrito por OLORUN, sobrevieram na Terra todos os tipos de desgraças, sobretudo uma terrível e prolongada seca.
Os Imole reuniram-se e chegaram à conclusão de que os fatos desastrosos estavam além da sua compreensão e que deveriam mandar alguém, sábio e instruído, à presença de OLORUN para que Este lhes mandasse a solução dos problemas que afligiam a Terra, agora sob o risco de total desaparecimento.
Orunmila, o Orixá da Divinação Sagrada, partiu nessa missão e data daí o fato de que ele passou a ser um dos três Imole que podem apresentar-se perante OLORUN e suportar-Lhe o esplendor. Ao lhe ser permitido facear OLORUN, Orunmila ouviu Dele que a razão para todas as desgraças que assolavam a Terra estava no fato de que eles, os Imole, não haviam convidado para morar no Ode Aiye, ou seja, a "moradia dos Imole na Terra", ao Ser que se constituía no décimo sétimo dentre eles. Quando assim o fizessem, tudo voltaria a frutificar!
E foi assim que Orunmila tornou-se o "Arauto de OLORUN" para a ligação dos dois mundos, o Orun ou "Além" e o Aiye ou "Terra". Retornando ao Ode Aiye, Orunmila começou a procurar pelo "décimo sétimo", o qual deveria ser convidado a morar com eles.
Depois de muitas tentativas infrutíferas, decidiram que uma poderosa Aje ou "Senhora do Feitiço" - a Ebora Osum - deveria conceber um filho de Oso ou "Senhor do Poder Mágico", filho esse que receberia, ainda no ventre materno, o Ase ou "Força Mágica" de todos os Imole por imposição conjunta de suas mãos, para que se transformasse assim no Mensageiro por excelência das Oferendas dos Imole e se acabassem as desgraças que assolavam a Terra.
Assim foi gerado um filho do "Feitiço com o Poder Mágico", o qual recebeu o nome de Osetuwa e este novo Orixá Gerado passou a tentar cumprir o seu dever de mensageiro, mas sem obter absolutamente nenhum sucesso!
Até que um dia, em aflição, lembrou-se de procurar o quase desconhecido Imole Esu Odara ou "Eshu da Felicidade", para pedir-lhe conselhos e ajuda.
E Osetuwa dirigiu-se a Esu Odara e pediu-lhe a ajuda para levar as Oferendas dos Imole a OLORUN. E Esu Odara respondeu a Osetuwa:

-" Como??? Jamais pensei que você viesse me avisar antes de partir!
Por este seu gesto, hoje o Orun lhe abrirá as portas."-
E, então, Osetuwa e Esu Odara puseram-se a caminho e partiram em direção aos portões do Orun. Quando lá chegaram, as portas já se encontravam abertas!
Osetuwa, então, pôde entregar as Oferendas dos Imole a OLORUN e Este, aceitando-as por virem através de Imole Esu, deu a Osetuwa ..."todas as coisas necessárias à sobrevivência do Mundo". Osetuwa voltou ao Aiye ou "Mundo Material" e tudo frutificou novamente!
Tão gratos lhe ficaram os Imole que o cobriram de presentes e o celebraram como o único dentre eles que conseguira levar as Oferendas ao Orun. Mas Osetuwa, com humildade, levou todos os presentes que recebera e deu-os todos a Esu Odara.
Quando os deu a Esu, o mesmo disse:

-“Como??? Há tanto tempo eu entrego os sacrifícios
e nunca houve ninguém para retribuir-me a gentileza!"-
-“Você, Osetuwa, todos os sacrifícios que eles fizerem sobre a Terra,
se não os entregarem primeiro a você
para que você os possa trazer a mim,
farei com que as Oferendas não sejam aceitas!"-
E foi assim que Osetuwa tornou-se em um poderoso Akin Oso ou "Manipulador do Poder", duplamente por seu nascimento e pela confirmação de Imole Esu Odara, por ter mostrado a todos os Imole que Esu era realmente o Osije ou "Mensageiro Divino" e que também tinha o poder de aceitar ou recusar os sacrifícios rituais porque era o verdadeiro Eleru ou "Senhor da Obrigação Ritual".
A partir de então, os seiscentos Imole decidiram dar ao Imole Esu um “pedaço de suas próprias bocas” para que ele pudesse falar por todos, quando fosse perante OLORUN, pois era patente que ele era o outro Imole, além de Orunmila, que podia apresentar-se perante OLORUN. Imole Esu, muito sabiamente, “uniu todos esses pedaços em sua própria boca” e assim tornou-se o Enu Gbarijo ou "Boca Coletiva" de todos os Imole.
Desde então, como retribuição de Esu aos outros Imole, cada um destes possui ao seu lado o seu Esu Okoto ou "Eshu do Caracol", o "Mais Um", a quem ambos delegam os seus poderes. Desta forma, por delegação espontânea de todos os Imole, Esu tornou-se também o Elegbara ou "Senhor do Poder Mágico". E como toda a Criação é também regida pelos Imole, todo o Ser vivente no Aiye ou "Mundo", assim como possui o seu Olori, ou seja, o seu Orisa ou sua Ebora, que são o "Senhor" ou a "Senhora" de sua Ori ou "Cabeça", também tem que ter o seu Esu Bara ou "Esu do Corpo", pois Bara vem de Oba=Senhor + Ara=Corpo.
Isto explica muitas coisas que são atribuídas nos cultos afro-brasileiros a Exú, pois que ele é responsável pela natural atividade sexual, que é um atributo do corpo, pois sem ela não há procriação, que é multiplicação e abundância, quer seja vegetal, animal ou humana.
E, para isso, Imole Esu, sendo o Elegbara e o Bara, recebeu de OLORUN os instrumentos-símbolos desta sua ação dinamizadora e frutificadora:
- o Ado Iran, a Cabaça arredondada de longo pescoço, o recipiente de poder mágico que contém inesgotável Ase ou Força Mágica, bastando ser apontada a um objetivo para emanar e propagar esse poder mágico;
- o Gorro ou Penteado tradicional em coque de ponta alongada e caída, terminada na forma da glande peniana humana, símbolo da Reprodução.
Daí ser o pênis humano, em ereção, uma de suas mais populares e ancestrais representações, feitas em pedra, como as da localidade africana de Tondediru, ou, mais simplesmente, modeladas em barro à beira dos caminhos. E este foi, como já dissemos no início, um dos aspectos de Imole Esu que mais escandalizou os missionários de outras religiões, que então dispararam contra ele todas as suas “armas”.
Nunca atentaram para o fato de que em nenhum dos milhares de Versos de Contos de Ifá, Imole Esu jamais - repitamos - jamais assume a função de procriador e mais: suas diversas formas multiplicativas têm por origem a divisão do seu próprio Ser em “milhares” de partes pela espada de Orunmila.
Mas Imole Esu tinha uma outra função capital que despertou o interesse dos catequistas das novas religiões, que nela viram a oportunidade otimizada para a destruição de sua importância entre os Iorubás: a sua função de Executor Divino.
Como Imole Esu é o Mensageiro Divino e o Senhor do Carrego Ritual prescrito por Orunmila-Ifa, ele é também o L'Onan ou "Senhor dos Caminhos", tanto dos benéficos (Ona Rere), quanto dos maléficos (Ona Buruku), que ele abre ou fecha aos mortais conforme verifique se os sacrifícios prescritos aos fiéis foram ou não cumpridos, ajudando aqueles que os cumprem e punindo os que, devidamente avisados, não o fazem.
Por isso, ele é também o Ol'obe ou "Senhor da Faca", significando ser o Executor dos Sacrifícios, mas também, no sentido ritualístico, "Aquele que tem o poder de vida e morte". À Obe ou "Faca", Imole Esu junta ainda a sua Opa ou "Bolsa", na qual carrega os seus objetos ritualísticos mágicos, entre eles os "fragmentos de cabaças", símbolo do Ser destruído mas, por sua vez, destruidor, talvez um dos seus emblemas mais temidos e somente manipulados por seus El'esu, ou seja, pelos Sacerdotes do Imole Esu.
Por tudo isso, Imole Esu está sempre "do lado de fora", nos “caminhos”, onde tem seu lugar predileto, a Orita Meta ou "Encruzilhada de Três Caminhos", onde ele aceita, carrega, transporta e premia, mas, também, de onde vigia, adverte, recusa e pune.
Foi então que os primeiros catequistas de outras religiões passaram a pregar que todas as desgraças acontecidas aos fiéis dos Orisa Yoruba, merecidas ou não, derivavam da ação nefasta e indiscriminada de Imole Esu, o qual apenas faria o Mal pelo Mal.
Por sua vez, o povo Yoruba escravizado viu nesta interpretação equivocada de Executor por Malfeitor, uma nova arma para se defenderem e passaram a ameaçar abertamente os seus inimigos com as artes punitivas do Imole Esu, que assim começou a transformar-se em "Êxú" e a sincretizar-se, nas mentes mais fracas, com a figura do "diabo” medieval católico.
Daí a ele começar a ser representado e apresentado como um Ser tenebroso e mau foi apenas a mesma “descida de ladeira” por onde escorregaram os sincrético cultos afro-brasileiros, notadamente a Umbanda Popular, até estarem lançadas as bases do “sincretismo dentro do sincretismo" e aparecer a Kimbanda que, na verdade, nada mais é que o "ponto mais alto da curva do desespero” a que foram lançados os povos escravizados no Brasil.
Mas, na realidade, no Credo Iorubá, Imole Esu é o símbolo, não da subtração, mas sim da restituição que os humanos devem fazer, através de Oferendas, daquelas coisas que eram necessárias à sobrevivência do Mundo e que OLORUN deu aos Imole Osetuwa e Esu para salvá-la e não para destruí-la.
E é na execução das Oferendas com esta intenção, que só Esu Elebo ou "Senhor das Ofendas" é capaz de tornar aceitável a OLORUN, que está a "chave" que permite ao fiel alcançar o seu objetivo. E se conseguir alcançar o seu objetivo, naturalmente obterá também a satisfação (Alafia) dos seus anseios maiores; assim, deve agradecer também a Esu Alafia ou "Senhor da Satisfação Pessoal".
É sobretudo sob as múltiplas variantes de Bara, Enu Gbarijo, Elebo e Alafia que o Orisa Orunmila se utiliza do Imole Esu para poder atuar como o Arauto dos Awon Orisa sobre os destinos humanos na Divinação Sagrada de Ifá, quer através do Opon ou "Tabuleiro" e do Opele ou "Corrente de Ifá", quer através dos "Búzios".
Por isso mesmo, os Odu ou "Fundamentos de Tradição" sempre aconselham a Pa Esu, ou seja, a apaziguar ao Imole Esu e não a tentar suborná-lo para ter um “malfeitor” às ordens.
Imole Esu é, pois, o Princípio Restaurador do Equilíbrio no Credo Iorubá. Daí as suas representações pouco conhecidas, à fora sua representação fálica, ora “fumando cachimbo”, simbolizando a absorção e a ingestão, ora “tocando flauta”, simbolizando a doação e a restituição.
E assim, os Orisirisi Esu contam corno ele distribui generosamente crescimento e honras, “vomitando-os" após ter ingerido todo tipo de alimentos e bebidas rituais das Oferendas e como há um determinado elemento, o Aasaa ou "Fumo de rolo" picado que infalivelmente provoca essa inusitada transformação, multiplicação e restituição”.
Tudo isso ele assim faz em troca de somente três coisas: a coragem do fiel em tentar cumprir seu próprio destino; respeito do fiel aos Fundamentos de Tradição dos Orixás e a oferta de seu Ebo ou "Oferenda" específico que lhe é destinada no seu ritual próprio, o Ipade, cujo literal significado é justamente “ato de reunião de apaziguamento” e não para pedidos de destruições e vinganças aleatórias, como pensam aqueles que, na verdade, não conhecem a essência do Senhor Imole Esu, porque se esqueceram ou não conhecem mais as suas raízes espirituais ancestrais, ou, pior ainda, as renegam!
A oferenda Ebo é constituída de elementos materiais muito simples, mas de profundo significado, ao contrário do que se vê "despachado" pelas esquinas de nossas cidades e que quase não guardam relação alguma com o seu significado original:
- Omi (a Água), a Oferenda por excelência, que fertiliza, apazigua e vitaliza tanto o Além quanto a Terra, especialmente se for a Omi Ato (água de chuva), a “Água-sêmen” do Céu!
- Epo (o Azeite de Dendê): símbolo da dinâmica da realização, da descendência, relacionada com o Eje Pupo ou “sangue vermelho” ou essência do Vermelho dos elementos gerados;
- Otin (bebida destilada branca): vinho de palmeira em áfrica e cachaça no Brasil, relacionada com o Eje Funfun ou “sangue branco” ou essência do Branco dos elementos geradores;
- Iyefun (a farinha): qualquer farinha, a qual é símbolo do Eje Dudu ou “sangue preto” ou essência do Preto dos elementos gesta ntes e fecundos, como o Akasa, bolinho de pasta branca de milho deixado de molho, ralado e cozido, envolto na folha africana Ewe Eko, no Brasil, substitída pela "folha de bananeira".
Dito isto (e mais haveria), eis porque tão poderosa divindade sempre foi e ainda é cultuada e servida antes até que servidos e cultuados sejam os Orixás, em qualquer situação e lugar ...
Remarquemos a mais que, especificamente no Ebo de seu Ipade, Imole Esu não recebe sangue animal e sim seu sucedâneo transmudado - o Epo ou "Azeite de Dendê".
Assim, sem ferirmos a Tradição Ancestral, podemos afirmar que é um direito da Corrente Astral do Aumbhandan - A Umbanda Esotérica do Brasil - não se utilizar de sacrifícios de sangue, nem mesmo parar preceituar tão poderosa divindade.
Usos e costumes ancestrais de outros povos, legítimos e fundamentados à sua época, podem muito bem serem transmudados em novos tempos, como já acontecia mesmo em África, aonde os Babalawos tinham, a seu critério, o poder de substituir os animais preceituados para oferenda por suas penas, escamas e couros, devendo o valor de mercado do animal a ofertar ser distribuído, em esmolas, entre os carentes de sua comunidade.
Por outro lado, a atuação do Imole Esu como Mensageiro dos Orixás para a entrega de oferendas a OLORUN, dificilmente é compatível ou coerente com a sua posterior identificação com o "Satã" pelos cristãos e muçulmanos. Tal tentativa de analogia, só se explica por não se encontrar no Credo Iorubá a idéia de “diabo” ou “inferno”, como se os entendem em outras religiões não-africanas.
De fato, mesmo face à situação irregular dos suicidas, no pensamento Iorubá seres carentes de coragem em enfrentar seu próprio destino, os Iorubanos jamais criaram a idéia grosseira de uma eterna punição; para eles, prêmio ou castigo eram provações a serem experimentadas aqui mesmo nesta Terra ou pela falta de retorno à ela.
Assim, a idéia de um "Exú" essencialmente trevoso e mau é uma contrafação sincrética com o “diabo” medieval católico, forçada e imposta pela escravidão e conseqüente perda de valores iniciatórios das religiões africanas no Brasil, mas que nunca existiu em África em tempo algum.
E, muito embora nas lendas populares, Imole Esu passasse a ser conhecido como "manhoso", “trapaceiro" e notoriamente "encrenqueiro", mormente se não for "apaziguado" por seu Ebo, a sua suposta imagem de malignidade decorre, na verdade, de ele ter o importante papel de Executor Divino, punindo aqueles que descuram as oferendas prescritas para eles, mas recompensando aqueles que as cumprem.
Entretanto, ele nada faz por conta própria, servindo fielmente a OLORUN e ao Orisa Orunmila-Ifa. Também, os Orisa e as Ebora podem convocá-lo para se utilizar da variedade de punições postas sob o seu comando. E isto porque, com imensa sabedoria, o Credo Iorubano ancestral prega que Orisa algum pune diretamente seus “Filhos", mesmo os transviados, os transgressores e os ofensores: isto é função do Imole Esu.
Os Versos dos Contos de lfá dizem que Imole Esu é também encarregado por OLORUN para vigiar as ações de outras Divindades no Aiye ou "Terra". E isto só pode se dar, dizem os fiéis, porque ele é notável e notoriamente equânime no seu papel de Executor Divino.
É por tudo isso que todos os devotos de todas os Orisa e Ebora se voltam para Orunmila-lfa em tempos de dificuldades, buscando essa equanimidade e, a conselho dos Babalawo, oferendam a Imole Esu e, por seu intermédio, a OLORUN.
Para que os Babalaôs não se excedam nas prescrição dessas oferendas, Imole Esu está sempre presente na Divinação Sagrada de Ifá, como o décimo sétimo Ikin ou "Coquinho de Dendê", o Olori Ikin ou "Senhor da Cabeça dos Coquinhos de Dendê Consagrados", o qual leva a sua efígie gravada.
Por essa razão, este décimo sétimo lkin é também chamado de Oduso ou "Vigia dos Odu", do verbo Iorubá So ou "Vigiar", ou seja, colocado no Tabuleiro de Ifá em uma posição tão privilegiada quanto a do Babalaô, ele representa Esu Oduso que é o Vigia dos Odu ou "Signos-Resposta" do Sistema lfá e, conseqüentemente de suas verdadeiras interpretações pelos Babalaôs, pois todo o bom cumprimento do Iwa ou "Destino" do Consulente depende de se bem compreender a Mensagem que Orisa Orunmila quer transmitir ao Consulente.
Daí se compreender que a ligação do Imole Esu com o "Jogo de Ifá" é inquestionável.
Assim, como vemos, Imole Esu não é nem mau nem tenebroso, antes, pelo contrário, freqüenta o Orun ou "Além", reporta-se diretamente a OLORUN e dialoga com os Imole ou Divindades e com os Onile ou Antepassados. Ele também não é indiscriminadamente vingativo , mas é o Transformador Divino que trata com equanimidade Divindades, Ancestrais, Babalaôs e Humanos por ordens de OLORUN.
E nada executa por sua própria vontade, mas cumprindo fielmente as ordens de OLORUN e os ditames do Iwa ou "Destino" livremente escolhido por cada Ori Orun ou "Individualidade no Além" de cada fiel e, através de Orunmila-Ifa, cumpre também as ordens das Divindades.
E se ele é considerado “trapaceiro" e “encrenqueiro”, o é pelos culpados, porque ele é o fiscal de OLORUN junto aos Orisa e, ainda, o Vigia dos Babalaôs e do bom cumprimento das obrigações rituais e sacrificiais por cada Fiel.
E se ele pode até matar, conforme se lê em diversos Ese dos Itan Ifá, é também ele que representa a Vida e a sua dinamização ou continuação, através do legítimo e natural prazer sexual que leva os humanos a procriar.
E se assim é há milênios, a Imole Esu só é devida a coragem de cada fiel em tentar realizar o seu Destino livremente escolhido antes de nascer, a sua Oferenda específica - o Ebo - do seu ritual Ipade e a nossa saudação, não de medo ou horror, mas de respeito, como a ele fez Osetuwa:

— "Agba Esu, Mo ju iba ! Iba se o!“ —
— "Esu Ancestral, presto-lhe minha homenagem!“-
-“Oh! Que esta homenagem se cumpra!" —
Assim sendo, quero terminar esta explanação com a tradução livre, mas coerente, de parte de um dos Versos dos Contos de Ifá, o do Odu Obara Meji:

Obara ni,
ki ndojubole Ki n'ba buru,
Ki Elegbara o jeki ngo lo
Nje ikuderin Moforibale l'Elegbara.
—"Obará Meji pediu que eu me prostrasse em reverência,
cobrindo minha cabeça.
Que eu deveria me prostrar e me cobrir em respeito,
para que Elégbará me permitisse prosseguir
em meu caminho de felicidade e riqueza.
Assim, minha morte transformar-se-á em longa vida de alegria.
Portanto, curvo-me ante Elégbará!" —
Então, assim, também eu o faço e assim também eu peço:
— "Imole Esu, aqui está minha oferenda!“—
— “ Por favor, peça a OLORUN que aceite esta oferenda
e alivie meu sofrimento!"—
Tó! (Assim seja!) Adupê, ó! (Oh, Obrigado!)
Mana, Axé e Benção
Baba Oberefun Si Okojumide

6.

A DIÁSPORA NEGRA


De Babalawo

a Pai-de-Santo Os Deuses Negros

no Brasil Dos Bantos

aos Sudaneses


OS ORIXÁ NOS CANDOMBLÉS DE NAÇÃO
ADAPTADOS EM TERRAS BRASILEIRAS

OSSANYIN
(Data festiva : 12 de Janeiro)
É o Orixá das folhas e ervas, o protetor dos médicos em geral. Tem estreitas relações com o Ara Orun Imole Esu, por essa razão é cultuado ao ar livre e em cima das árvores. É representado por um pássaro. No rito Angola é o Inquice Catende, no rito Jeje é Ague. Seu dia da semana é a terça-feira. É costume dizer-se que existem apenas duas qualidades desse Orisa, as quais, por uma questão de fundamento não devemos ou podemos sequer citá-las.
Sua saudação no Brasil é: "Eu, eu" !!!



OXOSSI
(Data festiva : 20 de janeiro)
É o Orixá das Matas em geral, devotado amigo de Ogum, seu irmão mais velho. Representa o "médico naturalista", com suas folhas, ervas e raízes - fonte de saúde. É sincretizado em São Jorge e São Sebastião. É o patrono dos animais selvagens. Suas cores são verde e azul claro. Quando manifestado em seus "filhos-de-fé", dança com elegância e masculinidade. Traz nas mãos o ofa; usa na cabeça o ode, de couro ou de penas; carrega no matulão (sacola) as caças já abatidas; na cinta traz a cabaça (cantil); nas costas a atiradeira (espingarda). No rito Jeje é Azaca e no rito Angola é Matacalombo e Congambira. É costume dizer-se que existe apenas uma qualidade desse Orisa, todavia pesquisamos várias outras: Ode, Otin, Inle, Ibualama e Logunede (filho de Inle e Osum). Sua comida votiva são as caças em geral, mas o axoxo e o tatu são consideradas as mais fortes. Sua ferramenta é o damata em ferro. É considerado o rei da cidade de Ketu; Suas cores são verde e azul claro.
Sua saudação no Brasil é:"Oke, Ode koke maior ! Oke aro"!!!


IEMOJA
(Data festiva : 02 de fevereiro)
É a Iya-mi (Senhora minha) da grande prole, a divindade do Rio Ogum, na África, que vive no Mar com sua mãe Okun. Pode ser representada por uma senhora idosa (Ogunte) ou por uma linda jovem (Soba). Em geral vestem-se de azul e branco, mas usam, também, o rosa e o vermelho. Trazem nas mãos o abebe (leque de metal prateado); na cabeça usam o ade (franjas de contas) cobrindo-lhes os rostos; usam o (colar) fios de contas brancas e transparentes; usam pulseiras de metal branco. Sua comida considerada forte é a "galinha-de-Angola". No rito Jeje é Abe, representada pela Estrela Guia; no rito Angola é Dandalunda ou Quissimbe. É costume dizer-se que existem 7 qualidades dessa Iya-mi, porém destacamos: Surue, Ainum e Ogunte. É sincretizada em Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Candeias e Nossa Senhora da Conceição; por isso é também, comemorada em 15 de agosto e 8 de dezembro.
Sua saudação no Brasil é:"Odoya" !!!



OGUM
(Data festiva : 23 de abril)
Ogum é o Orixá Guerreiro, patrono da metalurgia e dos ferreiros em geral. Seu dia é a quinta-feira. É o Orixáa da forja, do vinho de palma, do mariwo, da virilidade, das missões julgadas impossíveis. É o guerreiro que dança com elegância de um lutador de esgrima. É a divindade do ar livre, por isso sua "ota" (pedra-de-assentamento) é assentada fora do Barracão. É sincretizado em São Jorge e São Sebastião. É costume dizer-se que existem 7 (sete) clãs de Ogum, sendo as formas mais conhecidas: Lebede ou Ogum-de-Le (o jovem), Meje (o sétimo e o velho), Obefaram, Mika, Ogunfa (mora com Ososi e Esu), Xoroque (vive nos portões e nas estradas com Esu). Suas ferramentas são: espada, facão, foice e enxada. Suas cores são: marrom, branco, azul, vermelho e amarelo. Suas ervas mais conhecidas são: o peregum, dracema vermelho, losna, aroeira e mangueira.
Sua saudação no Brasil é: "Patakori, Ogum iye" !!!



EXÚ
(Data festiva : 13 de Junho)
Alguns veneram-no como a um "Orixá" (há controvérsias semânticas), considerando-o irmão de Ogum e Oxossi, filho de Iemonja. Seu ritual específico é o Ipade e a sua oferenda o Ebo. È costume dizer-se que existem 16 clãs desse Ara Orun Imole, e várias qualidades, como: Ajikonoro (o compadre), Legba (de Omulu) Lalu (de Osala, Iemoja e Osum), Bara ou do Corpo (o velho), Bori (de Sango), Afefe (de Iansan), Ogum ou de Ferro (de Ogum), Alafia (da satisfação), Alaketu, Lon Bii, Elekenae, Ajalu, Tiriri, Vira (é feminino), Tamentau, Rum Danto, Aluvaia, Paraná, Marambo, Bombom-Ngera, Sinza Muzila, Lonan, Gikete e Jubiabá. Nossa saudação ao "Sêo" Tiriri! Conta a tradição: Olorum deu a Oxalá o domínio da Ordem e a Ifá a comunicação entre os Homens e os Orixás, através dos Odus Ifás transportados e vigiados por Exú, ligando assim os dois extremos das variações espirituais. Por isso, Exú é o Mensageiro Divino; o número de Ex´´u atribuídos para acompanhar cada Orixá é variável: Omulu=25, Nanan=31, Iansan=25, Ogum=21 e Ifá=16 que correspondem aos 16 Odu Agba do Opele Ifá. Mas, na verdade, são raros os "filhos-de-fé" que têm "carrêgo" de Exú nos Candomblés Sudaneses e, os citados abaixo, são todos falecidos: Maria do Mar Grande (Ilha de Itaparica-Ba); o irmão de Pulquéria do Gantois (em Salvador-Ba); Júlia do Língua de Vaca e Sofia do Tumba Junçara (em Salvador-Ba).
Sua saudação no Brasil é:"Laroye, Esu" !!!



NANAN
(Data festiva : 26 de Julho)
Registram-se ser todas as Nanan de origem Jeje; donas das tempestades, do lamaçal e dos pântanos; senhoras donas do Portal da Vida e da Morte. Seus elementos são: terra e água. Seus "filhos-de-fé" são supostamente longevos, pois esta Yaba é considerada a mais antiga do Panteon Afro. Registram-se 31 qualidades desta Yami Nla (Grande Mãe), sendo as mais conhecidas: Nene Adjaosi, Sussure e Buruku.
Sua saudação no Brasil é: "Saluba aiye, Nanan" !!!



OBALUAIYE
(Data festiva : 16 de Agosto)
Significa o "Dono da Terra da Vida", o Médico dos pobres, o Senhor dos Cemitérios. Registram-se, no Candomblé, 12 qualidades sendo a mais conhecida Omolu (o Velho). Cultuam-se Obaluaiye (o Moço) e Omolu (o Velho). É sincretizado em São Roque e São Lázaro.
Sua saudação no Brasil é: "Iatoto Baba"!!!


IBEJI
(Data festiva : 27 de Setembro)
O Orixá Duplo, ou seja, os Gêmeos Sagrados Kehinde e Taiwo são os Orixás Gêmeos da Abundância, da Felicidade e Protetores da Infância. Representado por Vungi, o regente da infância e da adolescência. É sempre um duplo, um gêmeo. Seu elemento é o Ar. As cores são: rosa, branco, azul-claro, verde-claro, lilás e cinza. Seus metais são: o bronze e o ouro. Sua pedra é o brilhante. Sincretismo: São Cosme e São Damião, os Médicos Mártires.
Sua saudação no Brasil é: "A mim, Beijada" !!!




XANGÔ
(Data festiva : 30 de Setembro)
É considerado o rei da justiça, o senhor das pedreiras, o deus do trovão, o rei de Oyo, o Orixá de grande sabedoria; é tido como o patrono da política e principal alicerce do Candomblé no Brasil, sendo seus 12 ministros introduzidos na Bahia pelo Babalaô Ajimudá (Martiniano Bonfim) e tronejados pela grandiosa Iyalorisa Aninha Oba Biyi no Candomblé Axé Opô Afonjá. Seu elemento é o fogo. Em sua qualidade de Xangô Airá tem fundamento com Oxalá; na sua qualidade de Xangô Afonjá tem fundamento com Iyansan. Registram-se 12 qualidades, sendo as mais conhecidas: Aganju (o moço), Agodo, Aira, Afonja, "Xangô de Ouro" (é adolescente), Oni, Abolonei, Oro, Alafim, Bade, Soboadam, Adjaka e Oba-Kossu.
Sua saudação no Brasil é: "Kao Kabiecile" !!!


IANSAN
(Data festiva : 04 de dezembro)
É a Iyaba que preside os ventos e tempestades, mulher de Xangô. Seu dia é quarta-feira. Seu "habitat" é o bambuzal. Suas cores básicas são: coral ou vermelho. Sua comida forte é o "acarajé". Registram-se, em literatura, 17 qualidades sendo as mais conhecidas: Oya, Onyra, Bagam, Egunita, Benek, Cenou, Bomini e Muriai, a Iansã-do-Bale que preside a festa dos Egun). Sincretismo: Santa Bárbara.
Sua saudação no Brasil é: "Eparrey Iansan" !!!



OXUM
(Data festiva : 08 de dezembro)
É a "Cinda" (Grande Mãe) do amor, do ouro, do sábado. Dizem ser uma dos 15 Iyabas e Orixás saídos do ventre de Mãe Yemonja. Mora nas cachoeiras e as águas doces. Sua cor básica é o amarelo ouro. Registram-se 16 qualidades, sendo as mais conhecidas: Yaba-Omi (Mãe d'Água), Abae, Ioni, Acare, Bauira, Timi, Aquida, Ninsim, Oponda (a mais nova), Loba (a mais velha), Abote, Apara (usa espada e vive nas estradas com Ogum) e Abalo (muito vaidosa e usa leques). É sincretiza em N.S. das Candeias (Bahia) e N. S. da Conceição (Rio de Janeiro).
Sua saudação no Brasil é: "Odociya, Cinda Lê" !!!



OXUMARÊ
(Data festiva : 08 de dezembro)
No rito Ketu, representa o Arco-íris. No rito Jeje, é Dangbe, a Serpente Sagrada. Sua comida votiva é o aipim ralado com os segredos da cozinha de santo. Registram-se 4 qualidades sendo a de Abessem - a Cobra Sagrada - a mais conhecida.



OMULU
(Data festiva : 17 de dezembro)
Afirmam-se em registros bibliográficos ser Omolu e Obaluaiye um só Orixá em dois estágios: Obaluaiye (o Moço), significa o "Dono da Terra da Vida"; Omolu (o Velho) significa o "Filho-da-Terra". É o médico dos pobres; o senhor dos cemitérios. Usa o aze (capacete de pele da Costa) ou o filah (capuz de palha da Costa) e carrega na mão o xaxara (feixe de fibra de palmeira, enfeitado com búzios) Seu dia é a segunda-feira. Sua comida forte é o doburu (pipocas sem sal, coco fatiado e regado com mel). Registram-se 12 qualidades atribuídas a esse Orixá, que também é considerado o mais antigo do Panteão Afro, sendo as mais conhecidas: Sapata, Xapanan, Xankpanan, Babalu, Azoane, Ajagum, Ajunsun e Avimage. É sincretizado em São Lázaro.
Sua saudação no Brasil é:"Epa, Epa Baba" !!!


OSALA
(Data festiva : 25 de dezembro)
É o Orixá da Criação; o Senhor Supremo que vibra sobre todos os filhos da Terra. Seu dia é sexta-feira. Sua morada é o deserto. Suas cores básicas são: branco, vermelho e dourado. Sua comida mais comum é canjica branca com mel. Registram-se 2 qualidades: Osagian (o moço) e Osalufan (o velho). Ele é o governador do Universo, o símbolo da pureza e do amor. É sincretizado em Nosso Senhor do Bonfim, na Bahia, e em Jesus Cristo em outras localidades do Brasil.
Aché e Mandinga
Baba Oberefun Si Okojumide


A raiz ameríndia

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA

1 - PINDORAMA
O Popol Vuh, Livro Sagrado da nação Maia da América Central, assim relata o momento da Criação do Mundo :-"0 aspecto da Terra ainda não havia sido revelado, havia apenas o Mar Doce e o espaço aberto do Céu. Assim falaram as Divindades: –"Retirai-vos Águas e dai lugar para que a Terra aflore e se consolide". "TERRA", disseram, e no mesmo instante esta foi criada".
Diz ainda o Popol Vuh : –"De barro, fizeram a carne dos Homens"–, significando, então que a Primeira Raça Humana era de cor vermelha acobreada, da cor do barro com que foi criada, símbolo da interação da Terra e da Água, vivificada pelo Fogo do Espírito insuflado pelo Ar do Hálito Divino.
E nesta imensa terra aflorada que a ciência atual denomina Pangéia – Continente Uno – o primeiro ponto seguro sobre a crosta terrestre foi, justamente, o que hoje denominamos de Planalto de Goiás, no Estado de Goiás, no Brasil Central.
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Com o passar dos milênios, a primeira raça humana desceu deste planalto central original, multiplicando-se e ocupando as terras firmes do imenso continente único ainda existente, deixando como lembranças de sua passagem, em toda a Terra, imensas construções megalíticas ainda hoje inexplicadas e que, por terem sido elevadas ou rebaixadas pelo nascimento das cadeias montanhosas, hoje são atribuídas à raças muito posteriores que delas fizeram uso como refúgios seguros, observatórios celestes, templos de seus ancestrais, fortalezas ou que as reproduziram em suas novas construções.
E assim, vivendo em perfeita comunhão ecológica com o seu meio ambiente, alguns desses povos primevos conseguiram manter sua unidade biológica e sua tradição Iniciática, sobrevivendo aos imensos cataclismos naturais se processaram a partir do rompimento do Continente único, quando os diversos fragmentos continentais subseqüentes começaram a se afastar uns dos outros, tal como ainda hoje ocorre com magnitude infinitamente menor.
As tradições expressas nos livros sagrados de várias outras raças como o Papiro dos Mortos, os Vedas, a Epopéia de Gilgamesh, a Torah, os Eddas nos contam que a duras penas a Humanidade conseguiu sobreviver em vários desses novos continentes.
Também as lendas de nossos povos indígenas, os quais seriam modernamente conhecidos como Tupi-Guarani e que com mais certeza sobreviveram aos gigantescos cataclismos por terem ficado na parte mais antiga e estável do planeta, nos relatam sua luta pela sobrevivência em meio a tais cataclismos.
À época de sua "descoberta" pelos europeus, embora já distantes da primitiva pureza de suas tradições, os Tupi-Guarani ainda sabiam-se de uma origem tão antiga que denominavam a sua mítica terra de origem ancestral pelo nome de Pindorama, porque este nome referenciava-se à uma lenda tão antiga que envolvia a idéia de um dilúvio universal que havia alcançado a "Terra das Palmeiras", que é o que significa Pindorama.
Assim sendo, permanecendo na mítica Terra das Palmeiras de seus ancestrais e daí irradiando-se e vivendo por milênios em integração harmônica com a natureza, foram os povos Tupi-Guarani os que melhor retiveram a "centelha espiritual" da primeira raça humana.
Viajantes e estudiosos da época do descobrimento e colonização inicial do Brasil, como De Bry, Hans Staden e Padre Simão de Vasconcellos espantaram-se com a constatação da religiosidade dos antigos Tupis. Suas observações e estudos demonstram que a concepção religiosa, mística e teogônica destes povos era de uma grande elevação e estrutura moral que somente poderiam ser alcançadas por uma raça de antiquíssima maturação espiritual. Assim, muito antes das tradições religiosas Africanas Banto e Sudanêsa se encontrarem no Brasil, aqui já existia a tradição religiosa autóctone dos Povos Indígenas Tupi-Guarani, os primeiros habitantes desta terra que eles denominavam pelo nome ancestral "Pindorama".
Estes conhecimentos eram transmitidos pela tradição oral de seus Payés e chamava-se Tuyabaé-Cuaá, a "Sabedoria dos Doze Velhos Payés" a qual demonstra a sua ancestralidade com a saga do índio Tamandaré salvando-se, com sua família, de um Dilúvio no topo de uma gigantesca palmeira - a Pindó -, que flutuou sobre as águas que encobriam a "Terra das Palmeiras".
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron

2. A santidade

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA



O "TUYABAÉ-CUAÁ E A SANTIDADE"

A Sabedoria dos Pajés Ancestrais de Pindorama - o Tuyabaé-Cuaá - estudada por De Bry, Hans Staden e Padre Simão exprimia-se numa linguagem sagrada - o Nheengatu -, a "língua boa". Entretanto, ela reconhecia que existira uma língua matriz muito mais antiga - a Abanheengá - tão antiga, diziam ainda os Pajés, que "somente Tupã, o Deus Supremo, poderia tê-la ensinado à raça mais antiga de toda a Terra", ou seja, aos seus antepassados".
Os Tupis-Guaranis adoravam, pois, a um Deus Único Supremo - Tupã - mas reconheciam a existência de uma Trindade Manifestadora do Poder Divino - Guaracy, Yacy e Rudá -, simbolizando o Poder Gerante, o Poder Gestante e o Poder Gerado, admitindo ainda a existência de um Messias Civilizador - Yurupari - gerado pela Virgem Mãe Chiucy.
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Desta forma, tinham uma divisão entre os ritos dos clãs masculinos (Tembetá), dos clãs femininos (Muyraquitan) e dos ritos para os seus antepassados, entre eles o do Guayú (evocação dos espíritos ancestrais), quando os seus Xamãs - os Payés - entoavam um canto lento, ritmado, repetitivo e de efeito hipnótico ao som de seus Mbaracás (chocalhos), aplicando-os depois à testa das Cunhãs (mulheres profetizas), que então entravam em transe mediúnico e passavam a comunicar as mensagens dos Ra-Angás, os Espíritos de seus Antepassados.
Este antiquíssimo conjunto de crenças Tupi-Guarani foi detectado e conhecido pela Ordem Católica dos Jesuítas que, sobre ele, pode estabelecer um programa de evangelização dos indígenas nos primórdios da colonização do Brasil, baseado em três pontos principais :
1 - a aceitação destes valores espirituais ancestrais nativos Tupã, Guaracy, Yacy, Rudá e Chiucy, mas trocando-lhes os nomes para "Deus Pai", "Santíssima Trindade" e "Virgem Maria";
2 - o combate sem tréguas contra aos valores mais radicalmente opostos aos dos ocidentais, tais como a autoridade dos Payés, o rito espirítico do Guayú, com seus Mbaracás mediunizantes e suas Cunhãs profetisas;
3 - transformar o Messias Civilizador Yurupari numa contrafacção do "Diabo".
Um dos resultados paralelos dessa catequese cristã foi o aparecimento do primeiro sincretismo religioso brasileiro - o indígena-cristão -, o qual desenvolveu-se dentre os descendentes dos indígenas espoliados na medida que viam naufragar a cultura de seus ancestrais e que muito pouco lhes era dado em troca para substituí-la : a "Santidade".
A Santidade foi um movimento messiânico de caráter nitidamente indígena, baseado no ressentimento contra os brancos invasores, fazendo uso de um Cristianismo mal digerido do qual adotaram a construção de "igrejas'; um simulacro de "batismo"; chefes masculinos e femininos denominando-se por "Pai" e "Mãe de Deus"; uso de procissões, rosários e cruzes.
Isto tudo de mistura com valores da cultura indígena, como a poligamia, cantos e danças indígenas, mas cujo ponto principal ainda era o uso do Petun (Tabaco) como "erva sagrada", tradicionalmente insuflado nas narinas do oficiante, na forma de "rapé" (pó torrado das folhas secas) até que ocorresse o transe místico, o qual era chamado, precisamente, de "Espírito de Santidade".
Combatido pela Inquisição Católica já à partir de 1534, o sincretismo indígena-cristão da "Santidade" originou um novo culto - a "Pajelança" -, o qual revivia sobretudo os antigos rituais indígenas de cura, o dos seus Ra-Angás (Antepassados) e, agora, um outro dedicado aos "Espíritos da Santidade". Esta mixagem de conceitos religiosos indígena e cristão - o Tuyabaé-Cuaá, a Santidade, a Pagelança - passa a ser considerada o primeiro sincretismo religioso ocorrido nas Américas.
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron


3.

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA

O ENCANTAMENTO
No processo de "evangelhização" imposto aos indígenas brasileiros pelos Jesuítas, a figura do Messias Civilizador Yurupari, não foi transformada em decalque do Cristo, mas sim aproximada ao "Diabo" dos católicos, embora os Jesuítas tenham adotado pessoalmente a sua erva sagrada "Petun" – o Tabaco – , o qual era usado para provocar transe mediúnico nos Xamãs indígenas (os Payés), transformando o uso dessa "erva sagrada" em um vício profano que, ao longo do tempo, tornou-se uma praga social universal.
Do mesmo modo, os colonos brancos assimilaram as soluções indígenas que, na prática, provavam ser eficientes nesta nova terra : trocaram o trigo pela mandioca, o leito pela rede, o vinho pelo cauim; aprenderam a fumar e começaram a gostar dos frutos e das filhas desta terra, iniciando a primeira miscigenação racial deste país, gerando filhos mestiços que foram muito apreciados como elos de ligação das alianças com as tribos indígenas que os colonos precisavam estabelecer para sobreviver aos ataques das tribos de nações indígenas inimigas.
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Começava aí o sincretismo cultural, racial e social que marcaria todo o período do descobrimento, conquista e colonização do Brasil e que, talvez, o diferencie de todos os outros povos irmãos da América Latina.
Já o sincretismo religioso ficou por conta dos descendentes dos indígenas espoliados à medida que viam naufragar a cultura de seus ancestrais e nada lhes era dado em troca para substituí-la.
Assim, sempre que afrouxados o laço e a peia da "evangelização" católica forçada, a espiritualidade indígena reaflou e perdurou por um largo período de tempo, quiçá até nossa era, embora desde então já se apresentasse sincretizada com motivos cristãos, por necessidade de sobrevivência e ascensão social.
Sobre este afloramento "impertinente" de uma religiosidade indígena que os catequistas católicos pensaram haver suplantado, assim se expressou Roger Bastide : –"Se excluir a região do Maranhão, onde o (negro) Daomeano dominou, todo o Norte do Brasil, da Amazônia às fronteiras de Pernambuco será domínio do índio. Foi ele que marcou, com profunda influência, a religião popular: "Pajelança" no Pará e Amazônia; "Encantamento" no Piauí; "Catimbó" nas demais regiões."–
Podemos acrescentar que o mesmo se deu, inicialmente, por toda a parte, como por exemplo no Estado de São Paulo, onde brancos, indígenas e seus mestiços tiveram estreita convivência e miscigenação, ao ponto da língua Tupi aí predominar sobre a Portuguesa, até os meados do século XVIII.
Da confusa mixagem de conceitos religiosos expressos no Tuyabaé-Cuaá, no Catolicismo da Contra-Reforma, na "Santidade" e na Pagelança, mal compreendidos todos de parte à parte, originou-se o "Encantamento", o culto dos "Caboclos Encantados", considerados por seus fiéis como espíritos de mestiços indígenas-brancos mais ou menos cristianizados e que faziam externamente as vezes dos "Santos" católicos, mas que ainda cumpriam uma função social para a coletividade mestiça indígena, adotando a divisão tribal em clãs - os "Filhos do Sol" e os "Filhos da Lua" - e que embora ainda usasse a fumaça da erva sagrada "Petun" ou Tabaco para induzir o transe mediúnico, o fazia através de Cangüeras ou grandes "charutos" de tabaco enroçados à mão, todas estas prática religiosas sendo acompanhadas por "pontos" ou "cânticos", melodias indígenas deturpadas e expressadas em língua portuguesa estropiada.
Da fusão destes novos cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da religiosidade dos negros Bantos, quase sempre escravos fugitivos que encontraram guarida na Pajelança e no culto dos Encantados, foi que esboçou-se o segundo sincretismo religioso brasileiro - o Culto do Catimbó.
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron

4.

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA

O CATIMBÓ
Em continuidade no tempo, foi da fusão destes novos cultos de Caboclos Encantados com os primeiros aportes isolados da religiosidade dos negros Bantus, quase sempre escravos fugitivos que encontraram guarida e proteção na Pajelança e no culto dos Encantados, que esboçou-se o Culto do Catimbó, mas no qual, agora, as cerimônias perdiam o sentido de função social da coletividade para transformarem-se em cultos individuais de satisfação de necessidades pessoais quer de índios, negros ou mestiços, ainda que de natureza espiritual, curativa ou de ligação com os antepassados de todas as etnias.
Exemplificando a mudança de tais funções, ouça-se o triste depoimento de um velho Pajé, de nome Tarcuáa, que assim se lamentou com um pesquisador : –" Hoje não há mais Pajés; somos todos Curandeiros"– (Roger Bastide, "apud" Câmara Cascudo, em "Novos Estudos sobre o Catimbó", Brasiliensis, pg. 89).
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Usando uma mitologia e ritualismo bem empobrecidos, os "altares" do Catimbó representam a perda de valores iniciáticos dos indígenas brasileiros, que passam a ser substituídos pela miscigenação religiosa e apresentam, lado a lado, estampas e estátuas de santos católicos, charutos, aguardente, pequenos arcos e flechas, flautas e chocalhos indígenas, além de ervas e animais secos, objetos que são portadores dos poderes da força mística indígena "Mana", da "Benção" Católica e da "Mandinga" Banto, pois que o "Ase" Sudanês ainda não havia aportado no Brasil.
Mas, embora tenham abandonado o pó de tabaco insuflado diretamente nas narinas para obtenção do transe místico, ainda existia a lembrança de seu uso ancestral como "erva sagrada", através dos "charutos" e da "Princesa": nos altares do Catimbó estava a "Princesa", uma cuia de cobre ou vasilhame raso de barro, a qual sempre repousava sobre um "rolo de fumo", o qual era cercado por um pano branco que nunca tinha sido e nem nunca seria usado para outra finalidade, como a atestar sua pureza e santidade.
O conjunto denominado por "Princesa" constituía-se na ligação com o passado indígena, pois era nela que era moída e infusa a raiz da árvore "Jurema", uma bebida levemente alucinógena que então induzia a descida dos "espíritos" invocados para provocar o transe mediúnico, ainda chamado de "Estado de Santidade".
Os negros bantos-congoleses aceitaram esta nova concepção religiosa, sobretudo, em termos de "culto aos mortos", pois os Pajés e os Catimbozeiros, através dos Maracás e das Cunhãs, dos Encantados, do Petun e da Jurema, quiçá agora também da "Diamba" introduzida pelos africanos, comunicavam-se com o "Além", ou seja, o lugar místico e/ou mítico em que os brancos, os índios, os negros e os mestiços de todos, igualmente situavam a existência de seus antepassados.
Desta adaptação do negro fugitivo ao novo meio ambiente, até por ser a única opção, nasceram, de acordo com a maior ou menor negritude de seus participantes, as variações de cultos miscigenados indígenas-cristãos-africanos, tais como o "Toré", o "Tambor de Minas", o "Babassuê" e o "Batuque".
Entretanto, era o Catimbó já prenunciava a futura "Umbanda", apresentando-se dividido em "Sete Reinos Espirituais" : "Vajucá", "Tigre", "Canindé", "Urubá", "Juremal", "Josafá" e "Fundo do Mar".
E, note-se bem: seus principais Espíritos-Chefes são indigenas brasileiros : "Itapuã", "Xaramundy", "Muçurana", "Iracema", "Turuatã", as "Moças d'água" ou "Yaras" e somente muito mais tarde, aparecem alguns "espíritos" isolados de "catimbozeiros" de descendência africana: pai Joaquim, etc.
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron

5.

A RAIZ RELIGIOSA AMERÍNDIA

O BATUQUE E O OMOLOCÔ
Foi sobretudo do "Batuque" que se originou o terceiro sincretismo religioso brasileiro, o Indígena-Cristão-Banto-Sudanês, os chamados Candomblés, que aqui vão entrar apenas como "filtro de estrutura" pelos quais passou a religiosidade indígema brasileira, pois, à medida que mais e mais negros de origem Banto, Congo e Angola alforriavam-se e reagrupavam-se na periferia das maiores cidades da época, foi no Batuque que eles mantiveram as partes dos rituais de seus antepassados que conseguiam por em prática dentro dos limites estreitos da escravidão, criando os primeiros Candombes, que é uma palavra de origem Banto e não Iorubá, significando no Brasil, "instrumento de percussão" e/ou "lugar de danças de negros" e, por extensão, "lugar de terra batida por pés" ou "terreiro" onde praticavam seus cultos religiosos, os quais, sob a forma de cantos e danças - o Batuque - eram permitidos e até incentivados pelas autoridades como forma de atiçar, assim pensavam elas, as velhas rivalidades tribais existentes desde a África.
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Mas, ao contrário dessa suposição das autoridades, desde os seus primórdios, estes Candombes incorporaram várias etnias dos fiéis dos Catimbós, levando assim para o seu interior o sincretismo religioso indígena-cristão anterior.
Entretanto, com a inconteste hegemonia Sudanesa (Ijêxá, Kêtu, Òyó, Ifé e Benin - enfim, Nàgô) que por fim se estabeleceu nos Candomblés de Nação, com a sua total rejeição da manifestação pública dos seus Baba Egun (Antepassados), excepto se realizadas nos novos Terreiros-li-ese-egun para poder também rejeitar qualquer outros antepassados de quaisquer etnias, a corrente religiosa indígena-banto-católica, embora aceitando o conceito dos Orixás Sudaneses, reafirmou sua opção anterior pelo culto dos Caboclos cristianizados e dos seus Antepassados africanos, começando a surgir daí o conceito Umbandista dos primeiros "Mensageiros Incorporantes dos Orixás" -- Os Cablocos e os Pretos-velhos -- surgindo assim o Omôlocô ou Candomblé de Caboclo.
E, nestes novos cultos, continuaria vivo o sincretismo religioso dos ritos indígenas-cristãos apoiados em todo Panteão Africano (Orixás, Voduns e Inkicês), e, assim, ao lado de Olorun, pontificam Tupã, Zambi e Deus que é Pai; ao lado de Yemanjá, estão Janaína, as Iaras e Nossa Senhora; ao lado de Ogum, combatem Cariri e o Boaiadeiro; ao lado de Oxosse, corre o Sultão das Matas; ao lado de Exú, reinam o Caipora e Zé Pelintra; junto aos Baba Egun, estão as Crianças, a Falange do Oriente e os Caboclos Tupinambá, Tupiara, Jaú, Irerê, Juremá, Pedra Preta, Pena Branca, Cobra Coral, Seô Quatro Olho e muitos outros mais.
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron



6.

MENSAGEIROS, GUIAS E PROTETORES NA UMBANDA
Mestre Piron

A Umbanda, em seu formato mais tradicional, adota o sincretismo dos Orixás com os Santos Católicos, mas não tende a copiar a representação dos Orixás apresentada pelos fiéis dos Candomblés de Nação Africana aclimatados no Brasil.
Assim, na Umbanda, os Orixás são representados por suas contra-partidas católicas, ou seja, as estátuas dos "Santos" colocadas no "Congá;" ou Altar.
É comum ver-se Cristo para Oxalá, São Jorge e Santo Antônio para Ogum, São Gerônimo para Xangô, Nossa Senhora para Iemanjá, São Sebastião para Oxosse, São Cosme e Damião para os Ibejis, São Lázaro para Obaluaiye.
Entretanto. é claro que os Umbandistas não adoram à estátuas: elas são lembretes muito respeitados da significação espiritual dos Orixás para aquelas mentes que necessitam de apoio visual para seus entendimentos mentais.
As energias espirituais dos Orixás propriamente ditas condensam-se e difundem-se nos e dos "Assentamentos" dos "Congás" e "Pejís" (altares) de Umbanda, os quais são o lugar de passagem e repouso temporário dos Orixás dentre os Seres Humanos.
Pois, a Tradição Umbandista prega que um simples mortal não pode suportar a grandiosidade espiritual da incorporação de um Orixá. Assim, para a Tradicão Umbandista, não são eles que se incorporam em "médiuns" humanos: isto é tarefa para seus "Mensageiros".


Daí que as representações antropomórficas possam ser aceitas para as quatro formas principais de apresentação incorporante de seus Mensageiros aos humanos: as Crianças, os Caboclos, os Pretos-Velhos e os Exús
Nessas quatro formas antropomórficas básicas incluem-se todas as possibilidades de apresentação : Índios, Africanos, Orientais, Védicos, Mestres, Doutores, Ciganos, Obsessores, Zé Pelintra, Maria Padilha, enfim, de Mensageiros, Guias e Protetores que venham minimizar as dores e sofrimentos desta grande coletividade brasileira.
E em suas "consultas" nunca surge a pergunta à respeito de qual é a crença religiosa do consultante ou, até, se o mesmo acredita ou não nesses Mensageiros. A pergunta sempre é: -"Você está sofrendo, mu'sum fio?".

As suas festas coinsidem com as datas popularmente aceitas para os festejos dos Santos Católicos e suas Oferendas têm muito mais o caráter do "agrado" do que o da "obrigação".

Os Mensageiros dos Orixás
Omocurin Angelo D'Ogum

CABOCLO ARRANCA-TOCO (OXOCE)
(Data festiva : 20 de janeiro)
É um dos Mensageiros do Orixá das matas virgens e fechadas. Gosta de milho verde em espiga ou seco a granel, água de coco, eucalipto, girassol, latão, sândalo, calcite, e das cores verdes, vermelho e branco. É sincretizado em São Sebastião no Rio de Janeiro e São Jorge na Bahia. É representado pelos seus falangeiros, caboclos bugres e de penas. Sua saudação é: Okê Bamboclima!


CABOCLA YARA (IEMANJÁ)
(Data festiva : 02 de fevereiro)
É uma das Mensageiras do Orixá das águas salgadas, que gosta de manjar branco, leite de coco, arroz mole, flor de laranjeiras, palmas diversas, platina, água marinha, jasmim nardo, orquídea, cores branco e azul-claro. Seu dia da semana é a sexta-feira. É sincretizada em Nossa Senhora da Glória, eis o porquê de na Umbanda , também ser comemorada em 15 de Agosto. Sua saudação é: Odôyabá!


CABOCLO OGUM DE LÊ (OGUM)
(Data festiva : 23 de abril)
É um dos Mensageiros do Orixá do calor, da força e da energia. Seu "habitat" é a mata fechada. Suas comidas mais fortes são a feijoada (três tipos de feijões) e o mingau forte (camarão, inhame, farinha, leite de coco e amendoim torrado); suas bebidas fortes são a cerveja e o "batizado" (anis, mel e água); sua flor é a "crista de galo"; sua pedra é o rubi; sua essência é a violeta; seu metal é o ferro; seu dia da semana é terça-feira; suas cores são branco, vermelho e prata. Seus falangeiros mais conhecidos são: Beira-Mar, Rompe-Mato, Megê, Sete Ondas, Iara e Matinata. É sincretizado em São Jorge. Sua saudação é : "Ogum, ê!".


BABA GUINÉ (PRETOS-VELHOS)
(Data festiva : 13 de maio)
Eles são Mensageiros dos Awon Onile, os Senhores da Terra, Entidades de grande vibração espiritual e pertencem à Falange das Almas, dirigida e orientada por Omulu o senhor da saúde. Seu "habitat" são os cemitérios e os ambientes de florestas. Seus ímãs mais fortes são o "capitão-de-feijão" com gergelim e rapadura e o café sem açúcar. São, também, muito apreciados o fumo-de-corda e vinhos diversos. Suas flores são geralmente as margaridas e as palmas de cores diversas. Seu dia da semana é segunda-feira; sua pedra é o ônix; sua essência é o heliotrópio. Nossa saudação a Pai Benedito das Almas. Sua saudação é : -"Etiofá, meu Pai!"

SENHOR SETE ENCRUZILHADAS (EXÚ)
(Data festiva : 13 de Junho)
É uma falange de Mensageiros que penetra em todos os ambientes da natureza. Sua vestimenta é de acordo com a vibração de origem, sendo que os das encruzilhadas vestem-se de vermelho e preto ou preto e amarelo; e os do cemitério de preto e branco. Os ambientes mais específicos de Exu são as encruzilhadas de terra, cemitérios e orlas marítimas descampadas. Suas bebidas são em geral: cachaça, conhaque, whisky e batidas diversas (masculinos); anis, champanhas e licores diversos (femininos). Suas flores são de todas as espécies, sendo a rosa vermelha a mais apreciada pelas Pombagiras. Sua imantarão é o Padé (farinha, dendê e cebola). Os Exus de Umbanda mais conhecidos são: Tranca-Ruas, Tiriri, Marabô, Pingafogo, Veludo e Rompe-Ferro, Pombagira, Sete Encruzilhadas e Gira-Mundo. Sua saudação é : -"Laroyiê, Exú!"


CABOCLA CINDA LÊ (NANÃ)
(Data festiva : 26 de Julho)
O termo Nanã significa "mãe". É uma das Mensageiras da divindade africana tida como mãe de Obaluaiê, a mais antiga das Cindas das águas, sobressaindo-se nos lagos e pântanos. É sincretizada em Santa Ana. Dizem ser a enfermeira que prepara a passagem para a vida espiritual, por essa razão, seu habitat são os cemitérios. Suas oferendas são: berinjela, inhame, batata baroa e repolho roxo. Gosta de água mineral sem gás e suco de uvas rosadas. Suas cores são: preto e roxo, e suas flores são de cor vermelha escuro ou lilás. Seu dia é segunda-feira. Seu metal é o níquel. Sua essência é limão. Sua pedra é ametista. Sua saudação é : -"Saluba, Nanan !"


OBALUAYÊ
(Data festiva : 16 de Agosto)
Significa o dono da Terra, o médico dos pobres, o senhor dos Cemitérios. Registram-se, no Candomblé, 12 qualidades sendo a mais conhecida Omolu (o moço). Na Umbanda somente cultua-se Obaluayê (o moço) e Omolu ( o velho). É sincretizado em São Roque e São Lázaro. Sua saudação é : -"Iatôtô, Meu Pai !"


CURUMIM TUPANZINHO (IBEIJADA)
(Data festiva : 27 de Setembro)
É um dos Mensageiros de uma falange de altíssima vibração espiritual. Seu habitat são os jardins e praças floridas. A imantação são frutas e doces. Gosta de água com açúcar, flores miúdas, essência de maça, pedra turmalina rosa ou azul, cores rosa e branco. Seu dia é o domingo. Sua saudação é : -"A mim, Beijada !"


CABOCLO DA PEDRA PRETA (XANGÔ)
(Data festiva : 30 de Setembro)
É um dos Mensageiros do Orixá de muito sincretismo, tais como: Abomi (Santo Antônio), Aganjú (São José), Agodô (São João) Alufam (São Pedro) e Alafim (São Jerônimo). É o Orixá das cores amarelo, roxo, marrom, do estanho, da essência morango, da pedra jaspe. Oferenda mais comum é cerveja preta, charuto, fósforo e velas, colocadas nas pedreiras. Sua saudação é :-"Kaô cabecile!"


CABOCLA JUREMA (IANSÃ)
(Data festiva : 04 de dezembro)
É uma das Mensageiras do Orixá dos ventos e tempestades, esposa de Xangô, protetora das virgens. Senhora do cobre, do benjoim e do quartzo rosa, das quartas-feiras.Sua moradia é no tempo e no bambuzal. Suas cores são: coral e branco. Suas comidas são: feijão fradinho e farinha de arroz, no dendê e acarajé. Sua libação são: sucos de cereja, framboesa e tamarindo. Não existem qualidades. É sincretizada em Santa Bárbara. Sua saudação é : -"Eparei, Iansan!"


OXUM
(Data festiva : 08 de dezembro)
É a Cinda do amor e da prata, da angélica e da safira, do sábado. Sua moradia são: a cachoeira e as águas doces. Suas cores são: branco, azul-claro e amarelo (vibração oriental). Sua comida feijão fradinho, creme de arroz, ovos cozidos e o omolokum. Não existem qualidades. É sincretizada na Virgem da Conceição. Sua saudação é : -"Odocyá, minha Mãe !"


OMULU
(Data festiva : 17 de dezembro)
É o Orixá da saúde, protetor dos médicos, enfermeiros, enfermos e do povo ligado à saúde. É considerado o médico dos pobres; o senhor dos cemitérios (Calunga pequena); o dono do chumbo e do ônix, da segunda-feira. Sua comida mais conhecida é a flor-de-Omolu (pipocas estouradas na areia quente). Suas cores são: amarelo e preto. É uma qualidade de Obaluayê, e é sincretizado em São Lázaro. Sua saudação é : -"Epa, Epa Baba !"



CABOCLO URUBATÃO DA GUIA (OXALÁ)
(Data festiva : 25 de dezembro)
É um dos Mensageiros do Orixá símbolo da pureza e do amor; orixá da criação; Senhor Supremo que vibra sobre todos os filhos da Terra. Seu dia é o domingo. Sua morada são as praias e as colinas desertas. Suas cores são: branco e dourado. Sua imantação é a canjica branca com mel. É o senhor do ouro, do aloés e do cristal de rocha. Não tem qualidades, e é sincretizado em Jesus Cristo.

Mana, Axé e Benção
Mestre Piron e Omocurin Angelo D'Ogum



A RAIZ HELENO-SEMITA

1 - UMBANDA ZODIACAL

UMBANDA, A SENHORA DA LUZ VELADA

2 - RELAÇÕES MÍSTICAS


3 - SINETE DOS ORIXÁS

4 - MAGIA TALISMÂNICA


A MACUMBA, A MACUMBA URBANA E A UMBANDA


Como resultado da inconteste hegemonia religiosa Sudanesa (Ijêxá, Kêtu, Òyó, Ifé e Benin - enfim, Nàgô) e sua posterior rejeição às outras correntes religiosas negras, surgiram os Candomblés de Nação Congo e Angola que, por sua vez, expeliram de seu meio o elemento indígena que veio então a dar origem ao Candomblé de Caboclo e ao Omôlocô.
E, assim, houve um reflorescimento do sincretismo religioso dos ritos indígenas-católicos com o Panteão Africano e vê-se que, lado a lado, com Oxalá, pontificam Tupã e Zambi; ao lado de Yemanjá, estão Janaína e as Yaras; ao lado de Ogum, combatem Cariri e o Boaiadeiro; ao lado de Oxosse, corre o Sultão das Matas; ao lado de Exú, reinam o Caipora e Zé Pelintra, junto aos Baba Egun e a Falange do Oriente, estão os Caboclos Tupinambá, Tupiara, Jaú, Irerê, Pedra Negra, Pena Branca, Seô Quatro Olho e muitos outros mais.
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( Vou ler depois )
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Mas, infelizmente, no rastro desse reflorescimento espiritual negro e ameríndio, existiu no Norte, Nordeste, Sudeste e Centro Sul uma massa nacional de milhares de outros agrupamentos religiosos sincretizados e miscigenados que – empobrecidos pelo processo crescente de urbanização e carestia, desvinculados de suas raízes regionais pela migração interna, depauperados pelo desemprego e subemprego de seus fiéis – eram incapazes de sustentar as grandes despesas dos ritos segundo os moldes sudaneses, e, então, romperam com a prática dos preceitos e laços étnicos anteriormente definidos e, desse conjunto de circunstâncias socialmente novas, adversas e confusas, paralelamente a aqueles outros cultos já citados, surgiu a Macumba, denominação genérica e popular para designar a confusa mistura de muitos ritos e práticas de origem católica, indígena e ne gra assim gerados.
E a Macumba acabou por alcançar a periferia das maiores cidades do país, levada pela grande massa de trabalhadores migrantes, ex-escravos que se viram sem trabalho, terras ou ofícios quando a escravidão foi abolida em 1889 no Brasil. Especialmente no Rio de Janeiro, antiga capital federal, a Macumba passou ser praticada pelas camadas mais pobres e marginalizadas que a sociedade brasileira já havia conhecido mesmo durante a escravidão.
Mas, já desde de 1873, o primeiro Movimento Espírita organizado no Brasil, sempre no predestinado Rio de Janeiro, denominado Sociedade de Estudo Espírita do Grupo Confúcio, seguindo a tradição francesa do Kardecismo, começara a agir junto à essa camada mais desvalida da população, seguindo as instruções de seu preceito espiritual principal de que "Não existe Espiritismo sem a Caridade", enfatizando a figura do "médium" como um "curador" e desenvolvendo "sessões" de cura pela Fé nos Espíritos, mas apoiando-se nos tratamentos de saúde por Homeopatia.
Ora, como na Macumba também havia espíritos, médiuns curadores, conhecimentos do poder curativo das ervas e muita necessidade da Caridade, a empatia espiritual com o Kardecismo foi imediata, persistente e duradoura e ele começou a fornecer à Macumba uma nova estrutura, não de sincretismo mas de sintetismo, incluindo o Evangelho, segundo Allan Kardec. Nascia, assim, no Rio de Janeiro, a Macumba Urbana.
Após 1890, quando imigração européia para o Brasil foi incentivada e sistematizada, trazendo para os campos brasileiros levas e mais levas de trabalhadores brancos empobrecidos, mas não necessariamente despreparados e incultos, a maioria deles desiludiram-se com a diferença entre as condições de trabalho oferecidas e as que tiveram que enfrentar nas lavouras de café e cana de açúcar dos campos do país, e, assim, migraram para as cidades maiores aonde tiveram que se ajeitar como puderam junto à camada pobre das populações locais.
Como também eles estivessem necessitados de Caridade, muitos foram os que procuraram socorro e consolo espiritual junto as Macumbas Urbanas interpenetradas pela Evangelização Espírita. E, com o passar do tempo, foi significativa a parcela desses imigrantes, sobre tudo de intelectuais que conheciam a Teosofia, a Kabala e a Astrologia, que permaneceram, militaram e até acabaram por dirigir muitas Macumbas Urbanas, emprestando-lhes significativa organização social, cultural e, por muitas vezes, até política.
E, assim, desde 1924, no Rio de Janeiro, o nome Macumba Urbana caiu em desuso e começou-se a ouvir falar em Tenda, Cabana e Centro como lugares de cultos, dos quais os primeiros a serem organizados foram – a Tenda Espírita Mirim, a Tenda Nossa Senhora dos Milagres, a Cabana Espírita Senhor do Bonfim, a Tenda Espírita Fé e Humanidade, a Cabana Pai Joaquim de Luanda, o Centro Espírita Religioso São João Batista, a Tenda Africana São Sebastião – e que portam nomes que expressam claramente as três raízes raciais e esotéricas que neles se sintetizaram – a indígena, a européia e a africana – mas .... ... nenhum deles usava, ainda, o termo Umbanda ou Umbandista.
Entretanto, quando à partir da década de 1930, o processo de industrialização e reurbanização do Brasil intensificou-se por ação do Estado Novo – com a criação de novas oportunidades de emprego, a implantação de uma nova política social e de leis trabalhistas para defender os direitos do trabalhador até que ele alcançasse uma Aposentadoria jamais antes concedida, juntamente com a Saúde socializada e a oportunidade de ensino público gratuito às crianças pobres – a condição de ser-se "cidadão brasileiro" (e não mais a de se ser branco pobre, mestiço instruído, preto e índio, nesta ordem descendente negativa) passou a galvanizar as mentes daquela população antes tão desvalida.
E foi também quando tornou-se popularmente conhecida, por influência do sistema de ensino oficial, a nova imagem do índio Brasileiro, anteriormente idealizada pelo romanticismo dos poetas brasileiros, a qual reavivou a posição de liderança que os Caboclos tinham no seio do Catimbó e que, agora, passavam a ter nessas novas coletividades religiosas urbanas. Afinal, os Caboclos não eram mais nem índios, nem pretos e nem, muito menos, brancos : eles eram simplesmente Brasileiros !!!
Era o retorno dos Exilados de Pindorama ao seu rincão religioso natal. E, em 1939, sem que ninguém saiba precisamente "aonde" ou "quando" ( o "como" já vimos e o "porque" só se pode compreender esotericamente), apareceu publicamente uma palavra que já vinham sendo difundida dentro daqueles Centros Espíritas, Tendas e Cabanas – a palavra Umbanda – , pois neste ano criou-se a Primeira Federação Espírita Umbandista, outra vez, no predestinado Rio de Janeiro.
E são as próprias palavras de um dos participantes do Primeiro Congresso Umbandista de 1941, citadas por Cavalcanti Bandeira (Umbanda, evolução histórico-religiosa. 1961:81) que ratificam estas minhas palavras : formado sua própria personalidade, estava sendo proposta com muito prestígio. O nome –" Era necessário um nome para batizar a modalidade religiosa, a qual antes mesmo de haver Umbanda foi escolhido. Mas, quem escolheu-o ? Ninguém pode responder ! O que se sabe é que ele começou a ser usado no Distrito Federal e no Estado do Rio de Janeiro. Muito mais tarde, ele popularizou-se e alcançou a Bahia e foi incorporado pelos Candomblés e Xangôs do Nordeste "–.
E outra vez aqui deve-se remarcar aqui a contribuição da "intelligentzia", no trabalho da formação de uma nova religião genuinamente brasileira, sintetizadora de elementos da Sabedoria Ancestral de todos Povos Antigos e não mais mera repositória de memórias e ritos vilipendiados dos muitos mitos coletivos de outros grupos étnicos. Como bem a definiu Renato Ortiz (1975) em "Du syncrétisme à la synthèse : Umbanda, une religion brésilienne" :
–" A Umbanda é uma religião nacional, mesmo quando praticada por mestiços, pretos ou brancos."–








Mana, Axé e Benção
Mestre Itaoman


1. Umbanda zodiacal

-"Os Céus contam a Glória de Deus! Não a poderemos compreender
antes de havermos estudado a língua e os caracteres com que ela foi escrita."
Galileu Galilei (1564-1642)



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( Vou ler depois )
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O QUE ESTÁ EM CIMA É IGUAL AO QUE ESTÁ EM BAIXO

O conhecimento do movimento dos astros na Abóboda Celeste sempre foi comum a todos os povos da Antiguidade. Séculos de observações celestes fizeram os Antigos constatarem que certas estrelas eram fixas, enquanto outras moviam-se. Além disso, de um ponto de observação fixo na Terra, o Sol parece deslocar-se pelo Espaço em um movimento circular, passando sempre pelos mesmos grupos estelares, os quais, para serem memorizados, foram sendo agrupados em "desenhos" hipotéticos que receberam significativos nomes, tão bem escolhidos, que até hoje perduram : Carneiro, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Cabra, Aquário e Peixes.
Como a maioria desses "desenhos" lembram seres animados - Carneiro, Leão, Touro, Cabra, Gêmeos, etc - os Gregos chamaram todo esse conjunto por ZOÉ, significando Vida ou Existência e, assim, a cultura greco-latina cunhou a palavra ZODÍACO. Mas, em razão dessa aparente viagem do Sol e seu séquito de planetas por esse círculo de constelações fixas, já os anteriores Vedas Indianos a chamaram de Estrada dos Anjos, ou seja, KEJA-DEVA e que resultou em nossa língua, passando antes pela língua árabe, em CALENDÁRIO.
Por aparentar ser circular, esta Estrada dos Anjos e da Vida foi dividida, a grosso modo, em 12 (doze) partes iguais, correspondendo à cada constelação 30 graus ou trinta dias do ano, começando no dia 21 de Março, o qual marca o Ano Novo Esotérico em todo o mundo. Também por marcarem um determinado espaço do Calendário, cada uma dessas Constelações passou a ser conhecida como o seu símbolo particular, ou seja, o seu SIGNO ZODIACAL.

As Qualidades dos Signos Zodiacais :
Polaridade - Elemento - Movimento
1- QUALIDADE POLARIDADE

Cremos inabalavelmente que tudo o que existe, foi feito pela Vontade Divina.
Assim, sendo Deus o único Ser Uno e Eterno, toda a obra de Sua Criação é dualista e Sua Vontade está eternamente presente em qualquer ponto do Universo espiritual, astral ou físico, traduzindo-se por uma Eterna Corrente de Vontade Criadora que permeia toda a Criação e que, sendo uma conseqüência de Deus e não Ele próprio, ela é Polarizada em atração e repulsão, pólos positivo e negativo. Todo Ser vivente ou reagente nasce ou reage quando esses dois pólos opostos são postos em contato.
Do mesmo modo, como os Signos Zodiacais também representam Vida e Movimento, a Antiga Sabedoria primeiramente classificou-os por Polaridade :

QUALIDADE POLARIDADE
Positivos
Carneiro Gêmeos Leão Libra Sagitário Aquário
Negativos
Touro Câncer Virgem Escorpião Capricórnio Peixes

2- QUALIDADE ELEMENTO


A Eterna Corrente de Vontade Criadora é absorvida por Mediadores Espirituais Divinos, os quais cada religião denomina à sua feição e nós, na Umbanda Esotérica, denominamos por Orixás Originais. Esta Eterna Corrente de Vontade Criadora polarizada, em contato com cada Orixá Original, sofre uma nova modificação diferenciada e busca manifestar-se através de Vibrações Astrais que geram e mantêm a Energia, em todas as suas formas de manifestação que conhecemos e que ainda desconhecemos.
Assim é que, no Princípio, a polarização da Energia Espiritual com a Energia Consciencional gera a Energia Etérea ou Astral. Esta Energia Astral, embora indiferenciada e sutil, já é de qualidade material, sendo as variações de intensidade de suas vibrações energéticas que induzem a formação das Forças Sutis Elementares que geram os Elementos, os quais buscam manifestarem-se na Natureza.
Nessa busca, elas tornam novamente a se polarizar grupalmente, ou seja, dois pares tomam caraterísticas opostas : 1 e 2, expansão e locomoção; 3 e 4, contração e coesão.

A primeira e mais sutil dessas vibrações energéticas evolui da Energia Astral Indiferenciada por aumento de freqüência vibracional e gera a Força Sutil Elementar que dá origem ao estado gasoso da Matéria, ao qual a Antiga Sabedoria referia-se por Elemento AR

A segunda dessas vibrações, evolui da anterior por intensificação de freqüência vibracional para dar origem ao estado ígnêo da Matéria, ou seja, ao Elemento FOGO.

A terceira também evolui primeiramente da Energia Astral Indiferenciada, mas por diminuição de freqüência vibracional, dando origem ao estado líquido da Matéria, ou seja, ao Elemento ÁGUA.

A quarta dessas vibrações, evolui de sua anterior por coesão de freqüência vibracional para dar origem ao estado solido da Matéria, ou seja, ao Elemento TERRA.
Assim, também os Signos Zodiacais foram classificados pelos Elementos que representam:

QUALIDADE ELEMENTOS
AR Gêmeos Libra Aquário
FOGO Carneiro Leão Sagitário
ÁGUA Câncer Escorpião Peixes
TERRA Touro Virgem Capricórnio
2- MOVIMENTO


Da mesma forma que a passagem de um estado elementar a outro, ao modificar um fluxo vibracional gera um movimento, também os Signos Zodiacais geram um tipo de movimento transitório : Cardinais - os que marcam as mudanças de estações climáticas do ano. Fixos - os que seguem e aprofundam o movimento iniciado. Mutáveis - os que indicam o fim de um ciclo e o início de outro. Assim, eles também foram classificados por essas suas caraterísticas.

QUALIDADE MOVIMENTO
CARDINAIS
(iniciação) Carneiro Câncer Libra Capricórnio
FIXOS
(consolidação) Touro Leão Escorpião Aquário
MUTÁVEIS
(renovação) Gêmeos Virgem Sagitário Peixes

A partir dessas classificações é possível estabelecer-se todas as demais correlações entre os Signos Zodiacais e tudo quanto existe nos Reinos Mineral, Vegetal e Animal da Natureza.
Assim também, várias as religiões, à partir da denominação que criaram para os Mediadores Espirituais Divinos - Devas, Espíritos Ancestrais, Potestades, Arcanjos - ligam-se ao processo de Criação e sua representação pelo Zodíaco, pois todas elas, no seu mais íntimo cerne, creêm primeiramente em um Ser único, Eterno e Infinito : Deus, seja qual for o nome que se Lhe atribuirmos.
Mas, como a Umbanda Esotérica pode estabelecer a relação particular entre cada Signo Zodiacal e seus Orixás Ancestrais?
A Matemática sempre foi uma ciência universal, no tempo e no espaço, sendo que um de seus axiomas de mais fácil compreensão é aquele que anuncia :
-"Duas quantidades iguais à uma terceira são iguais entre si."-

A Umbanda Esotérica prega que determinados Orixás Ancestrais são os Senhores de determinadas Vibrações Energética denominadas pelo termo "Vibração Original".
Assim , estas são as Correlações das Vibrações Originais:

VIBRAÇÕES ORIGINAIS
Oxalá Senhor da Vibração Original Espiritual
Yemanjá Senhora da Vibração Original Mental
Ibeje Senhor da Vibração Original Etérea
Oxosse Senhor da Vibração Original Eólica
Xangô Senhor da Vibração Original ígnêa
Ogum Senhor da Vibração Original Hídrica
Obaluaiyê Senhor da Vibração Original Telúrica

A Antiga Sabedoria dos Povos que estabeleceu o Keja-Devas e Zoé afirma que, para a Humanidade :
CALENDÁRIO
Sol é o símbolo de sua parcela Espiritual
Lua é o símbolo de sua parcela Mental
Mercúrio é o símbolo de sua parcela Etérea
Vênus é o símbolo de sua parcela Eólica / Telúrica
Júpiter é o símbolo de sua parcela Ígnêa / Hídrica
Marte é o símbolo de sua parcela Hídrica / ígnêa
Saturno é o símbolo de sua parcela Telúrica / Eólica

Então, pelo axioma matemático acima enunciado, podemos agora estabelecer a correlação destes conhecimentos derivada :
RELAÇÃO ORIXÁ x SIGNO ZODIACAL Oxalá
Espiritual Sol Leão
Yemanjá Mental Lua Câncer
Ibeje Etérea e Telúrica Mercúrio Gêmeos e Virgem
Oxosse Eólica e Telúrica Vênus Libra e Touro
Xangô Ígnêa e Hídrica Júpiter Sagitário e Peixes
Ogum Hídrica e ígnêa Marte Escorpião e Carneiro
Obaluaiyê Telúrica e Eólica Saturno Cabra e Aquário

Assim, fica estabelecida a Correlação entre os Orixás Ancestrais e a Estrada dos Anjos e da Vida, podendo cada ser humano conhecer as Influências Místicas que sobre ele agem e, então, auto-analizar-se para corrigir o rumo de suas ações, já que as influências astrais podem ajudar ou contraporem-se à sua própria tendência, mas nunca dominar sua vontade.
Pois, o homem é sempre sensível ao seu meio ambiente e esse ambiente é afetado pelas radiações eletro-magnéticas que, vindas do Espaço Sideral, são refletidas e ampliadas com as próprias radiações do Sol e da Lua, dando origem aos diferentes fenômenos físicos que caracterizam os doze meses do Calendário.
E o Homem pode sintonizar-se com estas influências místicas pela data de seu nascimento, isto é, se ele concientizar-se que naquele momento em que ele pela primeira vez recebeu o hausto da vida em seus pequeninos pulmões, imperava uma Vibração Astral de um dos Signos da Estrada dos Anjos e da Vida - o Zodíaco - regida por um Astro Celeste que reflete a Vibração Original Divina modificada pela individualidade espiritual de um Orixá Ancestral.
Eis porque a Antiga Sabedoria dos Povos já dizia que :
-"O que está em cima é igual ao que está em baixo."-

Portanto, o mais ínfimo dos Seres merece todo nosso respeito por que tem correpondência com o Altíssimo Ser e, por essa correspondência, todos os Seres se tornam "Um" com o Universo.
Eis porque afirmamos que a Umbanda Esotérica é a Filosofia das Forças Vitais da Natureza e porque todo aquele que professa este credo tem a obrigação de seguir os ditames da Magia Naturalista que, hoje, chama-se Ecologia !
Mana, Axé e Benção
Mestre Piron

RELAÇÕES MÍSTICAS ENTRE UMBANDA E ZODÍACO


Oferenda à Yemanjá
Dê um "click" sobre a data de nascimento que lhe interessar ver,
para conhecer quais as Influências Místicas que atuam sobre seu Corpo Astral.
Para os Nascidos em :
ÁRIES : de 20/03 a 18/04
|| LIBRA : de 22/09 a 22/10

TOURO : de 19/04 a 19/05
|| ESCORPIÃO : de 23/10 a 21/11

GÊMEOS : de 20/05 a 20/06
|| SAGITÁRIO : de 22/11 a 20/12

CÂNCER : de 21/06 a 21/07
|| CAPRICÓRNIO : de 21/12 a 19/01

LEÃO : de 22/07 a 21/08
|| AQUÁRIO : de 20/01 a 17/02

VIRGEM : de 22/08 a 21/09
|| PEIXES : de 18/02 a 19/03


Nascidos de 20/03 a 18/04
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE OGUM EM ÁRIES
Ponto Riscado de Ogum

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Áries

Qualidade do Signo Positivo, Ígnêo e Cardinal
Astro Regente Marte
Dia Favorável Terça-feira
Orixá de Nascimento Ogum
Guardião Superior Arcanjo Samael
Guardião Inferior Senhor Tranca-Rua
Ponto Cardeal Sul
Força Sutil Ígnêa
Elemento Fogo
Número 7 (sete) e 9 (nove)
Som Nota Musical Ré
Pedra Preciosa Hematita, Granada e Rubi
Animal Totêmico Carneiro
Cor Alaranjada
Metal Ferro
Essência Odorífica do Cravo
Flor Cravo Vermelho
Erva Principal Carqueja
Outros Vegetais Jurubeba, Samambaia,
Erva-macaé e Romã
Banho de Defesa Arruda-macho, Alecrim
e Espada de São Jorge
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim

Nascidos de 19/04 a 19/05
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE OXOSSE EM TOURO
Ponto Riscado de Oxosse

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Touro
Qualidade do Signo Negativo, Telúrico e Fixo
Astro Regente Vênus
Dia Favorável Sexta-feira
Orixá de Nascimento Oxosse
Guardião Superior Arcanjo Ismael
Guardião Inferior Senhor Marabô
Ponto Cardeal Norte
Força Sutil Telúrica
Elemento Terra
Número 6 (seis)
Som Nota Musical Mi
Pedra Preciosa Safira, Turquesa e Lápis-lazuli
Animal Totêmico Touro
Cor Azul
Metal Cobre
Essência Odorífica Patchuli
Flor Palma Vermelha
Erva Principal Hortelã
Outros Vegetais Malva Rosa, Mil-Folhas
Azedinha e Erva Doce
Banho de Defesa Pitangueira, Sabugeiro
e Gervão Roxo
Defumação Mirra, Benjoin e Alfazema

Nascidos de 20/05 a 20/06
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE YORI EM GÊMEOS
Ponto Riscado de Yori

na Lei de Pemba
da Umbanda esotérica
Signo Zodiacal Gêmeos
Qualidade do Signo Positivo, Eólico e Mutável
Astro Regente Mercúrio
Dia Favorável Quarta-feira
Orixá de Nascimento Yori (Ibeje / Crianças)
Guardião Superior Arcanjo Yoriel
Guardião Inferior Senhor Tiriri
Ponto Cardeal Leste
Força Sutil Eólica
Elemento Ar
Número 5 (cinco)
Som Nota Musical Fá
Pedra Preciosa Berilo, Ágata e Topázio
Animal Totêmico Camaleão
Cor Vermelha
Metal Mercúrio
Essência Odorífica Alfazema
Flor Crisântemo
Erva Principal Manjericão
Outros Vegetais Capim Limão, Salsaparrilha,
Morangueiro e Anil
Banho de Defesa Trevo, Arruda-macho
e Manjericão
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim

Nascidos de 21/06 a 21/07
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE YEMANJÁ EM CÂNCER
Ponto Riscado de Yemanjá

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Câncer
Qualidade do Signo Negativo, Hídrico e Cardinal
Astro Regente Lua
Dia Favorável Segunda-feira
Orixá de Nascimento Yemanjá
Guardião Superior Arcanjo Rafael
Guardião Inferior Senhora Pomba-Gira
Ponto Cardeal Oeste
Força Sutil Hídrica
Elemento Água
Número 2 (dois) e 7 (sete)
Som Nota Musical Sol
Pedra Preciosa Opala, Pedra da Lua e Calcita
Animal Totêmico Golfinho
Cor Prateada, Amarela
Metal Prata
Essência Odorífica Rosa
Flor Rosas Brancas
Erva Principal Sensitiva
Outros Vegetais Unha de Vaca, Pariparoba
Avenca e Lágrimas de N. Senhora
Banho de Defesa Arruda-fêmea, Sensitiva
e Rosa Branca
Defumação Mirra, Benjoin e Alfazema

Nascidos de 22/07 a 21/08
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE OXALÁ EM LEÃO
Ponto Riscado de Oxalá

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Leão
Qualidade do Signo Positivo, Ígnêo e Fixo
Astro Regente Sol
Dia Favorável Domingo
Orixá de Nascimento Oxalá
Guardião Superior Arcanjo Gabriel
Guardião Inferior Senhor Sete Encruzilhadas
Ponto Cardeal Sul
Força Sutil Ígnêa
Elemento Fogo
Número 1 (hum) e 4 (quatro)
Som Nota Musical Lá
Pedra Preciosa Diamante, Citrino e Sardônica
Animal Totêmico Leão
Cor Branca, Dourada
Metal Ouro
Essência Odorífica Heliotrópio
Flor Girassol
Erva Principal Louro
Outros Vegetais Maracujá, Laranjeira,
Algodoeiro e Arnica
Banho de Defesa Arruda-macho, Levante
e Girassol
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim

Nascidos de 22/08 a 21/09
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE YORI EM VIRGEM
Ponto Riscado de Yori

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Virgem
Astro Regente Mercúrio
Qualidade do Signo Negativo, Telúrico e Mutável
Dia Favorável Quarta-feira
Orixá de Nascimento Yori (Ibeje / Erê / Criança)
Guardião Superior Arcanjo Yoriel
Guardião Inferior Senhor Tiriri
Ponto Cardeal Norte
Força Sutil Telúrica
Elemento Terra
Número 5 (cinco) e 6 (seis)
Som Nota Musical Dó
Pedra Preciosa Jade, Crisópraso e Ágata
Animal Totêmico Corça
Cor Vermelha
Metal Mercúrio
Essência Odorífica do Capim Santo
Flor Margarida
Erva Principal Manjericão
Outros Vegetais Abre-caminho, Quina Roxa,
Maravilha e Melão de S. Caetano
Banho de Defesa Trevo, Arruda-fêmea e Manjericão
Defumação Mirra, Benjoin e Alfazema


Nascidos de 22/09 a 22/10
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE OXOSSE EM LIBRA

Ponto Riscado de Oxosse

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Libra
Qualidade do Signo Positivo, Eólico e Cardinal
Astro Regente Vênus
Dia Favorável Sexta-feira
Orixá de Nascimento Oxosse
Guardião Superior Arcanjo Ismael
Guardião Inferior Senhor Marabô
Ponto Cardeal Leste
Força Sutil Eólica
Elemento Ar
Número 6 (seis)
Som Nota Musical Ré
Pedra Preciosa Água Marinha, Solalita e Espinélio
Animal Totêmico Lebre
Cor Azul
Metal Cobre
Essência Odorífica Lavanda
Flor Flores Silvestres
Erva Principal Hortelã
Outros Vegetais Acâcia Jurema, Funcho,
Malvaisco e Sete Sangrias
Banho de Defesa Pitangueira, Sabugueiro
e Gervão Roxo
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim

Nascidos de 23/10 a 21/11
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE OGUM EM ESCORPIÃO
Ponto Riscado de Ogum

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Escorpião
Qualidade do Signo Negativo, Hídrico e Fixo
Astro Regente Marte
Dia Favorável Terça-feira
Orixá de Nascimento Ogum
Guardião Superior Arcanjo Azrael e Samael
Guardião Inferior Senhor Tranca Rua
Ponto Cardeal Oeste
Força Sutil Hídrica
Elemento Água
Número 9 (nove)
Som Nota Musical Mi
Pedra Preciosa Granada, Jaspe Sanguíneo
e Quartzo Fumée
Animal Totêmico Escorpião
Cor Alaranjada
Metal Ferro
Essência Odorífica Aloés
Flor Capuchinha
Erva Principal Carqueja
Outros Vegetais Madressilva, Erva Lanceta
Losna e Lança de Ogum
Banho de Defesa Arruda-fêmea, Alecrim,
Espada de S. Jorge
Defumação Mirra, Benjoin e Alfazema


Nascidos de 22/11 a 20/12
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE XANGÔ EM SAGITÁRIO
Ponto Riscado de Xangô

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Sagitário
Qualidade do Signo Positivo, Ígnêo e Mutável
Astro Regente Júpiter
Dia Favorável Quinta-feira
Orixá de Nascimento Xangô
Guardião Superior Arcanjo Mikael
Guardião Inferior Senhor Gira-Mundo
Ponto Cardeal Sul
Força Sutil Ígnêa
Elemento Fogo
Número 3 (três) e 4 (quatro)
Som Nota Musical Fá
Pedra Preciosa Safira, Turquesa e Cassiterita
Animal Totêmico Cavalo
Cor Verde
Metal Estanho
Essência Odorífica Sândalo
Flor Cravos Brancos
Erva Principal Musgo de Cachoeira
Outros Vegetais Lírio da Cachoeira, Erva Tostão,
Goiabeira e Mangueira
Banho de Defesa Folhas de Alecrim, Limoeiro
e Colônia
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim

Nascidos de 21/12 a 19/01
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE YORIMÁ EM CAPRICÓRNIO
Ponto Riscado de Yorimá

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Capricórnio
Qualidade do Signo Negativo, Telúrico e Cardinal
Astro Regente Saturno
Dia Favorável Sábado
Orixá de Nascimento Yorimá (Obaluaiyê / Onilê)
Guardião Superior ArcanjoYramael
Guardião Inferior Pinga Fogo
Ponto Cardeal Norte
Força Sutil Telúrica
Elemento Terra
Número 3 (três) e 8 (oito)
Som Nota Musical Sol
Pedra Preciosa Ônix, Obsidiana e Mármore
(osso e madeira petrificada)
Animal Totêmico Bode
Cor Roxa
Metal Chumbo
Essência Odorífica Violeta
Flor Violetas
Erva Principal Amoreira
Outros Vegetais Guiné, Tamarindo,
Café e Vassourinha das Almas
Banho de Defesa Eucalipto, Guiné e Arruda Fêmea
Defumação Mirra, Bejoin e Alfazema


Nascidos de 20/01 a 17/02
RELAÇÕES MÍSTICAS: INFLUÊNCIAS DE YORIMÁ EM AQUÁRIO
Ponto Riscado de Yorimá

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Aquário
Qualidade do Signo Positivo, Eólico e Fixo
Astro Regente Saturno
Dia Favorável Sábado
Orixá de Nascimento Yorimá (Obaluaiyê)
Guardião Superior ArcanjoYramael (Uriel)
Guardião Inferior Pinga Fogo
Ponto Cardeal Leste
Força Sutil Eólica
Elemento Ar
Número 2 (dois) e 3 (três)
Som Nota Musical Lá
Pedra Preciosa Ametista, Zircônio e Jacinto
Animal Totêmico Ganso
Cor Roxa
Metal Chumbo
Essência Odorífica Junquilho
Flor Dálias
Erva Principal Amoreira
Outros Vegetais Eucalipto, Arruda-macho,
Guiné Pipiu e Alfavaca
Banho de Defesa Eucalipto, Guiné e Arruda-macho
Defumação Incenso, Sândalo e Alecrim


Nascidos de 18/02 a 20/03
RELAÇÕES MÍSTICA: INFLUÊNCIAS DE XANGÔ EM PEIXES
Ponto Riscado de Xangô

na Lei de Pemba
da Umbanda Esotérica
Signo Zodiacal Peixes
Qualidade do Signo Negativo, Hídrico e Mutável
Astro Regente Júpiter
Dia Favorável Quinta-feira
Orixá de Nascimento Xangô
Guardião Superior Arcanjo Mikael (Azariel)
Guardião Inferior Gira-Mundo
Ponto Cardeal Oeste
Força Sutil Hídrica
Elemento Água
Número 3 (três) e 6 (seis)
Som Nota Musical Si
Pedra Preciosa Ametista, Azurita e Água Marinha
Animal Totêmico Cavalo Marinho
Cor Verde
Metal Estanho
Essência Odorífica Verbena
Flor Lírios
Erva Principal Musgo de Cachoeira
Outros Vegetais Lírio da Cachoeira, Negamina,
Aperta Ruão e Limoeiro
Banho de Defesa Alecrim, Limoeiro e Colônia
Defumação Mirra, Bejoin e Alfazema


OS SINETES DOS ORIXÁS
Mestre Itaoman

O Esoterismo de Umbanda não adota o sincretismo dos Orixás com os Santos Católicos como a Umbanda o faz e nem tende a copiar a representação dos mesmos apresentada pelos fiéis dos Candomblés de Nação Africana aclimatados no Brasil, embora a todas estas formas respeitemos.
Assim, no Esoterismo de Umbanda, os Orixás não têm representação antropomórfica. Acreditamos que sendo Energia e Luz Espiritual, os Orixás propriamente ditos, comparecem e repousam em seus "Assentamentos" mas não se incorporam em "médiuns" humanos: isto é tarefa para seu Mensageiros.
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( Vou ler depois )
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Daí que as representações antropomórficas possam ser aceitas apenas para as quatro formas principais de apresentação incorporante de seus Mensageiros aos humanos: Crianças, Caboclos, Pretos-Velhos e Eshus. Ainda assim, basicamente, esta é uma concesão às mentes dos não-Iniciados e dos Iniciandos que ainda não se tenham habituado a "sentir" a presença do Orixá em seu "Assentamento" e nem a "ver" sua força no seu Ponto Riscado na Lei de Pemba.
Esta Lei representa a "presença" espiritual individual dos Orixás pelo Ponto Riscado : um conjunto de riscos e símbolos que indicam as linhas de forças espirituais que criam e mantém os campos de indução/imantação astral e magnética que, sob a regência de determinado Orixá, atuam sobre as Forças Vitais da Natureza.

Daí a Umbanda Esotérica haver-se fixado em Sete Orixás Regentes Planetários, com as denominações esotéricas de:
Oxalá - Ogum - Oxosse - Xangô - Yemanjá - Yori - Yorimá
nomes estes cuja conjunção de suas letras iniciais se reflete no termo
OXY
e que simbolizamos pelo Signo do Circulo Cruzado.

A divergência destes dois últimos nomes de Orixás - Yori e Yorimá - com aqueles em uso na Umbanda prende-se à nossa interpretação dos mesmos pela Ciência do Verbo, através do Arqueômetro de Saint Yves D'Alveydre, porém seus conceitos são os mesmos que os tradicionais :
Yori / Ibeji = Entidades Gêmeas que agem como uma só, concedendo abundância e prosperidade.
Yorimà / Obaluaiê = Entidade representando todos os Ancestrais e também a Lei e Sabedoria da Antiga Tradição de todos os povos. Nem por isso acreditamos que os Orixás sejam apenas os Senhores das Forças da Natureza. Mas, como o homem é produto de seu meio ambiente, eles também atuam, além do Espírito, sobre o fisíco, a mente dos Seres Humanos, desta forma influenciando suas ações conscientes e inconscientes, cuja soma e balanço formam o Destino de cada um.
Mas, não devemos jamais esquecermo-nos do Mais Um, o Mediador das Ações entre Deus, os Orixás, a Obra de Sua Criação, as Entidades Espirituais e os Seres Humanos : o Mensageiro e Executor Divino Eshu.
As datas das festas populares são respeitadas e até festejadas publicamente como na Umbanda, mas considera-se que elas e as conseqüentes Oferendas destinadas aos festejados têm melhor eficácia se realizadas nos períodos de tempo situados nos Signos Astrológicos que lhe são peculiares.


Ponto Riscado de Oxalá na Lei de Pemba
SENHOR OXALÁ
É o Mediador Divino na Criação no Universo.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Espiritual
que criou, insufla e mantém a Vida na Humanidade.
Tem a regência do Astro Rei Sol, nessa qualidade
influenciando o Signo de Leão.
Ver a Relação Esotérica no Signo de Leão.



Ponto Riscado de Ogum na Lei de Pemba
SENHOR OGUM
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da Luta Sagrada
Tem a regência do Planeta Marte.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Ígnêa
(elemento Fogo), nessa qualidade influenciando o Signo de Áries.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Hídrica
(elemento Água), nessa qualidade influenciando o Signo de Escorpião.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Áries e de Escorpião


Ponto Riscado de Oxosse na Lei de Pemba
SENHOR OXOSSE
É o Mediador Divino que reflete o Princípio
da Lei da Causa e do Efeito.
Tem a regência do Planeta Vênus.
É o Senhor Primaz da Vibração Original Eólica
(elemento Ar), nesta qualidade influenciando o Signo de Libra.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Telúrica
(elemento Terra), nesta qualidade influenciando o Signo de Touro.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Libra e de Touro


Ponto Riscado de Xangô na Lei de Pemba
SENHOR XANGÔ
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da Justiça Divina.
Tem a regência do Planeta Júpiter.
É o Senhor Primário da Vibração Original Ígnêa
(elemento Fogo), nesta qualidade influenciando o Signo de Sagitário.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Hídrica
(elemento Água), nesta qualidade influenciando o Signo de Pisces.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Sagitário e de Pisces


Ponto Riscado de Yemanjá na Lei de Pemba
SENHORA YEMANJÁ
É a Mediadora Divina que reflete o Princípio Passivo Gerante
Tem a regência do Satélite Lua.
É a Senhora Primaz da Energia Mental,
nesta qualidade influenciando o Signo de Câncer.
Ver Relação Esotérica no Signo de Câncer


Ponto Riscado de Yori na Lei de Pemba
Senhores Yori
São os Mediadores Divinos Unidos que refletem
o Princípio Criado Equilibrador
Têm a regência do Planeta Mercúrio.
São os Senhores Primários da Vibração Original Etérea
(elemento Astral/Éther).
São os Senhores Secundários das Energias Elementares Eólica e Telúrica,nesta qualidade influenciando o Signo de Gêmeos e Virgem.
Ver Relação Esotérica no Signo de Gêmeos e de Virgem


Ponto Riscado de Yorimá na Lei de Pemba
SENHOR YORIMÁ
É o Mediador Divino que reflete o Princípio da
Potência da Palavra da Lei
Tem a regência do Planeta Saturno.
É o Senhor Primário da Vibração Original Telúrica
(elemento terra), nesta qualidade influenciando o Signo de Capricórnio.
É o Senhor Secundário da Vibração Original Eólica
(elemento ar), nesta qualidade influenciando o Signo de Aquário.
Ver Relação Esotérica nos Signos de Capricórnio e de Aquário.


A MAGIA TALISMÂNICA NA UMBANDA



Todo aquele que estuda o esoterismo das religiões sabe que não existe fenômeno material sem seu substrato astral e vice-versa ! Sabe, também, que todas as Entidades Astrais, sejam de que Plano Espiritual forem e qualquer que seja a denominação que se lhes dê, necessitam do fator "meio", ou seja, de suporte material adequado para se revelarem no Plano Material.
Assim, também os Símbolos Sagrados de Umbanda (Lei de Pemba) não são meros sinais gráficos materiais. Na verdade, eles reproduzem as estruturas esquemáticas dos Campos de Forças do Mundo Astral e, assim, refletem o fluxo e a atuação das Forças Sutis Astrais sobre as Forças Elementares Cósmicas, Planetárias e Terrestres.
Desta forma, com os Símbolos Sagrados de Umbanda, podemos invocar, fixar e/ou irradiar a Força Astral (Axé) de uma Entidade Espiritual em determinados Pontos Riscados que, ritualisticamente fixados em suportes materiais bem preparados, passam a se constituir em Meio de Comunicação entre a Entidade Espiritual e seus devotos, tal e qual acontece com um Médium, um Congá ou um Assentamento. É dentro dessas condições que os Símbolos Sagrados de Umbanda têm larga aplicação na Magia Talismânica, mormente no preparo e consagração de Guias, Sinetes e outros Talismãs.

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( Vou ler depois )
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Já existe toda uma literatura Umbandista sobre o "como" e o "porque" preparar-se tais objetos talismânicos e até amuletos. Mas, em toda essa literatura não existia nenhuma referência de como se situar o Ser Humano - agente ou paciente - dessa Magia de Pemba e nem como classificá-lo ou individualizá-lo nessas condições. Abordar esse "esquecido" tema foi o objetivo principal do livro - Pemba, A Grafia Sagrada dos Orixás -, de Mestre Itaoman, publicado em 1990 e do qual se extraem os apontamentos elucidativos que se seguem.
O Ser Humano é, por excelência, o Ponto de Junção entre o Plano Espiritual e o Plano Material porque suas funções cerebrais transmitem a percepção do Mundo Físico, captadas por seus cinco sentidos básicos, à sua Consciência Individual, a qual tem o poder de aperceber-se, para além dos reflexos instintivos, daqueles substratos astrais contidos nesses contatos, gerando a percepção extra-sensorial.
Por isso mesmo, a Matemática Pitagórica relacionou o Ser Humano à Entidade Matemática Cinco (número 5) , justamente pela existência dos cinco sentidos humanos : visão, audição, tato, olfato e gosto. Daí decorre o fato da Geometria Esotérica relacioná-lo com o Polígono Piramidal por este objeto ter cinco (5) superfícies: quatro verticais inclinadas e uma base horizontal plana.
A Magia Talismânica Heleno-Semita simboliza-o pelo Pentagrama, a famosa Estrela de Cinco Pontas, por assim melhor poder expressá-lo em sua Dupla Polaridade :
1. Positiva - Uma só de suas pontas apontando para cima;
2. Negativa - Uma só de suas pontas apontando para baixo.

O Pentagrama em posição positiva é o símbolo do Ser Humano harmônico e evolutivo, com seus desejos e instintos submetidos à sua consciência; o Pentagrama em posição negativa é o símbolo do Ser Humano desajustado e regressivo em conflito consigo mesmo, cuja consciência está subjugada aos seus instintos.
Um Talismã Mágico, de origem européia medieval, abaixo exibido, demonstra claramente os conceitos acima expressos :


1. O pentagrama apresenta-se nas duas posições antagônicas, positiva e negativa, conforme se veja seu verso ou seu anverso :
2. Os nomes de Adam e Eve, personagens míticos semitas, contrapõem-se aos nomes de Samael e Lilith, o Arcanjo do Sol e a Potestade da Lua Negra;
3. Uma figura humana contrapõem-se à figura do Bode Expiatório.
4. No círculo exterior, apresentam-se letras do alfabeto hebraico, as quais têm relações específicas com a Kabalah e que podem ter caráter defensivo ou retaliatório.
Assim, a Estrela de Cinco Pontas é um símbolo talismânico universal da Raça Humana e tem-se notícias de seu uso no Tantrismo (Índia e Tibet), na Cabala (Judéia), no Pitagorismo (Grécia), na Magia (Europa Medieval), na Teosofia (nas modernas Europa e Américas). Então, também nós o utilizamos no Esoterismo da Umbanda. Por que não ???
Pois, sendo o Ponto de Junção por excelência entre o Material e o Imaterial, qualquer Ser Humano na condição de "médium" precisa e depende de manter atuante, equilibrada e benéfica a sua condição de "receptor de percepções extra-sensoriais" procurando sempre repor as energias bio-elétricas que seu corpo físico dispende na prática de cultos esotéricos, caritativos ou não. Para isso, ele precisa estar em sintonia harmônica com a Vibração Sutil que emana de seu Orixá Regente Planetário, cuja Força Sutil dinamizava os Astros Celestes que regiam a Natureza no momento em que aquele Ser Humano sorveu o primeiro Hausto de Vida em seus pulmões, ou seja, no momento de seu nascimento.
Precisa, também, saber conjugar eficientemente esta Vibração de seu Orixá Regente Planetário com a Vibração de seu Orixá de Cabeça, ou seja, aquele a quem, por escolha própria antes de sua atual reencarnação, seu Espírito imortal (Ori Orun = Cabeça no Além), ajoelhado perante Olorum (Deus), decidiu ou precisou dedicar sua futura "Cabeça na Terra" (Ori Aiye = intelecto ou personalidade).
Como vimos, o Orixá Regente Planetário é determinado pela data de nascimento e a ele estão ligados seu Arcanjo e Anjo de Guarda; mas, seu Orixá de Cabeça", a quem estão ligados seu "Santo" e seu "Eshu Guardião", só pode ser determinado por um Babalaô, através de um Jogo Divinatório como o Tabuleiro de Ifá, o Colar de Ifá ou, como último recurso, os Búzios. Para esta determinação, não há outra alternativa ou escapatória.
Portanto, na Magia Talismânica de Umbanda, não é o bastante representar o Ser Humano pelo Pentagrama; é necessário também :
1. Classificá-lo por Forças Sutis Espirituais, Astrais e Planetárias;
2. Individualizá-lo em seus outros relacionamentos espirituais com a sua Falange Espiritual, com seus Guias e/ou Protetores;
3. Nominá-lo por seu nome astral e/ou iniciático;
4. Graduá-lo em função do mérito que venha alcançando nas pelejas em prol de seus próximos.
E, para isso, a Magia Talismânica de Umbanda tem seus próprios símbolos sagrados para representar aos seus Ôrixás, Guias e Protetores, aos Planetas e Signos Zodiacais, às Forças Elementares da Natureza, à Numeralogia e Grafia Sagrada com que cria e grafa Nomes Próprios e/ou Iniciáticos, bem como pode representar os Vórtices e Canais de Energias Sutis que percorrem o organismo intra e supra corpóreo do Ser Humano, caminhos de energias estes que são, também, controlados pelo Imolé Eshu Bara, o Senhor Guardião do Corpo e dos Caminhos do Destino de cada um de nós, os quais ele abre ou fecha conforme os méritos e os deméritos de nossas ações conscientemente perpetradas.
Com o conjunto desses Símbolos e com sua Grafia Sagrada, à qual os Umbandistas denominam por Lei de Pemba, a Umbanda não precisa recorrer à simbologias de origem egípcia, tântrica, hebraica, grega ou latina para compor seus Sinetes ou Talismãs.
É de se notar, também, que as representações das formas geométricas (e a matemática que as inspiraram), não são propriedade exclusiva de nenhuma civilização ou época. Elas existem desde sempre na Natureza : a espiral da casca de um caracol, o oval de um seixo rolado, o triângulo de uma lasca de sílex, o cubo, a pirâmide, o hexágono e muitas outras formas encontráveis nos minérios e cristais, a forma poligonal de uma estrela-do-mar !
Não há aqui espaço para o ensinamento das correlações entre os Símbolos Sagrados de Umbanda e os símbolos de outras procedências, tais como Astrologia, Alquimia, Cabala e Magia. Mas, realmente, a correlação existe e quem quiser aprofundar-se no assunto em questão pode referenciar-se no livro de Mestre Itaoman acima citado, embora seja difícil encontrá-lo nas livrarias.
Por isso mesmo, vamos limitar-nos a apresentar os doze Sinetes Astrais básicos referentes aos doze Signos Zodiacais, de forma que cada pessoa possa encontrar aquele referente à data de seu nascimento e, então, utilizar-se dele, por sua conta e risco, para obter proteção contra "temporais astrais" que, infelizmente, certos ambientes ou pessoas mal vibrados podem ocasionar.
O material em que devem ser confecionados é aquele referido como o metal característico do Signo Zodiacal, encontrável no tópico Influências Místicas, Item Influências, sub-item Data de Nascimento, nesta mesma Home Page.
Sobre um dos seus lados, cada Sinete Astral tem gravado os Símbolos Umbandistas relativos ao Signo Zodiacal, o Planeta Regente, o Orixá de Nascimento, a Força Sutil do Elemento da Natureza, o símbolo do Vórtice Astral captador de energias sutis de seu organisno extra-corpóreo e o símbolo astral sintético da Entidade Espiritual Guardiã de seu corpo físico e astral, ou seja, seu Imole Eshu Bara.
Em seu outro lado, tem signos cabalísticos não reveláveis publicamente, ou seja, só são reveláveis dentro da relação Mestre-Discípulo.
Cada um desses Sinetes Astrais é, pois, comum a todas pessoas nascidas sob esse mesmo Signo Astral e por todas elas podem ser utilizados, mas apesar de abaixo relacionarmos os Doze Sinetes Astrais Básicos para seu simples conhecimento, é evidente que para grafá-los magisticamente é necessário ter-se sido iniciado na Lei de Pemba de Umbanda, a Grafia Sagrada dos Orixás : simplesmente cópiá-los e portá-los não levará ninguém a resultado algum!

OS SINETES ASTRAIS DOS SIGNOS NA UMBANDA
E SUAS INFLUÊNCIAS MÍSTICAS
Aries
De 20/03 a 18/04 Touro
De 19/04 a 19/05



Gêmeos
De 20/05 a 20/06 Câncer
De 21/06 a 21/07



Leão
De 22/07 a 21/08 Virgem
De 22/08 a 21/09



Libra
De 22/09 a 22/10 Escorpião
De 23/10 a 21/11



Sagitário
De 22/11 a 20/12 Capricórnio
De 21/12 a 19/01



Aquário
De 20/01 a 17/02 Peixes
De 18/02 a 20/03




OS SINETES ASTRAIS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL
Com muito mais razão, a Individualização, a Graduação Astral, o Nome Iniciático e demais possibilidades de defesa e/ou retaliação inerentes à Simbologia Astral de um Sinete Talismânico de Umbanda, só devem ter confiada sua elaboração a um verdadeiro Babalaô da Corrente Astral do AumBhanDan, ou seja, a um militante graduado da Umbanda Esotérica.
Só ele poderia elaborar um Sinete Astral com o Círculo de Proteção Magística, poderoso e atuante, igual ao que abaixo apresentamos e que corresponde, neste caso hipotético e demonstrativo, a uma pessoa nascida sob o Signo de Sagitário; individualizada por um nome de batismo Paulo da Silva; graduada como médium de Preto Velho, sob a proteção da Vibração Original de Yorimá ou Obaluaiyé e do Senhor Eshu Pinga-Fogo, protegida toda essa classificação, individualização e graduação sob a invocação protetora dos Sons Sagrados ou Mantra Umbandístico : Sammany - Yaracy - Yaci - Anacauam.
Toda essa correspondência Astral, Espiritual e Magítica acima citada está expressa apenas num dos lados (verso) do Sinete Astral que se vê abaixo :
FACE ANTERIOR DE UM SINETE ASTRAL
DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

A Face Posterior de um Sinete de Proteção Individual é um campo vibratório magístico reservado aos conhecimentos e perícia de um verdadeiro Baba. Nele serão inseridos os Símbolos de mais alta conexão com o Mundo Astral para a Proteção Individualizada contra todo o Mal, até daquele que possa aflorar do lado negativo do próprio indivíduo protegido.
Assim sendo, cada Umbandista ou Simpatizante deveria conhecer e ter seu Sinete Astral de Proteçäo Individual criado e imantado por um Baba.

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