O CULTO A ORISÁ NA ÁFRICA:
Òrìsà ló n pa' ni í dà
On on pa Òrìsà á dà
"O orixá ( que é um ser supremo) é quem pode mudar a existência.
Ninguém pode mudar orixá".
ANCESTRAL DIVINIZADO:
Primeiramente, é preciso esclarecer que existem duas categorias de poderes divinos evocados entre os iorubás: um é o ancestral propriamente dito conhecido tanto na àfrica como no Brasil com o nome de Egúngún; outro é o ancestral divinizado, conhecido como orisá. A diferença reside, no primeiro caso, na experiência da morte. O egum, ao contrário do orisá, experimentou a morte e sabe os seus mistérios, por isso a máscara é a sua forma de aparição.
Os orisás por sua vez, foram em vida seres excepcionais, que detinham um poderoso asé e não morreram simplismente, fazendo na verdade, uma passagem de condição mortal de seres humanos para a condição imortal de orisá, que se dá num momento de grande emoção, paixão, cólera ou desespero, no qual a sua parte material desaparece restando somente o asé em estado de energia pura.
Esta força pura e vital do orisá, ou o próprio deus, , retorna à Terra para saudar seus descendentes e receber as devidas homenagens por meio de transe, quando toma o corpo de um de seus fiéis, dança e rememora suas histórias através dos cânticos e oriquis que são entoados nos festivais da África.
BOORI - RITUAL DE INICIAÇÃO
O borí é uma cerimônia de grande significado litúrgico. Ë a adoração
da cabeça, realizada pelo conjunto de oferendas, cânticos e
louvações. É importante a participação do Olorisa em cerimônia de
borí, já que se estabelece a comunhão com a cabeça do "outro" e troca
de ase.
Quanto mais pessoas houver para louvação de nossa cabeça, para comer
a comida do borí, tanto melhor. A união faz a força e os alimentos
divididos no ritual são fortalecidos por Onilé, juntamente às forças
do Orí do favorecido pela obrigação.
Comer destas comidas é àse, renovação de nossas forças. Mas é
necessário que o filho se coloque à disposição do terreiro,
participando como possa e seja necessário, no referido etutu. A
arrumação do borí, a exemplo do preparo dos alimentos, arrumação de
camas, despachos, etc., cabe ao Olorisa. A celebração é feita pela
Iyálorisa ou Babalorisá, auxiliada pela Iyakékeré, e outras Olóyè
qualificadas. ...
Durante a cerimônia do borí não se ajoelha. Fica-se em pé, em atitude
de respeito e seriedade. O filho deve responder às cantigas
específicas, o que é de grande importância.
O borí da Iyálorisa ou Babalorisá é diferenciado pela pompa e deferência. Ainda
assim o filho deverá permanecer em pé, com a cabeça inclinada,
levemente abaixada, demonstrando respeito à Mãe ou o Pai da Comunidade. Quanto
mais sua cabeça revigorar as forças, melhor para todos, já que eles (Babalorisá ou Iyálorisa é quem distribui o àse. ...
Em toda e qualquer cerimônia de borí os filhos têm de estar
vestidos "nos trinques". Roupas muito brancas, de morim. Para os
homens as costumeiras, conforme já vimos, sendo indispensável às
mulheres o uso do pano-da-costa. Se a cerimônia destinar-se a
Iyálorisa, Babalorisá, os filhos deste não deve, naquela noite, deitar-
se em cama, mas sim em esteiras. Afinal, sua Mãe ou seu Pai estarão deitados em uma
esteira e os filhos não poderão estar "mais alto que seu Pai ou sua Mãe".
Insatisfeitos, vivem dizendo: "Em meu tempo era diferente..." Os
Iyáwó de hoje metem vergonha... Ai de mim se meu Pai de Santo
espirrasse e eu não lhe tomasse a bença".
Esses personagens se esquecem de que estão vivos, seu tempo é
presente. Por isto eu digo: Meu tempo é agora! Por que estas mais
velhas, tão repressoras, não passam o conhecimento que têm? Por que
não ensinar os procedimentos aos àbúrô? A menos que estejam
admitindo, por seu discurso, que, em seu tempo de Iyáwó, as então
Egbón eram pessoas de boa vontade ou detentoras de um maior
conhecimento da religião dos Orisa. Vivemos o tempo presente, nosso
tempo é hoje, já, agora! Só pode falar "em meu tempo" alguém que já
não mais faça parte deste tempo: depois de ter atravessado a porteira
do tempo... Quem vive é deste tempo: de agora! E quem critica é
porque conhece. Deixemos o egoísmo de lado e tratemos de transmitir
conhecimento como maneira de conservar o Candomblé "por todos os
tempos".
LENDA DE OBÍ:
Era uma vez um belo rapaz, forte e saudável, cujo nome era Obi, seu trabalho era levar os recados dos homens, para os Orixás.
Toda vez que um homem precisava fazer uma oferenda a uma divindade,ele deveria falar no ouvido de Obi todas as suas orações, pedidos e lamentações, e este, por sua vez, transmitiria os recados e traria uma resposta daquela divindade.
Com o tempo, Obi passou a ser mais requisitado pelos seus trabalhos, pois com sua ajuda tudo se tornara mais fácil, a resposta era imediata. Isso foi fazendo com que Obi ficasse muito orgulhoso e envaidecido, passando a cobrar preços cada vez mais altos pelos seus serviços, acumulando assim, muitas riquezas.
Obi sentia-se livre para agir desta forma, andava pelas ruas sem falsa modéstia, dizendo o quanto as pessoas precisavam de seus favores.
O tempo foi passando e a situação chegou a tal ponto, que Exu ficou incomodado com as atitudes de Obi.
Exu, que caminha entre o céu e a terra com muita facilidade, foi falar com Olodumare (o Deus Supremo), relatando tudo o que estava acontecendo na terra, especialmente o comportamento de Obi.
Olodumare ficou muito triste com o que Obi estava fazendo e tomou uma decisão, ir pessoalmente a casa de Obi , falar com ele, e ver quais seriam seus argumentos.
O Deus Supremo, que nunca havia saído do céu anteriormente, seguiu em direção a casa de Obi, lá chegando, bateu na porta, e Obi foi atender, sem imaginar quem poderia estar do lado de fora, ao abrir a porta, tão grande foi seu susto, que caiu de costas no chão imobilizado, foi quando Olodumare disse a ele: "tanto foi o teu orgulho e vaidade que vim pessoalmente a sua casa para falar de minha tristeza, como reparação de seus erros, a partir de hoje nunca mais falará de pé, toda vez alguém precisar de teu trabalho é no chão que deverá te invocar,esse será o teu castigo para sempre".
E até hoje é assim que consultamos Obi, no chão.
SANGUE BRANCO:
O sêmen, a saliva, o hálito, as secreções e o plasma são considerados os portadores de sangue branco no reino animal. O caracol, igbin, sacrificado a Osalá é um bom exemplo de animal de sangue branco. No reino vegetal, esta no sumo das plantas leitosas e nas bebidas alcoólicas extraídas das palmeiras e de outros vegetais, também esta no iyerosún ( pó utilizado pelos Babalaôs no Opele Ifá) e na banha de orí ( espécie de banha vegetal). No reino mineral temos o sal, o efun (espécie de giz branco), a prata e o chumbo.
Todos esses elementos são portadores de asé e combinados reforçam, ampliam, e restabelecem a relação entre os homens e os deuses. o asé é uma força vital que pode ser acumulada, aumentada, e o sacrifício, com a utilização das mais variadas fontes de asé, provenientes de todos os reinos da natureza, é que fortalece o poder do orisá e dos Candomblés.
Escrito por Alexandre d'Òsùn. às 01h57 [(0) Comente] [envie esta mensagem]
SANGUE PRETO:
No reino animal, o sangue preto é encontrado principalmente nas cinzas dos animais sacrificados. Sendo a cor verde variação da cor preta, assim como o azul, o sumo das folhas, o pó azul chamado wájí e extraido das árvores, são exemplos do sangue preto no reino vegetal. Já no reino mineral, encontramos o carvão e o ferro.
A esses elementos relacionam-se mais diretamente os orisás da Terra como ogun, Oxóssi, Ossain e muitos outros. Isso não quer dizer, evidentemente, que deuses ligados a outros elementos não os utilizem. Porém que da mesma forma que a cor vermelha é associada imediatamente ao fogo, o preto é associado à terra e o branco à água e ao ar.
SANGUE VERMELHO:
O sangue divide-se em 3 categorias: o vermelho, o preto e o branco, e os elementos detentores de asé são encontrados nos reinos animal, vegetal e mineral, configurando a parte material, visível e palpável da força vital.
O sangue vermelho do reino animal é representado pelo fluxo menstrual, pelo sangue dos animais e pelo sangue humano, portanto, todas as pessoas são portadoras de asé. No reino vegetal, o azeite de dendê, o ossún e o mel extraído das flores são os melhores exemplos. Os metais como o bronze e o cobre são portadores de sangue vermelho provenientes do reino mineral.
O sangue vermelho esta mais diretamente relacionado às coisas quentes, ao movimento e ao fogo, razão pela qual os orisás que exigem uma quantidade maior desses elementos dominam exatamente esses aspectos da natureza, como Esú, Sangò e Oyá.
ASÉ, A FORÇA SAGRADA - O SIGNIFICADO DO SANGUE PARTE 2:
Não se derrama o sangue dos animais por maldade, por crueldade, muito menos para fazer o mal a alguém. O sacrifício é a condição para que a vida continue, e não apenas no Candomblé. Todos se alimentam, seja de carne, seja de vegetal, e um boi só pode ser comido em bifes, ou seja, em partes e de4pois de morto; uma alface, ao ser desconectada de sua raiz, também é morta. Por isso não se pode atribuir um significado religioso a um ato essencial para a sobrevivência humana? Será mesmo que a condenação do Candomblé se deve ao sacrifício? Não seria essa uma forma de a sociedade camuflar preconceitos mais profundos?
O ritual macabro não esta no Candomblé e sim nos matadouros, onde os animais são submetidos a inúmeras crueldades e morrem com muito sofrimento. Imaginem um animal ainda vivo tendo sua pele arrancada: isso é um exemplo do que ocorre nos matadouros. É por isso que a carne que será consumida pelos iniciados deve ser sacralizada por meio de rituais específicos; a carne de um animal que morreu com sofrimento não faz bem a ninguém. Os judeus e os muçulmanos, por exemplo, só consomem carnes de animais abatidos de acordo com os seus preceitos. Por que o Candomblé não pode fazer o mesmo?
É um absurdo acusar o Candomblé de fazer sacrifícios humanos, como têm feito certas "igrejas". O Candomblé não é uma religião hipócrita e assume o que faz. são sacrificados, sim, bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois servem de alimento à comunidade, mas nunca seres humanos, pois o orisá vive no homem e através do homem.
Todo homem sacrifica, não necessariamente num sentido religioso, e mata para sobreviver. Que mal pode haver em oferecer aos Deuses as partes que os homens não consomem?
Lembre-se de que Jesus foi condenado à morte por pessoas que depois viriam a santificá-lo depois, fazendo o sinal da cruz, adorando a sua imagem ensanguentada. Pois que fique bem claro: não somos contra o homem Jesus, mas sim contra os homens que mataram Jesus. Nós não matamos os nossos orisás, nós os Amamos.
Para o Candomblé, tudo o que a natureza produz é sangue, pois o que define o sangue é a força que detém, ou seja, o asé, e um sacrifício requer a utilização de vários tipos de sangue, vindo das mais variadas fontes da natureza, atribuindo vida e sentido ao orisá, aos homens e à própria existência.
ASÉ, A FORÇA SAGRADA - O SIGNIFICADO DO SANGUE:
O conteúdo mais precioso de uma casa de Candomblé é o asé. É a força que assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o devir. Sem asé a existencia estaria paralisada, desprovida de toda possibilidade de realização. É o princípio que torna possível o processo vital ( Juana Elbein dos Santos).
No dia em que um homem engolir uma galinha inteira, viva, sem tirar as penas, o sangue, as vísceras; no dia em que um parto não sangrar e a água não verter sobre a Terra, neste dia eu deixo de cortar para os orisás.
SACRIFÍCIOS:
Sacrifício não é sinônimo de assassinato, relacionado que esta a rituais sagrados, visando, no candomblé, ampliar, acumular e distribuir a força vital e sagrada que é o asé. boa parte das religiões utilizava sacrifícios em seus rituais, mas na maioria das vezes com um sentido expiatório, não se aplicando essa noção ao candomblé por um motivo aparentemente simples: no candomblé não existe pecado, portanto não há o que expiar.
Entre os cristãos por exemplo, a extinção do sacrifício justifica-se pela morte de Jesus Cristo, que teria morrido para salvar a humanidade no mais importante sacrifício a que o mundo assistiu. Ocorre que Jesus Cristo, morreu pelos cristãos e não pelo candomblé, e isso significa, na realidade, que os ritos processados em outras doutrinas religiosas não fazem nenhum sentido para os orisás, da mesma forma que os rituais do candomblé fogem a compreenção da Igreja Católica.
O sangue é de importancia vital para os orisás, pois esta ligado a concepção, à fertilidade, ao nascimento e a todas as etapas da vida. Sem sangue não há asé, ninguém nasce sem sangue. Quando deixar de haver sacrifícios , o Candomblé deixará de existir.
ESÚ: O PRINCIPIO DE TODAS AS COISAS.
Kó sí èyí ti yóò móo jeun Não existe ninguém que coma
Tàbí yóò móo se igúnwà ti kó Ou esteja instalado com realeza
Ni fi ti èsù síwájú. Sem que haja recorrido a Esú primeiro.
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