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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

AXÉ BOBÓ

"Em julho de 1993 o Candomblé lamentou a morte de José Bispo dos Santos, um dos maiores responsáveis pela introdução da religião dos Orixás no Sudeste, especialmente em São paulo. tornou-se famoso com o apelido de bobó de Iansã e em 1948 era citadi por Edson Carneiro no livro Candomblés da Bahia entre os babalorixás que vinham adquirindo sucesso na cidade de Salvador.

Iniciado aos quatro anos de idade pela eminente ialorixá Cotinha de Ewá, Pai Bobó honrou até os últimos dias a Casa de Oxumaré, não obstante suas estreitas ligações com o Gantois, pois Zezinho - como o chamava Mãe Menininha - não se furtava dos conselhos da grande mãe-de-santo, que ele adorava tanto, que no dia 13 de agosto de 1986, quando Mãe Menininha faleceu, entre lágrimas, fez o solene juramento de jamais voltar à Bahia. E cumpriu. A Bahia, contudo, vinha até Pai Bobó: tantos ogans e matronas do Gantois, Mãe Nilzete de Iemanjá, então ialorixá do Axé oxumaré, não perdiam as festas de Iansã, que levavam milhares de pessoas ao litoral paulista, mais especificamente à cidade do Guarujá, onde Pai Bobó plantou seu axé,.

Pai Bobó deixou Salvador em 1950. Veio primeiramente para o Rio de janeiro e por alguns anos esteve ao lado de Joãozinho da Goméia, auxiliando-o nas funções sacerdotais. Já em São paulo, em 1957, fundou o Ilê Oyá Mesan Orun, na cidade de Santos, comprrovadamente o primeiro Candomblé do Estado. Os atabaques que bateram o primeiro Candomblé de São paulo foram presentes de Pai Baiano (Waldemiro de Xangô) e até hoje ecoam nas noites do litoral.

iniciou milhares de filhos-de-santo em São Paulo, sem contar os que o acompanharam da Bahia. Não se furtava a subir a serra e ajudar seus inúmeros filhos com casa aberta a fazer seus Candomlés. Pai Bobó era um homem bom, que sabia respeitar o espaço do outro e tinha sempre uma palavra de carinho e conforto para seus filhos e para todos os que o procuravam. No dia de seu enterro, uma multidão vestida de branco invadiu as ruas da cidade e lamentou a falta de um dos grandes nomes da religião, que para sempre será lembrado, pois foi amado e respeitado por todos.

Oiá é o vento que espanta a morte, a ventania que balança as folhas, que enverga a palmeira real e faz seu topo tocar o chão. Quando da morte de seus filhos, ela se manifesta. Quem não viu Iansã no enterro de pai Bobó? Todos, naquela triste manhã de um dia triste, viram Oiá abrindo os caminhos para o féretro. A cada caminho que cruzava - três passos adiante, três passos para trás - um vento forte zunia na boca do dia. Oya Gueré a unló, cantavam tristes seus irmãos, seus filhos e os filhos de seus filhos, mas cantavam. As árvores, as mesmas que o apoiaram em seus passos lentos, curvavam-se numa última saudação; suas folhas formavam um tapete para o cortejo, e a cada encruzilhada - três passos adiante, três passos para trás - erguiam-se e voavam em círculo. A multidão de branco, pano-da-costa nos ombros, pêlos erguidos pelo corpo, lamentava - mas cantava: adola, Oyá Gueré a unló. Caminhando contra ventania, a multidão é lenta e parece não querer chegar, mas chega - três passos adiante, três passos para trás - e preenche o vácuo da terra, e cada um naquela alva multidão se esvazia um pouco: adola, Oyá Gueré a unló.

Na história do Candomblé de São Paulo, Pai bobó escreveu um capítulo inteiro. Hoje existem os que maldizem Pai Bobó, os mesmos que muitas vezes comeram de sua comida e lhe pediram ensinamentos e explicações.

Mas Iansã também sabe ser justa, e este ano promete ser o ano da retomada do crescimento do Ilê Oiá Mesan Orum, pois seus filhos e filhas estão dispostos a trabalhar para que a casa assuma o seu papel de referência e reconquiste o respeito de todos os adeptos do Candomblé. A festa de iansã deste ano promete ser um marco, o início de uma nova etapa loriosa para este Candomblé que é o pioneiro em São paulo e, portanto, merece ser preservado.

Pai bobó, orgulhoso, verá seu nome honrado por seus filhos e filhas, que retornarão ao Axpe e provarão a todos que jamais se esquecerão do grande homem que ele foi, de seu amor e de sua bondade. Nenhum homem poderá destruir o que Iansã construiu, pai bobó viverá para sempre na memória de seus filhos e em cada canto de seu glorioso Axé e na casa de seus filhos, que o amam e respeitam pelo grande pai que foi e continua sendo."

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