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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O JOGO DE BÚZIOS POR ODÚN

O JOGO DE BÚZIOS POR ODU

O ser humano sempre questionou o motivo de sua estadia sobre a terra e, principalmente, o mistério que envolve o seu futuro.
A insegurança em relação ao porvir fez com que o homem tentasse, de diferentes maneiras, prever o que lhe estava reservado, precavendo-se desta forma da má sorte, ao mesmo tempo em que assegurava a efetivação de acontecimentos tidos com benefícios.
Muitos são os processos utilizados nesta finalidade e, no decorrer dos séculos, diversos sistemas oraculares foram desenvolvidos e largamente acessados com maior ou menor possibilidades de erros e acertos.
Dentre os sistemas oraculares utilizados pelos humanos, na ânsia de descobrir o futuro, ou contactar as deidades com a finalidade de desvendar o motivo de suas provações, destacamos alguns como, a astrologia, a cartomancia, a quiromancia e a geomancia, que por sua popularidade e confiabilidade, continuam a ser muito solicitadas nos dias atuais.
Quase todos os oráculos, independente de sua origem cultural, tendem ao aspecto religioso, sugerindo sempre uma prática ritualística de caráter muito mais místico do que cientifico.
No Brasil, o sistema divinatório mais amplamente divulgado, aceito e praticado, é o popularmente denominado “Jogo de Búzios”, que tem suas origens nas religiões africanas, mais especificamente no culto de Orunmilá, o Deus da Sabedoria e da Adivinhação.
Nossa cultura assimilou de forma notável os costumes oriundos do continente africano, legados pelos escravos que, no decorrer de vários séculos, foram para aqui trazidos de forma trágica e brutal.
A música, a culinária, a maneira de ser e de agir do brasileiro testemunham, de forma inequívoca, esta influência, de que não poderia deixar de ser verificada também, na postura de nosso povo diante das religiões, quando, independente de sua opção ou credo, adota sempre uma atitude pautada no profundo misticismo.
Para o brasileiro, como para o africano, não cai uma folha de uma árvore sem que para isto não haja uma pré determinação espiritual ou um motivo de fundo religioso.
As forças superiores são sempre solicitadas na solução dos problemas do quotidiano e, seja qual for a religião professada pelo indivíduo, a prática da magia é sempre adotada na busca de suas soluções, mesmo que esta prática mágica seja velada ou mascarada com outros nomes.
O presente trabalho configura-se como uma proposta essencialmente didática que por isto mesmo, não assegura as pessoas não iniciadas o direito de acessar o oráculo, garantido-lhes, isto sim, a possibilidade de conhecer a mecânica de seu funcionamento, sua interpretação e a forma como pode apresentar soluções para os problemas que diuturnamente apliquem as nossas existências.
Sentimo-nos na obrigação de esclarecer ainda que, o Jogo de Búzios como base como todos os demais processos divinatórios, exige como pré requisito para que possa ser acessado, algum tipo de iniciação por parte do adivinho, assim com a consagração dos objetos concernentes a prática oracular





O Oráculo Divinatório de Ifá.

Denomina-se Oráculo Divinatório de Ifa, o sistema de adivinhação utilizado pelos Babalawo, sacerdotes consagrados ao culto de Orunmila “O Deus da adivinhação e da sabedoria”, considerado como a principal divindade do sistema religioso de culto aos Orishas.
O Babalawo (Pai que possui o segredo), é o sacerdote de maior importância dentro do sistema em questão. Todos os procedimentos ritualísticos e iniciáticos dependem de sua orientação e nada pode escapar de seu controle. Para absoluta segurança e garantia de sua função o Babalawo dispõe de três formas distintas de acessar o Oráculo e, por intermédio delas, interpretar os desejos e determinações das Divindades e de outros Seres Espirituais. Estas diferentes formas são escolhidas pelo próprio Babalawo, de acordo com a importância do evento a ser realizado, de sua gravidade e significado religioso.



O Jogo de Ikin ou o Grande Jogo.

Por sua importância e precisão o Jogo de Ikin é utilizado exclusivamente em cerimônias de maior relevância e só pode ser acessado pelos Babalawo, sendo direito exclusivo desta casta sacerdotal.
Compõe-se de vinte e uma nozes de dendezeiro, que são manipuladas pelo adivinho, de forma a proporcionarem o surgimento de figuras denominadas Odú, portadoras de mensagem que devem ser codificadas e interpretadas para que sejam corretamente transmitidas aos interessados.
Os Odú são portadores, de forma cifrada, dos conselhos, exigências e orientações dos Seres Espirituais, determinam o tipo de sacrifício exigido e a que tipo de Entidade deverá ser oferecido.
Os Ikin são selecionados e dos vinte e um, somente dezesseis são colocados na palma da mão esquerda do advinho que, com a mão direita num golpe rápido, tenta retira-los dali de uma só vez.
A Configuração do Odú é determinada de acordo com a quantidade de Ikin que sobrem na sua mão esquerda. Se restarem duas nozes, o advinho fará sobre o seu Opon (tabuleiro de madeira recoberto de um pó sagrado conhecido como yerosun), um sinal simples, pressionando com o dedo médio da mão direita, o pó espalhado sobre a superfície do tabuleiro. se ao contrario restar apenas uma noz o sinal será duplo e marcado com a pressão simultânea dos dedos anular e médio.
Esta operação é repetida tantas vezes quantas forem necessárias para que se obtenha duas figuras compostas, cada uma, de quatro sinais simples ou duplos, superpostos verticalmente, o que proporcionará o surgimento de duas colunas, inscritas da direita para a esquerda, uma ao lado da outra.
Se na tentativa de pegar os Ikin, sobrarem mais de dois ou nenhum, a jogada é nula e deve ser repetida.
As duas figuras surgidas desta operação indicarão o signo ou Odú que estará regendo a questão, apresentando-se como responsável por sua solução, más outros deverão ser “sacados” para o completo desenvolvimento da consulta.
Todo este procedimento é revestido de um verdadeiro ritual e cada figura surgida é inscrita no tabuleiro, é saudada com cânticos e rezas específicos, que tem por finalidade garantir sua fixação e proteção assim como ressaltar o respeito com que são tratadas.
Por sua complexidade, o Jogo de Ikin exigiria, para ser descrito integralmente, uma obra composta de muitas e muitas páginas, como por exemplo o magnifico trabalho de Bernard Maupil, “La Geomancie a I’ancienne Cote des Eclaves”, que versa sobre o tema com excepcional propriedade.
Para melhor compreensão, apresentamos as representações indiciais dos 16 (dezesseis) Odú Meji ou figuras principais do sistema oracular, adotando para isto a ordem de chegada aceita pelos Babalawo nigerianos.



1 - Eji Ogbe I I
I I
I I
I I

2 - Oyeku Meji I I I I
I I I I
I I I I
I I I I

3 - Iwori Meji I I I I
I I
I I
I I I I

4 -Odi Meji I I
I I I I
I I I I
I I

5 -Irosun Meji I I
I I
I I I I
I I I I

6 -Oworin Meji I I I I
I I I I
I I
I I

7 -Obara Meji I I
I I I I
I I I I
I I I I

8 -Okanran Meji I I I I
I I I I
I I I I
I I

9 - Ogunda Meji I I
I I
I I
I I I I

10 - Osa Meji I I I I
I I
I I
I I

11 - Ika Meji I I I I
I I
I I I I
I I I I

12 - Oturukpon Meji I I I I
I I I I
I I
I I I I

13 -Otura Meji I I
I I I I
I I
I I

14 - Irete Meji I I
I I
I I I I
I I

15 - Ose Meji I I
I I I I
I I
I I I I

16 - Ofun Meji I I I I
I I
I I I I
I I


O JOGO DE OKPELE

O Jogo do Okpele obedece a mesma ritualistica exigida pelos Ikin, sendo como este, exclusividade dos Babalawo. Trata-se no entanto de um processo mais rápido, já que um único lançamento do rosário divinatório proporciona o surgimento de duas figuras que combinadas formam um Odu.
O colar ou rosário aqui usado, é formado por uma corrente de qualquer metal, onde são presas oito favas, conchas, ou quaisquer objetos de forma e tamanhos idênticos, que possuam um lado côncavo e outro convexo, que irão possibilitar de acordo com suas disposições em cada lançamento a “leitura” do Odu que se apresenta.
Existem correntes confeccionadas com pedaços de marfim, pedaços de osso, cascas de coco, etc., sendo que a preferência da maioria dos Babalawo, recai sobre um determinado tipo de semente natural da África Ocidental, conhecida como “fava de Okpele” que por sua forma, adapta-se perfeitamente as necessidades do rosário divinatório de Ifá.
As favas ou outros materiais utilizados para este fim, são presas pelas extremidades a corrente, mantendo entre si uma distância sempre igual. com exceção das quartas e quintas favas, que guardam entre si, uma distância um pouco maior do que a que separa as demais, o que torna possível a sua manipulação por parte de advinhos.
Na hora do lançamento, a corrente é segura neste exato local pelos dedos indicador e polegar da mão direita, suas pontas pendentes são batidas de leve sobre o solo, o que permite que suas favas se agitem livremente, balançadas algumas vezes e lançadas com as pontas voltadas pra o advinho.
Cada “perna” da corrente contendo quatro favas, apresenta uma figura considerando-se as fechadas como um sinal duplo e as abertas como um sinal simples, que deverão ser transcritos para a superfície do tabuleiro Opon Ifá.
Todo o procedimento é idêntico ao do Jogo de Ikin, as figuras são inscritas no Opon, saudadas interpretadas e decodificadas pelo Babalawo. As rezas e cânticos são os mesmos, só o processo de apuração é diferente.


MERINDILOGUN - O JOGO DE BÚZIOS.

O Jogo de Búzios ou Merindilogun, tornou-se no Brasil, o sistema oracular mais amplamente aceito e difundido. Raros são os indivíduos residentes em nossa terra que nunca tenha recorrido aos seus serviços quer seja por simples curiosidade, que seja por real necessidade.
A preferência do brasileiro por este sistema verifica-se, provavelmente pela inexistência de Babalawo no Brasil, o que torna absolutamente impossível o acesso aos dois processos adivinhatórios anteriormente descritos, enquanto que os búzios podem ser jogados por qualquer um que seja iniciado no culto dos Orishás, independente de cargo, grau ou hierarquia.
É Eshú quem através dos búzios, intermedía a comunicação entre os homens e os habitantes dos mundos espirituais, levando os pedidos e trazendo os conselhos e orientações, os recados e as exigências.
Uma outra vantagem que o jogo de búzios apresenta sobre os outros sistemas oraculares existentes em nossa terra é o fato de não somente diagnosticar o problema, como também apresentar a solução através de um procedimento mágico denominado ebó.
Nossa proposta é descrever minuciosamente a técnica e a magia do verdadeiro jogo de búzios, na forma exata como é praticada pelos advinhos africanos e se fizermos uma ligeira referência sobre os demais processos divinatórios(Ikin e Okpele), foi com o objetivo de ressaltar a sua maior importância e esclarecer que aqueles procedimentos não podem nem devem ser acessados por pessoas não iniciadas no culto de Orunmila, sendo sua prática terminantemente proibida a pessoas do sexo feminino, assim como a todos os que pratiquem o homossexualismo.
Necessária se faz uma explicação sobre a principal chave do sistema divinatório objeto de nossos estudos, as figuras ou signos denominados Odú, portadoras das revelações e mensagens que tornam possível a existência do Oráculo assim como sua coerência.



O que é Odú? - Qual a sua relação com o sistema divinatório e com o ser humano? - Não faz muito tempo, o tema era considerado segredo e o termo Odú, assim como o nome das dezesseis figuras eram considerados tabu. A simples menção de um destes nomes na presença de iniciados de alta hierarquia era dita e havida como falta de respeito, como um verdadeiro sacrilégio. Esta postura radical concorreu para que a maior parte do conhecimento sobre o tema desaparecesse através dos anos, na medida em que aqueles que o detinham, negavam-se a transmiti-lo, levando para a sepultura o que lhes havia sido legado por seus antepassados, colocando desta forma, para o efetivo esclarecimento de subsídios fundamentais e indispensáveis ao correto procedimento oracular.

Na década de 80, o Brasil formalizou um contrato de intercâmbio cultural com a Nigéria, o que possibilitou a vinda de inúmeros estudantes nigerianos para nosso país. Este grupo relativamente numeroso, foi dividido entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde passaram a fazer parte das diversas faculdades para nelas cursarem diferentes cadeiras de nível superior. Ocorreu então um fenômeno muito interessante. Aqueles jovens, quase todos de formação evangélica, ao sentirem o interesse dos brasileiros pela religião original de sua terra, vislumbraram ai a possibilidade de auferir algum lucro e sem o menor escrúpulo, passaram a divulgar os conhecimentos que trataram de adquirir através de livros especializados e publicados em Yoruba.
O retorno financeiro era rápido e substancial e a avidez dos menos escrupulosos levou-os de proceder iniciações e até mesmo de formar grupos de Babalawo, abusando de forma vil da boa fé e do espirito hospitaleiro de nossa gente.

Isto provocou a divulgação desordenada e pior que isto, deformada do significado dos Odu de Ifá e a partir de então, antigos manuscritos pertencentes a tradicionais famílias sacerdotais, caíram de forma espúria nas mão de pessoas nem sempre bem intencionadas, que deram a eles o uso e a interpretação que melhor convinha aos seus interesses pessoais, uma vez que lhes faltava o subsidio essencial para a prática oracular que é a interação com o sagrado, só obtida através da iniciação e do ritual.
Independente de todo o malefício que os jovens estudantes africanos nos trouxeram, não seria justo que omitíssemos os muitos benefícios que também foram por eles prestados à nossa religião. Alguns poucos, dentre estes estudantes, pertenciam a famílias que praticam ainda hoje o culto aos Orishas e foram estes que assustados com a atitude desrespeitosa de seus colegas procuraram colaborar através de esclarecimentos, para um melhor direcionamento de nossas práticas, através de cursos de idioma Yoruba e da tradução de itan, ese e oriki, que foram a estrutura de nossa religião e onde estão contidos quase sempre de forma alegórica, os seus originais fundamentos.
Odu tornou-se, a partir de então, assunto corriqueiro, cada um quer saber mais do que o outro, mas a grande maioria carece de esclarecimentos e subsídios suficientemente sólidos para que possam declarar-se, como ousam fazer, profundos conhecedores do assunto.
Trata-se na verdade de uma abstração muitíssimo complexa de difícil compreensão, desprovida de individualidade, podendo ser vista ora como determinante de um acontecimento, de uma situação eventual, ora como um caminho, um acesso, um canal de comunicação ou um carma individual ou coletivo.

Os Odu de Ifá são divididos em duas categorias distintas, a saber:
Os Odu Meji (duplo ou repetidos duas vezes). São em números de dezesseis e compõem a base do sistema, sendo por isto conhecido também como Odu Principais.
Os Omo Odu ou Amolu, resultado da combinação dos 16 Meji entre si, o que proporciona a possibilidade de surgimento de 240 figuras compostas ou combinadas que somadas aos dezesseis principais totalizam o numero de 256 figuras oraculares.
Para melhor compreensão, apresentamos algumas figuras combinadas para que se possa visualizar a diferença existente entre suas representações indiciais em comparação as 16 figuras anteriormente relacionadas:

Ogbebara: * *
* * *
* * *
* * * Interpretação de Ogbe com Obara.

Oshetura: * *
* * * *
* *
* * * Interpretação de Oshe com Otura.

Odisa: * * *
* * *
* * *
* * Interpretação de Odi com Osa.

Ogbeyuno * *
* *
* *
* * * Interpretação de Ogbe com Ogundá

Examinados os exemplos apresentados, podemos observar que os signos são inscritos e lidos da direita para a esquerda, ao contrário da maneira ocidental de ler e escrever e de acordo com o costume árabe de cuja cultura é originário este Oráculo.
Somente os Jogos de Ikin e de Okpele permitem acessar os 256 Odu que totalizam as possibilidades de revelação do sistema. O merindilogun se reporta somente a interpretação dos 16 Meji, pois cada lançamento condiciona-se ao surgimento de um Odu Meji, impossibilitando o encontro e conseqüente combinação entre eles.
Para melhor compreensão desta limitação, cabe-nos explicar que nos demais processos, os Odu são inscritos no Opon, consecutivamente, para que possam ser invocados combinados, o que torna-se impossível numa caída de Búzios onde cada Odu se apresenta individualmente de acordo com o número de búzios abertos.
Segundo uma lenda de Ifá, o acesso a adivinhação não era permitido as mulheres, numa época em que só se conheciam os jogos de Ikin e de Okpele. Instigados por Oshun, Eshú Elegbara, assistente direto de Orunmila, apoderou-se do segredo dos 16 Meji, revelando-o a Oshun para que pudesse advinhar através dos búzios. Em pagamento, Eshú exigiu que todos os sacrifícios determinados pelo Oráculo fossem a partir de então, entregues a ele, até mesmo os destinados aos outros Orishas, dos quais retira sempre para si, uma boa parte.
Ao contrário do que muitos pensam, todos os Odu de Ifá são portadores de coisas boas e de coisas ruins, o que nos leva a concluir que não existem Odu positivos ou negativos. Esta acertiva faz com que se complique ainda mais a adivinhação, na medida em que o advinho tem que interpretar se a mensagem trazida pelo Odu que se faz presente é boa ou ruim. Existem algumas figuras que são na maioria das vezes portadoras de boas notícias mas que podem também prenunciar coisas terríveis, acontecimentos nefastos, loucura miséria e morte.
A ignorância deste fato tem proporcionado grandes absurdos, como o costume de se “assentar” este ou aquele Odu considerado benfazejo e despachar outros considerados malfazejos.
Destes costumes surgiu o que se convencionou chamar “Obaramania”, procedimento através do que todos devem “agradar” Obara Meji, para garantir seus benefícios e “despachar” Odi Meji, evitando ser atingido por sua carga de negatividade.
A verdade é que nenhum dos signos de Ifá podem ou devem ser assentados, agradados ou despachados, uma vez que são determinantes de procedimentos ritualisticos, portadores de conselhos e orientações relativas ao comportamento de cada indivíduo, indicadores de remédios e de sacrifícios que
sempre são oferecidos a Elegbara, em sua honra ou para que seja por ele conduzido e entre as demais Entidades Espirituais de todas as classes e hierarquias.
É indispensável portanto a qualquer pessoa que pretenda jogar búzios, um conhecimento no mínimo razoável dos 16 Odu Meji, seus significados, suas características, suas recomendações e interdições, os tipos de bênçãos ou de maus augúrios dos quais podem ser portadores, com quais Orixá e demais entidades podem estar relacionados, os tipos de sacrifícios que determinam, etc.
Como vemos, trata-se de uma tarefa que por sua importância e responsabilidade exige, além da iniciação especifica, muita dedicação, muito sacrifício e principalmente, muitas e muitas horas de estudo.
Para deixar ainda mais evidente a impossibilidade de acesso dos 256 Odu que compõem o Oráculo, devemos observar que aqueles que integram o jogo de búzios possuem, em grande parte, nomes diferentes dos utilizados no Ikin ou Okpele, como se pode observar na relação que se segue:

Okanran Meji 01 búzio aberto Correspondente a Okanran Meji- 8
EjiokoMeji 02 búzios abertos Correspondente a Oturukpon Meji- 12
Etaogunda Meji 03 búzios abertos Correspondente a Ogunda Meji- 9
Irosun Meji 04 búzios abertos Correspondente a Irosun Meji- 5
Oshe Meji 05 búzios abertos Correspondente a Oshe Meji- 15
Obara Meji 06 búzios abertos Correspondente a Obara Meji- 7
Odi Meji 07 búzios abertos Correspondente a Odi Meji- 4
Ejionile Meji 08 búzios abertos Correspondente a Eji Ogbe- 1
Osa Meji 09 búzios abertos Correspondente a Osa Meji- 10
Ofun Meji 10 búzios abertos Correspondente a Ofun Meji- 16
Owonrin Meji 11 búzios abertos Correspondente a Owonrin Meji- 6
EjilasheboraMeji 12 búzios abertos Correspondente a Iwori Meji- 3
Ejiologbon Meji 13 búzios abertos Correspondente a Oyeku Meji- 2
Ika Meji 14 búzios abertos Correspondente a Ika Meji- 11
Obeogunda Meji 15 búzios abertos Correspondente a Irete Meji- 14
Alafia-Onan 16 búzios abertos Correspondente a Otura Meji- 13
Opira- 00 búzios abertos determina fechamento do jogo.





A TÉCNICA DO JOGO

Acima de qualquer outra coisa, o jogo de Búzios exige um ritual diário que objetiva assegurar bons resultados nas consultas.
Todos os dias ao despertar, o advinho tem que proceder ao ritual de “abrir o Jogo” o que exige a recitação de rezas apropriadas, denominadas “mojuba”, por intermédio das quais Orunmila, os Orishas, os Ancestrais, os Elementos da Natureza e outras entidades são reverenciadas e convidados a participarem do Jogo, permitindo que este seja afetuado sob seus auspícios e proteção.
Após seu banho matinal indispensável e sem que tenha dirigido uma só palavra a qualquer pessoa, o advinho dirige-se ao aposento onde pratica a adivinhação e ali dá iniciação ao ritual que deverá seguir a seguinte ordem:
Coloca um copo com água limpa e fresca a direita de sua mesa, peneira ou esteira de jogo.
Acenda uma vela a esquerda.
Coloca seus búzios e demais objetos que compõem o jogo no centro do ate.
Dispõe de cinco símbolos indicadores da natureza da consulta na posição Ire. Os símbolos e suas disposições serão explicados mais adiante.
Coloca entre as duas mãos espalmadas os 21 Búzios que compõem seu jogo.
Reza o Mojuba do jogo.
Repões no centro de sua mesa os 16 Búzios selecionados para as consultas do dia, podendo a partir dai, proceder a primeira consulta ou tomar seu desjejum.

A MOJUBA

Com os 21 Búzios entre as mãos o advinho diz:

Ifá ji o Orunmila!
Bi olo loko, ki o wa le o!
Bi olo odo, ki o wa le o!
Bi olo lode, ki o la le o!

Em seguida segura todos os Búzios na mão esquerda e recita:
Mo fi ese re te le bayi! (bate o pé esquerdo no chão).

Passa os Búzios para a mão direita e recita:
Mo fi ese re te ori eni bayi,
Mo gbe oka l’ori ate Fa,
Ki o le gbe mi ka l’ori ate Fa titi lai! (bate o pé direito no chão).

Deposita os Búzios no centro do ate e com os dedos médio e anular, traça um circulo no sentido anti-horário, em redor dos Búzios e diz:
Mo ko le yi o ka,
Ki o le ko le yi mi ka,
Ki o le jeki owo yi mi ka!
Ki o le jeki owo yi mi ka!

Com os mesmos dedos traça um circulo em sentido contrário e diz:
Mo juba o!
Mo juba o!
Iba shé!
Iba shé!
Iba!



Em seguida, salpicando água no solo, diz:
Ile mo juba - iba ashé

Traçando uma linha que vai de seu corpo aos búzios:
Mo la ona fun o tororo!
Ki o le jeki owo to ona yi wa sodo mi!

Novamente salpicando água no solo diz:
Mo shé ile bayi!

Salpicando água sobre a peneira diz:
Mo she ate bayi!

Pegando todos os Búzios entre as mãos recita:
A gun shé o, a gun she!
Bi akoko g’ori igui a she!
A gun she o, a gun shé!
Bi agbe ji a ma shé!
A gun shé o, a gun shé!
Bi aluko ji a ma shé!
A gun shé o, a gun shé
Elegbara, iba o!
Ogun shé!
Oshun a ma shé!
Shango iba e o, iba!
Obatala a ma shé!
Bogbo Osha a ma shé!
Oba Aiye, ati Oba Orun, Iba yin o!
Ile iba e o!
Orunmilá Ború!
Orunmilá Boiyá!
Orunmilá Bosheshe!
Adupe o!

Recoloca todos os Búzios no centro do ate e diz:
A tun ka li ashiwere ika owo re!

Com a mão direita, vai pegando um Búzio de cada vez e depositando na mão esquerda. Para cada Búzio vai falando:
Búzio: Iba Oluwo!
Búzio: Iba Ojugbona!
Búzio: A ko en li Fa,
Búzio: A te ni l’ere,
Búzio: A Ko bayi,
Búzio: A te bayi,
Búzio: A shé bayi!
Búzio: Iba kukubole
Búzio: Iba Oba,
Búzio: Iba Oyinbo!
Búzio: Iba Olopa!
Búzio: Iba ejo!
Búzio: Iba ofo!
Búzio: Iba ayalu igui!
Búzio: Iba ibon!
Búzios Iba okuta!

Depositando os 16 búzios recolhidos no meio do ate e vai separando o restante para um lado dizendo:
Búzio: Iba Ibaju!
Búzio: Iba efin!
Búzio: Iba loko!
Búzio: Iba lodo!
Búzio: Iba lodan!
Estes 5 últimos búzios separados, são cobertos com metade de uma cabacinha e com eles dentro da cabaça, se diz:
Oro kan sho ko si awo n’ile; (girando a cabaça no sentido anti-horário).
Oro kan sho ko si n’ile! (girando a cabaça no sentido inverso).
TRADUÇÃO DA MOJUBA:

Ifá eu te invoco, óh Orunmilá!
Se você foi para a fazenda, volte para casa!
Se você foi ao rio, volte para casa!
Se você foi caçar, volte para casa!
Eu seguro o seu pé esquerdo e bato o meu com força no solo!
Seguro o seu pé direito e bato o meu com força no solo!
Eu o convido para sentar-se na esteira para que você permita que eu me sente nela para sempre!
Eu o convido para ficar na bandeja, para que você me permita ficar sempre nela!
Eu construo uma casa ao seu redor, para que possa construir uma casa ao meu redor! Só você pode colocar muitos filhos em minha vida! Só você pode colocar muito dinheiro ao meu alcance!
Eu te reverencio! Eu te reverencio!
Terra, eu te presto homenagem!
Eu abro um caminho através do qual a revelação virá a mim!
Só tu podes permitir que, através deste caminho, o dinheiro chegue as minhas mãos!
Eu refresco a terra!
Eu refresco a peneira!
Enquanto o Akoko for maior entre as árvores!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Enquanto a agbé me der permissão!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Enquanto o aluko me der permissão!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Salve Elegbara!
Ogun me de permissão!
Oshun me de permissão!
Salve Shango! Salve!
Obatala me de permissão!
Que todos os Orisha me deem permissão!
Reis da Terra e Reis dos Céus, minhas reverências!
Terra, eu te presto homenagens!
Orunmilá, indique o ebó!
Orunmila receba o ebó!
Orunmila aceite o ebó!
Eu agradeço!
Eu conto e reconto como um homem avaro reconta sempre o seu dinheiro!
Salve o meu Oluwo!
Salve meu Ojugbona!
E todos os que oferecem sacrifícios a Ifá!
E todos os que propagam o seu nome!
E todos os advinhos que recorrem ao seu oráculo!
E todos os que utilizam suas marcas!
E todos os que reconhecem seu poder!
Salve as formigas da montanha!
Salve os Reis!
Salve os homens brancos!
Salve a policia!
Salve os casos de justiça!
Salve as perdas
Salve as folhas dos arvoredos!
Salve os metais
Salve as pedras!
Salve as pancadas!
Salve a fumaça!
Salve as matas!
Salve os rios!
Salve os campos!
Uma só palavra pronunciada não pode colocar um advinho dentro de casa:
Uma só palavra omitida não pode colocar um advinho fora de casa!

ATENDIMENTO AO CONSULENTE

Cada pessoa que procura um jogo de búzios ou qualquer outro oráculo, é motivado por algum tipo de problema que a aflige e tira a sua tranqüilidade.
A função do advinho é, através do Oráculo, contactar o problema, disseca-lo e apresentar soluções para o mesmo.
Para que isto possa ocorrer com absoluta segurança, é indispensável que exista um clima propicio de concentração e religiosidade total, não se podendo esquecer que as entidades invocadas durante a Mojuba estão presentes, assistindo e emprestando auxílio ao advinho ao mesmo tempo em que testemunham seu procedimento, a sinceridade com que passa as informações obtidas através do jogo, assim como o respeito pela condição do consulente que, pelo simples fato de estar presente a consulta, demonstra uma confiança que não pode nem deve ser traída, sem que isto implique em severas penas e punições para o advinho.
É indispensável que os Guias Protetores do consulente e principalmente seu Olori, concedam permissão para que seus segredos sejam exteriorizados, para que sua intimidade seja invadida e vasculhada.
A obtenção desta permissão é solicitada através de um procedimento simples e rápido más indispensável e que deve ser repetido para cada cliente.
Pegando entre as mãos, ou somente na direita, os 16 búzios selecionados para as consultas do dia, o advinho vai tocando leve e rapidamente determinados pontos do corpo do consulente, com a mão onde estão encerrados os búzios e vai rezando um deste pontos, da forma que se segue:
Tocando o alto da cabeça diz: Ago leri.
Tocando o centro da testa diz: Ka jeri be burú.
Tocando a garganta diz: Ala koko tutu.
Tocando a nuca diz: Eshú ni pa ko.
Tocando o ombro direito diz: Kele opá otun.
Tocando o ombro esquerdo diz: Kele opá osi.
Tocando o centro do peito diz: Elese keta burunuku.
Tocando o joelho direito diz: Elesentele.
Tocando o joelho esquerdo diz: Elesentele ka ma fa sete.
Tocando o peito do pé direito diz: Ikan burukú.
Tocando o peito do pé esquerdo diz: Ikan burukú lode.
Tocando as costas da mão direita diz: Lo wa ri ku.
Tocando as costas da mão esquerda diz: Lo wa ri ku Baba wa.
Em seguida, coloca os búzios nas mãos do consulente, para que segrede a eles seus pedidos, avisando-lhes de que nada de mau pode ser pedido neste momento. Somente coisas boas e acontecimentos felizes podem ser invocados.

Isto feito, o advinho recolhe os búzios e esfregando-os entre as mãos, direciona-os para:
o alto e diz: Ati Orun!
O solo e diz: Ati Aye!
Para o lado direito e diz! Ati Lode!
Para o lado esquerdo e diz! Ati Kantari!

A primeira jogada é então efetuada e, ao lançar os búzios o advinho diz as seguintes palavras: Oshá re o! (Esta frase deverá ser pronunciada todas as vezes que os búzios forem lançados durante o decorrer de toda a consulta).

O ODU OPOLE.

A primeira jogada, ou primeira mão lançada, é a mais importante de cada consulta, pois o Odu Opole (que está com os pés sobre o solo), ou seja, o Odu que se apresenta como orientador, regente é responsável pela consulta que está sendo feita. Este Odu é anotado ou memorizado, restando agora, que já se identificou através da contagem dos búzios abertos, saber se é portador de um bom ou mau augúrio.
Para saber se o Odu Opole esta Ire (positivo, portador de coisas boas), ou se está Osogbo (negativo, portador de acontecimentos nefastos), é utilizada a técnica conhecida como “amarração do Igbo” que descrevemos em todos os seus detalhes e minúcias.
São quatro os tipos de Igbo utilizados como elementos de apoio ao advinho e que fornecem uma segurança absoluta na medida em que respondem sim ou não às perguntas formuladas no decorrer da consulta.
Igbo - Okuta - Um pedra lisa, redonda e pequena, geralmente branca ou bem clara, responde sim, Ire, afirmativo.
Igbo - Oju malu - Trata-se da nossa conhecida fava “olho-de-boi”, Responde não, Osogbo negativo.
Igbo - Leri Adie - A parte superior do crânio de uma galinha que tenha sido sacrificada a Eshú Elegbara. Substitui o Okuta, assim que se descubra que o Odu Opole está Osogbo. Como o elemento que substitui, responde sim, Ire, positivo.
Igbo - Aje - Pequeno caramujo do mar, de forma cônica e espiralada. Substitui o okuta quando o Odu Opole estiver em Ire Aje, um bem relacionado a dinheiro. Responde sim, Ire, afirmativo. Só participa do jogo se a mensagem for positiva e relacionada a dinheiro.
Para apurar se o Odu Opole está Ire ou Osogbo, o adivinho pega o Okuta, toca com ele a testa do cliente e diz “Ire”! Na tentativa de obter uma resposta auspiciosa do Odu Opole. E em seguida entrega o Okuta ao cliente dizendo:
“Okuta bonihem”.
Entrega também o Oju Malu e diz:
“Oju Malu be ko”.
Manda que o cliente sacuda os dois símbolos entre as mãos e que os separe aleatoriamente, devendo ficar um em cada mão, sem que o advinho possa saber em que mão se encontra este ou aquele.
Os búzios são novamente lançados por duas vezes consecutivas e os resultados destas caídas, ou seja, os Odu que se apresentarem é que irão determinar qual das mãos deverá ser aberta pelo consulente, observando-se para isto, a seguinte regra:
O primeiro lançamento corresponde a mão esquerda do consulente.
O segundo lançamento corresponde a mão direita.
O Odu mais velho, (menor número de búzios abertos), determina que mão deverá ser aberta.
Em caso de empate, a mão esquerda deverá ser aberta.
Se a mão escolhida encontrar-se o okutá, o Odu Opole esta Ire.
Se ao contrário, na mão escolhida estiver o Oju Malu, o Odu Opole esta Osogbo e o Oju Malu e imediatamente substituído pelo Leri Adie.
A cada lançamento a frase “osha re o” é repetida.

Vamos exemplificar este procedimento descrevendo um jogo imaginário:
O cliente depois de devidamente mojubado, faz seus pedidos aos búzios que são imediatamente devolvidos ao advinho que, após os procedimentos de praxe, lança a primeira mão, ao mesmo tempo em que pronuncia a frase “Osha re o”.
Contados os búzios abertos, verifica-se que o Odu Opole é Oshe com 5 Búzios abertos.
O advinho pega o Okuta, toca de leve a testa do consulente pedindo Ire.
Entrega o Okuta ao cliente dizendo: “Okuta bonihen”.
Entrega o Oju Malu e diz: “Oju Malu beko”.
Solicita que o cliente agite os dois Igbo entre as mãos e que os separe aleatoriamente em cada mão, que deverão ser mantidas fechadas para que o advinho não possa saber em qual delas se encontra este ou aquele Igbo.
Faz outro lançamento que corresponde a mão esquerda do cliente. Verificando o surgimento de Obrará Meji com 6 búzios abertos.
Mais um lançamento e desta vez apresenta-se Odi Meji, representado por 7 búzios abertos.
Como o Odu da jogada que corresponde a mão esquerda do cliente é considerado mais velho identifica-se através de um menor número de búzios abertos, o advinho solicita que o cliente abra a mão esquerda.
Aberta a mão esquerda, verifica-se que o Igbo que ali se encontra é o Oju Malu, o que revela que o Odu Opole (no caso Oshe Meji), está Osogbo, ou seja, é portador de alguma coisa ruim, negativa, maléfica.
O Okuta é imediatamente substituído pelo Leri Adie que deverá permanecer até o final da consulta.

A ORIGEM DO PROBLEMA.
Agora que já conhecemos o Odu Opole e que já sabemos se é portador de uma benção (Ire) ou de um malefício (Osogbo), precisamos conhecer a natureza do problema que trouxe o consulente até nossa presença e a presença de Ifá. Para isto, dispomos de outros cinco símbolos que servem para indicar que tipo de Ire ou de Osogbo esta sendo prenunciado pelo Odu Opole.
Estes símbolos devem estar sempre presentes na mesa de jogo e na disposição relativa a Ire, só mudando para a disposição de Osogbo após verificarmos que o Odu Opole esta Osogbo.

OS SÍMBOLOS DE ORIENTAÇÃO, SEUS SIGNIFICADOS E DISPOSIÇÕES.
Os símbolos utilizados para a identificação do problema são cinco, a saber:
Okuta Keke - (Pedra pequena).
Igbi - (ponta da casca da lesma consagrada aos Orixá Funfun).
Cawri Meji - (dois búzios abertos e unidos de forma que as frestas naturais fiquem viradas para fora).
Egun - (pedaço de osso de um animal que tenha sido sacrificado a Eshú Elegbara, pedaços de vértebras sãos os mais usados).
Apadi - (caco de porcelana de qualquer objeto deste material).
Os símbolos devem permanecer sempre na disposição Ire, que é a seguinte (da direita para a esquerda):
(5) (4) (3) (2) (1) Apadi Egun Igbi Cawri okuta
Ire ishekun Ire omo Ire aiya Ireaje Iraiku ou oko
vitória sobre descendentes cônjuge dinheiro não Vera inimigos filhos morte

A DISPOSIÇÃO DOS SÍMBOLOS EM OSOGBO
Logo que verifique que o Odu Opole está Osogbo de acordo com o surgimento do Oju Malu na primeira amarração do Igbo, o advinho, depois de substituir o Okuta pelo Leri Adie, troca a disposição dos símbolos, que em Osogbo, são arrumados, sempre da direita para a esquerda, da

forma que se segue:
(5) (4) (3) (2) (1)
Apadi Cawri Okuta Igbi Egun
Osogbo Osogbo Osogbo Osogbo Osogbo
ofu. aje. ija. arun. iku.
Perdas. Falta de dinheiro Problemas judiciais Doenças. Morte
necessidades. brigas, confusões.
Como podemos verificar, não é só a disposição dos símbolos que muda, seus significados também variam quando o Odu Opole está em Osogbo.



A ESCOLHA DO SÍMBOLO DETERMINANTE DA ORIGEM DA CONSULTA

Para que possamos saber que tipo de problema aflinge nosso consulente, recorremos ao auxílio dos cinco símbolos anteriormente descritos e é o próprio jogo que irá eleger o símbolo, indicando assim, qual o problema do consulente
O procedimento é simples e constitui-se em cinco lançamentos dos búzios, um para cada símbolo, começando do primeiro situado à direita e seguindo em direção à esquerda até o quinto e último símbolo.
Assim sendo, teremos em Osogbo, a seguinte seqüência de jogadas:
1 - jogada: Relativa ao símbolo Egun (osso)
2 - jogada: Relativa ao símbolo Igbi (casca do caracol)
3 - jogada: Relativa ao símbolo Okuta (pedra)
4 - jogada: Relativa ao símbolo Cawri (búzios)
5 - jogada: Relativa ao símbolo Apadi (caco de porcelana).

Para que se apure qual o símbolo determinado pelas cinco jogadas, devemos observar a seguinte regra:
a - O Odu mais velho (menor número de búzios abertos), determina o símbolo.
b - Em caso de empate, é escolhido o símbolo que tenha sido indicado primeiro pelo Odu mais velho.
c - O surgimento de Ofun Meji (10 búzios abertos) determina que o símbolo para o qual surgiu e o escolhido, não havendo necessidade de se efetuar os lançamentos que faltem.
d - O surgimento de Eji Onile (8 búzios abertos) determina, da mesma forma que Ofun Meji, o símbolo indicador do problema, não é necessário complementar os lançamentos que faltam.

Voltemos, então, ao nosso exemplo:
Havíamos constatado, com o surgimento do Oju Malu não mão esquerda do cliente que o Odu Opole (Oshe Meji) estava em Osogbo, agora depois de havermos efetuado os cinco lançamentos correspondentes aos cinco símbolos, anotamos o surgimento dos seguintes Odu:

(Posição Osogbo)

1 símbolo = Egun - Osa Meji (9 búzios abertos).
2 símbolo = Igbi - Odi Meji (7 búzios abertos).
3 símbolo = Okuta - Eji Oko (2 búzios abertos).
4 símbolo = Cawri - Oshe Meji (5 búzios abertos).
5 símbolo = Apadi - Obara Meji (6 búzios abertos).

Efetuados os cinco lançamentos conforme o gráfico acima, pode-se verificar que o Odu mais velho surgido nesta seqüência é Eji Oko, respondendo na 3a. mão, referente ao okuta, do que apuramos que o consulente está envolvido em algum tipo de confusão e agora, pela técnica da amarração do Igbo, poderemos verificar de que tipo de confusão se trata, perguntando se é problema de justiça, envolvimento com polícia, briga em família, briga de rua, etc. É neste momento que o conhecimento das mensagens do Odu Opolé (no caso Oshe Meji é de grande valia para um melhor encaminhamento da consulta).
Jogadas duplas com amarração do Igbo, são efetuadas até que se tenha certeza de que o Osogbo ija é referente por exemplo, à uma questão de justiça que se configura de forma desfavorável para o nosso consulente. Sua derrota é iminente e os resultados serão muito desfavoráveis.
Amarra-se novamente o Igbo para saber se existe um meio de amenizar o problema, se a resposta for não, deve ser transmitida ao cliente: se for sim, pergunta-se a Elegbara se basta um dos ebó especificados de Oshe Meji: se a resposta for sim, prescreve-se o ebó e pergunta-se a Eshú se isto basta. Se ao contrário a resposta for não, pergunta-se a Eshú se que algum sacrifício animal, que tipo de sacrifício deseja (começa-se sempre a oferecer o mais simples e menos dispendioso, levando-se em consideração que Elegbara aceita os mais diversos tipos de sacrifícios animais, desde um simples peixe, um pinto, ou uma codorna, até um boi ou outro animal de grande porte).


Terminada a negociação com Elegbara, pergunta-se se o sacrifício a ele oferecido é bastante para solucionar o problema. Em caso de resposta afirmativa, encerra-se o jogo. Se a resposta for não, devemos novamente recorrer aos símbolos auxiliadores, para saber desta vez, quem além de Elegbara, pode agir favoravelmente, se é possível modificar o que esta sendo preconizado e o que deverá ser providenciado a nível de sacrifício e oferenda para que o resultado passe a ser favorável.
Os símbolos são reagrupados em nova ordem para que nos indiquem agora, se é Egun, Orixá, Ebora, Orunmila ou o próprio Ipori do cliente quem deverá receber o sacrifício para assegurar um final feliz para a questão.
Neste caso, os significados dos símbolos passam a ser os seguintes:
Egun ... a solução do problema será confiada a um Egun, que tanto pode ser Baba Egun, como um ancestral familiar do consulente, um Guia Espiritual como Caboclo, Preto Velho, Eshú ou Pomba Gira de Umbanda, etc...
Igbi ... significa que é orixá Funfun quem se encarrega da solução.
Cawri ... significa que Orunmila se encarrega do problema.
Okuta ... significa que quem se encarrega de resolver o problema é um Ebora.
Apadi ... significa que é o próprio Ipori do consulente quem vai se encarregar do problema.
Como nas ocasiões em que se apura o tipo de Ire ou o tipo de Oshobo, lança-se então os búzios por cinco vezes consecutivas, uma para cada símbolo. A regra de apuração é a mesma, ou seja, o Odu com menor número de búzios abertos determina o símbolo escolhido. Em caso de empate ganha o símbolo em que o Odu surgir primeiro. O surgimento de Ofun Meji ou Eji Onile representa ser, o símbolo para o qual tenham saído o elemento. A pesquisa para aqui.
Imaginemos uma situação em que o advinho tenta apurar que entidade se encarregará de resolver uma determinada situação vislumbrada no decorrer de uma consulta:

Joga para o 1o. símbolo - (Egun) cai Obara Meji (6 búzios abertos).
Joga para o 2o. símbolo - (Igbi) cai Odi Meji (7 búzios abertos).
Joga para o 3o. símbolo - (Cawri) cai Oshe Meji (5 búzios abertos).
Joga para o 4o. símbolo - (Okuta) cai Eta Ogunda (3 búzios abertos).

O Odu com menor número de búzios abertos na seqüência de jogadas descritas, é Eta Ogunda, com 3 búzios abertos. No caso, este Odu surgiu duas vezes (4a. e 5a., jogadas).
Segundo a regra anteriormente descrita, prevalece o símbolo para o qual este Odu surgiu primeiro, concluindo-se então que o símbolo eleito seja o Okuta.
De posse desta informação, o advinho sabe que quem se encarrega de solucionar o problema é um Ebora, restando saber qual Ebora.
Ebora, como todos sabemos, são os nossos Orishas, que por este nome, diferenciam-se dos denominados Funfun:
A diferença é fundamental e está relacionada ao diferente posicionamento hierárquico entre estas e aquelas divindades.
Orisha - Funfun ou Orishas Brancos são aqueles que participaram da Kosmogeneses, ou seja, da elaboração de todo o universo. Segundo os ensinamentos de Ifá são inumeráveis e citamos dentre eles, alguns mais conhecidos entre nós, como Oshalufan, Oshaguian, Baba Ajala, Osha Oko, Oduduwa, Obatala, Oban La, Osha Oke, Baba Elejugbe, etc...
Os Ebora são de hierarquia imediatamente inferior e teriam participado da criação do nosso planeta, quiçás do nosso sistema planetário e dentre eles citamos apenas alguns, como Ogun, Oshossi, Omolú, Shangô, Ossain, Ayra, Aganju, Logunedé, Oshumaré etc., todos considerados masculinos e também Yemonja, Oshun, Oiya, Yewa, Oba, Nana, etc., estes últimos portadores de características femininas.
Agora o adivinho terá que saber qual o Ebora que se apresenta em auxílio de seu cliente, e para isto, terá que novamente recorrer a amarração, perguntando primeiro, se é Ebora masculino. Se a respostas for sim, segue perguntando se é Ogun, se é Shangô, se é Oshossi, etc., até que o Igbo forneça um sim como resposta. O mesmo ocorrerá se a resposta for não, só que agora, as perguntas formuladas serão em relação as Iyabas, é Oshun?, é Oiya?, etc., até obter uma resposta afirmativa.
Identificado o Ebora - convencionemos que tenha sido Oshun, o advinho procurará saber o que deseja para resolver o problema e para isto, pergunta primeiro se Oshun quer adimu (presente) ou agrado que se oferece à uma divindade e que não requer sacrifícios animal.
Se Oshun aceitar, pesquisa, sempre amarrando o Igbo - qual o tipo de adimu. Se não, pergunta se quer sacrifício animal (pombo?, galinha?, cabra?, etc.), até se defina o tipo de sacrifício exigido pela Iyaba.
Algumas vezes, a coisa se complica e por mais que se ofereça, o Ebora responde não. Nestes casos é preciso perguntar se o Ebora em questão é Olori do consulente e se quer feitura, obrigação, assentamento, etc.
Uma vez apurado o sacrifício e a quem deve ser destinado, o advinho completa sobre o que foi contactado no jogo e passada ao cliente, acrescida de conselhos e orientações contidas nas mensagens, Itans e eses do Odu Opole.
O jogo de búzios deve sempre ser cobrado. Segundo um Itan, “quem provoca o ruído produzido pela queda dos búzios, do Okpele ou dos Ikin, deve pagar por isto”. Se o cliente for por demais desfavorecido pela sorte ou se esta atravessando uma fase de absoluta miséria, deverá mesmo assim, colocar uma moeda, de valor insignificante, nos pés de Elegbara.

OS DIVERSOS TIPOS DE IRE E DE OSOBGO.
Sabemos que cada símbolo utilizado na adivinhação é determinante de um tipo de Ire ou de Osogbo e que tem um sentido genérico, funcionando como uma espécie de pista que deverá ser trilhada até que a essência do problema seja trazida à superfície.
Tentaremos dissecar, de forma mais aprofundada, os significados de cada um dos símbolos.

OS SÍMBOLOS EM IRE.
Okuta - Ire aiku ou ariku- Significa um bem que não vê a morte. Assegura que não haverá morte, seja qual for o problema que a pessoa esta enfrentando. O consulente, embora esta ou venha a estar em confronto com a morte, escapará com vida. Pode fazer referência a uma doença, uma cirurgia, um acidente, uma ameaça pessoal, etc., assegurando, contudo, que a pessoa não morrerá.
Cawri - Ire aje - Um bem que chega através ou em forma de dinheiro. Pode significar solução de um problema financeiro, melhorias de posição econômica por diversos meios, como aquisição de emprego, recebimento de herança, aumento de salário, obtenção de empréstimo ou financiamento, ganhos em jogos, etc. Refere-se sempre a aquisição de recursos pecuniários. Refere-se sempre a aquisição de recursos peculiares. (Todas as vezes em que surgir este tipo de Ire, o okuta utilizado na amarração do Igbo, deve ser substituído por um pequeno caramujo aje, que será usado até o final da consulta. Este procedimento é indispensável e exclusivo de Ire Aje).
Igbi - Ire Okunrin (para mulheres) ou Ire Obinrin (para homens) - Um bem que chega através do cônjuge, noivo(a), namorado(a), amante, ou qualquer pessoa com qual o consulente se relacione sexualmente. Pode anunciar reatamento de uma relação rompida, volta da pessoa amada, conquista de um amor, ou um benefício de qualquer espécie adquirido por intermédio desta pessoa.
Egun - Ire Omo - Um bem que chega através do(s) filho(s) - É prognóstico de alegria adquiridas por intermédio dos filhos. Pode prenunciar o nascimento de um filho desejado; o retorno de um filho pródigo; sucesso dos filhos em qualquer atividade que exerçam; benefícios adquiridos por intermédio dos filhos.
Apadi - Ire ashekun ota - Um bem de vitória sobre os inimigos. Prenuncia qualquer tipo de vitória em situações que envolvam disputas com outras pessoas. Fala de vitória judiciais, concorrências comerciais, concursos, questões pessoais, brigas, etc.

OS SÍMBOLOS EM OSOGBO
Egun - Osogbo Iku - Pode significar a morte do consulente ou de alguém a ele ligado. É indispensável que se pergunte quem está ameaçado de morte, se é o próprio cliente, se seu cônjuge, pai, mãe, filho, etc. A evidência da morte é sempre assustadora, más este tipo de preconização nem sempre é irremediável. É necessário que se apure o que deve ser feito, para evitar o evento nefasto, se para isto houve consentimento.
Igbi - Osogbo Arun - Um mal relativo a doença. Se a pessoa não estiver doente ou se não houver alguém de suas relações preso de alguma enfermidade, seguramente isto está prestes a acontecer. Pode também prenunciar um acidente que resultará em seqüelas mais ou menos graves. Cirurgias, internações hospitalares geradas nos mais diversos motivos, etc.

É necessário que se tenha uma compreensão bastante ampla deste Osogbo que pode por vezes, ser visto como um benefício, principalmente quando se consulta para uma pessoa já doente e consciente de seu mal. Neste caso, o Osogbo assegura a existência da enfermidade mas não prenuncia morte em decorrência dela.
Okuta - Osogbo Ija ou Ejo - Anuncia qualquer tipo de confusão na qual o consulente se meteu ou ira se meter. Fala de questões judiciais, envolvimento com policia, brigas em casa ou na rua, falatórios desabonadores da honra, etc., sempre tendo o envolvimento do cliente e em seu prejuízo.
Cawri - Osogbo Aje - Prenuncia toda a sorte de dificuldades financeiras, fala em miséria, falta de recursos que supram as necessidades mais imediatas, absoluta falta de dinheiro agravada pela ausência de meios para obte-lo. Este Osogbo traz uma mensagem inversa, mas perfeitamente relacionada com o Ire Aje.
Apadi - Osogbo Ofu - Fala principalmente em perdas que já ocorreram ou estão para acontecer. É necessário aprofundar-se bastante na interpretação deste Osogbo, levando-se em consideração que as perdas a que se refere nem sempre são patrimoniais ou financeiras, podendo tratar-se de outros tipos de perdas como de amizades, cargos, empregos, relacionamentos afetivos, oportunidades, vitalidade, energia física ou psíquica, etc...



SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
OKANRAN MEJI

Okanran Meji é o primeiro Odu no jogo de búzios e corresponde ao 8º na ordem de chegada no sistema de Ifá, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com um búzio aberto.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Aklan Meji” ou “Akãlã Meji”.
O significado do termo “Okanran” em Yoruba seria: “Uma só palavra” ou “A primeira palavra é a boa” - (Okan o lan).
Sua representação indicial em Ifá é : * * * *
* * * *
* * * *
* *
que corresponde, na Geomância européia a figura denominada “tristitia”.
Okanran Meji é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Água, com predominância do primeiro, o que indica a sensação de sufoco, vácuo, saturação e estreitamento.
Corresponde ao ponto cardeal Noroeste, a carta numero 18 do Tarot (A Lua) e seu valor numérico é o 15. Suas cores são o vermelho, o negro, o branco e o azul. É um Odu feminino, representado esotericamente por dois perfis humanos enquadrados num retângulo, numa referência inequívoca ao culto dos orixás Gêmeos (Ibeji).
Okanran Meji é o chefe dos gêmeos e simboliza o mistério que envolve a sua existência. Segundo os ensinamentos de Orunmila, todos os gêmeos são gerados neste signo e dependem dele e de sua influência.
A fala humana foi introduzida por este Odu e com ela todos os idiomas existentes. Por este motivo, Okanran Meji é considerado o protetor da oratória.
As pessoas nascidas sob este signo não recebem qualquer reconhecimento por parte de seus semelhantes, por mais que lhes façam o bem. Assegura invulnerabilidade contra feitiços e bruxarias.
Prenuncia morte súbita, riscos de cirurgias no ventre e no aparelho urinário, briga em família, independência, incapacidade de realizar o que se queira.
Os filhos deste Odu são desconfiados, esquivos, medrosos e tristes.
Okanran Meji indica situações de perigo diante das quais, a pessoa está indefesa e sem possibilidades de ser socorrida.
Indica depressão física e moral, má nutrição celular, hipotensão, todos os tipos de enfermidades causadas por insuficiências e deficiências, diminuição da força vital.
Demonstra fanatismo religioso, impossibilitando a capacidade de um raciocínio lógico e filosófico.
É um Odu de prenúncios quase sempre negativos, como a noite que chega, a tempestade que se aproxima.

SAUDAÇÕES DE OKANRAN MEJI:

Em Nagô: Okanran ki kara ko ma fonja
ki ma fikan iya kosi kan.

Em Fon: Mi kan Aklan Meji.
emi site sin, nontõ ñãnlu do me,
bo jijõ dãgbe be me!

Tradução: Saudemos Okanran Meji!
Eu me perdi num local onde imperam a falsidade e a traição,
Más agora parto em busca de um lugar melhor, Onde exista apenas sinceridade.



OKANRAN MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Okanran Meji pode indicar, principalmente: Vocação religiosa, eloquência, solução de problemas por intermédio de simples entendimentos, nascimento de uma criança, nascimento de gêmeos, virilidade no homem, sexualidade na mulher, progresso ou enriquecimento repentino.

OKANRAN MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo. este Odu pode indicar: Fanatismo religioso exacerbado, injustiça, ingratidão, inquietude, abandono, lágrimas, perigo iminente e irremediável, inimigos ocultos, novidades, barulhos, alvoroços, visita estranha, coisas negativas em todos os sentidos, ou negativa até certo ponto, susto, grandes perigos, roubo, prisão, ruína e perda de tudo.
Neste Odu falam as seguintes divindades:
Vodun (Jeje): Hohovi, Legba, Dã, Sakpata, Xevioso e Toxosu.
Orixás (Nagô): Ibeje, Exú, Oshumarê, Omolú e Egungun geralmente, (os Egun que se comunicam por este Odu são ancestrais consagüineos do consulente).

INTERPRETAÇÕES DE OKANRAN MEJI:

Okanran Meji proíbe a seus filhos: Comer acaça envolvido em folhas que não tenham sido colhidas com preceito ritualístico; carne de cão; de búfalo; feijão akpakun; carne de macaco. Cortar ou queimar galhos ou ramos de Iroko; amarrar feixes de lenha; tocar em cipós.

SENTENÇAS DE OKANRAN MEJI:

Se alguém soldar dois pedaços de ferro, jamais poderá separa-los. (Os inimigos do consulente são impotentes para ocasionar-lhe qualquer malefício).
Consultaram para saber sobre a enxada e ninguém ousou dizer, que ela fora destruída. (Não adianta ao consulente, persistir numa empreitada em que ele se meteu, pois ela não lhe trará o menor proveito).
A água com que se lavam as mãos depois de cair no chão, será absorvida pela terra e dela nada restará. (Se alguém pretende de alguma forma, prejudicar o cliente, basta que ele faça o ebó determinado pelo jogo, para que o mal que estejam desejando, seja absorvido pela terra, da mesma forma que a água com que lavamos as mãos).
Se o saco de carregar crianças estiver bem amarrado ao colo, mesmo que vire, a criança não cairá no chão. (Está é a resposta dada a uma mulher com mais de três meses de gravidez e que tendo sofrido uma pequena hemorragia esteja com medo de abortar. Neste caso, deve ser feito o seguinte sacrifício:
A mulher deverá preparar, com suas próprias mãos dois saquinhos de tamanhos diferentes. No saco menor serão colocados 16 grãos de milho branco e no saco maior 16 grãos de milho vermelho. Uma galinha que já tenha gerando pintinhos é sacrificada para Elegbara e dela, 16 penas serão separadas. Feito isto, o Awo marca Okanran Meji no yerosun, sobre seu Opon, recolhe um pouco do pó e o coloca, junto com os grãos contidos no saco menor e as penas da galinha oferecida a Elegbara, dentro do saco maior. O saco é então amarrado com muita segurança, enfeitado com os traços indiciais de Okanran Meji e pendurado, de boca para baixo, sobre a cama da mulher. A boca do saco deverá estar muito bem amarrada, para que nada se derrame do seu interior.
o outro saco será preparado da mesma forma, sendo que os grãos de milho branco que haviam sido colocados inicialmente em seu interior, serão substituídos por outro tantos de milho vermelho, devendo ser entregue ao marido, para que o pendure sobre sua cama, de boca para baixo. Este procedimento evitará que a mulher venha a abortar.
Uma árvore abatida, deixa em pé, uma parte de seu tronco. (Sempre que morre um gêmeo, a mãe deve mandar entalhar uma estatueta de madeira com as características do falecido, dando a ela o nome do filho morto oferecendo uma parte de tudo o que o gêmeo sobrevivente venha a consumir como alimentação).
A rede de pesca não pode capturar o hipopótamo. (O consulente vencerá as dificuldades pelas quais está passando).

ITAN DE OKANRAN MEJI:

(1) Buru, Boye e Boshe, eram os nome dos Babalawo que consultaram Ifá para os macacos.
Naquela época, os macacos possuíam penas muito fracas, o que os impediam de trepar em árvores, permitindo-lhes apenas movimentarem-se com muita dificuldade sobre o solo.
Expostos a perigos constantes, resolveram consultar os três advinhos, para saberem o motivo de tanta adversidade e de que forma poderiam fortalecerem-se um pouco mais.
Quando foi feita a consulta para os macacos, surgiu Okanran Meji, que mandou-os recolher todas as frutas que encontrassem e que as trouxessem junto com duas cabaças, duas galinhas, uma pequena talha com alças, uma outra de igual tamanho sem alça, duas estacas de madeira do tamanho de pernas humanas e oferecessem a Elegbara todas estas coisas, para que pudessem se tornar semelhantes aos homens.
Imediatamente os macacos saíram em busca do material necessário, voltando pouco depois com tudo, que entregaram aos advinhos para procederem o ebó.
Os advinhos fizeram o ebó e recomendaram aos macacos, que voltassem no dia seguinte.
No outro dia, os advinhos entregaram aos macacos um amasi, para que fosse utilizado em banhos durante 15 dias, garantindo que no décimo sexto dia, tudo estaria mudado, suas pernas estariam tão fortes que poderiam andar sobre dois pés como qualquer ser humano.
Acontece que os homens, dando falta das frutas da floresta e preocupados com o procedimento dos macacos foram também consultar os adivinhos, para saberem o que estava acontecendo.
Na consulta surgiu novamente Okanran Meji, que ordenou que fossem trazidas duas galinhas, duas cabaças e todas as frutas encontradas, para que fosse feita uma oferenda, que deveria ser transportada por duas pessoas.
As duas cabaças foram repartidas em dezesseis pedaços e, em cada um desse pedaços, foram colocadas as frutas mais deliciosas. Um homem foi encarregado de oferecer um pedaço a Mawu-Ji (Oeste) e se esconder nas proximidades. Um outro pedaço foi oferecido por outro homem, a Lisa-Ji (Leste), e o ofertante se escondeu ali por perto. Um terceiro e um quarto pedaços foram oferecidos, respectivamente a Vovoliwe e a Xu-Ji (Norte e Sul), restando portanto, doze pedaços, dos quais, quatro deveriam ser colocados da seguinte maneira: um entre Mawu-Ji e Lisa-Ji, um entre Lisa-Ji e Vovoliwe, um entre Vovoliwe e Xu-Ji e o quarto entre Xu-Ji e Lisa-Ji.
Os oito pedaços restantes foram dispostos, simetricamente, entre cada um dos pedaços já oferecidos, permanecendo um homem escondido, perto de cada um deles.
Quando Ifá concedeu aos macacos a graça desejada, obrigou-os a jurar que jamais revelariam aos homens o ocorrido e também que jamais ficariam de pé diante deles, até que se passassem dezesseis dias, sob pena de nada dar certo.
Os macacos, sempre que encontravam um seu humano, punham-se de quatro, a fim de manter em segredo a dadiva recebida.
No décimo sexto dia, os macacos resolveram a se reunir, para fazerem o ultimo preceito e, antes da cerimonia, encontram os pedaços de cabaça com as frutas que os homens haviam sacrificado, sem saber no entanto, que cada um estava sendo vigiado por um humano.
Neste momento, o macaco Lwe, chamou o macaco Xã e disse: “Xã, veja o que os nossos Bokono fizeram para nós! Está tudo bem, amanhã teremos o que comer em nossa floresta”, Xã passou a notícia a Kran, que avisou a Tokran, que comunicou a Ziwo, que avisou a todos os macacos: “Falta apenas um dia para que possamos fazer tudo na frente de todo mundo!”.
Empolgado, Kran ficou de pé. Como Lwe o reprovasse, afirmou em altos brados: “Não! Acabou! Nós podemos fazer tudo o que quisermos diante de todo mundo!” e caminhou imponente, apoiado nas pernas traseiras... e todos os macaco o imitaram, marchando e cantando:
“Meu Ashe disse que me levantarei amanhã,
Eu me levantarei amanhã,
Sim, eu me levantarei amanhã...”
Os homens que a tudo assistiam, de repente se mostraram: “Então é assim? Vocês são animais peludos, não são como nós! Se desejam ser semelhantes a nós, preferimos voltar a nossa origem em Mawu!”
E os macacos somente puderam ficar um pouco parecido com os homens, esboços de seres humanos, dos quais só tem semelhanças nos membros e nas nádegas.

Ainda hoje, cheios de inveja, os macacos gritam pela floresta:
“Kran we!
Kran we!
Akran we”!
(Foi Kran que errou! Foi Kran que errou! Foi Okanran que puniu!)!
Este Itan determina que a pessoa tem a sua posição ameaçada por outras pessoas que lhe tem inveja e querem vê-la derrotada. Um ebó deverá ser oferecido, para que o mal que lhe desejam, volte para quem o desejar.
Ebó: Duas cabaças grandes dezesseis espécies de frutas diferentes, duas galinhas. As galinhas são sacrificadas a Elegbara, as cabaças são divididas, cada uma em oito pedaços. Em cada pedaço das cabaças coloca-se uma fruta e arruma-se em volta de Elegbara, seguindo-se a ordem determinado no Itan.
(2) Na antigüidade o Galo era um dos maiores Babalawo e sua fama corria longe.
O Rei de um povoado, mandou convida-lo, para lhe fazer uma consulta sobre a grande seca que assolava aquela terra.
Antes de partir, o Galo Consultou o seu Ifá, surgindo Okanran Meji, que exigiu um sacrifício de sete cacetes, sete acarajés, um preá, epo pupa, mel e velas.
Oferecido o ebó, lá se foi o galo.
Quando chegou a porta da cidade, o porteiro lhe advertiu que não poderia entrar assim, sem fazer alguma declaração sobre sua procedência.
Ouvindo estas palavras, o Galo revoltou-se e tirando-se debaixo das asas os cacetinhos que trazia, fez uso deles, dando na cabeça do porteiro, provocando um grande derramamento de sangue.
Indignado, o homem rogou-lhe pragas de uma forma tal, que em poucos minutos os astros se transformaram em tempestade. Roncou muita trovoada, foi um verdadeiro horror.
Debaixo da tempestade seguiu o galo, direto para a casa do Rei do lugar e lá chegando, o soberano lhe disse: “É grande é teu poder! Só a tua presença faz chover abundantemente!”.
Mandou seus servos dar-lhe alimentos e um poleiro no fundo da casa, com grandes admirações e louvores.
Para quem se aplica, este Itan prediz que a pessoa se acha diante de um grande perigo, que deverá enfrentar com muita coragem e disposição, para que saia vitorioso.
Ebó: um ekú, sete cacetes de madeira, sete acarajés, epo pupa, mel, aguardente e sete moedas. Passa-se tudo no corpo do cliente, arruma-se em um alguidar, sacrifica-se o eku em cima, entrega-se a Exú e despacha-se em uma estrada longa.
(3) Mandaram Eshú fazer um ebó, com o objetivo de obter fortuna rapidamente e de forma imprevista.
Depois de oferecer o sacrifício, Exú empreendeu viagem rumo a cidade de Ijelu.
Lá chegando, foi hospedar-se na casa de um morador qualquer da cidade, contrariando os costumes da época, que determinavam que qualquer estrangeiro recém chegado receberia acolhida no palácio real.
Alta madrugada, enquanto todos dormiam, Exú levantou-se sorrateiramente e ateou fogo as palhas que serviam de telhado à construção em que estava abrigado, depois do que, começou a gritar por socorro, produzindo enorme alarido, o que acordou todos os moradores da localidade.
Eshú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa.
Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por enumeras pessoas do local.
Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria indenizar à vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro.
Ao tomar conhecimento do grande valor da indenização e ciente de não possuir meios para salda-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Eshú, com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio.
Diante da proposta, Eshú aceitou imediatamente, passando a ser deste então o rei de Ijelu.
Para quem se faz esta consulta, pode-se garantir a aquisição de fortuna ou melhora substancial de situação financeira, fim de dificuldades e estabilização.
Ebó: um galo, uma talha adornada com búzios e contas, o restante deve ser perguntado no jogo.
(4) Havia um homem que não tinha paradeiro, não conseguia fixar-se em nenhum lugar, por mais que para isso se esforçasse.
Sempre que se estabelecia em algum lugar, depois de trabalhar a terra e fazer sua plantação, acabava sendo expulso dali e outra pessoa se beneficiava de seu trabalho, ficando dono de tudo o que por direito deveria ser dele.
Certo dia, desesperado com sua sina, foi consultar Ifá e na consulta surgiu Okanran Meji que lhe determinou fazer um sacrifício de um cão em honra de Ogun, o que deveria ser feito no interior de uma floresta ou mata fechada.
Logo que o sacrifício foi feito, ouviu-se um barulho ensurdecedor, e diante do homem, surgiu Ogum, o dono daquela terra.
Apavorado diante da terrível visão do Orishá, o homem lançou-se ao chão implorando misericórdia e proteção ao Deus da Guerra e da Agricultura.
Ogun, penalizado pela sua situação e pelo respeito demonstrado, concedeu-lhe permissão para estabelecer-se ali mesmo, em terra de sua propriedade.
A partir de então, o lavrador pode trabalhar a terra: plantar e colher, usufruindo assim, o resultado do seu trabalho, sem que ninguém viesse mais apossar-se do que era seu conhecendo então, a fartura e a riqueza.
Ebó: Torra-se uma boa quantidade de milho, coloca-se em um alguidar grande, sacrifica-se um cabrito, limpa-se, tempera-se com bastante epo pupa e ataré moído, assa-se no braseiro, coloca-se no alguidar com o milho torrado, enfeita-se em volta com bastante Mariwo e oferece a Ogun, junto com emu ou uma bebida de boa qualidade, dentro de uma mata. Outros ingredientes podem ser acrescentados, dependendo de se perguntar no jogo o que o Orixá quer mais.
Se houver necessidade de desvencilhar-se da pessoa que está ocasionando o problema, recolhe-se um pouco do sangue do animal sacrificado e com ele, marca-se a porta da casa da pessoa em questão. Este ultimo procedimento não é recomendado, pois ira despertar a fúria de Ogun, que se lançará contra a casa marcada ocasionando ali um grande mal, provavelmente a morte de alguém.
(Este Itan aplica-se para as pessoas que, por mais que se esforce-se não conseguem desfrutar do seu trabalho, não vendo seus esforços reconhecidos ou devidamente recompensados. Serve também para aqueles que empreendem em qualquer tipo de atividade que depois de concluída, e usurpada por terceiros).
(5) Okanran Meji tentava de tudo para progredir na vida, más seus esforços de nada adiantarem, se dava um passo a frente, imediatamente dava dois para trás.
Um dia, resolveu fazer um ebó que lhe assegura-se algum tipo de poder e por intermédio do qual, pudesse garantir uma vida de fartura e conforto.
Feito o sacrifício que lhe determinara Ifá, resolveu entregar um bode, único bem que possuía, aos cuidados de Ikú, para que o criasse de meias.
Pouco tempo depois, o animal apareceu morto e Okanran Meji resolveu exigir que Iku o indenizasse, já que o bode fora entregue a sua responsabilidade.
A Morte concordou com a exigência do Odu e perguntou-lhe o que queria por tua parte do bode morto. Astucioso, Okanran exigiu, não só a metade do valor do animal como também a metade de tudo o que ele poderia gerar durante o tempo em que poderia ainda ter vivido e, ao valor do bode, foi acrescentado o valor de toda a sua possível geração de muitas cabra e cabritos.
Diante do valor da indenização exigida, Ikú assustada, propôs ao Odu que pedisse outra coisa qualquer, que estivesse ao seu alcance, pois não tinha como satisfazer o exigido.
Astutamente, Okanran Meji exigiu o poder de interferir na missão de Ikú sobre a terra, que se resume na obrigação de periodicamente, carregar homens e animais para os seus domínios no outro mundo.
Sem contestar, Iku delegou a Okanran este poder e deste então, podemos pedir que interfira junto a Morte, para evitar que alguém, por muito mal que esteja, venha a falecer.
Ebó: três galos, uma cabaça inteira, (mais ou menos do tamanho e forma de uma cabeça humana), epo pupa, mel, aguardente, efun, ataré, velas, alguidar grande, pano branco, um chocalho. Sacrificam-se os galos a Elegbara sobre a cabaça arruma-se os animais sacrificados dentro do alguidar com a cabaça por cima, rega-se com mel, epo e oti, tempera-se com alguns grãos de ataré, cobre-se com muito pó de efun, deixa-se algumas horas nos pés de Exú, depois do que embrulha-se com o pano branco e se carrega para o local determinado no jogo. O chocalho é para ser agitado sobre o ebó, enquanto se faz a saudação do Odu, deve sair com o carrego e ser deixado ao seu lado, com velas acesas.
Este Ifa é para ser feito em casos de Osogbo Ikú, Osogbo Arun ou Ire Aikú.
(6) Shangô, queria ser muito poderoso e respeitado e para isto consultou Ifá. Na consulta surgiu Okanran Meji, que determinou um sacrifício, que iria garantir ao orixás, tudo que desejava.
Feito o ebó, Todas as vezes que Shangô abria a boca para falar, sua voz saia possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam suas palavras.
Diante do poder de seu marido Oya resolveu consultar o Oráculo com a finalidade de se tornar tão poderoso quanto ele. Na consulta surgiu Okanran Meji, que lhe determinou o mesmo ebó.
Quando Shangô descobriu que sua mulher havia adquirido um poder igual ao seu, ficou furioso e começou a maldizer Ifá por haver proporcionado tamanho poder a uma simples mulher.
Humilhada, Oiya recorreu a Olorun para que desse um paradeiro ao impasse. Olorun determinou então que a partir daquele dia, a vós de Shangô soaria como o trovão e que provocaria incêndios onde ele bem intendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria necessário que Oya, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (os raios) provocassem o surgimento do som das palavras de Shangô (o trovão), assim como o fogo que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projetam sobre a terra).
E por este motivo até hoje, não se pode ouvir o ribombar do trovão sem que antes, um raio ilumine o céu.
Este Ifá garante bom resultado naquilo que se pretende, por mais difícil que possa parecer principalmente se o Ebora que se apresentar para solucionar o problema, for Shangô ou Oya.
Ebó: fósforos, pólvora, dois galhos de arvore seco, um produto inflamável, algodão, quatro galos, carneiro, e muitas pedrinhas. Com o algodão enrolados nas pontas dos galhos secos, fazem-se dois archotes, que deverão ser embebidos no produto inflamável (álcool, querosene, gasolina, ou qualquer outro). Os animais são sacrificados ao Ebora a quem se esteja oferecendo o ebó, sendo que dois galos são para Elegbara. Os archotes são acesos e colocados ao lado do ebó, Até que se apague naturalmente. (Se o Ebora, for Oya, substituir o carneiro por cabra). Depois que os archotes se apagarem despacha-se tudo, de acordo com a orientação apurada no jogo.
(7) Olorun fez o homem a sua imagem e semelhança, dando o nome de Ishele.
Como o Isele vivia muito só, pediu uma companheira a Olorun.
O Criador determinou então, que seu mais puro e belo orishá, ajudasse Ishele naquilo que fosse necessário.
O Orishá não aceitou as determinações e revoltou-se, negando-se a obedecer as ordens de Olorun.
Aborrecido diante de tal insubordinação, Olorun ordenou-lhe que descesse a uma grande fossa, com todos os seus pecados, para que ali fosse transformado no Odu Okanran Meji.
Ebó: morim vermelho, acarajés, akasa branco, akasa vermelho, velas, charuto, frango branco, padê de mel, padê de dendê, padê de água, osun, nós moscada. Abre-se o frango, coloca-se tudo dentro, despacha-se numa encruzilhada. O banho de ervas é indispensável depois deste ebó.
Este ebó, é para quando Okanran Meji estiver em qualquer tipo de Osogbo.
(8) Naquele tempo, o céu e a terra estavam tão perto um do outro, como o teto do chão sendo que a terra era habitada por homens muito pequenos, muitíssimo menores do que os de hoje existem.
Céu e Terra eram então muito amigos e costumavam ir juntos a caça de animais, que sempre dividiam irmãmente entre si.
Sempre que Céu capturava alguma caça, oferecia uma parte a Terra, que agia da mesma maneira quando abatia qualquer animal.
Certo dia durante a caçada Terra capturou um emon. Na hora de repartir o animal, Terra falou: “Como Sou mais velha, ficarei com a parte da cabeça”. Ao que Céu retrucou: “Sabes muito bem que sou maior e portanto a parte da cabeça deste animal, cabe a mim por direito. Dá-me logo essa parte e não se fala mais nisso!”.
Como não chegasse a nenhum acordo, Céu furioso, resolveu afastar-se de Terra, indo morar muito distante de seu ex-amigo.
Com o distanciamento de Céu, Terra ficou muito árida, por falta de chuva, o que provocou um total desequilíbrio no ciclo de vida. As sementes deixaram de germinar, as fêmeas deixaram de gerar filhos e desta forma, tudo estava condenado a desaparecer.
Diante do problema, os homens e, dirigindo-se a Terra, recomendaram: “Para apaziguar a ira de Céu, deves caçar outro emon e enviá-lo a seu ex-amigo”.
Terra tratou então, de abater outro emon, que foi transportado pelos pássaros, a nova morada de Céu. Foi o pássaro Aklãsu, o encarregado de fazer o transporte, sob a promessa de lhe ser construída uma casa, em pagamento. Quando Aklãsu voltava de sua missão, foi apanhado a meio caminho, por uma forte chuva, que Céu enviara em agradecimento a gentileza recebida.
Ao chegar à Terra, Aklasu percebeu que a casa que lhe haviam prometido não fôra sequer construída, tendo que permanecer ao desabrigo.
Diante disto, disse aborrecido: “Vocês não foram fiéis ao que me prometeram, más não faz mal, minhas grandes asas são mais que suficientes para me protegerem da chuva!”.
É por isto, até hoje, não se vê o Aklasu se esconder da chuva por mais forte que ela seja. Pousado nos galhos das mais altas árvores, protege a cabeça com as próprias asas e pensa: “Amanhã, logo que esta chuva passar, construirei uma casa para mim!” E logo que a chuva passa ele diz: “Para que preciso de uma casa? Não existem inúmeras casas para mim, entre todas as árvores?” E voa feliz sob os raios do Sol, agitando suas imensas asas para seca-las.
(9) Quando o Vodum Xevioso veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava. Convencendo-se de que não poderia viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio.
Seu Babalawo chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou Okanran Meji, que exigiu que Xevioso oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.
As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a Xevioso depois do sacrifício, representando o seu poder e a sua força.
As moedas foram dadas ao Babalawo, em pagamento.
Na verdade depois que Xevioso passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas tremem a sua aproximação. Quando encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem quer que o tenha provocado.
Foi assim que Xevioso, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os homens.

OUTROS EBÓ DE OKANRAN MEJI EM OSOGBO:

(1) Uma vela, uma garrafa de aguardente, folhas de mamona com talo e sementes; quatro tipos de padê (dendê, mel, cachaça e água), um ovo, um bolo de farinha, efun, pipoca, um charuto, uma rosa vermelha, frango ou galinha, fósforos, pano branco, linha branca, um acaça branco, um acarajé. Passa-se tudo no cliente e despacha-se na encruzilhada ou no mato.
(2) Sete folhas de mamona com talos e sementes; quatro tipos de padê (dendê, mel água e aguardente), um metro de morim preto, vermelho, branco, velas, frango. Arriar as sete folhas no chão, colocar um pouco de cada pade dentro de cada uma delas, passar e bater as folhas nas costas da pessoa. Sacrifica-se o frango, dividir em sete pedaços, colocar um em cada folha. Despachar em sete encruzilhadas diferentes, sendo uma folha em cada encruzilhada. Depois de despachado o ebó, tem que dar banho de ervas na pessoa e oferecer comida seca ao seu Orishá.
(3) Um galo, farofa de dendê, uma folha de mamona, pano preto, pano branco, sete ovos, sete velas, sete bolos pequenos de farinha com água. Fazer sara yeye no cliente, sacrificar o galo a Eshú abrir o bicho pelas costas, colocar tudo dentro, enrolar nos panos e despachar na rua. Banho de ervas no cliente.




EBÓ DE OKANRAN MEJI EM IRE:

(1) Dendê, aguardente, mel. um coração de boi, um pedaço de fígado, uma vela, uma moeda. Passar no cliente, arrumar no alguidar, regar com mel, dendê e aguardente, levar para a rua e oferecer a Elegbara.
(2) Sete tipos de pade (mel, dendê, água, cachaça, água de arroz, azeite doce, champanhe), sete akasas branco, velas, fósforo, cigarrilhas, rosas, galinha. Despachar no alto de uma ladeira.
(3) Pade de mel, de água, de cachaça, vinte e um akasa, um metro de corda, um metro de morim branco, ebó de Oxalá, milho verde cozido. Passa-se tudo no cliente, recolhe-se no morim e despacha-se em uma encruzilhada.


SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÕES
EJIOKO

Ejioko é o 2º Odu no jogo de búzios e corresponde ao 12º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo nome de Oturukpon.
Responde com dois búzios abertos.
Em Ifá é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Turukpon” ou “Turukpon Meji”, onde o “r” é consequentemente substituído pelo “l”. Alguns o chamam ainda de “Bokono Lelo”, “Awonõ lelo”, Lelojime, ou simplesmente “Lelo”.
Em Yoruba os termos “Lelo”, “Lero”, “Ilero”, (de “Ile-Oro”), significam “Terra firme”.
Sua representação indicial em Ifá é: * * * *
* * * *
* *
* * * *
que corresponde, na Geomancia, à figura denominada “Albus”.
Ejioko é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Ar, com predominância do primeiro, sua figuração indicial evoca luminosidade, transparência.
Corresponde ao ponto cardeal Oeste-Noroeste, a carta no. 5 do Tarot (O Hierofante) seu valor numérico é 14.
Suas cores são todas aquelas derivadas do vermelho, aceitando também o negro e tudo o que for estampado com estas duas cores.
É um Odu feminino, representado esotéricamente por um feto dentro de um útero, referência inequívoca à sua influência sobre os estados de gravidez.
Representa a gravidez, as inchações e de forma geral, tudo o que é arredondado, rostos redondos, seios grandes, protuberâncias anormais como hérnias, elefantíase, furúnculos, tumores e inchações diversas.
E um Odú ligado as Kennesi e segundo dizem, foi criado da diarréia.
É muito temido pelas mulheres gravidas, pelo seu poder de provocar abortos e partos prematuros.
Aqui, segue as ordens de Ofun Meji, foi criada a Terra e por este motivo é um signo ligado a abundância e a riqueza.
Foi este signo que criou as montanhas e é também um dos Odu dos gêmeos Hoho (Ibeji).
Sempre que este Odu surgir numa consulta, o advinho deve tocar o solo com as pontas dos dedos e depois tocar, de leve seu próprio peito, pronunciando: “Ilero” ou “Lero”, como forma de saudação à Terra, gesto este que deve ser imitado pelo consulente.
Fala de inversões sexuais e de bruxarias feitas através de comidas ou bebidas.
Foi por intermédio deste Odu, que Orunmila transmitiu sua ciência aos sábios, para que eles a transmitissem aos homens comuns.
Indica que a mulher trai o marido e que se ainda não o fez, é por falta de oportunidade.
Determina separação de mãe e filho e muita tristeza por este motivo.
Os filhos deste Odu são pessoas destinadas ao sucesso, a galgarem altos postos, devendo para isso, submeterem-se, com muito boa vontade, aos sacrifícios exigidos.
É uma figura quase sempre boa, que propõe paz interior e equilíbrio nas ações

SAUDAÇÕES DE EJIOKO:

Em Yoruba: Ejioko ejife
Owo ejife owo.

Em Fon: Mi kan Turukpon,
Turukpon Lelo!
Kagbeto nogbe ko-a!
Emi kun naje goto,
hun kponshõ o!

Tradução: Saudemos Oturukpon,
Oturukpon Lelo!
Que jamais sejamos atingidos pelas doenças que se escondem debaixo dos panos (Doenças venéreas).

EJIOKO EM IRE:

Quando em Ire, Ejioko pode indicar, principalmente: Atitudes puras e inocentes, sensibilidade artísticas, dignidade, evolução material ou espiritual, conquistas de posições elevadas, progresso em todos os aspectos, vitórias, honrarias, encontro de dois corações, casamento, convivência sexual, empreendimento bem sucedido.

EJIOKO EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Possibilidades de aborto prematuro, inveja de terceiros, atraso de vida por olho grande, trabalho de feitiçaria feito contra a pessoa, problemas gerados por má interpretação de palavras ou atitudes, melancolia, perdição por amor, separação de família (principalmente da mãe), frigidez nas mulheres, impotência nos homens, inimigos ocultos.

TIPOS DE DOENÇAS INDICADAS POR ESTE ODU:
Órgãos sexuais internos nos homens, órgãos reprodutores nas mulheres, sífilis, doenças adquiridas sexualmente, inchações em geral, elefantíase, diarréias, indisposições da gravidez, anomalias sensoriais, impotência sexual, inversões sexuais (para ambos os sexos).
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Sakpata, Dã Aydohwedo, Gu, Xeviosso, Na, Hoho, Mawu e Kpo Vodun.
Orishá (Nagô): Omolú, Oshumarê, Ogun, Shangô, Oduduwa, Nanã, Ibeji.

INTERDIÇÕES DE EJIOKO:

Ejioko proíbe aos seus filhos: o mamão: uma certa corcubitácia muito utilizada na prática da feitiçaria e conhecida entre os Fon, como “ayikpen”: O galo; a galinha d’Angola; as serpentes; o leopardo; o elefante; a hiena; o sorgo; todos os tipos de pássaros usados em feitiçaria, os macacos; o cão e o gato.

SENTENÇA DE EJIOKO:

(1) “Aquele que trança uma corda não saberá trançar a Terra, não pode levantar a mão e agarrar o Sol”. (Ninguém pode causar danos aquele que, tendo encontrado este signo, ofereça os sacrifícios exigidos).
(2) “A Terra não se assenta sobre a cabeça de uma criança”.

(Ejioko - Segundo Odu no merindilogun, corresponde a Oturukpon, décimo segundo signo na ordem de chegada em Ifá e último de uma série de forças misteriosas que, segundo se afirma, estão associadas aos signos do zodíaco. Os doze primeiros signos estão como que reunidos no símbolo do último. Aquele que encontra Oturukpon Meji supostamente encontra todos que o antecedem).
“Le”, assim como “Lo”, designa aquilo que não se deve fazer, dizer, entender, tocar e ver e na presente sentença evoca os doze primeiro signos de Ifá.
A criança a que se refere a sentença, é o próprio consulente, indefeso diante dos perigos desencadeados pelas energias contidas nos doze primeiros Odu Meji, energias estas que sua cabeça é incapaz de suportar.
“Quando “Le”- a Terra - exige um sacrifício que substitua a morte próxima de sua mãe, seu pai, mulher ou filho, pressupõe-se que o sacrifício será considerável, uma vez que tem por objetivo enganar a morte”.
No mesmo dia em que o signo for encontrado, o cliente adquire o cabrito mais bonito que puder encontrar e uma cabaça suficientemente grande para que possa comportar uma galinha, a polpa de uma abóbora, um mamão e akaças.
O sacerdote sacrifica o cabrito, derrama o seu sangue dentro da cabaça, retira seus intestinos que são esvaziados, limpos e lavados com muito cuidado; o coração, os pulmões, os rins, o fígado e a gordura. Sacrifica a galinha, junta suas vísceras ao conteúdo da cabaça.
Antes de iniciar este ritual, os traços indiciais dos dezesseis Odu Meji devem ser traçados no yerosum, que é despejado dentro da cabaça depois das vísceras da galinha.
Depois disto, vai colocando dentro da cabaça um número de búzios correspondente ao número de parentes vivos do consulente. Os búzios são colocados um a um dentro da cabaça e a cada búzio colocado, o cliente diz: “Eis aqui minha mãe, ela pagou! Eis aqui o meu pai, ele pagou! Eis aqui minha mulher (ou marido) ela (ele) pagou! Eis aqui meu filho fulano, ele pagou! Eis aqui meu filho sicrano, ele pagou”! E assim, até chegar ao nome do último parente vivo. Depois de oferecido o búzio correspondente ao filho ou neto mais novo, o cliente colocará um último búzio, dizendo as seguintes palavras: “Eis aqui, este sou eu e também estou pagando”!.
Este ebó exige muito critério e muita atenção, se o nome de algum parente for omitido, propositadamente ou não, durante a entrega dos búzios, a pessoa cujo nome não tenha sido relacionado, estará irremediavelmente condenada a morte. Somente Mawu, e nenhum outro Vodun, poderá modificar este destino. O Sacerdote deverá prescrever, além deste, outros sacrifícios considerados de segurança, tanto sua, como do cliente.
O Sacerdote, acompanhado do cliente, penetra numa floresta, constrói um monte de terra limpa sobre o qual coloca toalhas brancas e toalhas vermelhas; traça os doze primeiros signos e, por deferência, os quatro últimos. Na medida em que vai traçando cada signo, vai fazendo suas saudações, depois despeja o yerosun em que foram traçadas, sobre o sacrifício que está oferecendo.
A cabaça, com todo o seu conteúdo, é depositada sobre os panos vermelhos. Junta-se (10) obi bata dentro de uma quartinha com água a esquerda da cabaça. Depois disto, todos os presentes batem cabeça em homenagem a Terra e retiram-se no mais absoluto silêncio. (Este sacrifício serve para todos os Odu).
(3) “A casa de estuque é muito bonita, más dentro dela faz muito calor”.
(A casa de estuque representa o útero da mulher do consulente, ou da própria consulente, que se encontra sob risco de sofrer um parto prematuro ou um aborto).
(4) “A mulher está no meio da gravidez e seu filho já tem os pés sobre a Terra”.
(Mesma interpretação da sentença anterior).
(5) “Se o bracelete de ferro, filho do rei Aja, for colocado no fogo, sairá dali incólume; mas tu não sairás do fogo em que agora te encontras”. (O consulente corre o risco de sofrer um acidente do qual não sairá com vida).
(6) “Um belo dia, Kaja, com todos os seus amuletos, será vítima de uma acidente”.
(Mesma) interpretação da sentença anterior).
(7) “O rio que atravesso corre sobre um leito repleto de vegetação”.
(O consulente encontrará satisfação naquilo que deseja).



ITAN DE EJIOKO

(1) Naquele tempo, os macacos não sabiam trepar em árvores e por este motivo viviam assustados e inseguros, pois eram presas fácil dos outros animais.
Resolveram consultar um Babalawo e na consulta surgiu Ejioko, que lhes determinou um ebó, composto de dois preás e comidas caseiras de vários tipos.
No mesmo dia, os macacos ofereceram o sacrifício e logo começou a chover copiosamente. O rio que passava perto do local onde se encontravam, avolumou-se e transbordando, inundou toda aquela região.
Apavorados, os animais corriam de um lado para outro, sendo irremediavelmente apanhados e arrastados pelas águas revoltas.
Foi então que os macacos, pela primeira vez, escalaram as árvores para não serem arrastados pelas águas e a partir deste dia, sempre que se sentem em perigo, é nos galhos mais altos dos arvoredos que encontram refúgio e segurança.
Este Itan indica que a pessoa passa por grandes dificuldades, insegurança e intranqüilidade. O ebó indicado trará ótimos resultados, com a proteção dos Ibeji.
Ebó: dois preás, arroz, feijão, farinha, etc., (comida preparada normalmente, como a que se faz para as pessoas da casa), duas velas, dois alguidares, cachaça. Os preás são sacrificados a Elegbara, no igba, as comidas são servidas nos dois alguidares e arriadas ao lado. Os preás são limpos e seus couros permanecem na casa de Eshú depois que o ebó tenha sido despachado no mato.
(2) Ha muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta. O primeiro príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver favoravelmente a questão e na consulta surgiu Ejioko, que determinou que fosse oferecido um sacrifício a Eshú, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos sacrifícios oferecidos a Eshu. Kin, no entanto, afirmou para si mesmo: “Não preciso oferecer nada a Eshú para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que meu concorrente e vou derrota-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente”.
O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá, saindo na sua consulta o mesmo Odu, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.
Feito o ebó, Elegbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma pequena bandeira da mesma cor.
No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo também se fez presente naquele local.
Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida musculatura.
Logo em seguida chegou Koogun, trajando asho funfun e acenando para todos com uma pequena bandeira branca.
Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu adversário com a intenção de terminar logo com a questão.
Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por Koogun.
Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de Abeokuta.
Este Itan indica que existe luta acirrada por bens ou posições e que o consulente deve, além de oferecer o ebó determinado, proceder com muita cautela e diplomacia, evitando qualquer tipo de confronto direto.
Ebó: Um etu, dois pregos de cumeeira, dendê, mel, oti, farinha crua, pano branco, efun. Prepara-se pade de mel, dendê e oti num mesmo alguidar, sacrifica-se o etu sobre Eshú e coloca-se arrumado no alguidar com o pade, cobre-se tudo com pó de efun. Os pregos de cumeeira recebem eje do etu e são colocados no igba de Eshú. Prepara-se uma bandeira branca, envolvendo-se o ebó em pano branco e despacha-se numa praça, com a bandeira branca espetada em cima.
(3) Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de compreensão.

A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo, foram procurar o Bokono do lugar, em busca de orientação.
Feita a consulta, surgiu Ejioko, que determinou um sacrifício composto de um casal de eyele funfun, fitas de várias cores, ori da costa, igbi meji, etc.
Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse muito mingau de acaça, que o marido ia vender no mercado para obter dinheiro para o material do ebó.
Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para obter o dinheiro do sacrifício.
Ebó: Um casal de pombos brancos, vários pedaços de fitas de cores diversas, dois igbi, mingau de acaça, um alguidar de tamanho médio. Unta-se o alguidar com bastante ori da costa, sacrifica-se os igbi deixando o soro escorrer sobre Elegbara, coloca-se os igbi dentro do alguidar, cobre-se com o mingau de acaça, sacrifica-se os eyele a Elegbara (eje no igba), arruma-se em cima, mel, dendê e oti, enfeita-se a gosto com as fitas coloridas, deixando-se no pé de Eshú por algumas horas e depois se leva a beira de um rio.
Este ebó deve ser feito com muito carinho, para reunir casais que estão separados, ou trazer paz aqueles que vivem brigando.
(4) Tela Oko era o nome de um príncipe que, apesar de ser um dos pretendentes ao trono de Arara, era muito pobre, sendo por este motivo, muito humilhado e desprezado pelos demais pretendentes a coroa.
Para poder sobreviver, Tela Oko tinha que trabalhar na roça como qualquer lavrador humilde, apesar de sua descendência nobre.
Certo dia, foi procurar o Oluwo do local, para fazer uma consulta, durante a qual surgiu Ejioko, pedindo, para Eshú, um ebó com galinhas, orogbo, um avental e uma enxada usada.
Feito o ebó, passaram-se alguns dias, até que, ao roçar perto do local onde havia oferecido o sacrifício, Tela encontrou um poço muito fundo. Imediatamente convocou os companheiros que trabalhavam nas cercanias, que o ajudaram a descer ao fundo do poço.
Ao chegar no fundo, qual foi sua alegria ao deparar com uma imensa fortuna. Voltando a superfície e indagado pelos colegas, Tela Oko, muito excitado, afirmou haver encontrado muito “owo ila” (dinheiro-quiabo). motivo pelo qual foi dado como louco por seus companheiros, que imediatamente voltaram aos seus afazeres, deixando-o sozinho.
Tela Oko amarrou a corda em sua cintura e novamente desceu ao fundo do poço, de onde voltou carregado de muitas moedas de prata, tornando-se então imensamente rico.
Este Itan determina que a pessoa que está passando por sérias dificuldades financeiras, deverá oferecer o sacrifício indicado, para que seus problemas sejam resolvidos e seus caminhos de dinheiro abertos.
Ebó: Adie Meji, orogbo meji, avental novo, uma enxada usada. Com a enxada cava-se um buraco dentro de uma mata, sacrifica-se as adie dentro do buraco, coloca-se um orogbo no bico de cada uma, cobre-se com o avental e coloca-se um punhado de moedas por cima. O buraco deve permanecer aberto depois de entregue o sacrifico. rega-se tudo com dendê, mel e oti.
(5) Quem faz um filho deve carrega-lo às costas. Oturu fez dois filhos e carrega os dois.
Como é possível uma só pessoa carregar duas crianças?
Quatro Babalawo consultaram para Abi Maku (Eu fiz um filho imortal), e este era o nome da montanha. Abi Maku ofereceu um sacrifício; a Montanha ofereceu um sacrifício e ela gerou um filho que é imortal.
Montanha imutável, imutável montanha! Foi Oturukpon Meji quem engendrou esta criatura que não morrerá jamais!
Montanha imutável, imutável montanha! A ira é impotente diante de ti!
Imutável montanha! inalterável montanha!
(Aquele que encontrar este signo perderá muitos filhos sob o estigma de Abiku. Deve ser feito um ebó para que um de seus descendentes possa sobreviver com força e saúde, mas antes perderá dois gêmeos, cujos espíritos retornarão em filhos que sobreviverão.
O consulente e a mãe de gêmeos que padecem com terríveis dores lombares, deverão oferecer um ebó composto de duas jarras, dinheiro e dois panos estampados nas cores brancos, preto e vermelho. Um amassi é preparado e colocado nas duas jarras, o consulente e sua mulher guardarão as jarras envolvidas nos panos e tomarão banhos diários com o seu conteúdo.
Receita de amasi: Tritura-se folhas de cedro em água de poço, depois de quinadas as folhas, sacrifica-se eyele dudu meji, deixando o eje correr dentro do banho; pega-se uma brasa viva de carvão vegetal e atira-se dentro do banho, junta-se um pouco de efun, dois pedacinhos de ori da costa., um pouco de mel e açúcar mascavo. Divide-se nos dois potes e completa-se com água de poço. O banho deve ser tomado diariamente, inclusive na cabeça.
(6) Ifa chegou a este mundo antes de seus mensageiros Legba, Miñona e Abi, que estão sob suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele.
Criado por Mawu, Ifa desceu do céu trazendo para a terra todas as arvores, todas as plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.
Naquela época, existia sobre a terra somente um protótipo de ser humano, muito pequeno, negro e muito parecido com o homem.
Ao chegar ao Aye, Ifa transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que, deu o nome de “Koto”.
Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia recebido de Ifa: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do próprio Ifa.
Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou-os aos homens, esquecendo-se, no entanto, de transmitir o nome de uma única arvore, a qual os homens chamaram de “Kotoble” e depois de Wugo.
Assim, foi apenas a uma única arvore, dentre as coisas que existem no mundo, que os homens deram nome.
(7) Num tempo em que Ifa era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.
Na consulta, surgiu Oturukpon Meji, que mandou que pegasse um cabrito, uma cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras: “Veja minha mãe, eu nunca recebi desta vida qualquer alegria. O rei deste pais não gosta de mim. Oturukpon Meji me disse que oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida”!
Ifa, no entanto respondeu: Isto é impossível. Minha mãe não está aqui. Ela partiu ha algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela ausente, poderei oferecer-lhe o ebó?
Legba intervindo disse: “Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns bolos”.
Ifa pagou o exigido a Legba que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse: “Seu filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao pais de Metolõfi para fazer a cerimônia”.
Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo: “Que fazer? Sou tão velha, mal posso andar...”
“Dá-me qualquer coisa que te transportarei”, disse Legba.
A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Legba falou: “Se me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho”.
“Mas este bode não é meu...”Respondeu a velha. “...ele pertence a Vida. Ele me foi confiado e está sob minha responsabilidade”.
“Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajuda-la”.
“Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará diferença!”
Legba, pegando o bode, matou-o. O sangue que escorria do corpo do animal era fogo que espalhando-se, cobriu o corpo de Legba. Aterrorizado como tão estranho acontecimento, Legba foi consultar Ifa e na consulta surgiu Oturukpon Meji, ordenando que os intestinos do bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.
Naquele tempo, Legba não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na panela para cozinha-la. Durante dias e dias, Legba insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça por mais que gastasse lenha, nada conseguia.
Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifa e, para isto, transportou a cabeça e a carne do animal até o reino de Metolõfi.
Para conduzir a enorme panela, Legba derramou a água nela contida, preparou uma rodilha que depositou sobre os ombros pra servir de base a panela que estava completamente enegrecida pela fumaça.

A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Legba descobriu que agora, como todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:
Eu operei uma magia em meu caminho,
Assim adquiri uma cabeça!
Eu saí sem cabeça para uma viagem,
retorno agora para casa com cabeça!

Desta forma, chegou diante de Ifa, que também era desprovido de cabeça.
Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifa exclamou revoltado: “Como? Já paguei a Legba por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!...”
Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.

Entregando as frutas ao rei a mulher disse: “Eu venho de muito longe em reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho para oferecer!”
Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifa, ali se fixou, transformando-se em cabeça.
Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.
Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe respondeu, afirmando chamar-se “Nã”. Metolõfi então disse: “Nã Taxonumeto” (aquela que coloca uma cabeça nas pessoas).

Depois deste fato, pra que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem, durante a gestação, pedir a proteção de Nã Taxonumeto todos os dias.
É sob este signo que as crianças vem ao mundo “de cabeça”.
Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não era outro senão o próprio Sol.
Foi através do fogo misterioso do bode, que Legba adquiriu controle sobre as chamas e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo.
Foi desta forma que Legba e Ifa, conseguiram cabeças, graças a Oturukpon Meji que rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.

Aquele que encontrar este signo, deve oferecer um sacrifício para não ser perseguido pela má sorte. Sua mãe terá um papel muito importante em sua vida, cujo sucesso depende, quase que exclusivamente, dela.





SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
ETA OGUNDA

Eta Ogunda é o 3º Odu no jogo de búzios e corresponde ao 9º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo nome de Ogunda Meji.
Responde com 3 (três) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Guda Meji” ou “Gudoji”.
Etmologicamente, propõe-se a seguinte análise: Ogun (Yoruba) ou Gu (Fon) - Orishá ou Vodun do ferro e por extensão da guerra e Da - repartir, dividir, separar. Ogunda Meji significa, então “Ogun dividido em dois”.
O termo Yoruba, “Ogunda Meji, propõe ainda outra interpretação: “Ogun da eja meji”- Ogun partiu o peixe em dois, numa alusão a uma lenda de Ogunda Meji.
Sua representação indicial em Ifá é: * *
* *
* *
* * * *
que corresponde, na Geomancía européia, a figura denominada “Cauda Dracônis”.
Eta Ogunda é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Ar, com predominância do primeiro, o que representa o dinamismo transformado em obstáculo, o esforço voltando-se contra quem o desprendeu e levando ao fracasso.
Corresponde ao ponto cardeal Nornordeste, a carta “O Diabo” no Tarot e seu valor numérico é o 2.
Suas cores são o negro, o branco e o azul. É um Odu masculino, representado esotericamente por um punhal ou facão, numa referência inequívoca ao orisha Ogun, ou a ereção do membro viril. (Gun em Yoruba evoca a idéia de ereção. Agun-do no Baixo Dahome, o sentido de membro viril”).
Este Odu, assim como o Orisha Ogun, rege todos os metais negros tudo o que é de ferro e o trabalho realizado nas forjas, ocupando-se também, do arco e da flecha.
Considerado um símbolo muitíssimo perigoso, comanda o membro viril, os testículos, a ereção, o esperma e determina, ate certo ponto, os hábitos sexuais e as doenças venéreas.
Foi sob este signo que Shango desceu a Terra. Segundo alguns Bokono, Gu (Ogun) e Xevioso (Shango), possuem origens idênticas e a diferença reside apenas em suas manifestações. Eta Ogunda preside os partos e desta forma, todas as crianças vem ao mundo sob sua ação e responsabilidade.
A noção de corte, de separação, esta ligada a Eta Ogunda, no entanto a decapitação não é de seu domínio, embora esteja sempre presente a esse tipo de acontecimento, somente como instrumento do mesmo.
As pessoas nascidas sob este signo, possuem um sentido de moral não muito sólido, são ciumentas, enganadoras e dissimuladas. Dotadas de inteligência muito bem desenvolvida, costumam usá-la de forma astuta e diabólica.
Prenuncia duvidas, falsidade oculta, prisão, briga, caso de justiça, perigo, vícios, depravação e guerra.
Aconselha a não confiar nos outros, para não sofrer decepções. Se o consulente for do sexo masculino, é pessoa volúvel e sem fé.
E um Odu de prenúncios quase sempre negativos, quase sempre diz não e sua ação é destrutiva e dissolvente.

SAUDAÇÕES DE ETA OGUNDA

Em Fon: Mikã Guda Meji
Ma saglagla ka ie o!

Tradução: Saudamos Ogunda Meji
Para que sua força nunca se volta contra nós!

Em Yoruba: Ogunda teteii,
Farale, afesule,
Lesi losun.

ETA OGUNDA EM IRE:

Quando em Ire, Eta Ogunda pode indicar, principalmente: desmascaramento de pessoas que vem agindo com falsidade, descoberta de uma traição, vitórias sobre inimigos, guerra ou disputa em que a vitória está assegurada, vigor físico, virilidade, nascimento de uma criança, sobrevivência de uma situação de extremo perigo, (Ire Aiku).

ETA OGUNDA EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Violência imposta ou sofrida, corrupção moral, toxicomania, alcoolismo, falta de escrúpulos, guerra, disputas acirradas que levam a desenlaces violentos, acidentes, morte violenta, agressões, perigos em viagens, inversões e perversões sexuais, traição, morte por envenenamento, conduta imoral.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Lisa, Age, Dã, Ke, Toxosu, Hoho, Gu e Xevioso.
Orixás (nagô): Ogun, Shango, Oshossi, Oxumare, Ibeji, Oshaguian, Eshú e Ajé.

INTERDIÇÕES DE ETA OGUNDA:
Eta Ogunda, proíbe seus filhos: Carne de galo, inhame pilado, bebidas alcóolicas, mandioca, crocodilo, antílopes, as serpentes, cavar sepulturas ou buracos, transportar armas ou guardá-las em baixo da cama (principalmente facas e punhais).
Os animais oferecidos sob as ordens desse Odu, devem ser decapitados em decorrência da idéia de divisão incluída o próprio nome do signo. Proíbe ainda, a seus filhos o uso de certas vestimentas como o “godo” (espécie de tapa-sexo) e um tipo de culote, denominado “shokoto shaka”.

SENTENÇAS DE ETA OGUNDA:

(1) A árvore que conhece o aço, terá seu desenvolvimento interrompido. (Existe uma ameaça de morte pairando sobre o consulente, que deve fazer ebó, para se livrar do perigo).
(2) A faca que ataca o sorgo, come o seu cadáver (a espiga do sorgo). (Se o consulente não morrer, derrotara seu inimigos).
Ebó: Com uma faca, cortas algumas espigas de sorgo(pode substituir por milho) e embrulha-lhas num pano, juntando a elas várias frutas que possam ser cortadas com faca. O Sacerdote sacrifica um cabrito, pila alguns grãos de sorgo e mistura a farinha obtida a um pouco de yerosun, coloca tudo dentro de uma almofada que será entregue ao cliente, que depois de enfeitá-la com contas verdes e amarelas, oferecerá a Ifá. Enquanto este objeto permanecer no local onde for colocado, o cliente triunfará sobre seu inimigos.
No forro da almofada, são colocados os chifres do cabrito sacrificado, o yerosun misturado com a farinha e vários grãos inteiros do sorgo. O embrulho com as espigas e as frutas, é oferecido a Elegbara, junto com o cabrito sacrificado. A faca utilizada também fica dentro da almofada.
3- A mulher do caçador não grita em vão, a flecha de seu marido penetrou o corpo de um animal. (Os desejos do consulente serão realizados).
Ebó: O consulente devera oferecer a Elegbara uma lança de ferro, sobre a qual deverá ser sacrificado um galo. A lança devera permanecer para sempre, no igba de Elegbara.
Prece do Ebó: Guda gbãun
Gun!
Gbãun!
Te!
Gbãun!
Tete!
Tete gbãun!
Te!
Gbãun!
(4) A maneira recurvada não precisa mais preocupar-se com suas costas. (O consulente, não tendo mais ereções, não precisa mais preocupar-se com o cansaço ocasionado pelo ato sexual)
Ebó: Um pequeno arco de ferro (gã-da ou ofá), deverá ser colocado sob o pênis do consulente, um galo é imolado sobre o conjunto, de forma que o ejé escorra sobre o pênis e o arco e caia sobre o igba de Ogun ou de Eshú, (apura-se a quem será oferecido o sacrifício). O arco deverá ser mantido para sempre, no igba.
(5) Se o machado foi ao campo e cortou muita madeira, voltará para casa. (Ogun está dando uma chance ao cliente, dependendo deste, saber aproveitá-la).
(6) Guda entrou em ereção: se o pênis de Elegba Adingbã ficou ereto, todas as vaginas serão penetradas. (O consulente, embora esteja com as funções sexuais em forma, terá em breve, problema de impotência).
Ebó: O mesmo da sentença no 4, apenas substituindo o ofá por um parafuso de linha de trem.

ITAN DE ETA OGUNDA

(1) O antílope Agbãli, lançava seu brado em Ife e as pessoas morriam.
O mocho Agbigbi, lança seu brado nesta vida e as pessoas morrem.
Ifá foi consultado por Oshossi e recomendou-lhe que fizesse um sacrifício porque, mesmo fazendo o bem aos outros, nunca conseguia tirar disso o menor proveito, ficando sem ter sequer o que comer.
O sacrifício constava de vasos quebrados, flechas, duas galinhas e um cabrito, mais Oshosi, negou-se a oferecer o ebó.
Como a cada grito do antílope Agbãli as pessoas morressem, o rei Metolonfin, não sabia o que fazer para caça-lo. Sabendo disto, Oshosi se apresentou ao rei, dizendo que, se lhe construíssem uma casa em forma de circulo e o colocassem dentro e lhe desse uma flecha e se todo o povo do pais se reunisse ao redor, lançaria a flecha que iria atingir a marca branca, existente no pelo do antílope e que ficava justamente na direção de seu coração. Tudo foi feito de acordo com a orientação do caçador e no dia que o animal surgiu, uma flecha foi atirada, indo atingir a marca branca que ficava na altura de seu coração.
Oshosi gritava feliz: “Eu o matei!” - E o povo, olhando na direção Agbãli, via que era verdade.
Quando o mocho Agbigbi se aproximou, Oshosi disse: “É na garganta que devo atingi-lo” e lançando sua flecha, atravessou com ela o pescoço do animal.
Todos reunidos foram ver o que estava acontecendo e assustados comentaram: “Aquele que prendemos na choupana onde não existem partas nem janelas consegue abater qualquer tipo de caça! Quando não mais existirem animais para serem caçados no pais, sem dúvida caçará o próprio rei!”.
Mais havia muita caça na região e Oshosi construiu sua casa no interior da floresta, reforçando as paredes com os cacos de muitos vasos quebrados.
O caçador recusara-se a oferecer o sacrifício determinado pelo Odu e por isto, todo o bem que fizesse aos homens não lhe resultaria em nenhum proveito. Mesmo assim, Elegbara fez dele o caçador do pais. Depois disto, os muros de seu templo devem ser incrustados de cacos de vaso de barro Para que o bem praticado pelo consulente obtenha o merecido reconhecimento, deve ser oferecido um sacrifício com o seguinte elemento:
- Vários cacos de vasos quebrados, um galo, um cabrito, dezesseis flechas, um pequeno arco, uma aljava (seteira).
(o sacrifício é oferecido a Oshosi e os animais sacrificados em seu igba).
(2) Quem procura o combate? E a vez de Ogun lutar contra Meji!
Metolonfin tinha uma linda filha chamada Meji. O rei, por muito que tentasse, não conseguia arrumar marido para a jovem.
Meji era muito belicosa e guerreira valente, todos os que se apresentavam com a intenção de desposa-la, eram desafiados para um combate singular, e acabaram derrotados pela poderosa princesa.
Desesperado com a situação e temendo que a filha jamais viesse a encontrar um marido, Metolonfin convidou os reis de Aja, de Ke, de Hun e de Ayo, para candidatarem-se ao casamento.
Atendendo ao convite, os quatros reis vieram acompanhados de toda sua corte. Mas Meji não abriu mão de suas exigências, só se casaria com o homem que conseguisse derrota-la em combate.
O primeiro a amargar a humilhação de derrota, foi Aja Xosu e em seguida, de nobres componentes de sua comitiva: depois foi a vez de Ke Xosu e seus amigos foram derrotados pela bela princesa.
Ogun, que a tudo assistia, foi perguntar a Ifa sob que Odu poderia encontrar proteção para derrotar a nobre guerreira, conquistando assim, o direito de desposa-la.
Na consulta surgiu Ogunda Meji, que ordenou: “Traga um galo, acaça, azeite de dendê, uma cabaça, um pombo, uma corda e vários pedaços de pano”.
Quando Ogun lhe entregou o material, Ifa enfiou na corda, algumas contas, com ela amarrou os pedaços de pano e as pernas do pombo, pegou o galo e enfiou debaixo de suas asa, varias folhas de kpelegun e entregando tudo a Ogun, disse: “Quando partires, deixe o galo em casa e amarre a corda em volta de tua cintura”.
No mesmo dia, Ogun desafiou a bela Meji para o combate, durante o qual, a corda que trazia a cintura, rompeu-se e caindo ao chão, embaraçou as pernas da princesa que desequilibrada, caiu derrotada aos pés de Ogun.
No mesmo instante, o galo começou a cantar:
Gbo gbo gbo,
Guda Mejiiii!
(Ogun desposou Meji!).
Ebó: Conforme indicado no itan. O galo é solto no quintal e o pombo sacrificado para Ogun é oferecido dentro da cabaça, com acaça e azeite de dendê. O fio de contas com os pedacinhos de pano, é colocado em volta do igba Ogun.
(3) Havia um homem que, por sua enorme sabedoria, era muito procurado por seus vizinhos e demais moradores da cidade.
Certo dia, o sábio adoeceu e sua morte era aguardada a qualquer momento.
Usando de seus conhecimentos, o ancião resolveu enganar a morte e para isto, preparou um ebó com o igbi, dois pombos, um preá, mel e efun, colocando tudo num buraco que cavou no chão.
Quando a morte aproximou-se sob a forma de um grande pássaro, o homem correu ate o local onde havia depositado o ebó e pegando o igbi, colocou-o sobre sua cabeça, que antes havia untado com bastante mel.
O pássaro Iku, pensando tratar-se do ori do sábio, cravou as garras afiadas no igbi, carregando-o para o mundo dos mortos.
Desta forma, o velho, com seu saber, conseguiu ludibriar a morte.
Ebó: Um igbi, dois pombos, um preá, mel e efun ralado.
Cava-se um buraco no chão, sacrifica-se, dentro dele, os dois pombos e o preá, rega-se tudo com mel e cobre-se com o efun ralado. Unta-se a cabeça da pessoa doente com mel, puxa-se o igbi e envolve-se o ori com um pano branco. Em seguida, coloca-se a carne do igbi dentro do buraco e sobre ela mais um pouco de mel e pó de efun, tapa-se o buraco sepultando os animais sacrificados. Sobre o buraco, coloca-se o casco do igbi, coberto de mel e pó de efun.
O cliente deve permanecer em repouso absoluto e guardar resguardo total por um período de 24 horas, findo o qual, deve tomar banho com ervas frias e usar roupas brancas por 7 dias. O sacerdote deve fazer sara iyeiye em seu próprio corpo, tomar banho de ervas e guardar o mesmo resguardo do cliente. Trata-se de um ebó muito perigoso, que exige o maior cuidado, é aconselhável dar comida a Eshú antes do ebó, para garantir seu sucesso.
(4) Enure era o nome do homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não conseguia progredir na vida, por ser perseguido permanentemente por dois inimigos muito poderosos, chamados Perseguição e Inveja.
Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o Oluwo, surgindo Eta Ogunda, que determinou um sacrifício para Eshú.
Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de Eshú, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente, por Progresso e Riqueza.
Ebó: Uma galinha d’Angola, pólvora, moedas correntes, mel, dendê, oti e uma bandeira branca.
Passa-se tudo no cliente, sacrifica-se o etu a Eshú, dá-se ponto de fogo com a tuia, despacha-se na encruzilhada, com a bandeira branca asteada em cima.
(5) Ogunda Meji foi procurado por Nã, Vodun mãe de Ifá, que não conseguia parir, uma vez que não possuía nádegas.
Naquele tempo, Ifá tinha seu conhecimento restrito aos acontecimentos do local onde se encontrava. Consultando seu próprio jogo, na esperança de obter uma maior capacidade de predição, encontrou Ogunda Meji, que lhe pediu um peixe como sacrifício.
Sabedor de que Nã possuía em sua casa um poço para criação de peixes (Togodo). Ifa pediu-lhe que lhe trouxesse um, para que pudesse fazer o ebó.
Os dias se passaram e como Nã não trouxesse o eja, Ifá, que possuía uma cabaça, pegou-a e dirigiu-se a casa de Nã.
Lá chegando, dirigiu-se ao poço e com sua cabaça, começou a retirar água de seu interior, para deixar os peixes a seco, o que facilitaria sua tarefa.
Vendo o que estava acontecendo, Nã protestou, afirmando que o Babalawo que havia consultado, também havia lhe pedido um peixe como sacrifício, mas ela não possuía cabaça, o que impedia que capturasse um peixe em seu próprio poço.
Combinaram, que quando toda a água tivesse sido retirada, os peixes encontrados seriam repartidos entre os dois, acontecendo no entretanto, que quando a água acabou, somente um único peixe foi encontrado no fundo do poço.
Nã reclamou o peixe para si sob a alegação de que o poço se encontrava em seu quintal e que tudo o que estivesse dentro dele lhe pertencia.
Por sua vez, Ifá considerava-se dono do peixe, já que fora ele quem com a cabaça de sua propriedade, o havia capturado, o que certamente não poderia ter sido feito por Nã.
A discussão prolongava-se sem que ninguém cedesse seu direito sobre o peixe.
Naquele tempo, o Vodun Gu, que já havia consultado o Oráculo e feito o seu sacrifício, recebeu um gubasa. do qual jamais se separava. Como passasse pelo local em suas andanças em busca de caça, foi chamado a intervir como arbitro da questão.
Gu ordenou então, que Ifá segurasse o peixe pela cabeça e que Nã o segurasse pelo rabo, puxando com firmeza, cada qual para seu lado, ao mesmo tempo em que mantinham os olhos bem fechados.
Com um rápido golpe de seu afiado gubasa, Gu dividiu o eja em duas partes e depois, ordenou que Nã ficasse com a cauda do peixe e fizesse com ela o sacrifício, para que pudesse obter nádegas, que permitiriam que viesse a parir filhos como todas as mulheres. Ifá ficou com a parte da cabeça, que ofereceu em sacrifício ao seu próprio Ori, para fortifica-lo em melhor capacita-lo para suas funções.
Foi assim que Nã, colocando a cauda do Peixe abaixo de sua cintura, logrou vê-la transformada em nádegas, enquanto Ifá oferecendo a cabeça do peixe ao seu ori, teve sua capacidade de previsão aumentada infinitamente.
Depois disto, costuma-se dizer:
“Gu da eja-meji”
(Ogun partiu o peixe em dois).
Ebó - Uma cabaça, um peixe de água doce, uma faca nova e bem afiada. Corta-se a cabaça em duas partes, o peixe e dividido, com auxilio de faca, em duas partes. A parte da cabeça é colocada dentro de uma das metades da cabaça é oferecida a Orunmila, a parte do rabo, colocada na outra metade da cabaça, é oferecida a Nanã. Tudo deve ser muito bem temperado com mel, dendê e grãos de Lelekun e oferecido aos orisha correspondente a Orunmila, fica a Este e a parte de Nanã, no lado oposto ao poço (Oeste). A faca utilizada no ebó, é oferecida a Ogun e deve ficar no seu Igba, para ser utilizada em outros ebó.
Este ebó, é indicado para pessoas que estejam com dificuldades de assimilação em qualquer tipo de aprendizado e também para mulheres que, por qualquer motivo, não conseguem engravidar.
(6) Um certo príncipe, tendo ficado na mais absoluta miséria e não agüentando as privações às quais estava sendo submetido, resolveu dar fim a própria vida.
Munido de uma corda, internou-se na floresta em busca de uma árvore onde pudesse enforcar-se.
Já no interior da floresta, encontrou um pobre leproso coberto de chagas, sem roupas nem comida, que apesar de tanta infelicidade, lutava para sobreviver, procurando naquele lugar, folhas e raízes, que pudesse matar sua fome e amenizar suas dores. No desespero de seu sofrimento, o leproso tentava colocar a água de um igbi sobre sua própria cabeça, com a intenção de refresca-la e alivia-la do terrível calor que a tudo castigava. Chocado com o que viu, o príncipe retornou a sua aldeia e lá chagando, ofereceu um ebó que lhe determinou o Oluwo.
Poucos dias depois de haver oferecido o sacrifício, chegou a noticia de que o rei do pais havia falecido e ele, como parente mais próximo, fora indicado para substitui-lo no trono.
Em sinal de agradecimento, o novo rei mandou buscar o pobre leproso que vivia internado na floresta, oferecendo-lhe conforto e tratamento para sua doença.
Este Itan indica que o cliente apesar das dificuldades por que vem passando, oferecido o ebó, sairá vitorioso ao final.
Ebó: Uma corda do tamanho da pessoa, dois pombos, um igbi, obi, efun, mel dendê, muitas moedas e ataré. Passa-se tudo no cliente, coloca-se a corda no fundo de um alguidar, sacrifica-se os bichos em cima e arruma-se no mesmo alguidar, tempera-se com os demais ingredientes e espalha-se as moedas por cima de tudo. Despacha-se no alto de um morro por onde passe uma estrada.
(7) A vida não será ruim para aquele que encontrar dois ovos negros de pássaro adowe.
Adowe, conhecido entre os yoruba como leke-leke, é um pássaro de plumagem inteiramente branca e seus ovos, como ele próprio, são completamente brancos. As penas do adowe são utilizadas nas cerimonias de Obatala, cuja cor é também o branco.
Este pássaro, é uma espécie de garça que se alimenta das parasitas existentes na pele dos búfalos que vivem nos pântanos.
Agbogbo nla fo laga le gã.
(quando o agbogbo voa, ouve-se ao longe o ruído de suas asas).
Os dois adivinhos que consultaram Ifá para Tela, filho do rei, deram a ele este nome.
Quatro advinhos que consultaram Ifá pra Tolo, advinho da floresta de Were.
E Tolo comeu, Tolo bebeu, ela caminhou levantando os dois pés ao mesmo tempo (com facilidade, com leveza): ele demorou vinte anos antes de retornar a sua floresta.
Um filho do rei de Ayo, chamado Tela, encontrava-se certa ocasião, muito endividado. Querendo se casar, pegou emprestado, dinheiro para o dote, comprometendo-se a efetuar o pagamento com seu trabalho no campo.
Seu credor, que era um homem muito ganancioso, explorava terrivelmente o pobre rapaz, exigindo dele, cada dia mais e mais trabalho no campo.
Desesperado, Tela foi consultar os pássaros Leke-leke e agbogbo que, entre os pássaros, eram conhecidos como excelentes Babalawo.
“Como fazer? “- perguntou ele - “Para livrar-se desta dívida e voltar novamente a ser livre?”.
Os pássaros prescreveram sacrifícios e disseram que depois de oferecidos os ebó, a pessoa que o escravizava seria duramente castigada e para ele, adviria uma grande riqueza e muita felicidade, só não podendo revelar a ninguém o que seria feito.
Tela teria que comprar dois cabritos para serem oferecidos a Ifá. O que não foi possível, devido a extrema miséria em que se encontrava.
Voltando ao campo de seu amo, enquanto trabalhava a terra, Tela encontrou um buraco onde havia esquecida um grande quantidade de dinheiro.
Feliz com o achado, o jovem pagou a divida e passou a viver como um nababo, organizando banquetes onde, em companhia de seus amigos, consumia muita comida, bebida, dinheiro e conversa.
Numa destas reuniões, já tendo bebido e comido demais, Tela contou a seus amigos tudo o que se passara entre ele e os pássaros advinhos, quebrando a promessa de manter segredo sobre o que acontecera.
Os amigos e as farras levaram Tela novamente a ruína. Se tivesse oferecido os cabritos, o segredo não teria sido revelado e nada de mal poderia lhe acontecer.
Ao saber do acontecido, Agbogbo disse a Tela: “Olhe só, todo mundo sabe do nosso segredo, da mesma forma que todo mundo sabe quando levanto vou. Os teus azares surgiram de tua indiscrição, nada temos com isso!”.
Ebó: Dois cabritos devem ser oferecidos a Exú e sacrificados, obedecendo o ritual de praxe. Coloca-se em Exú, como adorno, duas penas de Leke-leke e duas penas de Aloko.
Este trabalho, é para solucionar problemas de pessoas que estejam demasiadamente endividadas.
(8) Ogun Badagli, era o chefe das tropas de Oduduwa. Um dia, Oduduwa ordenou que seu general, a frente de seus exércitos, invadisse e dominasse a cidade de Igbo, para ali estabelecer o seu domínio.
Quando Ogun Badagli invadiu a cidade, conheceu ali uma belíssima jovem, filha do rei de Igbo, por quem se apaixonou e tomou como mulher.

Era costume, que todos os despojos de guerra, deveriam ser entregues ao rei vencedor e Ogun Badagli entregou a Oduduwa, tudo o que havia trazido da cidade saqueada, com exceção da mulher pela qual havia se apaixonado.

Informado de que seu general havia ocultado uma prisioneira, Oduduwa exigiu que esta lhe fosse entregue. Maravilhado pela beleza da jovem, o rei conduziu-a a seus aposentos, onde a possuiu. Dez luas depois, a mulher deu a luz a um menino, que tinha o lado esquerdo negro e o lado direito inteiramente branco, filho que era de dois pais. Ogun Badagli, de pele negra e Oduduwa, de pele branca como a neve.

Ao recém nascido foi dado o nome de Oraniyan.
Este itan não é determinante de nenhum tipo de ebó, servindo apenas, como muitos outros, como narração sobre a origem de um Orishá.



SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO.
IROSUN MEJI

Irosun Meji é o 4º Odu no jogo de búzios e o 5º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 4 (quatro) búzios abertos.
Em Ifa, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Loso Meji”, “Losun” ou “Olosun Meji”. Os Nagô o chamam também de Oji Orosun.
Irosun, designa uma tintura vegetal vermelho - sangue, conhecida pelos Fon por sokpepe é utilizada ritualistica e medicinalmente, como cicatrizaste. Irosun Meji é por vezes chamado “Akpan”, nome de um pequeno pássaro negro, muito esquivo dos demais pássaros e que tem a fama de costumar defecar sobre as cabeças das outra aves.
Sua representação indicial em Ifa é: * *
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* * * *
* * * *
que corresponde, na Geomancia Européia, a figura denominada “Fortuna Minor”.
Irosun Meji é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Terra, com predominância do primeiro, o que indica escasses, parcimônia, insuficiência de recursos para que a meta seja atingida em toda a plenitude. Corresponde ao ponto cardeal, Este-Nordeste, a carta 3a do Tarot, (A Imperatriz ) seu número é o 4.
Suas cores são o vermelho e o laranja. É um Odu masculino, representado esotericamente por uma espiral, ou por dois círculos concêntricos, representação de um “do”(buraco ou cavidade).
Irosun Meji é muito forte e muito temido. Expressa a idéia de maldade, de miséria, de sangue. Segundo informações, Irosun Meji teria dado aos reis da terra o sabre de Ogunda Meji, para que fizessem derramar o sangue humano.
Foi este Odu quem criou as catacumbas e as sepulturas.
Sempre que surgir durante uma consulta, deve-se imediatamente, passar pó de efun nas pálpebras, por três vezes.
Exatamente por ser um signo muito negativo e estar sua negatividade diretamente associada a cor vermelha, e que se recomenda, tanto ao advinho, quanto ao cunsulente e aos assistentes, neutralizarem os malefícios da cor vermelha, através da proteção da cor branca do efun.
Irosun Meji, rege todos os buracos da Terra, sendo esta a sua mais importante atribuição. Por ele foram criados os macacos “Xlan”, a planta “sokpepe”, cuja cor faz lembrar o sangue, a menstruação feminina (inclusive dos animais), o pássaro “dregbawe”, que segundo dizem , teria inventado os jogos de azar, ao jogar contra a morte e continuar vivo: o pássaro “Ge”, de plumagem vermelha, além de inumeráveis outras coisas.
A mentira descende de Oyeku Meji (Eji Ologbon) - mentiras que visam conservar a vida: de Ogunda Meji (mentiras dos caçadores - engodos, armadilhas, arapucas); de Otura Meji - mãe da mentira, cujo pai é o roubo e de Irosun Meji - que pretende ter domínio sobre o sangue, mas não possui faca para fazê-lo escorrer.
Irosun Meji comanda todos os metais vermelhos, como o cobre, o bronze, o ouro, etc...
Prenuncia acidentes, miséria, fraudes, sofrimentos, ambição e impetuosidade. Pequenas vitórias, aquisições de pouca importância, satisfação com pouca coisa são também prenúncios deste signo.
Os filhos deste odu são predestinados a adquirirem conhecimentos dentro de Ifá, para que não permaneçam precocemente. Para que a morte não ocorra de forma precoce, faz-se um ebó, composto de uma vara do tamanho da pessoa, a qual se sacrifica eyele Meji e se enterra no pátio ou quintal da residência, junto com os pombos, bastante efun, mel e dendê, tendo-se antes lavado a vara com omi-ero de erva pombinha e sempre viva.
São pessoas orgulhosas, animadas, exaltadas, realizadoras, muito agressivas e que se deixam dominar pela cólera com muita facilidade.
Indica problemas relacionados ao ritmo cardíaco, inflamações e avermelhamento das vistas, paralisia do sistema motor, inflamações cerebrais e intestinais, problemas circulatórios em geral.
É um Odu de prenúncios medianos, que fala do bem e do mal com a mesma intensidade.

SAUDAÇÕES DE IROSUN MEJI:

Em Fon: Mi Kã Loso-Meji
Ma do nu kun mia ni e o!

Tradução: Saudemos Irosun Meji, para que nossos olhos jamais se anuviem.

Em Yoruba: Irosun Meji, Ojiroso apantaritá
Begbe ojoroko
To begbe lojokun.

IROSUN MEJI EM IRE:

Quando em Ire: Irosun Meji pode indicar, principalmente: Vitória pelo esforço despendido, conformação, trabalho que surge, início de uma nova empresa, peregrinação religiosa, conquista de bem de pouco valor mas que irão trazer satisfação, obtenção de recursos suficientes para satisfazer as necessidades, sorte no jogo.

IROSUN MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Ofensas, calunias, perigos de acidente, derramamento de sangue, homem que deve ser evitado, mulher perigosa e faladeira, notícias ruins, doença em casa ou na família, miséria, recursos insuficientes.
Neste odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Nã, Lisa, Xevioso, Dã, Iyalode e Tovodun.
Orisha (nagô): Iyansã, Oshosi, Obaluaie, Osain, Iyemanja e Egun.

INTERDIÇÕES DE IROSUN MEJI:
Irosun Meji proíbe os seus filhos: O uso de roupas e objetos vermelhos, as frutas e cereais de casca vermelhas, relacionamento sexual com filhos de Omolu ou de Shango, envolvimento em brigas, discussões ou questões judiciais (das quais saem sempre como perdedores, carne de macaco, de antílope, de galo e de elefante. Não devem comunicar a ninguém seus planos, sob pena de não vê-los realizados. Não podem roer ou chupar ossos de animais, principalmente da cabeça; saltar sobre valas, buracos e fossas; caminhas por locais onde existam mangues e, se isto for inevitável, devem fazer limpeza de corpo, com ovos e velas.

SENTENÇAS DE IROSUN MEJI:

(1) Ninguém conhece tudo o que existe no fundo do mar.
(o cliente deve controlar a sua curiosidade, pois o fato de conhecer determinados segredos, pode colocar sua vida em perigo).
(2) Se um pássaro pretende capturar um alaxa (espécie de verme provido de pele espinhosa e urticante), deve adaptar ao seu bico uma pinça de ferro.
(Alguém que quer o mal do consulente, verá este mal virar-se contra si).
(3) Todos os pássaros compraram roupas brancas, mas Ge, por vaidade, comprou um seda vermelha como sangue e dentro da floresta ficou parecendo uma chispa de fogo. Guando os caçadores o viam de longe não hesitavam em abatê-lo, atraídos por sua beleza.
(O consulente deve conservar a modéstia, para não atrair atenção sobre sua pessoa).
(4) Quando o Akpan está encolerizado, todos os pássaros se escondem. Quando os homens se encontram com o rei, também devem se esconder.
(O consulente deverá oferecer sacrifícios, para livrar-se de uma situação embaraçosa com alguém de autoridade).
(5) Enquanto existir homem, a águia, o pássaro vermelho Ge, não pode intitular-se rei).
(O consulente herdará os bens e a autoridade de seu pai, devendo para isso, oferecer os sacrifícios determinados).
(6) Quem diz azeite vermelho, não diz azeite rançoso. Todos estão sujeitos aos sofrimentos e provas impostos pela vida e ninguém morre por isso.
(O consulente conhecerá a dor e o sofrimento mas, se oferecer os sacrifícios determinados, sobreviverá a tudo).
(7) Todo fogo se apaga, mas o fogo que ilumina a cauda do pássaro Kesse, não se extinguirá jamais.
(O consulente terá todos os seus sacrifícios recompensados).
Obs.: Esta sentença, embora pertencendo originalmente a Owonrin Meji, adapta-se perfeitamente a proposta de Irosun Meji.
(8) É embaixo do Sol que o martelo malha a bigorna pesadamente.
(O consulente triunfará sobre seus inimigos se realizar o ebó determinado).

ITAN DE IROSUN MEJI

(1) Fogo e Chuva disputavam o amor de uma mulher, mas os esforços tanto de um como de outro, não adiantavam nada. A discórdia passou a reinar entre os dois, a mulher os separaria para sempre.
A questão tornou-se publica, uma vez que a disputa entre eles era feita abertamente. O escândalo foi tamanho, que Metolonfi, convocou a sua presença todos os envolvidos, inclusive a mulher.
Diante do rei, cada um expôs suas razões e foram intimados a cessarem a disputa por um período de nove dias, findo os quais, certamente já se teria encontrado uma solução definitiva para o problema.
Depois da audiência, cada um procurou se destino.
Fogo foi consultar seu advinho, Ina Pupa (Fogo Vermelho) e durante a consulta surgiu Irosun Meji, determinando que Fogo fizesse um sacrifício composto de duas cabras, dois panos negros, dois panos brancos, vinte moedas e mais nove moedas. Fogo no entanto, não levando em consideração a orientação, não ofereceu o ebó.
Chuva também tratou de procurar o seu advinho, Ojo Dudu Nimije (Eu sou a Chuva Negra) e durante a consulta, apareceu também Irosun Meji, que exigiu que fosse oferecido o mesmo sacrifício. Ao contrário de seu adversário, Chuva cumpriu sua obrigação, segundo a orientação do Oluwo.
Fogo morava a uma distância do palácio real, como a que separa Porto Novo de Sakete (38 Km) e Chuva morava a uma distância, como a que separa Porto Novo de Shotonu (32 Km).
Quando chegou o nono dia, o rei convocou os três interessados para uma nova reunião no palácio.
Fogo já se pusera a caminho, antes da convocação do rei, queimando tudo o que encontrava em seu caminho, provocando toda a luminosidade que era capaz.
Chuva, depois da consulta, envolveu-se num tecido negro que obscurecia a própria natureza e ninguém caminhava ao seu redor.
Apesar de Fogo haver saído primeiro, Chuva, talvez por residir um pouco mais próximo, chegou primeiro ao palácio real. Quando Fogo, com enorme alarido, se aproximou do palácio, Chuva precipitou-se sobre ele, apagando-o antes mesmo que pudesse se apresentar a Metolofin.
Foi desta forma que Chuva, provando ter mais força que Fogo, conquistou o coração da mulher, que cantava diante do combate:
O Fogo Vermelho brilha de fúria!
Chuva é tomada da mesma cólera!
Grande é a minha glória!
Meu coração preferiu o frescor (de Chuva).

Ebó: Duas Cabras, dois panos brancos, dois panos pretos, efun, epô pupa, mel, osun, efun, uma pena de ekodide. As cabras são sacrificadas a Elegbara. Uma é coberta com pó de Osun, mel dendê e um pouco de ataré. É embrulhada, primeiro no pano branco, depois no pano preto, tendo-se antes, colocado a pena de ekodide entre os chifres e finalmente, é despachada na beira de um rio ou lagoa. A segunda cabra tem o ori recoberto com efun, devendo permanecer algumas horas nos pés de Elegbara. Sua carne e limpa e comida pelas pessoas da casa do consulente, ou distribuídas entre seus amigos. O ori deve ser enterrado perto de um formigueiro, sendo retirado depois de nove dias e colocado para sempre, na casa de Elegbara.
Este ebó é recomendado para qualquer pessoa que esteja envolvida numa disputa de ordem sentimental, servindo tanto pra homem quanto para mulher.
(2) Kpo, o Leopardo, era, por sua força e astúcia, o animal mais temido e odiado da floresta.
Um dia, todos os bichos reuniram-se para arquitetar uma maneira de se livrar definitivamente do tão indesejável vizinho.
Informado do que estava ocorrendo, Kpo consultou o Bokonõ, surgindo Irosun Meji na consulta, que lhe determinou ser oferecido um sacrifício composto de dois galos, um etu, epo pupá, mel, oti e bastante algodão.
No dia do ebó, depois de oferecer o sacrifício, o Bokonõ envolveu cuidadosamente, as patas do Kpo com o algodão, libertando-o em seguida.
Ao aproximar-se da praça onde todos os bichos estavam reunidos, o leopardo caiu num grande buraco, que haviam preparado como armadilha para ele e no fundo do qual haviam colocado muitos espinhos, com a intenção de provocar-lhe sérios ferimentos nas patas, o que o deixaria indefeso diante de seus inimigos.
O algodão colocado ao redor de suas patas, serviu de defesa contra os espinhos e Kpo incólume, saltou do interior do buraco, colocando em fuga aqueles que pretendiam fazer-lhe mal.
Este Itan faz referência a uma grande falsidade que estão tramando contra o cliente que, feito o sacrifício indicado, sairá vitorioso depois de desmascarar seus inimigos.
Ebó: Dois galos, um etú, dendê, mel de abelha, oti e algodão em rama. Cava-se um buraco, dentro do qual os animais são sacrificados em louvor a Eshú, cobre-se tudo com mel, epo e oti e tapa-se a boca do buraco com folhas, não enchendo-o de terra. As patas dos animais oferecidos, são envolvidas em algodão e todo o sacrifício também é recoberto com o mesmo material, dentro do buraco.
(3) Certo homem, encontrando-se doente e na mais absoluta miséria, resolveu consultar Ifá, em busca de solução para seus males, Irosun Meji apareceu na consulta, determinando que fosse oferecido um sacrifício e que depois disto, o homem deveria partir pra Savalu, onde deveria, aos pés de um araba, protestar publicamente contra a situação de miséria em que se encontrava.
Oferecido o ebó o homem dirigiu-se a Savalu e ali, na praça principal, pôs-se a esbravejar, com um obi em cada mão, atribuindo ao rei do lugar, toda a sua miséria.
Ao tomar conhecimento do escândalo que estava sendo promovido, o rei ordenou que o infeliz fosse conduzido a sua presença, com o objetivo de fazer alguma coisa pelo homem e desta forma, calar a sua boca.
Chegando ao palácio, o doente disse que não tinha descanso nem saúde e que tudo o que desejava era uma vida normal e confortável.
Penalizado, o rei mandou que lhe fosse dispensado tratamento e meios de subsistir com dignidade, até o final de seus dias, recebendo do pobre enfermo, como sinal de agradecimento, os dois boi que trouxera consigo.
Ebó: Akuko Meji, um igbi, uma moringa com água, vários tipos de bebidas, dendê, mel, boi bala Meji. Sacrifica-se os bichos a Eshú, normalmente, com todos os demais ingredientes do ebó. Os dois obii são oferecidos aos Orisha que se encarregar da solução, conforme indicado pelo jogo. O sacrifício deve ser oferecido aos pés de um grande arvoredo, de preferência um Araba. Os obi oferecidos ao Orisha, devem permanecer, durante todo o tempo, nas mãos do cliente, que, terminado o sacrifício a Eshú, fará seus pedidos, em voz alta, de frente para a árvore.
Este ebó é indicado para pessoas que estejam com problemas de saúde ou de ordem financeira.
(4) Ifá havia esquecido suas roupas em Ifé e não conseguia encontra-las, porque não havia luz. Sentindo-se por demais inquieto, consultou seu Kpoli, surgindo Irosun Meji.
O Fogo, para vir ao mundo, utilizou-se do mesmo signo, mas foi impedido pela Chuva. O Bokono que consultava para o Fogo, chamava-se Bedezo (O Grande Fogo).
O Odu ordenou que fosse oferecido por Ifá, dezessete insetos diversos, um cabrito e um carneiro. Fogo recusou-se, sob a alegação de que um simples pedaço de pano o protegeria melhor de Chuva, que um cabrito e um carneiro.
Zõfloñeñe, o Vaga-lume, consultando por causa da Chuva que apagava o seu fogo, encontrou o mesmo signo. Toda vez que a Chuva apagava o seu fogo, Zofloñeñe ficava sem ter o que comer, pois era seu fogo que clareava sua caça.
O advinho prescreveu o mesmo sacrifício: um carneiro e um cabrito. Como o Vaga-lume não dispunha de meios para fazer o ebó, suplicou a Ifá: “Eu nada tenho, não sei ao menos onde poderei encontrar estas coisas...”.
Naquela noite Zofloñeñe se encontrava na beira do rio, quando surgiu Legba que vinha pegar água. Como estivesse muito escuro, Legba murmurou: “Onde poderei encontrar um pouco de luz para poder colocar minha cabaça na água?”. E direcionando-se aos insetos: Vocês têm luz?”. Ouvindo aquilo, Zofloñeñe gritou. “Eu tenho luz!”. Legba respondeu: “Empresta-me tua luz para que eu encontre água e te darei os componentes para o teu sacrifício!”.
Zofloñeñe imediatamente forneceu luz a Legba e, depois de recolhida a água, acompanhou-o até sua casa, onde ficou com ele.
Na manhã seguinte, Legba entregou-lhe um carneiro e um cabrito, para que pudesse oferecer em sacrifício.
Enquanto isso, Ifá reunia os dezessete insetos exigidos para o seu sacrifício e dentre eles estava o Vaga-lume, que de sua parte, já havia feito o ebó.
Depois disto, Ifá ordenou a Zofloñeñe, que se dirigisse a Ifé e utilizando sua luminosidade, trouxesse a quinta folha que encontrasse. Não poderia ser a primeira, nem a segunda, nem a terceira ou a quarta folha, mas somente a quinta folha encontrada. “Tu colherás a quinta folha que encontrares e a trarás para mim!” A quinta folha encontrada pelo Vaga-lume era um ewe Kpaklesi (Ologun sheshe), que recolheu e levou para Ifa.
No caminho de volta, a Chuva caiu com muita intensidade, mas desta vez não conseguiu apagar o fogo do Vaga-lume. Ifá, muito grato, não hesitou em recompensar regiamente o inseto, pelo valioso serviço prestado.
Naquela época, o rei Metolõfin possuía uma filha muito bela, que rejeitava tantos quantos se apresentassem como candidatos a desposa-la.
Fogo e Zofloñeñe, conduzidos por Ifá, apresentaram-se como candidatos a mão da princesa e disseram ao rei: “Nós viemos nos apresentar pra que sua filha escolha um de nós como esposo. “A princesa encantada com o brilho e as cores de Fogo, não hesitou em escolhe-lo recusando assim, as pretensões do Vaga-lume.
Diante disto, Metolofin ordenou que os candidatos voltassem dali a nove dias, para que se realizasse o casamento e todos os súditos foram convidados para comparecerem e presentearem os nubentes.
Ao saber da novidade, Elegbara perguntou: “Agbo afa kan Meji te ko si?” “(Qual dos dois candidatos não ofereceu o sacrifício?)”. E lhes reponderam que o Grande Fogo não havia feito o ebó. “Como pretende então, desposar a filha do rei Metolofin? Jamais permitirei que isto aconteça!”. E enviou uma mensagem ao orun: “A mulher que Xevioso pretende tomar como esposa aqui na Terra, está prestes a casar-se com Fogo”.
Ao receber a mensagem, Xevioso encolerizado, rasgou os céus com seus raios, clareando a Terra, para que pudesse ver quem era o atrevido chamado Fogo, que pretendia desposar sua amada. Foi somente a partir deste dia que os raios puderam ser vistos aqui da Terra.
Em seguida, o Vodun preparou-se para descer à Terra. Todo o céu tornou-se negro. Fogo, cheio de pavor perguntava: “Como posso ir ao encontro de minha noiva, se não para de chover?”. E procurou seu Bokono, para saber o que fazer. Na consulta, Ifa cobrou o sacrifício que havia sido determinado e que Fogo negligenciara. “Se é por isso!”. Disse Fogo, “...vou faze-lo imediatamente”. Primeiro vou pegar minha noiva e farei o sacrifício logo em seguida.”
No dia das núpcias, Ifa foi o primeiro a chegar ao palácio, em seguida, chegou Xevioso acompanhado de Legbara.
Fogo, chegando ao local, colocou-se de lado e tocando seu tambor cantava: “Ajuba Gegezõ...”. E tudo brilhava a sua passagem e as folhas, mesmo as menores, dançavam ao som de seu tantã.
Xevioso, desejando estragar a festa trovejou: “Búuu!”, e a Chuva caiu com tanta intensidade, que Fogo se extinguiu. Xevioso, penetrando no palácio, queixou-se por ter Fogo como rival.
Zofloñeñe, aproveitando-se da confusão, penetrou também no palácio, fazendo com que sua luz iluminasse o ambiente, enquanto cantava:
“Afete naun! Able ñaun!
Afete naun! Able ñaun!”
(Meu fogo é branco mas pode ficar vermelho subitamente)!
Metolofin defendendo-se: “Foi minha filha quem quis desposar Fogo. Para evitar qualquer demanda, fica decidido que nenhum de vocês a terá como esposa. A partir de agora, sempre que qualquer um se habilite a tirar uma jovem da casa de seus pais para com ela se casar, se neste momento a Chuva começar a cair, o casamento não deverá ser realizado.”
Xevioso, muito aborrecido com a decisão do rei, sentenciou: “Foi por causa de Fogo que eu perdi esta bela mulher! Sendo assim, eu o controlarei sempre e serei seu chefe e senhor!”
É por isto, que sempre que chove num dia de casamento, a cerimônia dever ser adiada para outra data.
Zõ si, ñañe Zõ mon non si, Loso Jime!
(Todo fogo se apaga, mas o do Vaga-lume jamais se apagará, Irosun Meji”).
Ebó: um carneiro e um cabrito, brasas, uma jarra com água, um vaga-lume vivo. Sacrificam-se os bichos a Elegbara, apagam-se as brasas derramando sobre elas a água da jarra e solta-se o vaga-lume com vida. A saudação descrita no final do Itan, deve ser repetida três vezes no momento em que o vaga-lume é posto em liberdade. Este ebó se aplica para pessoas envolvidas em qualquer tipo de disputa, principalmente aquelas relacionadas a conquista de um amor proibido.
(5) Certo dia, Sol, Lua, Fogo e Kese o Papagaio-de-Cauda-Vermelha, resolveram disputar entre si, o poder sobre a Terra.
Kese, tratou logo de consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver a disputa a seu favor. Durante a consulta, o Odu Irosun Meji apareceu, prescrevendo um sacrifico composto de Igbi, etu e ekodide.
Oferecido o ebó, uma chuva torrencial abateu-se sobre a Terra, apagando o Fogo. Por muitos dias e noites, as nuvens cobriram os céus, impedindo que o Sol durante o dia e a Lua durante a noite, pudessem ser vistos pelos habitantes da Terra. Aproveitando-se da ausência de seus adversários, Kese, que apesar de muito molhado não perdeu o vermelho de sua cauda, estabeleceu definitivamente seu reino sobre a Terra, saindo vitorioso da disputa.
Ebó: Uma galinha da Angola, um Igbi, quatro penas de ekodidé, mel, dendê, efun e ataré. Sacrifica-se a galinha da Angola a Eshú, de acordo com o rito normal, cobre-se com mel, dendê, oti e grãos de ataré. Puxa-se o Igbi, deixando sua água escorrer sobre o ebó, cobre-se com bastante pó de efun e despacha-se num lugar alto, enfeitando com as quatro penas vermelhas. Este sacrifício deve ser feito em noite de lua nova ou em qualquer lua, desde que o céu esteja encoberto de nuvens. É recomendado para pessoas envolvidas em disputas com adversários poderosos, contando com pouca chances de sair vitoriosa.
(6) Macaco encontrava-se em sérias dificuldades, resolvendo por isto, consultar seu Oluwo. Na consulta, o advinho encontrou Irosun Meji, que prescreveu um sacrifício de edie funfun, adie dudu, etú, Igbi, epo pupa, obé e um braseiro cheio de brasas vivas, onde deverão ser depositadas, depois do sacrifício dos animais, bogbo ata pupa.
Quando o Macaco estava colocando as pimentas no braseiro, desprendeu-se uma fumaça que penetrando em seus olhos, provocou-se grande irritação, seguida de um forte lacrimejamento.
O herdeiro do trono, que neste exato momento passava pelo local, ao ver o Macaco banhado de lagrimas, penalizado quis saber o motivo de tanto choro.
Astucioso, o Macaco descreveu sua desdita, exagerando bastante em suas necessidades.
O nobre príncipe, condoído com a triste história, ordenou que os guardas conduzissem o Macaco até o palácio, onde passou a residir, cercado de muito conforto e fartura.
Ebó: Uma galinha branca, uma galinha preta, uma galinha d’Angola, um Igbi, uma faca virgem, dendê, mel, aguardente, um braseiro, carvão e uma boa quantidade de pimentas vermelhas. Acende-se o braseiro, cuidando-se que as brasas fiquem bem vivas, proceda-se o sacrifício dos bichos, utilizando-se para isto a faca nova, tempera-se normalmente com os demais ingredientes, colocam-se as pimentas vermelhas sobre as brasas acesas defumando-se, com a fumaça desprendida, o cliente. Despacha-se no lugar determinado pelo jogo. Este ebó, deve ser aplicado para pessoas que estejam passando por vexames ocasionados por falta de recursos financeiros, ou em Osogbo ofo ou aje, quando o Opole for Irosun Meji.
(7) Certa mulher, que possuía um pequeno negócio em que fornecia mingau de acaça e de inhame, estava passando por sérias dificuldades e por isto, foi orientada, por seu advinho a oferecer um ebó com galos, pombos, acaça e inhame assado.
Feito o ebó, encontrava-se a mulher em seu pequeno negócio quando chegou o Balogun do pais, acompanhado de toda a sua tropa de guerreiros. Os homens, que regressavam de uma campanha, estavam famintos e embora não possuíssem dinheiro, foram servidos pela mulher, que confiando na palavra do General, serviu-lhes toda a comida de que dispunha, tendo mesmo que pegar emprestado com seus vizinhos, para poder atender a todos os soldados.

Sete dias depois, o General retornou ao mercado e dividiu com a mulher o produto do saque obtido em sua campanha, o que representava uma fortuna capaz de assegurar a bondosa comerciante, uma vida de muito conforto.

Quando procurou seus vizinhos para pagar-lhes o que devia, estes se negaram a receber, alegando que não lhes devia nada, uma pessoa que vivia sob a proteção de um guerreiro tão poderoso como Balogun.

Ebó: Dois galos, dois pombos, quatorze acaças, um inhame. Sacrifica-se um galo a Eshú, com tudo o que lhe cabe por direito, acrescentando a tudo, sete acaças. Isto feito, sacrifica-se o outro galo e os pombos a Ogun, deixando-se o eje correr sobre a ferramenta e um pouco sobre o mingau de inhame pilado que já deve estar num alguidar à parte. Arruma-se o galo da maneira usual, sobre o mingau, e enfeita-se com sete acaças.

Devendo-se indagar onde será despachado. todos os ingredientes, são passados no corpo do cliente.

Este ebó é indicado para pessoas que não conseguem progredir em seus negócios, passando por dificuldades referentes a dinheiro.



SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OSHE MEJI.

Oshe Meji é o 5º Odu no jogo de búzios e o 15º na ordem de chegada do sistema de Ifá onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 5 (cinco) búzios abertos.
Em Ifá é conhecido entre os Fon (Jeje), como “She Meji”. Os Nagô o chamam Oshe Meji e também, de Oji Oshe, para melhor eufonia. A palavra evoca, em Yoruba, a idéia de partir, quebrar, separar em dois. O nome é desagradável. Este Odu teria cometido incesto (16) com sua mãe Ofun Meji e foi por isto, separado dos outros signos.
Sua representação indicial em Ifa é: * *
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* *
* * * *
corresponde, na Geomancia Européia a figura denominada “Amissio”.
Oshe Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Ar, o que representa uma dispersão súbita, a impotência diante de um obstáculo e o surgimento de novos obstáculos.
Corresponde ao ponto cardeal Noroeste, a carta no. l6 do Tarot (A Torre) e se valor numérico é o 6.
Suas cores são irizadas, matizadas, insípidas. Não têm preferência por nenhuma cor específica, mas exige que lhe sejam apresentadas sempre três cores diferentes e reunidas, não importando quais sejam elas.
É um Odu masculino, representado esotericamente por uma lua crescente com as pontas viradas pra baixo. O signo tem, realmente o poder de dobrar o objeto que deseja partir em dois.
Oshe Meji comanda tudo que é quebradiço, quebrado, mal cheiroso, decomposto, putrefato. Todas as articulações e juntas provêm deste Odu e ele representa numerosas doenças, notadamente os abscessos; ele é a própria representação de Sakpata, a varíola e está intimamente ligado aos Kenesi. Trata-se, portanto, de um Odu muitíssimo perigoso.
Da mesma forma que Ofun Meji, exige sempre em seus sacrifícios, dezesseis unidades de cada objeto ou animal a ser oferecido.
Foi Oshe Meji quem ensinou aos homens o hábito de grelhar os alimentos. Criou as arvores, as presas dos elefantes e a galinha d’Angola.
Apesar de ser um signo de péssimo augúrios, é por vezes portador de riquezas e longevidade.
Seu nome não deve ser pronunciado jamais em conjunto com o de Irete Meji, dado a grande carga de negatividade de que ambos são portadores.
Prenuncia a diminuição das energias físicas o que predispõe o organismo, enfraquecido e sem defesas, e qualquer tipo de doença, principalmente aquelas que se situam na cavidade abdominal.
Fala muito de perdas de todos os tipos e em todos os setores da vida, através deste Odu, Oshun costuma comunicar-se para avisar que o consulente é seu filho. Ao contrário do que muitos afirmam, as pessoas que possuem este Odu não tem cargo para cuidar dos Orishas de outras pessoas, devendo restringir-se a cuidarem somente de seus Orishas
Os filhos deste Odu são pessoas de comportamento instável, variando segundo a situação que se configura no momento. Costumam ser pródigos e dispersivos o que os leva a envolver-se constantemente em problemas relacionados a dinheiro. São engenhosos e possuem iniciativa própria, adaptam-se com muita facilidade as mais diversas situações. Diplomatas e hábeis, estão sempre prontos a colaborar com o próximo, mostrando neste aspecto, total desinteresse. É um Odu de prenúncios quase sempre negativos, anunciando maus tempos e dissolução.

SAUDAÇÃO DE OSHE MEJI:

Em Nagô: Oshe muluku olotoba ogbo
Ashe muluku, muluku dafun.
Undere ebó, iba ogbo,
Iba omo, iba Iyalode odidé.

Em Fon: Mi kan She Meji,
Ku kplakpla,
Azõ akplaakpla,
Emi gbe bi!.

Tradução :
(Saudemos Oshe Meji, para que nos defenda da morte súbita e de qualquer tipo de doença repentina!).

OSHE MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Oshe Meji pode indicar, principalmente: Recuperação de coisas perdidas; enriquecimento súbito; cura de uma doença; capacidade e engenhosidade; intuição que deve ser seguida; boa inspiração.

OSHE MEJI EM OSOGBO:

Em Oshogbo, este Odu pode indicar: perda de todos os tipos; desperdícios; evasão de energias físicas; falsidade; cirurgias e doenças (principalmente na barriga); morte ocasionada por doenças; traição e pranto.

Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Sakpata, Lisa, Xevioso, Gu e Toxosu.
Orisha (Nagô): Oshun, Obatala, Omolu, Logunede, Iyemonja, Shangô e Aje.

INTERDIÇÕES DE OSHE MEJI:

Oshe Meji proíbe aos seus filhos: Transportar feixes de lenha sobre a cabeça, tocar em madeira apodrecida, usar roupas confeccionadas com tecidos de três cores ou mais, comer farinha de acaça torrada, inhame assado, galinha d’Angola, perdizes, galo, obi de mais de dois gomos (só é permitido o obi de dois gomos ou banja, que por sua dureza não pode ser aberto com as mãos. Também devem ser observadas todas as interdições de Sakpata.

SENTENÇAS DE OSHE MEJI:

(1) O inhame grelhado diz ao homem, além do rio Ajagbe (*): “Se pretendes me comer, deves apressar-se, senão, o que abre a boca aos teus pés, (**) te impedirá de comer.”
(se o consulente quiser ser bem sucedido, deve apressar-se na realização de seus planos).
(*) Rio legendário que representa a morte.
(**) A morte.
(2) O crânio velho de um homem diz ao crânio jovem de outro um homem: “Eu já estou completamente seco, se alguém me golpear não correrá nenhum sangue, mas se te racharem, correrá algum sangue”.
(O consulente deve oferecer um sacrifico para livrar-se de um acidente que o ameaça).
(3) Oshe! Tudo que fiz, os cânticos que cantei, os sacrifícios que ofereci, não bastaram. Se tu me vês, tu vês a morte.
(O consulente encontrou o dispensador do mal e da morte. Deve fazer sem demora, os “adra” (*) do signo).
(*) Sacrifícios expiatórios.
(4) Azagada (*) grilhou o inhame para o visitante e o convidou para comer. Aviti (**) chegou!
(Era costume oferecer inhame assado aos condenados a morte. O sentido interpretativo é o mesmo da sentença anterior).
(*) A morte.
(**) A morte.
(5) Se o pote que contém o medicamento estiver por perto, a doença não será muito grande.
(O consulente ameaçado por uma doença, deve oferecer os sacrifícios que lhes forem prescritos).
(6) O inhame não se parte quando é retirado da terra, mas será partido quando for retirado das cinzas.
(O consulente esta temeroso dos perigos que o ameaçam antes da cerimônia do Fazun (*). Sua introdução no Ifá não poderá matá-lo se fizer os sacrifícios apropriados).
(*) Cerimônia de iniciação de um neófito ao culto de Ifá.
(7) Não é por possuir muitas folhas que o arvoredo deve se considerar um rei. O excesso de folhas atrai a atenção do lenhador.
(O consulente deve agir com mais discrição para não se prejudicar de alguma forma).

ITAN DE OSHE MEJI

(1) Owo, filho de Obatala, querendo provar o seu poder, resolveu aprisionar Ikú, que era por todos temido e respeitado.
Resolvido a cumprir sua determinação, deitou-se no chão de uma encruzilhada e ficou observando o que diziam as pessoas que o viam ali.
Foi desta forma que ouviu de um ancião do lugar, a seguinte pergunta: “O que faz este homem assim estendido, com a cabeça para a casa da morte, os pés para o lado da doença e os lados do corpo para o lugar da desavença?”.
Ouvindo estas palavras, Owo levantou-se e afirmou vitorioso: “Já sei tudo o que precisava saber”. E em seguida encaminhou-se para a fazenda de Ikú.
Lá chegando, entrou sorrateiramente e pôs-se a tocar o ilu que a Morte fazia soar sempre que saia para buscar alguém.
Ao ouvir o som do tambor, Ikú saiu indignado com a intenção de punir o atrevido que ousava tocar seu instrumento ritualistico e na pressa, não viu a rede que Owo havia estendido no caminho, embaraçando-se e sendo facilmente capturado.
Com a ajuda de uma corda, Owo amarrou Ikú bem amarrado e levou-o em seguida a presença de seu Pai, dizendo-lhe que, conforme havia prometido, estava trazendo a sua presença Ikú como prisioneiro. Assustado com tal atitude, Obatala sentenciou: “Vá embora de minha presença e leva contigo tudo o que, de bom e de mal possa existir na face da Terra, inclusive a própria Morte. Parte agora pois te é dado o poder de conquistar tudo o que de material existir no universo”.
Foi a partir deste dia que Owo e Iku passaram a caminhar lado a lado, o primeiro ensejando sempre o surgimento do segundo.
Ebó: um preá, um peixe assado, ebô, dezesseis acaças, dezesseis bolos de arroz. Sacrifica-se o preá a Eshú, arruma-se o peixe e os dezesseis acaças num alguidar a parte e despacha-se numa encruzilhada de rua.
Este ebó é indicado para pessoas envolvidas em disputas ou problemas de dinheiro de origem ilegal.
(2) Shangô e Efon entraram em atrito pelo amor de uma mulher muito bela, filha de Apako.
Por determinação da mulher, os pretendentes deveriam combater entre si e no fim de dezesseis dias, ela resolveria qual dos dois seria considerado vencedor, conquistando assim o direito de desposá-la. Efon armou-se de um poderoso par de chifres e dirigindo-se ao campo de luta, atacou furiosamente a Shangô que surpreso, bateu em retirada, indo refugiar-se, com a ajuda de uma corda, em sua morada no Orun.
Naquele tempo, Shangô era ainda muito jovem e inexperiente, mas aconselhado por Elegbara, consultou Orunmila para saber de que forma poderia vencer a disputa pela mulher amada. Na consulta surgiu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício com dezesseis pedrinhas, dezesseis kobo (*), um par de chifres de búfalo, dois galos e dois pombos, além de tudo o que se oferece normalmente a Eshú.
Enquanto isso, os adversários de Shangô espalhava na Terra, o boato de que ele era um grande covarde, que havia fugido de Efon sem opor a menor resistência.
Shangô, com a ajuda de alguns amigos tratou logo de oferecer o sacrifício e imediatamente depois começou a trovejar.
No meio da tempestade, surgiu Shangô e a cada brado que emitia, numeroso raios saiam de sua boca numa demonstração de seu poder incontestável.
Diante de tão assustadora visão, Efon depôs suas armas e curvando-se, submeteu-se ao poder do Orisha, suplicando piedade.
Shangô perdoou-o e fez com que todos reconhecessem, a partir de então que o seu poder estava no Orun.
E o vencedor levou consigo a bela mulher, objetivo de toda a disputa.
(*) moeda Nigeriana que corresponde a uma décima parte da Naira. No Brasil, o Kobo pode ser substituído nos ebó, pelo vintém.
Ebó: Dezesseis pedras-de-fogo (pequenas), dezesseis vinténs, dois galos, dois pombos, dendê, mel, osun e aguardente. Sacrifica-se um galo a Eshú, no igba, com ritual normal. O outro galo é oferecido a Shangô e colocado num alguidar com as pedras e as moedas. O eje corre também sobre os chifres que, depois de despachado o ebó, deve permanecer aos pés de Shangô. Os pombos tem seus bicos, pés e pontas das asas tingidos com osun e em seguida são libertados. Todo o sacrifício, tanto o destinado a Eshú quanto o destinado a Shangô, é recoberto com muito pó de osun.
(3) Sentar sem se encostar, é como permanecer de pé. Este era o nome do advinho que interpretou Ifa, junto ao poste central de uma casa de conferências em Ibadan.
O mesmo advinho interpretava Ifa também para os habitantes de Olowu.
Os reis de Ibadan e de Olowu mantinham entre si, um relacionamento de sincera amizade. O rei de Oluwu era casado com Nde, filha do rei de Ibadan.
Certo dia, o rei de Olowo partiu em missão de guerra para o pais do Gboho. No caminho, teve sua passagem e de suas tropas impedidas por um rio muito caudaloso. Pediu ao rio que lhe desse passagem, prometendo pra isso, oferecer-lhe um belo presente quando voltasse vitorioso da batalha.
O rio cedeu passagem e o rei prosseguiu viagem em busca de seu destino.
Algum tempo depois o rei retornou vitorioso, trazendo muitos cativos, muito gado e toda a riqueza capturada no pais de Gboho. Ao chegar diante do rio, resolveu pagar o prometido oferecendo-lhe dezesseis carneiros, dezesseis cabritos, dezesseis bois, dezesseis homens e dezesseis mulheres, que foram lançados às águas revoltas. O rio, para surpresa de todos, não aceitou nada do sacrifício oferecido, devolvendo intactos, cada carneiro, cada cabrito, cada boi, cada homem e cada mulher. O rei, assustado com o ocorrido, procurou o advinho para saber por que razão Odo não aceitara sua oferenda. Na consulta surgiu Oshe Meji que informou que o rio queria Nde como sacrifício e nada poderia substitui-la.
Apavorado, o pobre monarca lembrou-se que ao assumir compromisso com o rio, havia dito em idioma Fon: “Nu dagbe n’de”, (eu te darei belas coisas), e o rio teria interpretado como “Nu dagbe Nde” (eu te darei Nde - nome de sua esposa). Nde era o nome de sua esposa... o rei não pagara o prometido!
A partir deste dia a terra começou a secar, as mulheres não tinham filhos, as fêmeas não davam crias.
Preocupado, o rei voltou a presença do Bokono para saber o motivo de tanta miséria. Após a consulta o advinho disse: “Tu não entregastes ao rio o que lhe prometeste. Tu deixastes que o rio ouvisse o nome de Nde. Tu não lhe falastes de escravos e animais... para acabar com esta maldição terás que lançar tua mulher ao rio”.
Obrigado a cumprir sua promessa, o rei mandou lançar ao rio sua mulher que estava grávida. No dia seguinte Nde deu a luz, dentro das águas do rio, a um menino e o rio falou: “Ele não me prometeu nenhuma criança, foi só Nde o que me foi prometido!” e devolveu a criança que não lhe pertencia.
O rei de Ibadan tomou conhecimento do acontecido e mandou dizer ao rei de Olowu que não havia dado sua filha para que fosse lançada as águas de um rio, mas para que fosse transformada em sua esposa, respeitada e amada como tal.
Este fato gerou uma guerra entre os dois reis, que teve a duração de trinta anos, terminando com a vitória de Ibadan e a total destruição do pais de Olowu.
(4) Uma jovem muito pobre, conhecida pelo nome de Iyalode, era muito astuta e ambiciosa, o que a tornava perigosa.
Pretendendo melhorar sua situação, Iyalode foi consultar Ifá, na esperança de receber as orientações necessárias. No decorrer da consulta, surgiu o Odu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício que Iyalode tratou logo de oferecer.
No dia seguinte, quando passava pela porta do palácio do rei Oba Nla, a jovem foi acometida de uma fúria inexplicável e pôs-se, em altos brandos, a culpar o rei pela situação de miséria em que vivia.
“O rei é um perverso insensível.” gritava a jovem, “tem o que deseja e por isso não se incomoda com a miséria de seus súditos!”. As pessoas que passavam, ao ouvirem as acusações feitas pela jovem, tomaram partidos diferentes, alguns achando que ela estava coberta de razão, enquanto outros defendiam Oba Nla, por conhecerem sua bondade e senso de justiça.
Ao ser informado do que estava ocorrendo, o rei ordenou que a moça fosse imediatamente conduzida a sua presença, para um entendimento pessoal.
Frente a frente com o rei, Iyalode relatou suas desditas, chorou suas magoas e falou de seus sonhos de jovem. Impressionado com a coragem da moça e com a sinceridade que marcava o seu caráter, Oba Nla, mandou que lhe fosse dado um aposento no palácio, onde a partir de então, a jovem passou a residir cercada de todo o luxo e conforto que sempre desejou desfrutar, ficando desde então, encarregada de todo o ouro que pertence a Oba Nla.
Ebó: Adie Meji, eiyele Meji, eku, eja assado, oyin, epo pupa, oti, etc... Sacrifica-se um adie, um eiyele e o eku para Elegbara no igba, de acordo com o rito. A outra adie e o eja são oferecidos a Oshun e cobertos com muito mel e pó de efun. O segundo eiyele é solto depois de pintado com efun.
Este ebó é indicado para pessoas que tenha necessidade de resolver problemas que envolvam grandes somas em dinheiro e que dependam de algum tipo de decisão de outrem, como no caso de heranças, indenizações, etc...

OUTROS EBÓ DE OSHE MEJI EM OSOGBO:

(1) Para limpeza de casa: Água de cachoeira, mel de abelhas e clara de cinco ovos, mistura-se tudo e passa-se, durante cinco dias um pano molhado com a mistura por toda a casa.
(2) Para agradar Oshun e obter seu perdão: uma galinha, um peixe fresco, cinco cabacinhas, cinco idezinhos dourados, cinco moedas e uma pena de ekodide. Numa travessa de louça, arruma-se o peixe limpo e assado com as cabacinhas, as moedas e os idezinhos em volta. O peixe deve ficar com o dorso para cima. Sacrifica-se a galinha deixando o sangue correr em cima da travessa com o peixe e os demais ingredientes, enfeita-se com as penas da galinha de forma que fique tudo bem coberto. o ekodide é colocado de pé, na cabeça do peixe. A galinha ter que ser consumida pelas pessoas da casa e seus pés, asas, leri e rabo são arrumados num alguidar, regados com dendê, mel, e oti e despachados imediatamente, numa encruzilhada de rua.
O peixe é arriado aos pés de Oshun e permanece diante do igba de um dia para o outro, depois do que é levado para um rio ou uma cachoeira. Durante o sacrifício da galinha não se canta nada nem se reza nenhum oriki. Os pedidos são feitos somente na hora de arriar a travessa diante de Oshun.

EBÓ DE OSHE MEJI EM IRE:

(1) Grão-de-bico, camarão seco, cebola, um peixe fresco, ori da costa, mel de abelhas. Refoga-se a cebola e o camarão em banha de ori da Costa, ferve-se ligeiramente o grão-de-bico e sem que fique muito mole, junta-se ao camarão refogado, mexe-se bem deixando dourar em fogo brando. Coloca-se tudo numa travessa de barro, coloca-se o peixe (cru) por cima, rega-se com muito mel de abelhas e entrega-se a Oshun para garantir qualquer tipo de Ire prenunciado por este Odu.
(2) Um prato branco, cinco laranjas doces, milho torrado, ori da Costa, gordura de coco, peixe defumado, aguardente, mel de abelhas. Com uma faca bem afiada, corta-se as laranjas no sentido horizontal, sem no entanto separar as duas metades. No meio de cada laranja coloca-se um grão de pimenta da costa, um pouquinho de aguardente, mel de abelhas e sobre elas, um conezinho de ori misturado com a gordura de coco, um pedacinho bem pequeno de peixe defumado e um grão de milho torrado, de forma que fiquem presos ao cone de ori(como se fosse um oshú sobre as laranjas). Arruma-se tudo no prato branco e deixa-se diante da sopeira de Oshun durante cinco dias, findo os quais despacha num rio de águas limpas. Durante cada um dos cinco dias, pela manhã, acende-se uma vela diante do prato e pede-se o que se quer obter.


SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OBARA MEJI.

Obara Meji é o 6º Odu no jogo de búzios e o 7º na ordem de chegada do sistema de Ifa, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 6 (seis) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Abla Meji”. Os Nagô o chamam também de Obala Meji. Para o termo encontramos duas etimologias. Certa corcubitácia existente nas regiões Oeste e Centro-Ooeste da África, produz uma fruta grande, cujas sementes são comestíveis e muito apreciadas pelos nativos. Estas frutas, denominadas “bara”, não podem no entanto ser cortadas ao meio para retirada das sementes, devendo para isto, ser arrebentadas com golpes de pau ou pedra. A proibição de se cortar a fruta (bara) em duas partes (meji), objetiva evitar a coincidência de nome com o sétimo signo de Ifa.
Por outro lado, Oba Meji significa em Yoruba, “dois reis”, o sétimo signo por origem, o rei dos ventos, através do qual, costuma comunicar-se com muita freqüência e o Criador lhe deu muitas atribuições e honrarias, sendo o encarregado de representar os próprios reis. É o símbolo representativo do rei dos Hausa ( Zowgo-Xosu).
Sua representação indicial em Ifá é: * *
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* * * *
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que corresponde na Geomancia Européia a figura denominada “Laetitia”.
Obara Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Terra, com predominância do primeiro, o que indica a evolução através da experiência adquirida na busca do objetivo pretendido.
Corresponde ao ponto cardeal Sul-Sudeste, a carta no. 4 do Tarot (O Imperador) e seu valor numérico é o 8.
Suas cores são o azul e o violeta. É um Odu masculino, representado esotericamente por uma corda, em referencia ao poder que possui de tudo levantar. Exprime a força, o poder e a possibilidade de realização humana.
Obara Meji, criou o ar e por extensão os ventos. Dele depende a existência dos bosques cheios de ramagens, das forquilhas e de todo tipo de bifurcações.
Neste odu nasceram as riquezas, o costume de usar jóias, os mestres e o ensino. Aqui surgiu o adultério e neste Odu o ser humano aprendeu a mentir e a ser enganoso.
Prenuncia expansão física e moral, regularização, alegria, ambição, questões relacionadas a dinheiro, processos em andamento, solução de problemas de ordem financeira.
Os filhos deste Odu são pessoas alegres e festivas, carregadas de religiosidade e que gostam de observar e manter tradições. Um tanto quanto atraídas pela mentira, criam situações fantasiosas, nas quais acabam acreditando, como se fossem a mais pura verdade. Gostam de se envolver em problemas que não lhes dizem respeito, o que quase sempre acaba por deixa-los em situações delicadas. Devem cuidar-se muito bem, pois tem uma tendência muito forte pelas ações fantasiosas, o que pode deixar completamente loucas. Bem dispostas e alegres, são geralmente pessoas saudáveis e que se recuperam com facilidade de qualquer doença, usando para isto, recursos buscados em si mesmo.
É um odu de prenúncios quase sempre positivos, muito embora seu aspecto negativo seja terrível e traga fatalidades como loucura, miséria total, traição e calunia.

SAUDAÇÕES DE OBARA MEJI

Em Nagô: Aka emon a l’owo dudu gbe toko
Bori shia-shia botoko bo bi ko ri.
Unkã ja n wen abafe:
A difa fun Liokpo mu pi o lo oko
Ajamo de tan, oloun kpo liokpo nunje.

Tradução: Quando não está comendo, sente-se infeliz.
Ifá ordenou que Liokpo defenda a fazenda.
Até aquelas que Liokpo não pode enganar.

Em Fon: Mi kan Obara Meji
Afafa we nõ kõ dehawã!.

Tradução: Saudemos Obara Meji. Ele é o abano que faz secar o nosso suor!

(A saudação evoca a idéia de alivio. Da mesma forma que um abono refresca um corpo suado e cheio de calor. Obara Meji tem o poder de trazer alivio pra os problemas que nos estejam afligindo).

OBARA MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Obara Meji pode indicar, principalmente: Aquisição de bens materiais de um modo geral, fim de um obstáculo que deve ser o último, expansão física e moral, ausência de enfermidades, evolução no sentido ascendente.

OBARA MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este odu pode indicar: Deslealdade, imoralidade, orgulho nocivo, injustiças, libertinagem, adultério, maldade, filho adulterino, guerra em família de Santo.
Quando em Osogbo Arun, pode estar indicando uma das seguintes doenças: infecções do sangue, problemas circulatórios, atrofias musculares, apoplexia, desnutrição, problemas respiratórios, mania de grandeza, loucura.


Neste odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Dã, Lisa, Hoho e Tovodun.
Orisha (Nagô): Shangô, Iyansã, Iyemanja, Oba, Ewa e Ipori.

INTERDIÇÕES DE OBARA MEJI:

Obara Meji proíbe aos seus filhos: Comer peixe defumado, bolos de acaça que tenham sido enrolados em folhas de bananeiras, farinha de milho, carne de tartaruga, de cobra, de crocodilo, de antílopes, de macaco, de galo, de elefante, de hiena. São proibidos também, de usarem roupas tecidas com uma espécie de rafia denominada “devo”, de ajudarem a outras pessoas a levantar qualquer coisa do chão, para colocar sobre os ombros ou a cabeça, de relatar fatos que tenha assistido e que não lhe digam respeito.

SENTENÇAS DE OBARA MEJI:

(1) O porco-espinho espetou a fêmea do leopardo e o leopardo não pode fazer nada contra ele.
(se o consulente sofreu algum dano causado por alguém mais poderoso que ele, é melhor deixar como está, pois qualquer atitude que venha a tomar, só agravará a situação de forma desfavorável para ele).
(2) O bem estar que encontramos na água fresca, e o peixe Xwa que vem buscar fora dela para nela depositar.
(a casa do consulente é pobre, mas tornará rica pelo seu esforço e merecimento. Se o consulente for rico, deverá oferecer sacrifícios para que a fortuna não o abandone).
(3) Sem a lama estar misturada a água do rio, o peixe Zoken, que tem os olhos claros, verá o que se passa no fundo.
(O consulente descobrirá coisas que se passam em sua casa e que lhe são ocultas.)
(4) A mulher que come de duas mãos, acabará encontrando a morte... (*)
(se a mulher do consulente estiver enganando-o, morrerá praticando adultério.)
(*) E du alo we, e du bla - (ela come de duas mãos) - Diz-se da mulher adultera.


ITAN DE OBARA MEJI

(1) Ifá e o Male (Muçulmano) eram amigos. Um dia Male disse a Ifá: “Vou procurar uma mulher gravida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza.
Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com seus planos.
Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male. O Mulçumano ficou muito contente e logo pôs-se a pensar: “Como poderei evitar que olhos masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposa-la!” Depois de muito pensar, decidiu construir um casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.
Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.
Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a sozinha. Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina.
Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.
Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: “Como é que pode? O mulçumano contratou uma mulher gravida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer pessoa do sexo masculino! Nem mesmo Metolõfi, o rei de nosso pais, viu a criança. Mas eu vou tentar vê-la!”
Munindo-se de seus instrumentos divinatórios, fez a consulta, surgindo Obara Meji, que lhe recomendou que tomasse uma caixa, acaça, um galo, azeite de dendê e fizesse uma oferenda a Legba. Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a chave.
Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o: “Salamaleikun!” E o muçulmano respondeu: “Alakumasala!” Ifá disse então: “kalafi!” Male respondeu: “Laafia!” Ifá, entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la. “Como não?” disse o Marabú. “Não somos amigos? Quando partirás?” - “Dentro de três dias e só voltarei daqui a três meses”.
No terceiro dia pela manhã, Legba disfarçado na esposa preferida de Ifa, foi a casa de Male e disse: “meu marido encarregou-me de procura-lo para entregar-lhe a caixa que se encontra embrulhada nestes panos. Ele virá busca-la dentro de três meses, quando regressará da viagem.
Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carrega-la. Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao faze-lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.
Ifa, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.
“Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça.
Ifa então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido.
Ifá só se alimentava de obi. Na hora da refeição, vendo-o comer somente nozes de kola, a moça perguntou por que não se alimentava das mesmas coisas que ela? e Ifa respondeu: “Eu como feijão sem pimenta, carne defumada, peixe defumado, tudo temperado com lelekun. A jovem ordenou então as servas que não mais pusessem pimenta na comida. Os alimentos passaram desde então a ser preparados com lelekun, Ifa revelou então, que não come cabrito da forma simples que todo mundo prepara e que também não se lava como as outras pessoas.
Finalmente, a jovem ficou gravida e Male de nada desconfiou. Como estivesse próximo de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça: “se o muçulmano lhe indagar sobre sua barriga, não fale nunca no meu nome.
Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos panos, da mesma forma que viera.
Legba, novamente disfarçado na mulher de Ifa, apresentou-se ao Male dizendo: “meu marido chegou de viagem e pediu viesse buscar sua caixa, Assim que se sinta descansado, virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.
Depois de seis meses, o muçulmano resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifa, entrou no quarto e encontrou a moça com uma enorme barriga... Quase sufocado exigiu explicações. “Eu pensava que todas as barrigas deveriam crescer como a minha... não sei como são as coisas do lado de fora desta porta!”
Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do parto, já que havia uma gravidez.
O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai pronunciado por sua própria mãe.
O Marabu não conseguia entender o que se passava. A mulher gemia e contorcia-se em dores. A criança teimava em não nascer. Foi então que resolveu pedir os conselhos de seu amigo Ifa.
Ifa consulta e surge novamente Obara Meji, exigindo que uma perna de antílope seja sacrificada. O pernil é cortado em sete partes que depois de cozidos, são entregues, uma a Mawu, uma a Metolõfi, uma a Mingã e é Ifá o encarregado de fazer estas oferendas. O quarto pedaço, é oferecido a esposa preferida do Male, o quinto, a esposa preferida de Ifa, o sexto ao Bokono e o último a parturiente, levado pelas mãos de Ifa.
Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta carme? - “É Ifa quem te oferece!”- “ Ifa? Que Ifa?” - “O que disse?” Perguntou Ifa. - “Ifa!” - “O que?” - “Ifa! Eu falei Ifa! Foi Ifa que me deu esta carne!”
Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai, resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifa.
Male ficou desconfiado com tudo o que acabara de assistir e aborrecido, levou o problema ao conhecimento do rei Metolõfi que, achando tudo muito natural, aconselhou o muçulmano a deixar de desconfiar do amigo.
Um belo dia, Ifa convocou todas as pessoas, inclusive Male e disse a todo o mundo: “Hoje lhes farei uma revelação. A mulher do muçulmano, que recentemente deu a luz uma criancinha... “e revelou todo o segredo que envolvia aquele nascimento. Depois concluiu “Qualquer mulher, mesmo se a prenderem dentro de quarenta caixas, encontrará um dia, um homem. E um ser no qual não se deve confiar e ao qual não se dever revelar segredos. As mulheres são pouco mais que os animais!”
Ebó: modela-se um voko (*) de argila semelhante ao homem. O voko é colocado dentro de uma caixa com cabelos e aparas de unhas da mulher. Embrulha-se tudo, em panos coloridos e entrega-se a Loko (**). A Elegbara, sacrifica-se um galo, que é entregue com muitos acaças e epo pupa.
Este ebó é para evitar traição e aborrecimento por parte de mulheres que tem tendência a pratica do adultério.
(*) imagem, estatueta.
(**) Vodun Jeje, que corresponde ao Iroko dos nagô.
(2) Naquele tempo, as aves foram consultar Ifá, para saberem de que forma poderiam se livrar das armadilhas que lhes faziam os homens e nas quais, invariavelmente acabavam caindo. Na consulta, surgiu Obara Meji, determinando que fosse feito um sacrifício que iria livra-las de tal perigo.
As aves, com exceção da pomba-rola, negligenciaram a recomendação e por este motivo, continuaram a cair nas armadilhas que os homens lhes preparavam.
Certo dia, os caçadores organizaram uma grande festa e para obterem alimento para o evento, prepararam uma grande armadilha, próximo a fonte onde as aves constumavam beber água, impregnando de visgo todos os galhos das arvores vizinhas. Como resultado, todas as aves foram capturadas, com exceção da pomba-rola que fora anteriormente orientada por Elegba, para que não se aproximasse da fonte naquele dia e que fosse beber água em outro local bem distante.
Desta forma, por ter seguido a orientação de Ifa e oferecido o sacrifício indicado, a pomba-rola livrou-se de ser transformada em alimento para os caçadores.
Ebó: Uma forquilha de qualquer madeira, um eku, um peixe assado, mel, dendê, oti, farinha de mandioca. Prepara-se um pade de mel e dendê. arruma-se num alguidar com o peixe assado por cima. O ekú é sacrificado no igba de Eshú e depois de limpo, é ligeiramente tostado num braseiro. Despacha-se tudo numa bifurcação de rua ou estrada.
Este ebó, é pra defender o cliente de traições e falsidades que estejam perturbando o andamento de sua vida.
(3) O Guarda-Chuvas e a Bandeira, surgiram no mundo simultaneamente. Os dois ao chegarem, foram consultar Ifa, para saberem se seriam honrados em suas vidas. Na consulta, surgiu Obara Meji e Ifa ordenou um sacrifício, que somente Bandeira se dignou a fazer.
Para justificar sua negligência, Guarda-Chuvas dizia: “Por que razão tenho que oferecer sacrifício, se sei muito bem que minha posição neste mundo será a de permanecer constantemente, acima das cabeças dos homens, até dos mais poderosos reis?”
Um dia, estourou uma guerra e os dois foram levados, junto com seus donos, para o campo de batalha. Guarda-Chuvas, aberto sobre a cabeça do rei, enquanto Bandeira, seguia na frente, conduzida por um simples escravo.
Por arte de Elegbara, a batalha foi desfavorável ao nosso rei, que para salvar a própria vida, teve que refugiar-se numa floresta de arvores baixas e repletas de ramificações. No decorrer da fuga, dentro da floresta, bastava baixar a Bandeira, para que ela passasse incólume entre os galhos, enquanto que Guarda-Chuvas, atingido por ramos incontáveis, terminou todo rasgado, tornando-se completamente inútil. Quando chegaram do outro lado da floresta, o rei vendo o estado deplorável em que se encontrava Guarda-Chuvas, jogou-o fora, pois não mais servia para protege-lo da chuva ou do Sol.
Depois disto, Guarda-Chuvas passou a ser um instrumento utilizado somente quando há conveniência para tal, ao passo que Bandeira é usada permanentemente, podendo ser encontrada no meio das praças, nas torres dos palácios, nos templos de todas as religiões e sempre que um rei parte para uma guerra, ela segue a sua frente. Todas as nações do mundo são por ela simbolizadas e os homens prestam-lhe juramento de fidelidade e muita honrarias.
Este itan determina que o consulente, por sua vaidade e auto valorização excessiva, encontra-se em perigo eminente de sofrer uma grande derrota.
Ebó: Uma corda, muitos ramos de diferentes arvoredos, moedas, um peixe fresco e uma bandeirinha de tecido azul claro. Passa-se tudo no corpo do cliente, arruma-se num alguidar e coloca-se a bandeira estendida por cima. Despacha-se em mata fechada.
Prece do ebó: (para ser dita na hora em que se despacha dentro da mata:.
Hwelexo no zõ kike yi zun an, ku don bo, Azon don bo!

Tradução: O Guarda-Chuvas não pode entrar aberto dentro da mata, que a morte se afaste, que a doença se afaste!

(4) Foi para roubar nos campos de Ifá, que os muçulmanos vieram à Terra.
Ifá possuía campos imenso, de onde retirava abundantes colheitas.
Certo dia, descobriu que muitos ladrões andavam “visitando” suas terras e praticando grandes roubos, que causavam enormes prejuízos. Procurou imediatamente os conselhos de Elegbara, sobre uma maneira de prender os larápios.
Dirigindo-se aos campos na companhia de Ifá, Legba esticou uma corda que do solo, alcançava o céu.
Pouco depois, inúmeros seres começaram a descer pela corda e sem que Legba tomasse qualquer atitude, puseram-se a roubar tudo o que podiam alcançar.
Foi só então que Legba, munido de três pedaços de carvão, que havia recebido de Ifá em pagamento aos seus serviços, produziu uma fogueira, ateando fogo á corda que havia estendido.
Destruída a corda, os ladrões não puderam voltar, tornando-se assim, escravos de Ifá. O desespero entre os prisioneiros foi de tal ordem, que se debatiam desordenadamente, em busca de uma saída e com tal violência, que a maioria deles morreu, sobrando somente treze.
Foram estes treze homens, que propagaram a religião muçulmana e que em sua emoção gritavam: “Salama Ke kun!”, o que em idioma Fon, significa: Ifa rompeu a corda. originando-se daí a saudação islâmica “Salamaleikun”.
Este caminho, indica que o consulente está sendo vítima de roubo e traição, devendo para livrar-se da situação e desmascarar quem quer que o esteja enganando, oferecer o seguinte sacrifício a Eshú.
Ebó: Um cabrito, três pedaços de carvão vegetal, um pedaço de corda virgem, mel, dendê, oti, etc. Sacrifica-se o cabrito a Eshú, dentro do procedimento de praxe, acende-se um braseiro com os três pedaços de carvão e coloca-se a corda sobre as brasas. Pergunta-se no jogo, o caminho em que deve ser despachado.
(5) Certo dia, Olofin convocou a sua presença, todos os Odu que havia colocado no mundo.
Obara consultou Ifa, recebendo a orientação de não partir, sem antes oferecer um sacrifico a Egun.
Obara faz o que lhe foi determinado e além disso, preparou comida para seus irmãos, os quinze outros Odu, que já haviam partido para a audiência com o Criador.
Olofin, dando pela falta de Obara, indagou aos seus irmãos o que era feito dele e ao saber que se atrasara porque estivera cultuando Egun, ficou plenamente satisfeito.
“Nada tenho para oferecer-lhes como presente , senão um inhame para cada um. Quando chegarem em suas casas, preparem cada um, o inhame recebido e comam sozinhos”. Disse Olofin aos Odu.
Sem que ninguém soubesse, Olofin havia introduzido em cada inhame todas as riquezas da vida: dinheiro, filhos, terras, casas, etc...
Quando voltaram para casa, os quinze encontraram Obara que os aguardava, pra oferecer-lhes as comidas que havia preparado para eles.
Satisfeitos com a atenção, os Odu tomaram dos alimentos que lhes eram oferecidos e em sinal de agradecimento, deram a Obara os inhames que lhes havia presenteado Olofin.
No dia seguinte, Ifá pediu a sua mulher que lhe preparasse um dos inhames recebidos. Ao cortar o tubérculo, a mulher sentiu que alguma coisa dura impedia que a faca dividisse-o e depois de muito tentar, pediu auxílio a seu marido.
Ifá, usando de toda a sua força, consegui dividir o inhame em duas partes, foi então que deparou maravilhado, com a riqueza contida no seu interior.
Ansioso, passou a abrir a todos os inhames que havia ganho e desta forma, com tudo o que neles encontrou, tornou-se a pessoa mais rica do país.
Três dias depois por ordem de Olofin, todos os Odu voltaram a se reunir no palácio e qual não foi a surpresa, ao verem Obara aproximando-se, montado num belíssimo cavalo, vestindo trajes riquíssimos, acompanhado de inúmeras esposas e escravos e guardado por muitos soldados, numa ostentação de riqueza sem precedentes.
Diante da surpresa dos quinze Odu, Olofin perguntou-lhes: “Que fizeram dos inhames que lhes dei?”
“Nós os demos a Obara, já que nenhum de nós gosta de inhame!”
“Ignorantes! Obara, que já era rei, tornou-se muito mais rico e poderoso com o que eu coloquei dentro dos inhames! Ele será agora, “oba di Meji”” (ele é duas vezes rei). Sua realeza é dupla.
Cânticos do itan: Obara gba i dudu!
G’uu ......!
Obara gba i funfun!
G’uu......!
Tradução: Obara possui o que é negro! (a noite).
G’uu......!
Obara possui o que é branco! (o dia).
G’uu......!

Ebó: Uma cabra, duas galinhas, dezesseis cabaças médias, moedas em quantidades, dezesseis obi, dezesseis orogbo, mel, dendê, velas. Sacrificam-se a cabra e as galinhas a Elegbara, abre-se as cabaças e coloca-se dentro de cada uma, um punhado de moedas, um obi, um orogbo e rega-se tudo com muito mel e dendê. Despacha-se numa estrada. No momento em que se oferece o sacrifico, faz-se a reza (cântico do itan, que deve ser repetida três vezes).
Este trabalho é indicado para pessoas que almejem conquistar alguma coisa importante, que esteja relacionada a dinheiro, como promoções, nomeações, empregos, assossiações, aumentos, casamento por interesse. etc.

EBÓ DE OBARA MEJI EM OSOGBO:
(1) Para Osogbo Arun: um pedaço de corda do tamanho da pessoa, um eku, um peixe assado, moedas correntes e uma juriti. Arruma-se o ejá num alguidar ou travessa de barro, com a corda ao redor, espalha-se as moedas por cima, sacrifica-se o eku a Elegbara, em seu igba, passa-se a juriti na pessoa e solta-se com vida.
(2) Velas, abanos de palha, forquilhas de madeira, quiabos, bolos de inhame, bolos de arroz, acaças, (tudo em numero de seis). Passa-se tudo no cliente e vai-se arrumando dentro do alguidar, quando tudo estivar arrumado, “puxa-se” um pombo em cima, deixando que o eje escorra sobre o ebó, arruma-se o pombo em cima de tudo e rega-se com mel, dendê e oti. Leva-se tudo para um lugar bem alto e prossegue-se o trabalho da seguinte forma: Arreia-se o ebó na sombra de uma arvore frondosa, faz-se a saudação do Odu Obara Meji (nagô ou Fon), passa-se pó de efun sobre o ebó. (o pó de efun que é espalhado, foi anteriormente colocado num prato de louça e sobre ele foi traçado a configuração de Obara Meji).


SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
ODI MEJI

Odi Meji é o 7º Odu no jogo de búzios e o 4º na ordem de chegada do sistema de Ifa, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 7 (sete) búzios abertos.
Em Ifa, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Di Meji”.
A palavra Yoruba é “edi” ou “idi”, que significa “nádegas”. Odi Meji significa portanto, “duas nádegas”.
Sua representação indicial em Ifá é : * *
* * * *
* * * *
* *
que corresponde, na Geomancía Européia a figura denominada “Cárcere”.
Odi Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Água, com predominância do primeiro, o que indica a renovação dos obstáculos. Representa uma porta fechada, um círculo mágico, um tabú, limitação, obstrução, aprisionamento. Corresponde ao ponto cardeal Norte, á carta no. 12 do Tarot (O Enforcado) e se valor numérico é o 7.
Suas cores são o negro ou a mistura de quaisquer outras cores.
É um Odu feminino, representado esotericamente por um circulo dividido ao meio por uma linha vertical, significando duas nádegas, os ainda, os órgãos sexuais femininos, que provem de Osa Meji. A palavra nádega, no caso, não passa de um eufemismo que pretende somente designar a fealdade e as impurezas do órgão sexual feminino. É inconveniente, no entanto, fixar-se esta opinião como definitiva, principalmente quando o aparecimento deste signo se relacionar a um Orisha, como Orunmila ou quando surgir em resposta a consulta de uma pessoa muito idosa ou de posição respeitável.
Odi Meji, representa a mulher (em Fon ñõnu), palavra cuja etimologia costuma ser explicada por sua tradução literal: ñõ-nu= coisa boa / a mulher = coisa boa). Algumas correntes dão ao termo outra interpretação: - “ñõ nu, bo nu kpo nu me de”, (um homem depois de morto, não pode querer ocupar uma mulher).
Dizem ser este signo que incita o ser humano a copular. E por estas razões que encontramos uma estreita correspondência entre Odi Meji e as Kannesi, a impureza das mulheres, proporciona-lhe uma tendência natural a pratica da feitiçaria.
Odi Meji corresponde a Vovolive, o Norte. Sob este signo apareceram na Terra as mulheres, os rios cujas margens tem a aparência de lábios, as nádegas e o costume de sentarmos sobre elas. Este signo ensinou aos homens o uso de deitarem-se indiferentemente virados para a direita ou para a esquerda.
Odi Meji ocupa-se dos partos efetuados com a parturiente de cócoras e preside ainda ao nascimento de gêmeos e de todas as espécies de macacos considerados gêmeos que são: zin-wo, klã, oxa, zinblawawe, toklã, etc.
As pessoas nascidas sob este signo são perseverantes, duras e inflexíveis. A busca constante de auxilio para seus problemas, em nada muda a atitude das pessoas em relação a elas.
Não crêem em nada nem em ninguém, mas podem facilmente ser levadas por superstições tolas que nem sempre são aceitas pelos demais.
Dotados de muita inteligência e excelente memória, assimilam com facilidade tudo o que se proponham a aprender, negando-se entretanto, a transmitir seus conhecimentos, preferindo antes, usá-los como instrumento de manipulação de tantos quantos deles dependerem.
No amor, são desconfiados, mas muito zelosos do objetivo de seus sentimentos.
Adoram viver isolados e suas ações contribuem efetivamente para que isto ocorra, independente de sua vontade.
Odi Meji, indica, aprisionamento, possessão demoníaca, prejuízos de toda ordem, roubo, seqüelas advindas de acidentes ou de enfermidades, sendo portador de mensagens quase sempre ruins. É um signo muito ruim, malvado mesmo. Responde não e representa caminhos fechados. Por vezes anuncia estado de gravidez e seu surgimento em questão sobre se uma mulher está gravida ou não, representa resposta afirmativa.

SAUDAÇÕES DE ODI MEJI:

Em Fon: Mikã di-Meji Mi hwe kpako do mi o!

Tradução: Saúdo Odi Meji para que as enfermidades não nos possam molestar!

Em Nagô: Kpanli kpaninkpa o joko bili kale
Baba Iku yeke ofin lon gbã di non
Ode keeku, le egbe ni odon
Ki a to gbo Olodumare
Ota onigbo ku mi.

Tradução: Desconhecida.

ODI MEJI EM IRE:

Quando em Ire, é necessário apurar o tipo, pois pode ser qualquer um. Deve-se perguntar imediatamente se é Ire Aiku (não ver a morte), ou Ire Omo (um bem vindo através de um filho, levando-se em consideração que este Odu fala muito em gravidez)

ODI MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Prisão, condenação, roubo, prejuízo, seqüelas advindas de acidentes ou moléstias, abandono, perfídia, possessão de maus espíritos, mulher de maus hábitos e vida sexual desregrada, homossexualismo (só masculino), caminhos fechados, imobilidade ou dificuldades de ação.
Em Osogbo Arun, indica quase sempre, um dos tipos de doenças que se seguem: bexiga, bacia, necrose, dermatoses, câncer, lepra, hipocondria, melancolia, neurastemia, doenças dos ossos.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Hoho, Gbaadu e os Toxosu.
Orishas (Nagô): Omolu, Eshú, Obatala, Ogun, Egun e Ajé (neste Odu podem falar todos os Orishas, mas os aqui relacionados sãos os que mais comunmente se comunicam através dele).

INTERDIÇÕES DE ODI MEJI:

Odi Meji proíbe aos seus filhos: Consumir carne de lebre ou de coelho, purê de batata doce, feijão fradinho ou de qualquer tipo de alimento em que esteja incluído como ingrediente, grão de Angola ou suas folhas. Não podem dormir de barriga para cima (posição em que os mortos são colocados em seus ataúdes), matar moscas com as mãos, possuir coleção de objetos em números de sete, participar de reuniões, almoços, festas, etc., em que se encontrem sete pessoas. (o número sete atrai as energias negativas deste Odu).
É aconselhável, sempre que se vá fazer um sacrifico indicado por Odi Meji, usar roupas vermelhas ou marrons.

SENTENÇAS DE ODI MEJI:

(1) A morte não pode te alcançar, a doença não pode te alcançar, os processos judiciais não podem te alcançar, ninguém penetra num bosque de espinhos, envolvido somente num pedaço de pano.
(Fazendo o ebó indicado, o consulente estará protegido contra tudo).
(2) O leopardo não pode capturar o cão que está protegido por uma grade de ferro.
(mesma interpretação da sentença anterior).
(3) Se um grande pedaço de carne foi perdido, procure-o atras da cerca. Um ladrão não pode roubar um cadáver e faze-lo desaparecer.
(O consulente é um malvado muito bem instruído, que embora consiga concretizar a maldade que está arquitetando, jamais poderá tirar nenhum proveito de seu ato).
(4) Um rio não pode mudar seu curso para fazer guerra com outro rio.
(O cunsulente tem inimigos dentro de sua própria casa, mas nenhum deles podem lhe fazer nenhum mal).
(5) A ira do homem que tem uma chaga, não pode espantar a mosca que pousa na ferida. A vontade do homem é bater na mosca que o incomoda, mas o medo da dor impede que ele bata na ferida.
(O consulente, embora conheça a origem de seus problemas, não tem forças para eliminá-la).
(6) Se o vento sopra muito forte nas folhas do espinheiro, as ervas não brotam aos seus pés.
(O cliente, por ser perdulário e não saber administrar o seu dinheiro, jamais chegará a acumular fortuna).

ITAN DE ODI MEJI.

(1) “A criança que está agora no ventre, fala a sua mãe”.
Certo dia, quando Ifá encontrava-se ainda no ventre de sua mãe, estando ela ocupada em recolher lenha no interior de uma floresta, foi surpreendida por uma voz que dizia: “Mãe! Eu vou dizer uma coisa. Trata-se de um segredo que jamais deverá ser revelado!” - Espantada, a mulher começou a procurar no meio da floresta, pela pessoa que lhe falava, sem encontrar ninguém. Novamente a voz se fez ouvir: “O que estás procurando? Sou eu, teu filho quem está falando! Quero prevenir-te que no décimo sexto dia, a partir de hoje, me darás a luz! neste mesmo dia haverá uma guerra em nossa vila e meu pai será morto pelo inimigo... Tu, minha mãe, será capturada e separada de mim...”.
No dia seguinte, ao raiar do sol, o menino novamente fez contato com sua mãe, dizendo-lhe: “Compreendeu bem o que te disse ontem? Faltam somente quinze dias para o acontecimento!...”. E todos os dias de manhã ele falava com a mãe e no décimo sexto dia depois do primeiro contato, disse: “Eis que é chegado o dia!” E imediatamente iniciou-se o parto. No exato momento em que a criança vinha ao mundo, iniciou-se um ataque contra a cidade. Durante a batalha, o pai do menino foi morto e a mulher foi capturada e levada como escrava. Ifá, escondido em lugar seguro, viu quando um homem se aproximava e dirigindo-se a ele, implorou: “Leva-me contigo! Estou só no mundo. meu pai está morto e minha mãe reduzida a condição de escrava! Leva-me contigo e não te arrependerás por fazeres esta caridade!”
Comovido, o homem pegou o recém-nascido e levou-o consigo em total segurança, para sua própria casa. Ifa imediatamente começou a realizar curas miraculosas. Sempre que alguém adoecia, o menino após identificar o tipo de doenças, receitava ervas que traziam a cura imediata. Todos os doentes recuperados faziam questão de pagar muito bem pela cura e desta forma, o homem que recolheu a criança tornou-se muito rico e poderoso. Naquele tempo, o pais era governado por um rei chamado Lõfin, que logo que soube dos milagres, chamou a sua presença o responsável pela criança, que ali chegando, narrou de que forma encontrara o pequenino, o pedido de ajuda e seus maravilhosos poderes sobrenaturais. O rei, entre espantado e descrente, afirmou: “Se isto é verdade, se este menino for realmente dotado de tantos poderes, ocupará ao meu lado, um lugar no reino deste pais!”
Logo o menino foi transferido para o palácio e sempre que um familiar do rei adoecia, era por ele curado. Nada mais se fazia no reino sem uma prévia consulta a Ifa e suas orientações eram seguidas no mínimos detalhes. Com o passar do tempo, o menino cresceu e logo que se tornou adolescente, recebeu de Lõfin uma cidade onde foi coroado rei. Seu milagres se multiplicavam, todos aqueles que sofriam vinham atrás dele em busca de auxílio. sua fortuna aumentava a cada dia, possuía muitas mulheres e muitos servos, além de todas as coisas que representam riqueza para os seres humanos. Ifa na esperança de um dia encontrar sua mãe, adquiria escravas na mão de um mercador. Era chegado o dia em que se deveria comemorar a festa chamada Fanuwiwa que todos os anos se faz em honra a Ifa. As mulheres de Ifa, junto com suas escravas, ficaram encarregadas de pilar milho para produzir a farinha que seria usada na festa. Entre as escravas estava a mãe de Ifa, que devido a situação miserável em que se encontrava, tinha medo de identificar-se e não ser aceita pelo filho. Enquanto realizava sua tarefa, a mulher entoava uma triste canção, na qual dizia: “Ifa Di-Meji, Tu não me conheces mais?” Ao ouvir a canção, Ifa ordenou que a mulher fosse levada a sua presença, interpelando-a da seguinte forma: “Então tu me conheces?” E a mulher respondeu: “Mas não fostes tu mesmo quem me anunciastes o dia do teu nascimento? Tu me dissestes que no décimo sexto dia viria ao mundo e que no mesmo dia teu pai seria morto e eu feita escrava”. “És tu minha mãe!” Gritou Ifa e ordenou que a banhassem e oferecessem muitos e belíssimos vestidos, além de um torso branco para adornar a cabeça.
Em seguida, Ifa fez com que a mulher se assentasse ao seu lado, sobre uma grande almofada branca denominada akpakpo e pegando uma cabra, ordenou que a imolasse em honra de sua mãe, que passou desde então, a viver ao seu lado, cercada de todas as honrarias e reverências reservadas a mãe de um rei.
É por isto que sempre que se oferece um sacrifico a Odi Meji, dever-se lembrar desta história e pega-se um akpakpo que serve de assento para Nã, um pano de cabeça (kpokun abuta), uma cabra, farinha de milho misturada com azeite de dendê (amiwo) e oferece-se a Nã Naxixe a mãe de Ifa.
(2) Odi Meji disse: “Metolõfi, por avareza, não quis sacrificar um boi, de malhas brancas e a morte veio busca-lo.”
Quando Ifa estava ainda no ventre de sua mãe, pediu que seu pai pegasse um boi malhado de branco e oferecesse em sacrifício, a fim de evitar que dentro de três anos, uma guerra viesse dizimar o seu reino. Seu pai negligenciou o sacrifício e no dia do nascimento de Ifá, seu pai morreu e sua mãe foi capturada como escrava.
Três anos depois, a guerra arrasou o pais e Ifá mandou que Ajinoto, a parteira, o encerrasse dentro de uma cabaça, de forma que ninguém o pudesse ver. A parteira foi encarregada também, de avisa-lo logo que alguém passasse por perto, para que ele revelasse ao passante, a causa de seus sofrimentos e os remédios e sacrifícios que resolveriam todos os seus problemas.
Tudo ocorreu da forma como Ifá planejara e o homem que passou naquele local, não hesitou em levar para sua casa, a cabaça onde Ifa havia sido encerrado.
Para deslumbramento de todos, Ifá, de dentro da cabaça, dava conselhos, receitava medicamentos e resolvia os mais difíceis problemas.
Um dia, Ifa ordenou que alguém se dirigisse ao mercado onde, pelo preço de quarenta e um cauris, deveria comprar sua mãe que estava sendo vendida junto com outras escravas. “A primeira mulher que for oferecida deve ser comprada, pois esta é minha mãe”.
Naquela época, Ifa costumava aceitar sacrifícios humanos no festival de Fanuwiwa.
Quando a escrava adquirida no mercado foi trazida, Ifá ordenou que lhe fosse entregue certa quantidade de milho, para que pilasse e transformasse em farinha destinada a preparação do amiwo.
Enquanto pilava o milho, a mulher ouvia os consultantes invocando Ifá, “Orunmila! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!” (Orunmila! Akefoye! Se teu nome é Ifá, jamais esquecerás de mim!). Reconhecendo em Ifá o seu próprio filho, a pobre mulher pôs-se a cantar em voz alta a saudação que ouvia: “Orunmila! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!”
As pessoas contaram a Ifa sobre a mulher que cantava aquela saudação enquanto pilava o milho e Ifá ordenou que ela largasse aquele trabalho e que, no dia seguinte pela manhã, chamasse por ele, junto com seus fiéis, para que pudesse mostrar a todos de que forma deveria ser corretamente alimentado. Ordenou ainda, que fosse preparado um akpakpo e dois panos brancos de cabeça denominados kpokun abuta, proibindo a todos de olharem para aqueles objetos.
Como Ifá vivera até então, fechado dentro de sua cabaça, jamais havia sido visto por ninguém. Quando todos se afastaram, Ifá saiu de sua cabaça coberto por um grande chapéu, vestindo um avental de pérolas e calçando sandálias, indo sentar-se no alto de um tripé de onde gritou: “Olhem bem, sou eu Ifá! que ninguém viu jamais... A mulher que mandei comprar no mercado de escravos, deve ser trazida até aqui!”
A mulher foi trazida a sua presença e Ifá mostrou-a a todo mundo, dizendo: “Olhem bem, esta é minha mãe! Quando eu estava no seu ventre, determinei que meu pai deveria sacrificar um boi malhado de branco, para evitar malefícios que já estava previstos, más meu pai não atendeu minha orientação e todo mal acabou por se concretizar.
Tanto tempo se passou e eu comprei esta escrava para ser sacrificada em minha honra. Entretanto não sacrificarei, não poderia trair minha própria mãe, mesmo que ela me tenha traído.”
Dito isto, ordenou que cortassem os longos cabelos de sua mãe, que envolvessem sua cabeça com um belo torso branco e que a instalassem sobre a almofada akpakpo. Depois pediu um boi e um cabrito para serem sacrificados. Com a farinha moída por sua mãe, mandou preparar um amiwo para ela, que não poderia ser comido em sua presença.
Desta forma, assentada sobre um akpakpo, transformou-se ela em Nã, mãe de um rei.
Aos jovens que prepararam as carnes do boi e do cabrito, assim como o amiwo, ordenou que fosse dado uma parte de cada coisa, para que comessem depois da cerimônia.


Depois das cerimônias de Nã, aqueles que prepararam os alimentos a ela oferecidos, recebem uma pequena parte destes alimentos, parte esta que recebe o nome de kle ou kele e que só pode ser consumido depois que o Vodun for servido. (Este rito acompanha as cerimônias às Divindades Nagô sob o nome Atowo e as divindades Fon sob o nome de Nudide).
A mãe de Ifá disse então a seu filho que sentia-se muito envergonhada pois não merecia tantas honrarias e que naquela dia iria encontrar-se em Lõ (local para onde vão os espíritos dos mortos), com seu finado esposo.
“A partir de hoje, quando fizerem uma cerimônia em minha honra, digam: “Nã Kuagba! (Nã seja bem vinda!) e virei receber as oferendas.” Disse a mulher.
Nã disse ainda, que faria o Sol tornar-se mais brando ou mais quente, comandando-o de cima de seu akpakpo.
A partir de então, realiza-se sempre o ritual de Xe Nã (dar comida a Nã), quando terminam os festivais Fanuwiwa.
(3) Odi Meji diz: “Não se pode ocultar um cadáver de uma mosca!” O rei Metolõfi não gosta da mosca porque não conseguia ocultar nada dela. Um dia, resolveu coloca-la a prova, sob pena de morrer se acaso falhasse no teste.
Certo dia, a Mosca teve um sonho, atraves do qual foi avisada para manter-se em guarda, pois a menor distração poderia representar sua morte. Pela manhã, logo ao despertar, Mosca foi consultar Ifá, que lhe mandou oferecer um sacrifício de quatro galinhas, quatro pombos e farinha. A Mosca ofereceu os bichos, más preferiu entregar a farinha a sua mãe, para ser por ela vendida.
Enquanto isto, Metolõfi mandou preparar duas grandes esteiras em forma de sacos. Numa das esteiras, pintada de fuligem negra, colocou um Xla (hiena), na outra, pintada de branco e vermelho, enfiou um Kpo (leopardo), sendo que os dois animais estavam vivos. Dois carregadores foram encarregados pelo rei de levarem as esteiras, com seus perigosos conteúdos, até a casa de Mosca, para que esta adivinhasse o que havia dentro, sobe pena de, em caso de erro, ser punida com a morte.
Chegando a cidade, os carregadores encontraram uma mulher que vendia mingau de farinha e arriando seus pesados fardos, comeram do mingau ali vendido, sem saber que a mulher era a mãe de Mosca.
Tendo acabado de comer, o primeiro carregador dirigiu-se à sua carga e perguntou em voz alta: “Xla! Queres comer um pouco de mingau de farinha?” e como a hiena aceitasse, entregou-lhe uma porção do alimento.
O segundo carregador, seguindo o exemplo de seu companheiro, dirigiu-se a sua carga e perguntou: “Kpo! Kpo! Queres mingau de farinha?” e o leopardo aceitou.
Descobrindo a armadilha, a mãe da mosca tratou de arquitetar um plano para deter os carregadores, enquanto ia avisar à sua filha e dirigindo-se a eles, falou: “Tomem conta de minhas coisas enquanto vou em casa buscar água fresca para beberem.”
Chegando em casa, avisou a mosca que na esteira pintada de preto, havia uma hiena e que na outra de branco e vermelho, havia um leopardo, retornando em seguida com a água para os homens.
Depois de saciarem a sede, os homens perguntaram à mulher onde ficava a casa de Mosca. “Estão vendo aquela casa ali a frente? é de lá que vejo sair todas as manhãs. Vão até lá e a encontrarão.”
Chegando a casa da Mosca, os carregadores bateram e foram atendidos pela própria.
“Somos mensageiros do rei Metolõfi que nos mandou procura-la.”
“Procurar por mim? E com estas feras sobre as cabeças? Tu carregas um Xla, um Xla vivo! Trate de deixa-lo bem longe de mim! E tu... tu trazes um kpo vivo e não o quero aqui em minha casa! Tratem de levar esta feras para o local de onde as trouxeram!”
Os carregadores, sem ao menos arriarem os seus fardos, voltaram a presença do rei a quem disseram: “Esta mosca é terrível, nem chagamos a depositar nossas cargas no chão e ela já havia identificado o conteúdo!”
Desolado o rei respondeu: “É, ela é mesmo terrível. Não pude elimina-la desta vez e ela continuará a viver e a descobrir tudo, ainda que esteja muito bem oculto.”
Ebó: Quatro eiyele, quatro adie, bastante mingau de farinha. Prepara-se dois sacos confeccionados com esteiras (tipo nagô); um dos sacos é tingido de negro e o outro de vermelho e branco (usar carvão, efun e osun). Em cada um dos sacos, coloca-se um boa quantidade de mingau de farinha, sacrifica-se os bichos à Elegbara (ejé no igba), coloca-se os animais mortos dentro dos sacos, dividindo em partes iguais e despacha-se próximo a uma lixeira.
Este ebó é indicado para pessoas que tenha sua liberdade ou suas vidas ameaçadas.
(4) Havia naquele tempo, uma tribo de selvagens que costumava atacar as aldeias circunvizinhas, onde faziam prisioneiros pra serem transformados em escravos.
Foi assim que Olatunde foi transformado em escravo e penava sob maltratos e a mais absoluta miséria.
Certo dia, o pobre escravo retornava de sua labuta diária, quando encontrou caído no chão um pedaço de obi. Cheio de fome, pegou o achado e tratou imediatamente de come-lo, no que foi pilhado por seu cruel senhor, que sem hesitar, acusou-o de haver roubado o obi de seu celeiro.
Levado a julgamento, o infeliz foi condenado a morte, embora protestasse por sua inocência.
Era costume daquele povo, encerrarem os condenados a morte em uma grande caixa de madeira, que depois de devidamente lacrada, era atirada do alto de um penhasco às águas revoltas do rio que por ali passava, cabendo ao condenado a chance de realizar sua última vontade.
Indagado sobre o que gostaria de fazer antes de ser executado, o prisioneiro expressou o desejo de oferecer um sacrifico em louvor de seus ancestrais, para que quando chegasse em Ló (*), pudesse ser recebido de maneira satisfatória.
Concedida a permissão, recebeu de seus algozes o material necessário para o sacrifício. Dentro de um jacá (cesto com tampa), sacrificou uma cabra, duas galinhas, um preá e dois galos, que foram depositados dentro do cesto. Por cima dos animais sacrificados, colocou dois peixes assados, aguardente, epô e todas as coisas que agradam a Egun. O jacá foi então fechado e muito bem amarrado com cordas sem uso anterior, sendo em seguida atirado às águas do rio. Logo que terminou seu ritual, o homem foi amarrado e encerrado na caixa, que depois de bem fechada, foi atirada do alto do abismo, nas águas do rio.
Ao chocar-se com a superfície das águas, a caixa não se quebrou e flutuando, foi arrastada até uma localidade muito distante, onde foi resgatada por pescadores que ficaram estarrecidos com seu achado. Verificando que o condenado ainda estava vivo, conduziram-no até a cidade para apresenta-lo as autoridades locais.
Ora, os pescadores estavam longe da cidade há muitos dias e desconheciam o fato de que, depois de sua partida, o rei havia falecido e seus funerais estavam sendo realizados. Segundo as leis do país, quando morria um rei sem deixar filho varão, o primeiro estrangeiro que surgisse na cidade, seria coroado rei e desta forma, Olatunde, que por força do sacrifício que oferecera a seus ancestrais, fora salvo da morte, tornou-se rei daquele pais, livrando-se para sempre da miséria e do sofrimento.
(*) Lugar para onde vão os espíritos dos mortos.
Ebó: Conforme descrito no itan, este sacrifício é indicado para pessoas que se encontrem em dificuldades de todos os tipos, principalmente em relação a condenações, desemprego ou falta de recursos financeiros.
(5) Odi Meji foi o signo que as mulheres encontraram, no tempo em que não tinham nádegas e desejavam ter.
Para resolver o problema, as mulheres foram consultar Azwi a lebre, que advinhava por intermédio das folhas Kwelekun (Cajanus Indicus).
A própria Azwi, quando chegou a este mundo, consultou Ifá, que lhe determinou um sacrifício com uma galinha, um sosiovi (pedra de raio, também conhecida como edun ara entre os Yoruba), um bastão de caça e um ofa.
No entanto, mesmo tendo negligenciado seu próprio sacrifício, a lebre metia-se a dar consulta com as folhas, como se para isso tivesse permissão.
Na consulta das mulheres, Azwi pediu em sacrifício, duas galinhas e duas grandes porções de farinha e quando as mulheres trouxeram os ingredientes, ele fez o ebó.
Legba no entanto, recusou o sacrifício dizendo: “Quem mandou fazer este ebó?” E Azwi respondeu: “Foram as mulheres que consultaram para adquirirem nádega:. E Legba exasperado: Agbo afa kan me ji te ka sin? Esin do Azwiji! (Quem é que está consultando sem ter feito seu sacrifício? É a lebre!) Como Azwiji, tu não fizestes teu próprio sacrifício e te permites prescrever coisas aos outros? isto não ficará assim!”
Legba convocou todos os caçadores do país e fazendo-os entrar entre as folhagens de kwelekun, falou: “Os grãos de Angola que vocês tanto apreciam, estão sendo guardados por um animal, para seu próprio consumo.” Os caçadores, com suas armas de caça, saíram em perseguição a lebre, gritando: “Matem! Matem!”

Morta a lebre, sua carme foi comida e só então descobriram o quanto é deliciosa.
Foi então que Legba sentenciou: “Aquele que pretende oferecer uma cadeira a outrem, deve cuidar antes, que ele mesmo tenha uma. A lebre que nada tinha e quis dar alguma coisa aos outros, está morta!”
Aquele para quem surgir este signo, oferecerá em sacrifício, dois bastões de caça (dãkpo), um ofa em miniatura e uma pedra de raio, para que não tenha o mesmo destino da lebre.
(6) Oderere era o nome do advinho que consultou Ifá para Orinrere e sua mulher, que viviam da venda de folhas de palma que recolhiam na floresta, mas que tendo perdido o seu facão, não tinham como realizar o seu trabalho.

Na consulta, surgiu Odi Meji, que determinou um ebó que deveria ser entregue próximo ao local onde o facão havia desaparecido.
Feito o ebó, o casal embrenhou-se mata a dentro, na esperança de encontrar a ferramenta, quando depararam com as ruínas de um palácio muito antigo e abandonado.
Penetrando no que em tempos passados fora o salão principal do palácio, encontraram meio encoberto pela vegetação, um grande pote de barro, no interior do qual alguém havia guardado muitos objetos de valor. Recolhidos os objetos e vendidos, pode o casal apurar uma substancial importância em dinheiro, o que lhes garantiu uma sobrevivência confortável para o resto da vida.

Ebó: Adié meji, um facão de mato, epo, oti, mel. Sacrifica-se as adie a Elegbara, deixando o eje correr sobre o facão e o igba. Procede-se normalmente com os demais ingredientes. O facão sai junto com o carrego que deve ser despachado dentro de uma casa em ruínas e tomada pela vegetação.
Este caminho indica possibilidades de melhoras financeiras ou recuperação de emprego, cargo ou negócio perdido.
(7) Naquele tempo, Odi era considerado como um grande Babalawo, muito respeitado por sua competência de prever o futuro. Sabedores de sua fama, dois sujeitos foram procura-lo, em diferentes oportunidades, para saberem como deveriam proceder para que tudo lhes corresse bem nesta vida.
Ao primeiro consulente, Odi determinou um sacrifício com um carneiro e ao segundo que era cego, um sacrifico com um galo.

Odi, no entanto, não havia cumprido com o seu próprio preceito, que era o de fazer um certo ebó sempre que consultasse qualquer pessoa.
O homem a quem fora determinado o sacrifico do carneiro, padecia de uma moléstia nas pernas, que lhe trazia sofrimento. Na hora do ebó, o homem segurou o carneiro e pediu com muita devoção que o Egun de seu pai aceitasse o sacrifício e aliviasse seus males. Repentinamente o carneiro atacou-o com violenta cabeçada, que atingiu em cheio seus testículos. Uma dor insuportável fez com que o pobre homem rolasse no chão desesperado, enquanto uma grande quantidade de liquido maligno, que durante muitos anos havia se acumulado em seus órgãos ocasionando todo o sofrimento, era expelido completamente.

Desta forma, assim que passou a dor, o homem pode observar que estava completamente curado.
No dia seguinte, chegou o cego com o galo pra ser oferecido ao Egun de seu próprio pai. Na hora do sacrifício, o galo debateu-se furiosamente e suas unhas, atingindo as vistas do homem, retiraram delas, não sem muita dor, uma pele que impedia sua visão. Depois de estancada a hemorragia, o homem descobriu que já podia enxergar com perfeição.
Dias depois, os dois homens resolveram regressar a casa de Odi para agradecerem pelas graças recebidas e coincidentemente encontraram-se no caminho.

Ao chegarem ao seu destino, encontraram Odi acorrentado a uma cadeira e souberam que aquilo era um castigo que deveria ser cumprido, porque Odi havia negligenciado seu próprio sacrifício.
Em agradecimento pelas curas em que haviam sido submetidos, os dois homens propuseram-se a comprar os ingredientes para que Odi pudesse oferecer o seu ebó e assim fizeram eles mesmos o sacrifico em favor de Odi.

No mesmo dia, a filha do rei daquele pais, foi acometida de um desmaio que a deixou fora de si por muito tempo. Conhecedor dos poderes curativos de Odi, o rei ordenou que ele fosse solto imediatamente e levado a sua presença, implorando-lhe que curasse sua filha.

Sem perda de tempo, Odi providenciou uma medicina que curou a menina imediatamente e o rei, como prova de gratidão, fez com que Odi desposasse sua filha.

A partir de então, Odi passou a residir no palácio real, com honras de príncipe e nunca mais conheceu dificuldades.

Ebó: Um carneiro, um galo, um preá, um garfo, uma colher, uma faca de mesa e um prato. O preá é sacrificado a Elegbara, o carneiro e o galo são sacrificados a Egun (ancestrais familiares da pessoa), junto com o prato e os talheres.

Este trabalho é indicado para problemas de saúde e de sofrimentos causados por ingratidão.



SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
EJIONILE MEJI

Ejionile é o 8º Odu no jogo de búzios e o 1º na ordem de chegada do sistema de Ifa, onde é conhecido pelo nome de Ejiogbe.
Responde com 8 (oito) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Jiogbe”. Para melhor eufonia dos cânticos, costuma ter as silabas invertidas para Gbe-Jime.
Um outro nome com que é muito conhecido é Ogbe Meji, dentro do sistema divinatório de Ifá.
Ejionile, Jionile ou Jionle, devem ser contrações das palavras Oji lo n’ile, cuja tradução é: “Aquele que possui a Terra (o mundo). “Este Odu recebe ainda, em nagô, os seguintes nomes:
Ogbe Oji - Duas palavras (vida e morte).
Oji Nimor Gbe - Eu recebi duas dádivas.
Alafia - Coisas boas.
Awulele - Cumpra com seu sacrificio e serás bem sucedido.
Aluku Gbayi - Aquele que, conhecendo a morte, se ergue sobre o mundo. Ele sabe se agitar ao redor do Sol.
Sua representação indicial em Ifá é: * *
* *
* *
* *
que corresponde, na Geomancia Europeia, a figura denominada “Via”.
Ejionile é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Fogo, o que indica dinamismo puro que impede, de forma instintiva, à conquista do objetivo.
Corresponde ao ponto cardeal Leste, a carta n. 1 do Tarot (O Mago) e seu valor numérico é o 1.
Sua cor é o branco, podendo por vezes aceitar também o azul. É um Odu masculino, representado esotericamente por um circulo inteiramente branco.
O circulo representando Ejionile (Ejiogbe), chama-se Gbe-Me, seu interior é branco, como branco é o amanhecer do dia. ë o universo conhecido e o desconhecido, chama-se em fon, Keze e em yoruba, Aye.
Ejionile é considerado o pai dos demais Odu, sendo portanto, o mais velho de todos, com excessão de Ofun Meji, de quem foi gerado.
Sua principal função é de proteger o nosso mundo, suprindo-o em todas as suas necessidades e cuidando de sua permanente renovação. Representa o Oriente, é o senhor do dia e de tudo o que acontece durante ele. É responsável pelo movimento de rotação, que provoca, depois de cada noite, o surgimento de um novo dia.
Controla os rios, as chuvas e os mares, a cabeça humana e as dos animais. O pássaro lekeleke - consagrado a Oshalá, o elefante, o cão, a arvore Iroko, as montanhas, a terra e o mar pertencem a este signo, assim como todas as coisas naturalmente brancas.
Rege o sistema respiratório e tem também, sob suas ordens a coluna vertebral, além de todo o complexo de vasos sanguineos do corpo humano, embora se saiba que o sangue não lhe pertence, mas a Osa Meji.
As pessoas pertencentes a este odu, são impulsivas, chegando quase a irracionalidade. Seus objetivos devem ser atingidos a qualquer preço, mesmo que represente o sacrifico de outrem.
Possuem desenvolvimento intelectual mediano, alimentado por uma curiosidade incontrolavel e enfraquecido por imaginação excessiva, que os leva a criar fantasias demasiadamente absurdas.
Tendem ao vulgar, ao mais facil, ao comum, não se importando muito com a qualidade das coisas.

Costumam ser diretos e sutileza é coisa que desconhecem quase que totalmente.


SAUDAÇÕES DE EJIONILE:

Em Nago:
Baba Ejionile alalekun moni lekun oko lola
Omodu aboshun omo eni ko shé
Ileke ri shi ka mu
Ileke omo lori adifafun aladeshe
Imaparo tin babeledi agogo.

Em Fon:
Mi kan Jiogbe.
Ku li ma nun nu mi o!

Tradução:
Salve Ejiogbe.
Que os caminhos da morte não a conduzam a nós!

EJIONILE EM IRE:

Quando em Ire, Ejionile pode indicar, principalmente: Independência, determinação, um caminho aberto e que deve ser seguido, auto suficiência, vitória sobre o inimigo, dedicação em face de problema próprio ou alheio, desenvolvimento intelectual pela vontade de saber, vitória em problemas de órdem financeira.

EJIONILE EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Perdição pelo jogo, estupidez, teimosia, irracionalidade, ações impensadas que ocasionam problemas, confusão, agressividade, fúria incontrolada, casos judiciais, uma aventura que terá final desastroso, falta de escrupulos, adultério (por parte do cliente), sexualidade excessiva. Fala de doenças (Osogbo Arun) como: anemias, males do estômago, das mamas, da garganta e do ventre, loucura por imaginação excessiva, problemas da coluna vertebral e do olho esquerdo.
Neste Odu, falam as seguintes Divindades:
Voduns (Jeje): Xevioso, Sakpata, Lisa, Mawu, Gu e Gbaadu.
Orisha (nagô): Obatala, Shangô, Ayra, Ogun e Omolu.

INTERDIÇÕES DE EJIONILE:

Ejionile proibe aos seus filhos: Roupas vermelhas, pretas ou de cores demasiadamente escuras; emú (vinho de palma); carne de galo, de cobra e de elefante; bolo de acassa que tenha sido enrrolado em folha de bananeira, pérolas negras, corais negros e onix. Não devem também matar ratos.

SENTENÇAS DE EJIONILE:

(1) Óh Ejiogbe! Que o cheiro da morte jamais se oculte do cão. Que Aklasu (*) possa sempre farejar no ar, o cheiro da morte!
(O cliente vem sendo enganado dentro de sua própria casa e o ebó prescrito, fará com que a verdade seja descoberta).
(2) O buraco abriu a boca. O buraco não abre a boca se nada houver para ser engolido.
(O cliente encontra-se em perigo eminente de morte).
(3) Aklasu encontra um corpo sem vida e diz: “Graças a Ejiogbe, ainda existe alimento para mim”.
(O Odu Ejiogbe, determina que o aklasu se alimente de carniça. Por este motivo, toda vez que o animal encontra um cadáver, dá graças a Ejiogbe. O cliente pra quem for determinada esta sentença, encontra-se em sérias dificuldades).
(4) O Iroko (árvore) e a parasita ava que o envolve, uma vez que se uniram, devem envelhecer juntos.
(O cliente não deve abrir mão do que é seu ou separar-se de um ente querido. Qualquer atitude nesse sentido, lhe trará grandes conseqüências).
(5) Óh, Ifá Ejiogbe! O brilho do Sol desbotará a bela coloração vermelha do agidibaun (**) que vive nas montanhas!
(O cliente não deve expor-se em demasia, para não ver seu prestigio abalado ou diminuído).
(6) As pequenas contas brancas dos colares das sacerdotisas de Obatala, demonstram que inegavelmente, elas são suas esposas.
(O cliente não deve pretender obter coisas, que por direito não lhe pertençam, usando para isto métodos espúrios).
(*) Cão selvagem que habita as savanas).
(**) Espécie de preá de pelo avermelhado.

ITAN TI EJI-ONILE

(1) Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais velho.
Certo dia, Ashé - criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda. Numa segunda cabaça, Ashé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em panos comuns e de pouco valor.
Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhece uma cabaça para si.
Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a outra para seu irmão.
Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem exitar, tratou de come-la na companhia de alguns amigos.
Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado: “Que farei com estas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guarda-las com muito carinho.”
No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando-o sobre sua esteira. Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: “Estou rico! Minha cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!”
Tempos depois, Ashé reuniu seus filhos e lhes perguntou: “Muito bem, que encontraram dentro das cabaças que lhes presenteei?”
“Na minha havia uma bela vianda que tratei logo de comer.” Disse Olhos.
“Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por me haver regalado com tão maravilhoso presente”. Afirmou Cabeça.
Então, Ashé sentenciou: Olhos, tu és muito avido! A visão te atrabalha, tu enxergas sem ver. Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano comum, guardava em seu interior uma enorme fortuna. Por este motivo, será Cabeça quem, a partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências.
Depois disto, sempre que tivermos chanche, devemos dizer: “Minha cabeça é boa e não meus olhos são bons”.

Canticos do Itan: Ta she dokpo we nõ nu, bo ta yi yo.
Ori bo ge, aboge, aboge
Ori she! Ori ta dokpo,
O gboge, gboge, gboge!

Tradução: Eu não tenho mais que uma cabeça que pensa.
E ela provem de muitas outras cabeças!
Minha cabeça é forte e pensante,
Oh! Cabeça, eu não tenho mais que uma!
Mas ela é forte e pensante!

Ebó: Duas cabaças médias, um pedaço de pano branco, um pedaço de pano estampado de boa qualidade, um pedaço de carne de carneiro ou de bode, azeite de dendê, ataré, 8 moedas, 8 búzios, 8 pedrinhas brancas pequenas, um pedacinho pequenino de ouro e outro de prata. Abre-se as duas cabaças pelo meio, retira-se as sementes, deixando-as bem limpas por dentro, pinta-se por dentro e por fora com efun. Numa delas se coloca o pedaço de carne, dendê e vários grãos de ataré e embrulha-se no pano estampado. Na outra, coloca-se as moedas, os búzios, as pedrinhas, o ouro e a prata, fecha-se e embrulha-se no pano branco. Oferece-se as duas cabaças a cabeça do cliente e despacha-se a que contem a carne, numa mata. A outra, deve ficar guardada na casa do cliente e participar, todas as vezes em que a pessoa tomar bori.
Este ebó é indicado para melhorar a sorte e fortalecer a cabeça. Pode ser indicado sempre que, na consulta, surgir o símbolo indicador de que é o Ori do cliente, quem se encarrega de solucionar o problema. Recomenda-se dar Oshebili ao Ori, depois do ebó.
(2) Ejiogbe desposou uma mulher, que lhe deu dois gêmeos em sua primeira gravidez.
Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a qualquer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu amante, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas conseqüências.
Certo dia, o sedutor entregou à mulher um pó negro, poderoso veneno, que deveria ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iria solucionar definitivamente os seus problemas.
No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun (*) e aproveitando-se da ausência do marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presenteara seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.
Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de casa.
Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.
Antes do nascimento dos gêmeos, o Bokonõ do local, previra que tal acontecimento, seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se cumprisse. Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele, mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado pra seu próprio consumo.
Incontinente, o pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se encontrava a parte boa, tratando de come-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro gêmeo, chamado Sagbo.
Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando que o marido tentara envenena-la.
O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente, intimou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.
Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que, apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado.
Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão, como um sinal de azar para a familia, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de sua mãe.
Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida destinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e deixando o envenenado pra sua mulher, com a intenção de castiga-la. Tomara a decisão de avisar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de que a culpa seria atribuida ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do advinho, traria desgraça a sua família.
Foi então que Metolonfi disse ao pai dos gemeos: “Tu es defendido por duas pessoas. Tu chamaras sempre pelo seu nome, em sua proteção, este nome é Ibeje.”
O consulente que corre o risco de sofrer uma traição, descobrirá tudo em tempo e se livrará do mal que lhe estiverem tramando.
(*) Prato tipico do Benin.

Ebó: Dois pombos brancos, um pedaço de fita vermelha, um pedaço de fita azul, ori da costa. Enfeita-se os pombos com laços de fitas no pescoço (um com cada cor), durante oito dias a pessoa que vai fazer o ebó, deve cuidar dos pombos com todo carinho, dando-lhes água e alimentação e passando-os no corpo uma vez por dia. No oitavo dia, os pombos deverão ser levados a uma mata e ali, depois de serem passados pela ultima vez no corpo da pessoa, devem ser soltos com vida e levando suas fitas ao pescoço, devendo ter seus pés e bicos, untados com a banha de ori. Depois de obtido o resultado desejado, oferece-se um caruru aos Ibeje.
(3) Naquele tempo, a Terra havia sido criada e sua extensão ainda era muito pequena, estando a maioria do globo, coberta pelas águas do oceano.
Olofin ordenou que os orishas, viessem habitar sobre a pequena faixa de terra firme então existente, pra ali estabelecerem o ambiente nescessário, para o surgimento da vida humana.
Todos foram consultar Orunmilá e na consulta, surgiu a figura de Ejiogbe (Ejionile), sendo determinado um sacrificio, que todos os Orishas deveriam oferecer, para que suas missões fossem coroadas de sucesso.
Como o ebó determinado fosse muito despendioso, todos, com excessão de Orishala, negligenciaram-se a fazê-lo e assim, rumaram para a terra recem criada.
Como Orishala oferecera o seu sacrificio, foi o primeiro a chegar, já que Eshú lhe indicara o caminho mais curto e sem qualquer obstáculo. Aos outros, Eshú criou todos os tipos de dificuldades e desta forma, ao chegarem a terra, encontraram Orishala já estabelecido.
Durante o tempo em que Orishala permaneceu sozinho sobre a terra, teve que fazer, com suas próprias mãos, todo tipo de serviço pesado, como cortar e carregar lenha para a construção de seu palácio, o que lhe provocou uma deformação nas costas, passando, a partir de então, a caminhar apoiado num cajado.
Um a um, os Orishas foram chegando e todas as terras já estava cercadas e plantadas, sendo Orishala seu legítimo dono.
Sem ter onde ficar e estabelecer seus reinos, reuniram-se em assembléia, para deliberarem de que maneira iria proceder, para que pudessem cumprir suas missões e a esta reunião, orishala também compareceu.
“Que desejam, agora que realizei todo o trabalho pesado? ”Perguntou o poderoso Funfun. “Só lhes resta habitarem as profundezas de Okun (*), já que ao chegarem, encontraram toda a terra trabalhada por mim!”
Diante da posição do Orishala, os demais Orishas prostraram-se diante dele e com os rostos encostados no solo, suplicaram que lhes desse um pedaço de terra firme, para que pudessem realizar seus trabalhos e que ficasse ele mesmo com os mares e toda a riqueza neles contidas.
Orishalá então, nomeou Olokun, seu filho mais velho, para reinar sobre os Oceanos, enquanto ele reinava sobre todo o planeta, concordando em distribuir, entre todos os Orishas, um setor da natureza, para que ali pudesse estabelecer os seus reinados, sempre prestando obediências a ele, coroado e aclamado por todos, como o rei dos reis.
A partir de então, por ter feito o ebó determinado, Orishalá passou a ser o mais importante dentre todos os Orishas, seus reinos se expandiram, na medida em que as águas do mar iam deixando mais e mais terras habitáveis e os demais Orishas puderam cumprir suas missões, governando os elementos e as diversas manifestações da natureza.
Este itan se aplica as pessoas que por seus próprios esforços e méritos, pretendem obter um lugar de destaque na vida.
Ebó: Oito espigas de milho verde bem tenras, mel de abelhas, efun, ori. Descascam-se as espigas, assam-se ligeiramente num braseiro. Depois de assadas, passa-se ori e rega-se com mel; arruma-se numa tigela branca. Pulveriza-se com pó de efun, pó de peixe e de preá. Cobre-se tudo com algodão e deixa-se por oito dias nos pés de Oshalá, mantendo iluminado com velas ou lamparina de óleo de algodão. No oitavo dia, leva-se à uma mata e despacha-se sob uma árvore velha e frondosa, forrando o chão com pano branco. O pó de peixe e de preá devem ser preparados em casa, torrando-se os bichos e reduzindo a pó, num ralador. (é bom ter-se em casa estes ingredientes guardados em vidros, pois são muito utilizados em trabalhos de Ifa.).
(4) Naquele tempo, Orunmila não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.
Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais encontrava-se aprisionada uma belíssima donzela denominada Sabedoria.
Muitos jovens aventureiros, guerreiros poderosos, príncipes e monarcas, já haviam sucumbido, na tentativa de resgatar a bela jovem.
Determinado a conquistar Sabedoria, Orunmila dirigiu-se ao local onde estava edificado o palácio e no caminho encontrou um mendigo que, estendendo-lhe a mão, pediu um pouco de comida. Metendo a mão em seu embornal, Orinmilá dali retirou um pequeno saco com um pouco de farinha de inhame, que era tudo o que tinha para comer e de uma pequena cabaça que levava pendurada à cintura, um pouco de epô pupa, misturando tudo e dividindo com o mendigo, comendo uma pequena parte do alimento.
Depois de alimentar-se, o mendigo revelou a Orunmila o seu nome, dizendo chamar-se Elegbara e como agradecimento, ofereceu ao jovem aventureiro um pedaço de marfim entalhado, dizendo: “Com este marfim, denominado Irofa, deveras bater em dada uma das portas dos dezesseis quartos do palácio, pois só assim elas se abrirão. Do interior de cada quarto, ouvirás uma voz, que te perguntará: “Quem bate?” “E tu identificarás, dizendo que és Ifa, o Senhor do Irofa. A voz, então perguntará então, o que estás procurando e tu dirás, estando diante da porta do primeiro quarto, que desejas conhecer a vida e que queres conquistá-la em nome de Ejiogbe. A porta então se abrirá e conhecerás os mistérios da vida.
No segundo quarto, quando a voz te perguntar o que desejas, depois de haver-te identificado como da forma anterior, dirás que desejas conhecer Iku. A Morte e que queres domina-lo, por intermédio de Oyeku Meji. A porta se abrirá e conheceras a morte, seus horrores e mistérios. Se não demostrares medo em sua presença, haverás de adquirir domínio absoluto sobre ela.
Na terceira porta, encontrarás um guardião denominado, Iwori Meji, que depois de reverenciado, te colocara diante dos olhos, os mistérios da vida espiritual e dos nove Orun, onde habitam deuses, demônios e todas as classes de espíritos que irás conhecer.
Na quarta porta, reclamarás por conhecer o jugo da matéria sobre o espirito e o gurdião desta porta chama-se Odi Meji a quem deveras demonstrar respeito sem submissão.
E necessário que não te deixes encantar pelas maravilhas e os prazeres que se decortinarão diante de teus olhos pois podem escravizar-te pra sempre, interrompendo tua busca.
Já na quinta porta, quando fores indagado, dirás que procuras pelo domínio do homem sobre seus semelhantes, através do uso da força e da violência, da tortura e do derramamento de sangue. Aprende, mas não utilizes jamais, as técnicas ali reveladas, para não te tornares, tu mesmo, uma vítima delas.
Na sexta porta, serás recepcionado por um gigante de sexo feminismo, que saudarás pelo nome de Owonrin Meji e a quem solicitaras ensinamentos relativos ao equilíbrio que deve existir no universo e então compreenderás o valor da vida e a necessidade da morte, o mistério que envolve a existência das montanhas e das rochas. Ali, serás tentado pela possibilidade de obter muita riqueza, mulheres, filhos e bens inenarráveis. Resiste a estas tentações ou verás tua vida ser reduzida a uns poucos dias de luxurias.
Agora, já estarás diante da sétima porta. O habitante deste quarto chama-se Obará Meji, é velho e de aparência bonachã, poderá te ensinar prodígios de cura, soluções para os problemas mais intricados, te dará a possibilidade de realizar todos os anseios e desejos de realizações humanas. Toma cuidado no entanto, pois o domínio deste conhecimento pode conduzir-te a prática da mentira, a falta de escrúpulos e à loucura total.
No oitavo aposento, deverás solicitar a permissão de Okanram Meji para conheceres o poder da fala humana, que infelizmente é muito mais usada na prática do mal que do bem. Este guardião te falará em muitas línguas e de sua boca só ouvirás lamentações e queixas. Aprenda depressa e depressa foge deste local, onde a falsidade é a traição.
Diante da nona porta, pedirás permissão ao seu guardião, Ogundá Meji, para conheceres a corrupção e a decadência, que podem levar o ser humano aos mais baixos níveis da existência. Naquele quarto, encontrarás todos os vícios que assolam a humanidade e que a escravizam em correntes inquebráveis, verás o assassinato, a ganância, a traição, a violência, a covardia e a miséria humana, brincando de mãos dadas, com muitos infelizes que se tornaram seus servidores.

No décimo aposento, deverás apresentar reverências a uma poderosa feiticeira, cujo nome é Osa Meji.

Ela vai te ensinar o poder que a mulher exerce sobre o homem e o porque deste poder, conhecerás seres poderosos que funcionam na prática do mal, todos os demônios denominados Ajés se curvarão diante de ti e te oferecerão seus serviços, malefícios que, caso aceites, fará de ti o ser mais poderoso e odiado sobre a face da terra. Aprenderás a dominar o fogo e a utilizar o poder dos astros sobre o que acontece no mundo, principalmente a influência da Lua sobre os seres vivos. Cuida pra que estes conhecimentos não te transformem num bruxo maldito.
Bate agora teu Irofa na décima primeira porta e a voz de seu guardião, Iká Meji, o gigante em forma de serpente, te fará estremecer. Saúda-o respeitosamente e solicita dele, permissão para descortinar o mistério que envolve a reencarnação, o domínio sobre os espíritos Abiku, que nascem para morrer imediatamente. Aprende a dominar estes espíritos e desta forma poderás livrar muitas famílias do luto e da dor.
A décima segunda porta te reserva surpresas e sustos sem fim. Seu guardião se chama Oturukpon Meji, é do sexo feminino e possui forma arredondada, mais se parecendo com uma grande bola de carne, quase sem forma. Trata-se de um gênio muito poderoso, que poderá te revelar todos os segredos que envolvem a criação da terra, além de ensinar-te como obter riquezas inimagináveis. Aprende com ele o segredo da gestação humana e a maneira de como evitar abortos e partos prematuros, depois, parte respeitosamente em busca do próximo aposento.
Aqui está a decima terceira porta, bate com cuidado e muito respeito. Neste aposento reside um gigante que costuma comunicar-se, de forma intima e constante, com a Deusa da Criação, Oduduwa, a Grande Mãe. Aprende agora, como é possível separar as coisas, dominar o mistério de dissociar os átomos, adquirindo assim, pleno poder sobre a matéria. Aprende também a utilizar a força mágica que existe nos sons da fala humana, mas usa esta força terrível com muita sabedoria.
Já diante da décima quarta porta, irás defrontar-se com Irete Meji, que nada mais é que o próprio espirito de Ile, a Terra. Faz com que desvende os mais intimos segredos, agrada-o, presta-lhe permanentemente reverências e sacrificios. Contacta, por seu intermédio, os Espíritos da Terra, transforma-os em teus aliados, conhece os segredos de Sakpata, o Vodum da peste que mata e cura da forma que melhor lhe aprouver, aprende com ele, o poder da cura, já que matar é tão mais fácil.
Na décima quinta porta, serás recepcionado por Oshe Meji, que irá te falar de degeneração, decomposição, putrefação, doenças e perdas. Aprende a sanar estes males e sai dali o mais depresa possivel, para não seres também vítimado por tanta negatividade, toda gerada numa relação incestuosa.
Finalmente, a décima sexta porta. O último obstáculo que te separa de tua desejada musa. Aí reside Ofun o mais velho e terrivel dos dezesseis gênios quardiões.
Saúda-o com terror, gritando “Hepa Baba”! Só assim poderás aplacar sua ira. Contempla-o com respeito, más não o encare de frente. Observa que ele não é um gênio como os que conhecestes nas quinze portas que a esta precediam. Este é Ofun Meji, aquele que gerou todos os gênios que o precedem, é a reunião de todos os demais, que nele habitam e que dele se dissociam só de forma ilusória. Conhece-lo é conhecer todos os segredos do universo. É isto que buscavas, oh Orunmila! Domina-o e resgata para ti a bela donzela chamada Sabedoria. Toma-a para ti e possua-a para todo o sempre, pois agora és Ifá e nada pode mais que tú.
Este itan determina que o cliente deve ser iniciado no culto de Orunmila, devendo para isso, ser conduzido e confiado aos cuidados de um Babalawo.
(5) Titigotin, passarinho muito pequeno e malvado, de peneas acinzentadas, afirmou um dia ao elefante Ajinaku, que poderia vencê-lo em combate singular. Espantando com tamanha ousadia, Ajinaku indagou: “Como poderás, pequeno como és, ocasionar-me algum dano para derrotar-me?”
O pássaro no entanto, continuava a afirmar que podia derrotar o elefante que, para não ficar desmoralizado, teve que aceitar o desafio.
No dia marcado, Titigotin, antes do combate, aconselhou ao elefante que se alimentasse bem, para que não viesse atribuir a derrota a algum estado de fraqueza, por encontrar-se mau alimentado.
Antes da luta, Titigotin reunira algumas pedras vermelhas chamadas zen, que depois de transformadas em pó, foram misturadas com água, produzindo um líquido pastoso, muito parecido com sangue, tendo em seguida, guardado o líquido numa pequena cabaça chamada atukungwe.
Do fundo do rio, recolheu pedaços de calcário, com os quais produziu uma pasta branca ainda mais espessa, que guardou noutra cabaça.
O mesmo foi feito com pó de carvão vegetal que, depois de misturado com água e transformado numa pasta negra, foi guardado numa terceira cabaça.
Naquela época, reinava no pais um rei muito bondoso, cujo nome era Dada She. Curioso em saber de que forma o valente passarinho tencionava derrotar seu enorme adversário, Dada She dirigiu-se a floresta para, em companhia dos animais selvagens, assistir à curiosa luta.
Em dado momento, Titigotin declarou-se pronto para o combate e solicitou ao rei que autorizasse o inicio da luta.
Ao sinal, munido de suas três cabaças, pousou na cabeça do elefante que pôs-se a rir, sacudindo a tromba, na tentativa inútil de afugentar Titigotin que, dotado de grande agilidade, mudava sempre de lugar. Da orelha do elefante, voava rápidamente para a testa e dali para o alto da cabeça, evitando as violentas pancadas que o elefante desferia com a tromba, na intenção de atingi-lo.

Agora, o elefante já estava realmente irritado, vários golpes desferidos com sua própria tromba haviam martelado violentamente sua própria cabeça e o passarinho continuava incolume.
Em determinado momento, Titigotin derramou, sobre a cabeça do elefante, o liquido vermelho que armazenara na primeira cabaça, voando em seguida até Dada She, a quem solicitou um médico para examinar Ajinaku que, segundo ele, estava acometido de forte hemorragia, proviniente de um grande ferimento no alto da cabeça.

Ao ver o que julgou ser sangue, Dada Shé admoestou Ajinaku: “Como pudestes ser tão gravemente ferido por um passarinho tão pequeno?” Ajinaku, como não sentisse nenhuma dor, passou a tromba sobre a cabeça e ao vê-la suja do líquido vermelho, que também pensou ser sangue, tomou-se de grande fúria e resolveu acabar com a brincadeira.

“Ao combate!” Bradou irado e o passarinho pôs-se novamente a voltear sua cabeça.
Dada Shé que a tudo assistia, exclamava indignado: “Que vergonha!” E todos os animais repetiam em coro: “Que vergonha!”
Titigotin gritava: “Renda-se Ajinaku, ou racharei seu crânio e seu cérebro será espalhado pelo chão!”
“Jamais!” bradava cada vez mais irritado o elefante, chocando a própria tromba contra a cabeça, cada vez mais violentamente, tentando desta forma, atingir o adversário.
E a luta prosseguia cada vez mais acirrada... em dado momento, Titigotin derramou sobre a cabeça de Ajinaku, a pasta branca da segunda cabaça e gritou pra Dada Shé: “Veja! Ajinaku teima em continuar a luta apesar do meu aviso e agora seu célebro já começa a escorrer através de seu ferimento!”

Dada She, vendo a pasta branca escorrendo da cabeça do elefante, pede-lhe que se renda e este, cada vez mais furioso, afirma que seu crânio não pode estar fraturado, uma vez que não sente nenhuma dor, absolutamente nenhuma!

Com a visão prejudicada pela pasta que já lhe penetra os olhos, Ajinaku continua a castigar-se, com golpes cada vez mais violentos de sua propria tromba, enquanto Titigotin voa agilmente ao redor de sua cabeça e de seu imenso corpo. Decidido a acabar com a luta, a avezinha derrama o conteudo negro da terceira cabaça, sobre a cabeça de seu contedor e chamando o rei, mostra-lhe o que considera uma verdadeira catrastrofe: “Veja, ele não aguenta mais! Seu sangue, seus miolos e tudo o que escorre do seu crânio estão completamente negros! É grangrena, sem dúvida! Isto é sinal evidente de morte e eu me nego a continuar a dar combate a um morimbundo!”

Todos viram a pasta negra escorrendo da cabeça do elefante, mas ninguem, nem de longe, desconfiou do artificio utilizado pelo pasarinho.

Desolado, Ajinaku lamentava: “Sim... ele me matou...” E muito envergonhado, pôs-se a bater a cabeça contra as árvores, até ferir-se mortalmente.

É por isto, que se diz, que as coisas podem, se não forem controladas em tempo, crescerem de tal forma, que acabam se transformando em problemas enormes e sem solução.

Cânticos do Itan: Titigotin ma so ate bo Ajinaku!
N’hu agbanga!...
Agete, agete, du do agete!
N’hu afgangba!
Agete!

Tradução: Titigotin, o pequenino, derrotou Ajinaku!
Eu posso derrotar qualquer coisa mesmo que seja grande como o mundo!
Alegria! alegria! O signo dez que terei alegria!
Eu posso derrotar qualquer coisa, mesmo que seja grande como a terra!
Alegria!

Ebó: Pegar três cabaças (de pescoço), pequenas, três galinhas, sendo uma branca, uma vermelha e uma preta; três cabritos, sendo um branco, um vermelho e um preto. Preparar um fio trançado de palha da Costa e prender nele as três cabaças já abertas.

Marcar Ejionile no yerosun e depois despejar o pó, dentro das cabaças. A galinha branca é sacrificada e seu sangue recolhido na primeira cabaça, depois acrescenta-se ali, pó de efun. A galinha vermelha é sacrificada sobre a segunda cabaça, onde acrescenta-se pó de osun.

A terceira galinha é sacrificada na terceira cabaça, onde seu sangue é recolhido e misturado com pó de carvão vegetal.

As três cbaças são oferecidas a Elegbara, para que os problemas do cliente sejam prontamente resolvidos. Os cabritos são dados, em pagamento ao Oluwo.



SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
OSA MEJI

Osa Meji é o 9º Odu no jogo de búzios e o 10º na ordem de chegada do sistema de Ifa onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 9 (nove) búzios abertos.
Em Ifa é conhecido entre os Fon (Jeje) como “Sa Meji”. Os Nagô o chamam Osa Meji e também, de Oji Osa.
Para o nome, três etmologias são propostas: “Sa” (yoruba), escapamento no sentido de escorrer. “Sa” em yoruba significa ainda, ventilar, arejar, podendo ter o sentido de separar, selecionar, escolher. Dizem que anteriormente, os signos de Ifa não conheciam o ar da vida, foi este signo que os chamou e colocou a todos em contacto com o ar.
Em yoruba, as palavras “Asa Meji” significam principalmente, “duas coxas”, no sentido de representar os órgãos femininos que são “comandados” por Osa Meji.
Sua representação indicial em Ifa é: * * * *
* *
* *
* *
que corresponde na Geomancia Européia a figura denominada “Caput Draconis”.
Osa Meji é um Odu composto pelos Elementos Água sobre Fogo, com predominância do primeiro, o que indica o dinamismo atuando no sentido de ajuda, de apoio.
Corresponde ao ponto cardeal Sul-Sudoeste, a carta no. 2 do Tarot (A Papisa) e seu valor numérico é o 9.
Suas cores são o vermelho, o laranja e o vinho. É um Odu feminino, representado esotericamente por uma cabeça humana sobre a lua minguante, representação do poder feiticeiro feminino, numa referencia inequivoca a sua ligação as práticas da feitiçaria, nas quais as mulheres se destacam por sua dotação natural, inerente a sua condição de prociar, transformando um espermatozóide micróscopico num ser humano.
Osa Meji representa as Kennesi, potências da magia negra que utilizam a noite e o fogo, são espíritos malvados que, hierarquicamente, encontram-se situados imediatamente abaixo dos Vodun.
Osa Meji é portanto, um dos Odu mais perigosos, a ele é atribuida a criação de todos os animais ligados a feitiçaria, como o gato, alguns antilopes, a coruja, a andorinha, o pintarroxo, o verdelhão, a lavadeira, o engole-vento, o morcego, etc...
Osa Meji comanda o sangue, a abertura dos olhos e os intestinos. É ele quem dá cor ao sangue e comanda todos os orgãos internos do corpo, por extensão o coração e a circulação sanguinea.
Sendo o senhor do sangue, Osa Meji não distingue ricos de pobres, não conhece reis, chefes ou poderosos. Todos os homens, porque tem sangue, são propriedades suas.
Rege as orelhas, os olhos, as narina, os lábios, os braços, as pernas e os pés, da mesma forma que os órgãos genitais femininos. Pode ser encontrado no fluxo menstrual, no ventre das mulheres menstruadas, dai a extrema nocividade que lhe é atribuida.
Se uma mulher grávida encontrar este signo no decorrer de uma consulta, deve oferecer um sacrifico para que não venha a abortar. Um cabrito deve ser sacrificado as Kennesi pra apazigua-las.
Devemos esclarecer, em relação ao fluxo mesntrual que, embora pertencendo a Osa Meji, logo que se aparta do corpo da mulher, passa a pertencer a Irosun Meji e, quando derramado sobre o solo, passa a ser de Ofun Meji. A mágia negra é muito mais eficaz quando praticada a noite e o fogo é também representado pelo sexo feminino.
Osa Meji rege a saudação dos demais signos sobre o oponifá, é este signo quem invoca e traz os demais a presença do Babalawo durante as consultas ou em qualquer procedimento em que as figuras sejam riscadas sobre o taboleiro, cabendo a Ika Meji a função de conduzi-los de volta logo que suas presenças não mais se façam necessárias.
Como se pode observar, Osa Meji possui poderes ilimitados, ele é aquele que pode fazer tudo e que efetivamente, tudo faz.
Este signo representa ainda, um tabu, uma interdição a ser ovbservada, respeitada integralmente para evitar severas penas em caso de desobediência.
Embora seja um Odu de carateristicas terriveis, é muito positivo na medida em que quase sempre responde sim, o que não atenua sua periculosidade. Sempre que surgir uma consulta feita para uma mulher gravida pode estar anunciando aborto ou hemorragia incontrolável.
No corpo humano predispõe a enfermidades da medula espinhal, doenças do sangue e descontrole das regras menstruais. Pode indicar a presença, no organismo, de fluídos benéficos que atuam lenta e progressivamente numa construtiva ou regenerativa, em favor da matéria orgânica.
As pessoas naturais deste signo são em geral simpáticas, inteligentes, tímidas e engenhosas, possuem caráter sério, responsável e benevolente e seu maior defeito é a dificuldade que encontra diante da necessidade de tomarem uma iniciativa, ficando por muito tempo esitantes diante dos problemas.

SAUDAÇÕES DE OSA MEJI:

Em Fon: Mi kan Sa Meji
Xe so awon Vodun xe ami do afo
E kun non so o!

Tradução: Reverências a Osa Meji. Todos os pássaros são aprisionados no alçapão,
menos o passaro de Iyami Aje, cujas penas são untadas de óleo.

Em Yoruba; Osa osagbe igborigbo ogbo lodo
Osawo igbori egbo afoniku agbo
Osa agba ti oleja oleja oloban un mu.

OSA MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Osa Meji pode indicar, principalmente: Elevação espiritual ou material, poderes mediúnicos ou parapsicológicos, vitória nos objetivos, progresso, ideias inteligentes.

OSA MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Feitiçaria, aborto, quebra de um tabu, trabalho feito. Em osogbo arun indica problemas da coluna, doenças do sangue, menstruação excessiva, homorragias de todas as origens.
Neste odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Gbaadu, Nã, Kennesi, Naawo, Lisa, Yalode e Toxosu.
Orisha (Nago): Oya, Iyemonja, Olokun, Shangô, Aganju, Obá, Obatala, Elegbara e Egun.

INTERDIÇÕES DE OSA MEJI:

Aos filhos deste Odu é proibido: a carne de antilope, de galo e todas as comidas que são oferecidas a Nanã. Os tecidos de fundo vermelho e/ou azul assim como todos os objetos em que essas cores se apresentem reunidas. O vinho de palma, o sorgo, o bejerekun, as folhas de iroko, o bambu e tudo o que for feito de bambú. A prática da feitiçaria, servir de árbitro ou mediador em questões entre duas pessoas, para não cair no desagrado de uma delas, tornando-se seu inimigo.
Os homens deste Odu são proibidos de esperar os orgasmos de sua mulher.
As mulheres deste signo não devem praticar o coito durante o dia para não exporem seus orgãos sexuais aos homens.

SENTENÇAS DE OSA MEJI:

(1) Aquele que pretende capturar um cavalo, não se ponha a caminho sem levar sorgo.
(Quem pretende possuir algum bem em sua vida, deverá começar com alguns elementos: Sem dinheiro não se consegue dinheiro.)
(2) O vento não pode balançar a pedra como se fosse uma trança de cabelo.
(Se o consulente cometeu uma falta, poderá redimir-se sem sofrer a punição que seria imposta a qualquer outro na mesma situação).
(3) Rápido, devolva rápido o meu pássaro! Em qualquer lugar que este esteja o teu passaro será devolvido.
(O consulente, que tudo perdeu, suplica que seus bens sejem devolvidos. Se for para seu bem Osa Meji devolverá tudo o que perdeu).
(4) O pombo, filho único, reaproximara a terra e o mar e voltará sozinho a sua casa.
(O pombo nascido só, sabendo-se que os pombos chocam dois ovos de cada vez - procura seu irmão por toda a terra, atingindo o mar sem nada encontrar. O cliente terá somente um filho se não oferecer os sacrificios prescritos).
(5) A mulher vestida de vermelho será vítima de um acidente ao passar por uma estrada. Se tú não me deres o teu sangue, me darás a tua carne! Fa Aydegwi afirma: “Eu ficarei com este pano vermelho para salvar-te da morte e para conserva teu sangue e tua carne!”
(A mulher do consulente não deverá mais usar roupas ou panos vermelhos para que não morra num acidente. Um ebó deverá ser feito para afastar a morte: Uma galinha vermelha será sacrificada sobre um cabaça cheia de epô pupa, o sacerdote inscreverá o signo de Osa Meji sobre o yerosun que será derramado dentro da cabaça. Depois envolve tudo em pano vermelho e entrega numa estrada).
(6) Dormistes bem sobre a Terra?
-Despertastes bem sobre a Terra?
-Eu te saúdo Eji Osa.
Estes três advinhos consultarm Ifa para Osa Meji. Não existe árvore maior que o Iroko! Não existe mulher maior que Iyami!
(O cliente não precisa temer que seus rivais triunfem sobre sua pessoa).
(7) O passarinho que caiu na arapuca procurava a fortuna e encontrou seu Akãma (*). Os idiotas bem sucedidos sempre se esquecem das dificuldades dos dias ruins.
(O cliente ficará rico mas esquecerá que o ajudaram nos tempos de pobreza).
(*) A casa dos dias ruins).
(8) Se Aydohwedo (*) o Terrivel, se instala na margem do rio, nenhum animal poderá mais saciar a sede.
(O cliente deverá observar: se o seu signo é bom, ele não deve temer a influência de outros signos, Aydohwedo e Osa Meji, são igualmente poderosos.
(*) Uma das manifestações do Vodun Dan (Dan - Dangbe - Aydohwedo).
(9) A mesma saliva que prepara o visgo, é a que solta o passarinho capturado.
(Se alguem fizer mal ao cliente, verá o maleficio vortar-se contra si próprio.) Para que isto aconteça deverá ser feito o seguinte ebó: recolher quarenta e uma taliscas (nervuras) de dendezeiro, em cada talisca fazer as bolinhas com saliva. Passar as bolinhas molhadas no yerosun onde tenha sido inscrito o sígno de Osa Meji e depois colocar sobre o telhado de casa, isto serve de proteção contra qualquer maleficio.

ITAN DE OSA MEJI

(1) A filha de Metolonfi, rei de Ifé, chamava-se Hwedeu (Tu não podes com ela).
Bese (A Rã) e Agbo (O Búfalo), desejavam casar-se com a princesa e, para resolver a questão, o rei lhes disse: “Darei a mão de minha filha aquele que primeiro trouxer toda a palha que preciso para cobrir a casa que mandei construir em meu quintal.”
A disputa ficou marcada para dai três dias.
Agbo muito feliz dizia: “Que bom, será muito fácil! Bese é muito pequeno e não poderá transportar de uma só vez toda a palha necessária. Assim sendo, não resta dúvidas de que serei o primeiro!”
Conciente de suas limitações, Bese tratou de consultar Ifá para saber de que forma poderia derrotar seu concorrente, muito maior e mais forte que ele.
Na consulta surgiu Osa Meji que exigiu, a guisa de sacrifício, que lhe fossem trazidos três frangos. Quando Bese cumpriu a exigência, Ifá separou para si um frango e meio, entregando o restante ao cliente, sob a recomendação de que, com aquela quantia, preparasse um jantar e convidasse todos os seus parentes.
Durante o jantar, Bese explicou aos parentes, o motivo da reunião e todos se prontificaram a ajudá-lo no cumprimento da difícil tarefa a que iria se submeter.
No dia fixado, Agbo aproximou-se de Bese e perguntou com ironia: “Ainda estás aqui? Anda depressa senão ganharei nossa disputa. Eu posso carregar qualquer coisa que quiser!”
Já pronto pra recolher a palha, Agbo passa diante da casa de Bese e pergunta: “Ainda estás ai? Já estou a caminho!”
De dentro uma voz respondeu: “Vá em frente, eu te sigo.”
Agbo já com a palha no lombo retornava a casa do rei e no caminho resolveu conferir: “Bese!” gritou, e um dos parentes da Rã que se encontrava escondido a beira do caminho, respondeu: “Kpãããã!”
Surpreso e achando que estava sendo ultrapassado por seu concorrente, Agbo redobrando os esforços, acelerava a marcha em direção ao objetivo. Um pouco mais a frente, chama novamente: “Bese!” e o mesmo “Kpãããã!” surge aos seus ouvidos!
Entra na cidade, penetra no palácio e, no pátio depara estarrecido com o monte de palha que os parentes de Bese haviam depositados no local. Desesperado, Agbo dá violentas cabeçadas no chão e acaba se matando.
Foi então que todas as pessoas disseram: “A Rã mediu forças com o búfalo. A rã provou ser mais forte que o búfalo.”
Todos para quem surgir este signo, vencerão seus concorrentes se submeterem-se a Ifá e forem suficientemente generosos.
Terminamos esta narrativa dizendo: Sa Meji! Bese hu so ma non hwi do ja! (A rã matou o búfalo e nem precisou de faca para fazê-lo!)
(2) Hun Je Nukon (*) era o nome da mulher da águia que foi possuída pelo Vodun pela primeira vez, encontrando-se por isto, recolhida no local da iniciação.
A Águia fez uma investigação para saber onde o Vodun iria fazer suas vodunsi dançarem no dia da saída da iniciação (Hun Hwe, Hun Kpame) de acordo com as cerimônias habituais.
Descoberto o local e o dia, pousou no galho de uma árvore em frente a casa do Vodun, esperando ver sua mulher.
As vodunsi saíram do convento em direção ao rio para recolherem água destinada a purificação e na frente da fila, ia a mulher de Águia.
Recolhida a água, as mulheres voltaram cantando e dançando cadenciadamente quando, repentinamente. Águia saltou de seu abrigo, levando consigo sua mulher, enquanto as outras neófitas escapavam, escondendo-se no interior da casa.
Naquele dia o Vodun passou uma grande vergonha...
No dia seguinte, o Vodun reunido com seus amigos, tramou uma conspiração para novamente, tomar a mulher de águia, o que efetivamente logrou fazer.
Outra vez águia repetiu o feito anterior, escondido na copa da árvore, aguardando que as vodunsi voltassem no rio para novamente resgatar sua mulher.
Todas as vodunsi tiveram que se recolher novamente ao Hunko e a cerimônia de saída teve que ser adiada mais uma vez.
Acabrunhado o Vodun perguntava: “Que fazer? Todos estão zombando de mim... preciso consultar Ifá.
Ifá recomendou então que o Vodun procurasse dois galhos em forma de forquilha. Indignado o Vodun disse a Ifá: “Estou falando sério. Que estória é essa de forquilha?” Ifá respondeu simplesmente: “Faça o que estou mandando”.
Quando o Vodun trouxe as forquilhas, Ifá exigiu: “Agora tu me entregarás uma galinha, um pombo, uma galinha d’Angola, uma cabra e cinco moedas.”
Feito o sacrifico, Ifá inscreveu o signo Osa Meji sobre o yerosun e, entregando as forquilhas ao Vodun, ensinou de que forma deveriam ser utilizadas.
Pela terceira vez Vodun tomou a mulher, conduzindo-a a sua casa e, novamente, Águia ficou à espreita, aguardando o momento adequado para levar sua mulher de volta.
No dia seguinte, as mulheres foram ao rio para pegarem água, na volta, a mulher de Águia, na frente da fila, dançava com as duas forquilhas nas mãos. Águia lançou-se sobre ela na intenção de carregá-la, sendo desta vez, recebido com as duas forquilhas no peito. Atordoado e ferido, caiu no chão e todas as Vodunsi caíram sobre ele, aplicando-lhe uma grande surra de vara com forquilhas.
Só então, Vodunsi Hunjenukun, ficou sendo para sempre, mulher do Vodun.
Depois disto, o principal tambor do ritual, passou a ser chamado Hun em vez de Hon (águia).
(*) A primeira promoção no seminário de iniciação onde não se pode obter mais do que uma promoção de cada vez. Vodunsi Hun Je Nukon é a primeira esposa do Vodun a ser tocada pela Divindade e que, chegada a sua vez, virá a ser uma Grã-Sacertodiza (Zeladora do Vodun).
(3) Naquele tempo, o macaco demonstrava ser o maior Oluwo do país, sendo, por este motivo, invejado e odiado pelos demais Oluwo que eram o galo, o carneiro e o bode.
Certo dia, macaco saiu em longa viagem, tendo antes oferecido um ebó composto de nove idés dourados e um peixe assado.
No dia posterior a viagem, o rei Olofin precisou consultar Ifá e para isto, convocou a sua presença os três advinhos para que fizessem, em conjunto, uma consulta.
Os três, maldosamente, para livrarem-se da concorrência do Macaco, determinaram um ebó no que era exigido o sacrifício deste animal.
Olofin, imediatamente ordenou que seus caçadores saíssem na captura do macaco que, graças ao ebó que havia oferecido, conseguiu escapar de todos as armadilhas que lhe foram armadas.
Frustrados pelo fracasso da caçada, os caçadores voltaram a presença do rei, sem contudo conduzirem o animal para ao sacrifico.
Como o caso era urgente e não mais podendo esperar, Olofin resolveu, na falta do macaco, oferecer o ebó com os animais que tinha a mão, ou seja, um galo, um carneiro e um bode, o que trouxe para ele excelente resultado.
Este caminho indica perigo de traição e exige que seja oferecido o seguinte ebó:
Ebó: Sacrificam-se os animais sobre Elegbara, deixando o ejé correr um pouco sobre os idés. Os bichos são despachados de acordo com a determinação do Jogo e os idés, depois de limpos, são entregues ao cliente para serem usados como amuleto.
(4) Havia um homem que sofria demasiadamente em sua vida mas que nunca se dignara a oferecer qualquer sacrifico. Onde quer que fosse morar, era perseguido por alguém de poder ou prestígio e, invariavelmente tinha que se transferir para algum lugar distante.
Cansado de viver assim sem paradeiro certo, o homem resolveu internar-se na floresta onde, longe do contato dos seres humanos, julgou poder viver em paz.
Na floresta, encontrou uma caverna onde resolveu habitar, transformando-a em moradia. Depois de arrumar seus pertences, o homen dimensionou-se a uma fonte próxima dali, com a intenção de abastecer-se de água e, ao regressar, deparou com um bando de corujas que, postadas à entrada da caverna, impediam o seu acesso. Repentinamente, as aves alçaram vôo, investindo furiosamente contra ele que, apavorado, fugiu mata adentro, sempre perseguido pelas corujas.
Mais adiante, o homem encontrou uma cabana e para fugir do ataque das aves, adentrou-a, deparando com seu dono que outro não era se não o próprio Orunmila.
Narrada sua desdita, Orunmila ordenou-lhe que oferecesse um ebó que o livraria para sempre de todo e qualquer tipo de perseguição.
Feito o ebó, pode o homem escolher o lugar onde viver, encontrando paz para o resto de sua vida.
Ebó: Um galo, um preá, um ekuru, um peixe assado, uma frigideira de barro sem uso. Sacrificam-se os animais a Elegbara, retira-se o couro do preá que depois de seco é estendido dentro da frigideira. Em cima disto, coloca-se o ekuru que dever ser substituído periodicamente. A frigideira deve ser colocada sobre o telhado da casa do cliente servindo de defesa para o mesmo.
(5) Um homem não pode escorregar na lama se tiver na mão uma bengala.
Este era o nome do advinho que consultou Ifá para o caçador.
O pai do caçador tinha morrido. O caçador não tinha dinheiro para os funerais...
Antigamente não se enterrava os mortos como ser faz agora, eram colocados numa grade sobre quatro pés e acendia-se em baixo, uma grande fogueira para cremá-los, evitando assim, que passassem pelo processo de decomposicão. A cremação durava três luas e, durante este tempo, os parentes do morto deveriam providenciar para que os funerais fossem dignamente celebrados.
O caçador tinha muitos amigos e, sempre que algum deles precisava celebrar um funeral, era a ele que procuravam para encomendar a caça para ser comida durante o ritual e agora, era o caçador que tinha um ritual a celebrar, e nada podia oferecer aos seus amigos.
Quando faltavam sete dias par ao termino da cremação, não tendo nenhum cauri (*) e sem encontrar outra solução, resolveu sair, ele mesmo, a caça.
Embrenhando-se na floresta, deparou com um rio de águas muito escuras e pode ver, na margem, uma grande quantidade de diferentes animais.
“Como atravessar o rio de águas tão negras se não posso avistar o fundo?”
Em busca de uma solução, sentou-se a sombra de uma árvore kpejere ali existente, como estivesse muito cansado, logo adormeceu.
Durante o sono, teve um sonho no qual uma voz lhe dizia: “Levanta-te, atravessa o rio, na outra margem muita caça te espera para ser abatida!” e a voz repetia-se incessantemente.
Acordado, voltou a ouvir a mesma voz que repetia as mesmas palavras de incentivo. Procurou para ver quem poderia estar falando, más não encontrou ninguém...
De repente, a mesma voz: “Sou eu, a árvore quem te está falando, anda, atravessa o rio, do outro lado há muita caça a tua espera!”
“Como poderei atravessar em segurança se não posso ver o fundo do rio, tal escuridão das águas?”
“Corta um dos galhos com a ponta enforquilhada, toca a cada passo o fundo do rio local onde irás pisar, assim saberás se é raso ou fundo. Seguindo a orientação da árvore, o caçador pode atravessar em total segurança as águas turvas do rio e, chegando ao outro lado, munido de seu arco (da), pôde com cada flecha (ga) abater três ou quatro animais.
Abateu tanta caça que chegou a pensar que não teria forças para transportar tudo até sua aldeia. amarando os animais com uma corda, tratou de atravessar o rio, arrastando atrás de si, o fruto de seu esforço.
Os animais abatidos foram colocados aos pés do kpejere que novamente falou”
“Eu adoro as vísceras destes animais, foi por isto que te ensinei a forma mais segura de alcançá-los. Agora, em pagamento, deves oferecer-me as vísceras de todos os animais que abatestes.”
Achando justa a proposta, o caçador abriu o ventre de todos os animais, de onde retirou as vísceras que foram depositadas ao redor do tronco da árvore. Depois retornou à sua aldeia com sua preciosa carga que proporcionaria condições de celebrar condignamente os funerais de seu pai.
Passado algum tempo, morreu a mãe do lenhador que, da mesma forma que o caçador, encontrava-se sem recursos para realizar os funerais.
A cremação foi iniciada imediatamente e, quando faltavam quinze dias para seu término, o lenhador resolveu embrenhar-se na floresta a fim de cortar madeira que, depois de vendida, geraria recursos para o custeio dos funerais.
Depois de muito caminhar, foi deparar com o mesmo rio que o caçador havia encontrado e o rio lhe falou:
“Lenhador!”
“Ago!”
“Se estás a procura de madeira de bom valor, existe ali adiante uma enorme árvore kpejere. Com alguns golpes de teu afiado machado, podes obter madeira da mais alta qualidade.”
“Meu machado é muito pequeno para um tronco tão grosso!”
“Não faz mal, corta em pequenos pedaços e teu trabalho será muito bem recompensado.”
Assim foi feito e, a madeira obtida foi vendida por mil e quinhentos cauris, importância mais do que suficiente para que, durante os rituais, todos pudessem se regalar.
Mas por que razão teria o rio ordenado ao lenhador que abatesse a grande árvore? Acontece que, por ocasião do incidente com o caçador, a chacina foi tão grande, que os animais se revoltaram e resolveram se afastar em busca de um lugar mais seguro.
Era costume, os animais, em agradecimento aos serviços prestados pelo rio, oferecerem-lhe anualmente, um de seus filhotes. Com o afastamento dos animais, motivo pelo qual mandou o lenhador abatê-la.
Kpejelekun e do: Mi na de do-nuto. Toka do: Emi de do ni on, do ton na je we.
(A arvore kpejerekun diz: “Se eu revelar o teu segredo todas as tuas taizes ficarão expostas ao ar!”) (O consulente deve ser discreto com os segredos que lhes são confiados).
(*) dinheiro utilizado na época.
Ebó: Um ofá de ferro pequeno, um machete (miniatura), nove favas de bejerekun, um prea, um pombo, mel, dendê e oti. Sacrifica-se os bichos a Egun, cobre-se com o pó das nove favas de bejerekun raladas, mel, dendê e oti e entrega-se aos pés de uma árvore nas margens de um rio. Este trabalho é indicado pra proteger pessoas que se encontrem sob investigações ou inquéritos, ou que nada possa ser provado contra elas.
(6) Uma ave furioza não deve ser amarrada com fios de algodão.
Quando Jihweyenwe (*) criou o mundo, a primeira árvore que plantou foi o algodoeiro.

A árvore deu frutos e os frutos produziram algodão. Deus confiou a guarda da árvore e de seus frutos aos pássaros, mas estes, resolveram comê-los, sob a alegação de que tinham fome e não podiam resistir a tão delicioso alimento.

Convocando os dezesseis Odu, o Criador lhes falou:
“Eu confiei a guarda do algodoeiro aos pássaros e eles devoraram todos os seus frutos. Desta forma, resolvi que doravante, vocês serão os responsaveis pela segurança deste vegetal.”
Os Odu Meji, no entanto, recusaram a missão, com excessão de Osa Meji que, apesar de ser mais novo de todos, aceitou a atribuição, dizendo a Deus:
Tu és meu pai e eu sou teu filho. Tudo o que me mandares fazer, devo executar.”
Estando sozinho, Osa Meji pôs-se a pensar “Assumi um compromisso muito sério diante de meu pai. Não será fácil proteger o algodoeiro da voracidade dos pássaros. Se não cumprir o prometido, meu pai, com toda certeza, haverá de me catigar.”

Preocupado, consultou Ifá que lhe aconselhou pedir ajuda a Oye (aranha), na dificil missão que lhe fora confiada. Imediatamente Osa Meji procurou Oye que, para sua tranquilidade falou:
“Não tenhas medo, estou contigo. Diga-me apenas do que se trata”.
“Meu pai me confiou a guarda do algodoeiro, não creio que possa fazê-lo sozinho. De que forma poderás ajudar-me a protegê-lo dos pássaros?”

“Primeiro mostra-me o lugar onde fica este bendito algodoeiro.”
Osa Meji conduziu Oye até o local onde se encontrava a árvore e a aranha, imediatamente construiu uma forte teia ao redor do vegetal.
No dia seguinte, bem cedo, Osa Meji chegou ao local para examinar a árvore e encontrou os passarinhos todos pressos na teia tramada por Oye. Munindo-se de um grande saco, colocou-os todos, um por um, em seu interior e, com muita pressa, dirigiu-se a casa de seu pai.

“Eis aqui o resultado do trabalho que me confiastes. Veja os pássaros que capturei e que destruiam tua árvore.”
Felicitando Osa Meji, Deus lhe disse:
“De hoje em diante terás o comando sobre a terra.”
Foi desta forma que Osa Meji passou a ser o senhor da Terra (No momento em que Deus confiou a Terra a Osa Meji, o Vodun Sakpata, ainda não existia, surgindo mais tarde sob o signo de Iwori Meji.
(O cliente será bem sucedido em sua empresa, os inimigos serão impotentes diante dele).

Ebó: Nove galhos de algodoeiro pequenos, milho torrado, mel de abelhas, uma panelinha de barro, linha vermelha. Dentro da panela de barro coloca-se, no fundo, o milho torrado, os nove galhos de algodoeiro em volta, desenrola-se a linha vermelha deixando que caia sobre a panela formando um emaranhado preso as pontas do galhos de algodoeiro. cobre-se tudo com bastante mel de abelhas e se despacha aos pés de uma árvore (de preferência um algodoeiro).



SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OFUN MEJI
Ofun Meji, é o 10º Odu no jogo de búzios e o 16º na ordem de chegada do sistema de Ifa onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 10 (dez) búzios abertos.
Em Ifa é conhecido entre os Fon (jeje) como “Fu Meji”, “Ofun Meji”ou “Ofu Meji”. Os nago o chamam também, de “Ofun Meji”, “Làgun Meji” (Lagun significando mistério), “Oji Ofu” por eufonia, “Hekpa”ou “Baba Hekpa”por eufemia (reza, prece), “Ologbo” (misterioso e maléfico por haver cometido um incesto – Lo).
Em yoruba “Fun” significa doar, dar; “funfun” significa branco e este odu representa esta cor, enquanto que “Ofu” significa perda, prejuízo. A palavra “fu” transmite a ideia de limpar soprando, como quando se assoprar um objeto ou superficie qualquer para retirar a poeira ali depositada.

Sua representação indicial em Ifa é: * * * *
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* * * *
* *
que corresponde, na Geomancia Européia a figura denominada “acquisitio”.
Ofun Meji é um Odu composto pelos Elementos Água sobre Água, o que indica uma ajuda constante e pronta a apoiar o esforço que a envoca, sem obstáculos a serem vencidos ou confrontados.
Corresponde ao ponto cardeal Sudeste, à carta no. 21 do Tarot (O Mundo) e seu valor numérico é o 11.
Sua cor é o branco, à qual representa, mas aceita também o azul e o violeta. É um Odu feminino, representado esotericamente por um Ovo onde se inscreve a direita, verticalmente, doze pontos em pares superpostos e a esquerda, quatro traços horizontais superpostos. o ovo representa o proprio Ofun Meji, envolvendo todos os outros Odu e a sí próprio. Os quatro traços representam Ogbe Meji, Oyeku Meji, Iwori Meji e Odi Meji, a vida e a morte, o oculto e o revelado. Os doze pontos representam os demais Odu. Inclusive o próprio Ofun Meji”.
Ofun é a mãe de Ogbe, Pai de todos os demais Odu. Segundo a opinião de alguns advinhos, Ofun Meji é também pai de Ogbe e possui os dois sexos, sendo portanto, hermafrodita. Ogbe, sendo o seu filho mais velho, reina sobre os demais.
Ofun Meji é portador de um Ló (mistério) de que seria na realidade, o incesto praticado com seu filho Oshe Meji. Em decorrência disto, todos os segredos e mistérios são regidos por Ofun que conhecendo o segredo da morte, possui o dom de ressuscitar os mortos.
Ofun Meji, representa a grande Mãe e o principio maternal. Sendo a mãe de todos os Odu, e também de toda a criação, não tendo domínio somente sobre o ar, que após haver criado, libertou Ejiogbe que passou a dominá-lo.
Depois de Ejiogbe, Ofun Meji engendrou os demaais Odu, possuindo assim o mundo, onde cada Odu criou e simboliza uma parte, sempre sob as ordens e leis estabelecidas por Ofun.
Este Odu rege Homens e mulheres indiscriminadamente, é um signo ligada as Kennesi (*), as aves e a feitiçaria são provenientes dele.
Suas atribuições são tantas que é impossivel enumera-las, assim como é impossivel enumerar tudo o que está sob seu dominio.
Para que se tenha uma ideia, podemos afirmar que sob sua custódia, estão todas as coisas que as movem e tudo o que é branco, como por exemplo os albinos, os cavalos brancos e as pessoas demasiadamente velhas.
Ofun reclama em seus sacrificios, tudo em numero de dezesseis. Comanda juntamente com Osa e Irosun, as regras femininas. Este Odu é tão perigoso que a maioria dos advinhos omitem seu nome diante de profanos preferindo dizer “Hekpa Baba” (Baba, significa papai e Hekpa é uma exclamação que exprime pavor).
Sempre que um advinho encontra este signo constuma dizer: Ló ou Eró, palavras que transmitem, ao mesmo tempo, a ideia de proibição, pecado e mistério: em seguida sopra três vezes sobre as palmas das suas mãos, como se elas contivesem um pó. Este procedimento tem por finalidade afastar a negatividade que acompanha Ofun.
Os naturais deste Odu são pessoas fadadas a viverem muitos e muitos anos, conhecendo o sucesso e a realização plena no decorrer de suas vidas. Adquirem bens mateiais somente depois de meia idade, quando se encontram e se realizam espiritualmente, na medida em que se descobrem interiormente.

SAUDAÇÕES DE OFUN MEJI:

Em Fon: Mikan Fu meji Hekpa!
Ku kpodo ku yi le kpa.
Gbe kpodo Gbe yi le kpo.
Azon kpodo Azon yi le kpã
Guda Fligbe, wa yi sa nu mi!.
Kla Sa magba hwe do ta nu mio!
Di Fun, ku hun xu kon.
She Tura do le do.
Le gbogbo do.
Kpoli agba no je agba ton gudo bo!
Je agba ton nukon!
Dunon Dunon emi yro le leo,
Emi hwele si ye!

Tradução: Saudemos a Ofun Meji, Hekpa! Morte e filhos da Morte, Vida e filhos da Vida. Doenças e filhos da Doença Ogunda Gbe, venha trazer ashé ao meu sacrificio! Okanran Ba, que nunca falte um teto sobre minha cabeça! Oshetura, isto é para você e também para Ile, a Terra, não importando a quem esteja endereçado sobre a Terra! Signo a quem pertença este sacrifico, que possas demorar-te adiante e atras dele.
Odu, Odu que eu invoquei, eu lhe ofereço água
(dito isto coloca-se farinha de acáça diluida em água sobre o sacrificio ofertado).
Terminada a oferta, uma ultima prece é feita para que seja aceito:
Adra mi do kpe,
Adra we nmi ku-non!
Ku mi do Kpe!
Pe zuzon non se do mon a
E se we do fi-de, hun yi fi lo.

Tradução: Agra, nós te reverenciamos,
Agra, Senhor da Morte!
Nos te reverenciamos, Iku!
O passaro que voa não pode tocar aquele cuja cabeça esta protegida.
O perigo não se aproxima daquele que recebeu o Ashé.
Se alguem te pede para ir a qualquer parte, você faz com que vá.
(esta ultima frase se endereça ao sacrificio).
Obs.: A segunda parte desta saudação é utilizada somente por ocasião doi oferecimento de sacrificios determinados por Ofun Meji e deve ser recitadas sempre, depois de recitadas a primeira parte.

Prece de Ofun Meji (Yoruba):
Orunmila odye mondoye odimala mondimala
Bimala makade awontanimon awondadewe tedimale
Awo n lale awo ti wo n’fo wo kanshushu dagba omoshoko
Alaba ti n belode Ife awonimon odoyeee mandoyeee
Odimalan mondilmanlan Orunmila oni n’ma olo jagba awa
Do pitan majeta kokpawa Ifá dopitan majetan kokpawa.

Tradução; (Desconhecida)

OFUN MEJI EM IRE:

Quando em Ire Ofun Meji pode indicar, principalmente: Aquisição, riqueza, longavidade, aumento de recursos materiais, aumento de energia fisicas e espirituais, credibilidade, segurança, sucesso.

OFUN MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Avareza, obsessão em acumular riqueza, traição, desmoralização, perda do respeito público. Em Osogbo arun indica problemas circulatórios, má circulação, obesidade, apoplexia, abortos, extirpação do utero e do ovário, cirurgias abdominais.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (jeje): Lisa, Mawu, Gu, Nã, Dã, Hoho, Sakpata, Xevioso, Xu, Loko e Kpo-Vodun.
Orisha ( Nago): Obatala, Oduduwa, Oshun, Elegbara, Baba Egun, Iroko e Kposu, (falam todos os Funfun).

INTERDIÇÕES DE OFUN MEJI:

Ofun Meji proibe aos seus filhos: Beber vinho de palma (emu); peneirar farinha, soprar o fogo, quer seja para apaga-lo, quer para atiça-lo; usar roupas ou objetos vermelhos; comer galo, porco, crocodilo, elefante e cobra, assim como todos os alimentos que são oferecidos a Dãn e a Nanã. O consumo do sorgo de casca vermelha é tambem uma de suas interdições.
Estas pessoas devem usar exclusivamente roupas brancas ou de tonalidades muito claras, não podem andar sujas ou em ambientes sujos.

SENTENÇAS DE OFUN MEJI:

(1) Os rios secam, mas Lo-To (*) não seca jamais.
(O consulente viverá por muito tempo e será bem sucedido mas, deverá permanecer em vigilancia constante para não ser prejudicado pela influência de Oshe Meji).
(*) Água misteriosa do mar.

(2) Ofun Meji! Nada poderá deter o filho do incesto diante do segredo.
(O cliente está livre de morrer acidentalmente).
(3) O sabão se dissolve sobre a cabeça e desaparece, mas a cabeça continua no mesmo lugar.
(O consulente conhecerá a velhice).

(4) O dinheiro é uma coisa do destino, os tecidos são coisas do destino, os metais são coisas do destino. As roupas são como as pessoas, as pessoas são como as roupas. O homem necessita de roupas para ser admitido na casa de Deus (*)
(Mesmo sentido da sentença anterior).
(*) O fato de morrer nú, constitui-se um ló - quebra de um tabú.

(5) O rato vermelho glenzin diz: “Eu faço meu ninho em todas as casa, em todos os buracos, em todos os armazens. No dia em que o lavrador recolher os seus grãos, será a minha morte”.
(O consulente penará muito para conseguir o que deseja e, logo depois de conseguir, morrerá).

Ebó: Com uma porção de terra recolhida num armazem ou celeiro, misturada a um pouco de água, o advinho modela um boneco (vokogbe-to), sacrifica sobre ele duas galinhas e um cabrito. Coloca tudo dentro de uma cabaça e enterra no armazem ou celeiro. Isto evita que a previsão da sentença venha a ocorrer.

ITAN DE OFUN MEJI

(1) O advinho que consultava Ifa para as duas mulheres Ajrohun e Uutin (*) chamava-se “A Coisa é Inteiramente Branca”.
As mulheres consultaram Ifá queixando-se de jamais haver tido filhos e Ifá prescreveu-lhes um sacrifício que foi feito somente por Uutin.
Ajrorun negou-se a fazer o sacrifício sob a alegação de que, quando fosse chegado o momento, Deus saberia providenciar sua prole.
Um mês depois, Ajronun ficou grávida e disse: “Está vendo? Terei muitos filhos que se reunirão ao meu redor!”
No dia do parto, deu a luz algumas bolas que logo começaram a arrebentar e de seus interiores só saíram pequenos flocos brancos, sem forma, que foram dispersados pelo vento, indo cair alguns em Catavi e outros em Cotonu. Este foi o fim de seus filhos.
Uutin, que havia ofertado o sacrifício, também engravidou e seus filhos caíram aos seus pés e logo que vieram as chuvas germinaram, ficando pra sempre, ao seu redor.
(*) Nomes de vegetais).

Ebó Numa tigela cheia de ebô, coloca-se dezesseis bolas de algodão embebidas em óleo de algodão, cobre-se tudo com pó de efun e deixa-se durante dezesseis dias nos pés de Oshalá. Despacha-se à sombra de uma árvore frondosa, dentro de uma mata.
(Obs.: útil para mulheres que desejam ter filhos e não conseguem engravidar.)
(2) Ofun Meji criou o mundo e todos os demais Odu. Ninguém pode gabar-se de ser seu pai.
Depois de haver criado o mundo, Ofun Meji começou a ter filhos. Muitos afirmam que Ejiogbe seria seu primeiro filho, mas isto não é verdade, pois Oyeku Meji nasceu primeiro, embora os dois tenham nascido no mesmo dia.

Quando o mundo foi criado, tudo era trevas. O Criador chamando Oyeku Meji entregou-lhe uma chave com a ordem de com ela abrir a porta da luz. Logo que tal porta fosse aberta, a luz se espalharia pelo mundo iluminando todos os rincões. Recomendou ainda, a Oyeku Meji, que jamais se embriagasse e que jamais bebesse qualquer bebida fermentada.
Oyeku Meji que já era guardião das criaturas, ficou também com a chave dos dias.
Certo dia, Oyeku, depois de haver voltado de duas ocupações com o auxilio de seu irmão Ejiogbe, encontrou um grupo de pessoas que haviam preparado uma grande quantidade de emu (*). Esquecendo-se da recomendação, de Ofun Meji, Oyeku pôs-se a beber em companhia das pessoas, não tardando em adormecer de tão embriagado.

Ejiogbe, que a tudo assistia, sentou-se ao lado do irmão adormecido, aguardando que despertasse. Já passava da hora de voltar pra casa com a chave do dia. Oyeku era muito grande e pesado para que Ejiogbe pudesse carrega-lo em suas costas. Depois de tentar inutilmente desperta-lo Ejiogbe recolheu a chave do dia e voltou pra casa onde eram esperados por Ofun.
“Onde esta teu irmão, o guardião da chave que conduzes?” Perguntou Ofun Meji.
“Ele bebeu muito vinho de palma e embriagado adormeceu. Tentei acorda-lo, mas foi em vão. Como já era hora de guardar a chave do dia, resolvi trazê-la eu mesmo e entregá-la a minha mãe.”
“Tu não bebestes?”
“Não!”
“E Teu irmão bebeu sozinho?”
“Não! Bebeu, na companhia de muitas pessoas!”
“Sendo assim, confiarei a ti a guarda desta chave. Tu substituirás teu irmão.”
Quando Oyeku chegou, foi interpelado por Ofun Meji:
“Por que desobedecestes minhas ordens bebendo bebidas fermentadas e te embriagando?”
“Não resisti a tentação diante do vinho. O pior é que perdi a chave que me confiastes”.
“Felizmente ela não está perdida, teu irmão Ejiogbe recolheu-a, enquanto dormia e a trouxe para casa. Não mereces mais a minha confiança. De hoje em diante obedecerás as ordens de teu irmão mais novo.

Foi depois disto que Ejiogbe passou a ocupar o primeiro lugar entre seus irmãos.
Destituído de suas funções, Oyeku Meji resignou-se em servir fielmente a seu irmão, o que despertou a piedade de Ejiogbe, que um dia, disse a sua mãe”
Oyeku é meu irmão mais velho. Em decorrência de sua falha foi reduzido a meu servo. Não poderias tu, dar-lhe uma nova ocupação? Não é muito agradável para mim ter que dar ordens a meu irmão mais velho. Uma vez que me confiastes a guarda do dia e da luz, por que não confias a ele, a guarda da noite e das trevas?”
Ofun aceitou a sugestão e, depois disto, Oyeku passou a ser responsável pela noite. Dele dependem os kuvito (**), o sono dos homens e tudo o que acontece durante a noite, seja na terra, seja no ar, seja sob as águas...
Tempos depois, Ejiogbe pediu a Ofun que criasse, para iluminar a terra, o Sol, uma lua e várias estrelas.
Ofun Meji confiou-lhe então, esta delicada missão, dando-lhe, como auxiliar, nada menos que Elegbara, com ordem de reunir todos os pássaros existentes no mundo, de os matar e lhe entregar o seu sangue pra que pudesse fazer alguma coisa. o mesmo deveria ser feito com todos os animais e com todos os homens.
Egiogbe, auxiliado por Legba, fez todo o possível pra reunir todos os pássaros e, matando-os recolheu o seu sangue, fazendo o mesmo com todos os animais e com todos os homens.
Apesar dos esforços, muitos pássaros, animais e homens, conseguiram escapar.
É por isto que, ainda hoje, Elegbara percorre os quatro cantos do mundo em busca de pássaros, animais e homens, na tentativa de captura-los.
Os sangues recolhidos foram depositados em três grandes jarras e cozidos no fogo.
Do sangue dos homens foi fito o Sol.
Do sangue dos animais foi feita a Lua.
Do sangue dos pássaros foram feitas as estrelas.
Obtida a transformação desejada, Elegbara apresentou o resultado a Ofun Meji e então Oduduwa ordenou;
“Levanta-te Sol e lá do alto reina sobre o dia!”
“Lua levanta-te! Tu reinarás sobre a noite!”
Estrelas, subam ao céu, Vocês reinarão sobre a madrugada!
(*) Bebida obtida a partir da seiva fermentada da palmeira.
(**) Espíritos dos mortos.

Cânticos do Itan: (Tradução desconhecida).
Eori oshukpa Orun,
Timanlan lelegun!
Aworna lodifa fun igun
Ijo tiwon she awo
Lati kole Orun bowa kole aye
Orañi kañi
Kole ogun mwõna le mon
Orañi lani lani!
To ba de le ko wi fun ya emi fun mi. (yoruba).

(3) Naquele tempo, a galinha d’Angola era inteiramente preta e vivia só e infeliz dentro da mata.
Para resolver seus problemas de solidão, foi consultar o advinho de Obatala, sendo completamente preto, não poderia entrar numa casa onde o Orisha do Branco era cultuado, pois cor preta era considerada como uma grande ofensa.
Desolado o bicho que apesar de viver só era muito rico, reuniu uma grande quantidade de alimentos e saiu sem rumo, na esperança de encontrar, em outro lugar qualquer, alguém que lhe fizesse companhia.
Depois de muito caminhar, encontrou numa clareira, um velho muito estropiado que gemendo, estendeu-lhe as mãos dizendo:
“Dá-me um pouco de comida e de água pois estou exausto e já não posso conseguir alimento para minha própria sobrevivência”.
Condoído, Etu serviu de seu próprio alimento ao velho e saciou-lhe a sede com a água que trazia dentro de uma cabaça.
Logo que acabou de comer, o pobre velho, de tão enfraquecido, caiu em sono profundo e, ao despertar muitas horas depois, deparou com Etu que preocupado, velava por seu sono.
Já refeito, o velho perguntou:
“Que fazes sozinho no interior desta floresta? Não sabes por acaso que ela é sagrada e que só os iniciados podem penetrá-la? “
“Ando sem destino. Nasci só e sempre vivi só. Minha aparência é muito repugnante e minha feitura impede que as pessoas permitem que me aproxime delas!” Replicou a ave.
“Tua feitura exterior nada é, comparada com tua beleza interior. Aproxima-te mais e, como recompensa pela tua bondade, modificarei um pouco a tua aparência!”
Pegando pó de efun, o velho que outro não era que o próprio Obatala, soprou sobre o corpo de Etu, deixando-o, a partir de então, todo pintado. Reunindo alguns elementos sagrados, modelou um cone que colocou no alto de sua cabeça dizendo:

“A partir de hoje, serás o animal mais importante na religião dos Orishas, Nada poderá ser feito sem tua colaboração e como sinal desta importância, serás o único dentre os seres vivos a portar o oshu, símbolo da aliança formalizada entre o iniciado e seu Orishá. Possuirás além disto, tantas fêmeas quantas quiseres e tua prole será numerosa e se espalhará sobre a Terra”.
Por este motivo a galinha d’Angola possui o corpo coberto de pintinhas brancas e carrega sobre a cabeça uma crista de forma cônica, assemelhando-se ao iniciado durante o ritual de iniciação. Sua presença em todas as cerimônias iniciaticas é indispensável e todos os Orishás a exigem em seus rituais.

Ebó: Igbin, efun, osun, e ori da costa. Puxa-se o Igbin sobre Oshala, frita-se sua carne, depois de limpa, em banha de ori, cobre-se com efun e oferece-se pra Oshalá, depois que esfriar. O casco do igbin é untado com banha de ori e depois de pintalgado com efun e osun, é oferecido a Elegbara.
(Este ebó é para tirar a pessoa de qualquer tipo de dificuldades na vida.)
Orishala por adquirir o costume de embriagar-se, caiu em desgraça diante de Olofin que, como castigo, impôs-lhe o descrédito e o desrespeito dos homens.

Por onde passasse, era apontado como ébrio e irresponsável e as mesmas pessoas que antes lhe prestavam reverências, agora viraram-lhe as costas e riam de sua presença de forma irreverente e zombeteira.
Cançado de tanta humilhação, o Orishá resolveu buscar auxílio no oráculo de Ifá e na consulta surgiu Ofun Meji que além do sacrificio de praxe, proibiu que voltasse a se aproximar de emu.
O sacrificio exigido era composto de uma ovelha, duas galinhas, um eleke de contas brancas, panos brancos e dezesseis penas de ekodide.
Depois de oferecidos os bichos a Elegbara, Orishalá teve que envolver-se em panos brancos e arrumar as dezesseis penas ao redor de sua cabeça. Isto foi feito antes do nascer do Sol e o orishá foi então, com o eleke no pescoço, colocar-se no alto da montanha que ficava na entada da cidade.
Na alvorada, os raios do Sol nascente surgiram por trás de Orishalá e passando entre as penas causaram a impressão de que labaredas de fogo saiam de sua cabeça. Apavorados diante de tal visão, os moradores da cidade lançaram-se ao chão gritando aterrorizados””Hekpa Baba!” E todos mantinham os rostos colados sobre o solo.

Foi então que o poderoso orishá, livrando-se do vício da bebida pode recuperar o prestígio entre os homens e as graças de Olofin.
Por este motivo, os filhos de Orishalá tem o emu como uma das suas principais interdições, não devendo sequer permanecer onde se quer esteja sendo consumido por seres humanos.
Ebó: Uma Ovelha, duas galinhas brancas e emu que são sacrificados para Elegbara. O Igba de Oshalá e inteiramente coberto com panos brancos e sobre eles arruma-se os dezesseis ekodides espetandos numa bola de ori, como se fosse uma coroa. Depois de dezesseis dias leva-se ao alto de um monte e entrega-se na hora em que o Sol estiver nascendo.

Este ebó é indicado para acabar com qualquer tipo de vício que prejudique a vida da pessoa.


SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OWONRIN MEJI

Owonrin Meji é o 11º Odu no jogo de búzios e o 6º na ordem de chegada do sistema de Ifa, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 11 (onze) búzios abertos.
Em Ifá é conhecido entre os Fon (Jeje) como Wenle Meji, tendo a pronuncia do “e” final anasalada, pronunciando-se, corretamente, “Wolin”. “Uórin” ou “Uárin”.
“Wõ-ri” significa, em yoruba, rodar ou virar a cabeça, um sentido figurado de morrer: “Wãlã-wãlã” em fon, evoca a idéia de pintalgar, matizar.
Um velho Babalawo explica o nome deste signo, como a união da vida e da morte, significando as duas coisas, ao mesmo tempo.
Sua representação indicial em Ifá é: * * * *
* * * *
* *
* *
que corresponde, na Geomância Europeia a figura denominada “Fortuna Maior”.
Owonrin Meji é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Fogo, com predominância do primeiro, o que indica proteção, ajuda, admissão, aceitação.
Corresponde ao ponto cardeal Oeste-Sudeste, à carta no. 17 do Tarot (A Estrada) e seu valor numérico é o 13.

Suas cores são sempre luxuriantes e quentes, principalmente os vemelhos e o dourado. É um Odu feminino, representado esotéricamente por dois triangulos superpostos, no meio dos quais estão dispostos três pontos formando um triangulo. Cada ponto é de uma cor diferente, o que transmite a ideia de colorido, matizado. (São utilizadas seis cores diferentes, não impostando quais sejam elas).
O valor numérico 6 (seis), está aí perfeitamente reprentado. Cada um dos três pontos de cada triângulo, representa seis nozes de Ifá e dezoito nozes formam uma “Mão”, de maneira que se possa conta-las; Boru, Boya, Boshe, uma vez em cada triângulo e uma vez em cada lado deles.

O número seis é chamado em fõ-gbe, “ayzen” (Tu segues em igualdade, tu segues junto, tu segues em pares). No número seis esncontra-se duas vezes o número três, que é considerado elementar. Seis e mais sólido, dá um melhor equilibrio.
Owonrin Meji é um Odu muito poderoso que revela inúmeras doenças localizadas no abdomem, onde elas estabelecem o seu reduto. É o assistente direto de Iku, a Morte, durante a noite e de Gbe, a Vida, durante o dia.

Criador das cores, transmite a ideia de colorido, de estampado. Introduziu neste mundo, as rochas e as montanhas, as mãos e os pés dos seres humanos; as cólicas femininas.
As pessoas nascidas sob este signo ficam ricas ainda na juventude, realizam cedo tudo o que desejam da vida e obtem precocemente, filhos, mulheres, dinheiro e todas as boas coisas da vida.
São naturalmente bafejadas pela sorte, atraentes e excessivas em tudo, generosas, dominadoras e entusiasmadas, não conhecem desafios que não possam vencer, obstáculos que não saibam sobrepujar. Gostam do que é bom do que é caro e não medem esforços para obterem o que desejam.

Owonrin Meji, predispõe, no entanto, a estadias curtas sobre a Terra. Segundo um itan de ifá, o Odu costuma dizer: “O que faz meu filho sobre a terra se ninguem é capaz de compreendê-lo como eu? Assim sendo, vou trazê-lo para junto de mim!”

Sendo portador de acidentes, é muito dificil que se possa sesfrutar, por muito tempo de seus beneficios.


SAUDAÇÕES DE OWONRIN MEJI:

Em Fon: Mi kan Wele Meji
Ta-yi ma fo vido akon yeo!

Tradução: Saudemos Owonrin Meji!
Que os acidentes não nos surpreendam nem envolvam nossos filhos.

Em Yoruba: Owonrin shobi eba Eshú gbasisa she mishe
Agbo ibe afuje agana she mishe
Adie dane kama mo fe tani.

OWONRIN MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Owonrin Meji pode indicar, principalmente: Nobreza de atitudes, uma decisão que leva a um bom resultado, planos que darão certo, um bom empreendimento, proteção do alto, ajuda de terceiros, fortunas, riqueza.

OWONRIN MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Acidentes fatais, morte súbita ou prematura, vida curta. Em osogbo Arun indica doenças no olho direito, excesso de sangue, hipertrofia dos orgãos, hipertensão, congestões e todos os tipos de doenças ocasionadas por abundãncia ou excesso patológico de fluídos, humores, materias orgânicas, etc.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Sakapata, Toxosu, Kennesi, Gu, Dã e Lisa.
Orishá (Nagô):Yemonja, Yewa, Logunede, Obaluaye, Oshun e Inle.

INTERDIÇÕES DE OWONRIN MEJI:

Owonrin Meji, proibe aos seus filhos: O uso de roupas e objetos demasiadamente coloridos (mais de duas cores); banho de mar; o coito com parceiros que sejam filhos de Omolu. Não devem beber vinho de palma nem comer galinha d’Angola, veado, pipoca, milho e sorgo.

SENTENÇAS DE OWONRIN MEJI:

(1) Se Oshala não der a ordem, nenhuma guerra arrazará o país.
(O cliente deve oferecer um adimu a Oshalá para evitar que algo de ruim lhe aconteça).
(2) É diante daqueles que dão generosamente que as pessoas se curvam e não diante dos que são avarentos.
(O cliente deve oferecer o sacrificio sem medir as despesas dele proviniente).
(3) Não se deve jamais colocar uma esteira zã kplakpla (*), sobre uma esteira de junco.
(Se o cliente se propõe a qualquer tipo de empresa com outra pessoa, será ele quem deverá dirigir a empresa).
(*) Esteira de má qualidade.
(4) Um gancho serve para puxar as coisas para junto de nós e não para afastá-la.
(O cliente receberá a recompensa pelos seus esforços).
(5) A guerra não pode abater o rochedo.
(Os inimigos nada poderão contra o cliente que, no final, sairá vitorioso.).

ITAN DE OWONRIN MEJI

(1) Owonrin Meji fazia parte do elenco de Oduduwa e vivia em sua companhia e de seus irmãos, num lugar lá no alto.
Ele era por demais violento, atacava indiscriminadamente homens e animais e não exitava em abater maldosamente a quem avistasse.
Descontente, Oduduwa mandou chamá-lo a sua presença mas, temendo ser castigado, Owonrin Meji refugiou-se sobre a Terra.
Descoberto a esconderijo, Oduduwa ordenou que se transformasse em Sakpata e que passasse a viver para sempre na Terra em que vivem os homens e os bichos. É por isso que, sempre que alguém faz um juramento sobre Sakpata, deve recolher uma pitada de terra do chão e engolir.
(2) Um dia Kpo (*) disse a Sonu (*): “Eu gostaria de conhecer a tua casa.
Sonu respondeu-lhe no entanto, que aquilo não seria muito fácil.
Tempos depois os dois amigos voltaram a encontra-se casualmente e Kpo disse: “Amigo Sonu, eu vou aproveitar a ocasião para acompanhá-lo até sua casa e assim afinal, poderei conhecê-la.”
Os dois seguiram então em direção à casa de Sonu e, logo que a avistaram, Kpo já sabendo sua localização, resolveu voltar.
Diante do ocorrido, Sonu ficou muito preocupado: “Kpo só queria saber onde fica minha casa, seu procedimento é muito ruim e eu não confio nem um pouco em seu caráter. É melhor que eu consulte Ifá para conhecer suas verdadeiras intenções.”
Na hora da consulta, Owonrin Meji apresentou-se transmitindo a seguinte mensagem: “É necessário que me tragas folhas de palmeiras ainda verdes e que me entregues o pano estampado que te serve de vestes neste momento. Eu oferecerei um sacrificio em teu nome, mas terás que mudar de residência.”
Quando Sonu lhe entregou as folhas de dendezeiro, Owonrin Meji embrulhou-as no pano estampado e ordenou que, naquela noite, colocasse o fardo sobre a esteira em que costumava dormir e que fosse se esconder num lugar próximo onde pudesse, em segurança, assistir o que iria acontecer.
Sonu seguiu integralmente as orientações, durante a noite, Kpo chegou sorrateiramente e aproximando-se, saltou sobre o feixe de folhas que julgava ser Sonu adormecido, abocanhando-o furiosamente.

Os espinhos existentes nos talos das folhas penetraram profundamente em suas patas e em seu focinho. Espantado, Kpo arrancou os espinhos e o sangue jorrou, enquanto os ferimentos começram a coçar terrivelmente.
Desesperado com a coceira, Kpo cravou as garras com toda a força no próprio focinho, fazendo com que os ferimentos abrissem mais e a coceira aumentasse. Quando mais Kpo se coçava, mais se dilacerava e mais insuportável se fazia coceira de suas feridas.
O sangue jorrava abundantemente sobre a terra e, em pouco tempo, enfraquecido pela hemorragia, o animal tombou sobre o solo.
Enquento teve forças, se coçou de forma tão furiosa que seu focinho ficou completamente descarnado. Não resistindo ao sofrimento e a hemorragia, Kpo acabou morrendo, vítima de sua própria maldade.

Seguro em seu esconderijo, Sonu bradou ileso e feliz: “E je un sanananana!” ( Kpo atirou-se sobre os espinhos e os espinhos o mataram!)
Foi assim que, com a ajuda de Ifa, Sonu livrou-se de seu inimigo.
(*) Leopardo.
(**) Onça pintada.

Ebó: Uma folha de dendezeiro verde e inteira; uma esteira; um pedaço de pano estampado imitando a pele da onça; dois galos. Arruma-se tudo sobre a esteira, primeiro o pano e sobre ele, a folha de dendezeiro enrolada. Sacrifica-se um galo para Elegbara deixando o eje correr sobre o igba. O galo é colocado no meio da folha (cabeça e tudo). Faz-se então, um embrulho com o pano estampado, enrola-se na esteira e leva-se pra dentro da mata. O outro galo, depois de passado no corpo do cliente, é apresentado a Elegbara e posto em liberdade.
Este ebó é indicado para pessoas que estejam sendo ameaçadas por inimigos ou que estejam sobre ameaça de acidentes graves.

(3) Lin (*) havia declarado guerra sem tréguas a Ta (**). A árvore, cheia de medo, foi consultar Ifá a quem perguntou: “Veja só, Lin me declarou guerra, mas ela possui uma tropa muito numerosa e eu sou sozinho! O que devo fazer para evitar tal guerra?”
Owonrin Meji, surgindo na consulta determinou: “Pegue alguns de seus filhos (galhos e ramos) e com eles faça cacetes, pilões gamelas que deverão ser colocadas em sua casa antes que decorram sete dias.
No sétimo dia, os grãos de milho, em grande quantidade, atacaram Ta e foram caindo, aos montes, nas bocas dos pilões, pensando que com isto iriam sufocar a árvore. Tá e sus ramos transformados em cacetes nada mais tiveram a fazer, que socá-los, transformando-os em farinha.
Foi assim que a árvore Ta, triunfando sobre os inimigos, em regozijo, pôs-se a cantar:
Ta-tin huwa e wu li hwã to egbe.
O Wele-Meji! Ahwã towe ja we na wu me tõ!
(Atati esmagou o milho na gurra de hoje.
O Owonrin Meji! Que tua guerra seja sempre vitoriosa!).
(*) espiga de milho.
(**) certo tipo de árvore.
Ebó Onze cacetinhos de madeira, onze espigas de milho verde, milho seco solto, uma gamela, farinha de milho (fubá). Arruma-se tudo dentro da gamela, seguindo a seguinte ordem: O milho seco no fundo da gamela, as espigas arrumadas em volta com as pontas mais finas viradas pra cima, os cacetinhos de madeira por cima do milho, (espetados para que permaneçam em pé). O fubá, em boa quantidade é espalhado por cima de tudo. A gamela permanece diante de Elegbara até que o milho das espigas esteja completamente duro e seco. Depois disto, leva-se a uma mata e despacha-se aos pés de uma árvore.
É indicado para resolver pendências e casos de justiça.
(4) Existem duas qualidades de Sakpata, um chamado Zunxolu, Rei da Floresta, é selvagem e o outro, chamado Je-Xolu, Rei das Pérolas, é doméstico.
Je-Xolu possuia duzentos cavalos e igual número de bois, galinhas d’Angola, igbis, galinhas e galos caipiras, cabritos, cães, gatos e porcos. Era nesta época solteiro e, todo animal que comessasse a criar reproduzia-se abundantemente, mas por proibição de Owonrin Meji, signo pelo qual veio ao mundo, estava impedido de abater qualquer animal.
Certo dia um desconhecido, abatido pela fome, bateu em sua porta e Je-Xolu,, não tendo como alimentá-lo, sacrificou uma galinha, oferecendo-a ao estranho.
No outro dia surgiu outro estranho, ao qual foi oferecido um cabrito. No outro dia a um terceiro, foi oferecido um porco, a um quarto, um cavalo e depois, a um outro, um boi.
Desta forma foi sendo abatido um animal de cada espécie, até que chegou a vez da galinha d’Angola que, na hora de ser sacrificada, pôs-se a gritar: “Tu vais me matar! Tu vais me matar!” Com estes gritos todos os animais despertaram.
Na manhã seguinte, os animais se reuniram num lugar secreto e constataram que, de cada espécie, faltava uma unidade e concluiram: “é isto o que nosso dono pretende fazer a todos nós, ele nos matará a todos”
Naquele tempo, Zunxolu nada possuia de seu, nem jamais fizera qualquer prece a Oduduwa para que o grande Vodun dispensasse alguns bens em seu favor.
No dia exato em que os animais pertencentes a Je-Xolu estavam reunidos, Zunxolu passou pelo local, havendo se alimentado somente de ervas, por todo o caminho, cujos restos ia abandonando em seu percurso.
Os animais vendo as folhas e raizes caídas no chão, foram seguindo a trilha, acabando por chegar a casa de Zunxolu que, neste exato momento, tinha diante de si uma galinha d’Angola que se destinava a um sacrificio. Vendo a casa invadida por tantos animsis, entre os quais inumeras galinhas d’angola, Zunxolu pegando um pouco de oshe- dudu (*) salpicou de preto sua galinha para que não se confundisse com as muitas que acabaram de chegar. É preciso que se saiba que, naquela época, as galinhas d’angola eram inteiramente brancas.
Quando todos os animais acabaram de entrar em sua casas, Zunxolu tocou-os todos para dentro de um grande aposento que possuia, trancando-os. Depois, munido de um sino, pôs-se a badalar para apressar alguns animais que pudessem ter se atrazado no caminho.
No dia Seguinte, Je-Xolu dando falta de seus bichos, resolveu sair pra procurá-los e, seguindo as pegadas chegou a casa de Zunxolu, a quem, depois de saldar, perguntou: “Todos os meus animais desapareceram, não terá você visto para onde eles foram?”
“Não, tenho aqui apenas uma galinha d’Angola que crio pra oferecer em sacrificio!” respondendo o outro, mostrando sua galinha d’Angola.
Todos os animais presos no quarto, ouviram a conversa e, apesar de reconhecerem a voz de seu verdadeiro dono, ficaram bem quietos para não terrm que seguí-lo de volta, correndo o risco de serem posteriormente sacrificados para servirem de alimentos para alguém.
Foi assim que Zunxolu ficou com tudo e Je-Xolu sem nada. É por isto que quando a variola entra numa casa não se deve imolar qualquer animal, nem permitir que corra sangue no chão. Se esta regra não for obedecida, a fúria da doença será incontrolável e ela transformando-se em epidemia, se alastrará por todo o país.
Não se deve violar a interdição de Sakpata.
(*) Sabão preto - Sabão da Costa.
Ebó: Onze pedaços de pano vermelho, pipoca, sabão da costa, yerosun. Prepara-se uma grande quantidade de pipoca e deixa-se num alguidar aos pés de Omolu. Traça-se o signo de Owonrin Meji sobre o yerosun, faz-se a saudação do Odu, mistura-se o yerosun a uma bola de sabão da costa, manda-se a pessoa doente tomar banho durante onze dias com este sabão. Depois de cada banho, o cliente tem que secar o corpo num dos pedaços de pano vermelho. Retira-se um pouco da pipoca contida no alguidar, embrulha-se no pano em que a pessoa se enxugou e despacha-se em cima de um formigueiro. A cada punhado de pipocas que se retirar do alguidar, acende-se uma vela. A pipoca deve ser em quantidade suficiente para os onze banhos e não pode sobrar nenhuma depois do ultimo banho.
(5) Todo o fogo se apaga, mas o fogo que ilumina a cauda do papagaio Kese (*) , não se apaga jamais.
E isto que é revelado através deste signo: Todas as evidências de por meios naturais, sobrepor-se aos inimigos. Pobreza e miséria serão superados de forma que haja condições de se fazer os sacrifícios necessários.
Fogo mantinha uma rivalidade com Chuva, Sol também tinha rivalidade com Chuva e a mesma rivalidade existia entre Chuva e o papagaio Kese.
Foi determinada uma data para que a querela existente fosse decidida através de um combate e, no dia determinado, os três inimigos de Chuva lançaram-se simultaneamente sobre ela.
Chuva pôs-se a cair copiosamente, visando desta forma derrotar seus inimigos.
Sol, encoberto pelas nuvens não pode brilhar e Fogo foi extinto pelas águas de Chuva. Somente Kese não foi afetado pelo inimigo e suas penas vermelhas, apesar de molhadas, conservaram todo o seu esplendor, Kese saiu incólume do combate.
Foi a partir deste dia que suas penas vermelhas passaram a ser utilizadas como símbolo de vitória.
(*) Papagaio de rabo vermelho, o mesmo que o odide dos Yoruba. As penas de sua cauda (eko dide) são consideradas sagradas.

Cânticos de Ifá referente a este Itan: Olu lebe lobe Ina
Olu lebe lobi Orun,
Olu lebe lobi eko,
Ojo ki ilo ko pa ina eko.

Tradução: O Grande Senhor criou o Fogo,
O Grande Senhor criou o Sol,
O Grande Senhor criou o Ekodidé,
A Chuva que cai, não pode apagar o fogo da cauda de Kese.
Ebó: Água de chuva, carvões, uma pena ekodidé, um galo. Acende-se o braseiro e quando o fogo estiver bem vivo, despeja-se em cima a água de chuva contida num vasilhame qualquer. Recolhe-se as brasas já apagadas numa panelinha de barro e coloca-se sobre elas, espetadas, a pena. Faz-se a prece do ebó, pede-se o que se quer e deita-se nos pés de Elegbara até que se obtenha a graça pretendida. Quando isto ocorrer, sacrifica-se um galo sobre os carvões e a pena, oferece-se a Elegbara e despacha-se num lugar alto.
Prece: Esta é a prece mais importante do Owonrin Meji. Antes de pronunciá-la, deve-se comer uma quarta parte de um obí anteriormente mergulhada em azeite de dendê. Depois disto, oferece-se à Terra: água, azeite de dendê, os fragmentos restantes do obí e moedas, observando-se a ordem aqui descrita. Todo este cuidado deve ser tomado porque neste signo as influências advindas da feitiçaria são por demais fortes e perigosas.

A prece deve ser feita, para maior segurança, todas as vezes em que sair um ebó deste signo.

Egun owonon, Egun ko eugudu
Yinlon kpada alatosi omo ewi.
Oko olowo ni komo Iyami Aje.
Oni pa mi õgun koni pa mi.
Ikú ko si.

Tradução:
Egun não pode recusar o vulto de argila representando uma certa pessoa.
Ela irá para o lugar onde se encontra o filho de Ewi.
O mais belo ornamento de um homem rico é o filho de Minha Mãe Ajé.
A guerra e a bruxaria não podem me matar.
Não haverá morte.
(6) Havia naquele tempo, dois homens que foram colocados em confronto pelo destino em situações absolutamente diversas.
O primeiro deles se chamava Próspera na Tua Proximidade e era um rico senhor, comerciante de escravos. O segundo homem, mísero escravo, recebera o nome de Nada pode impedir que Prospere Quem tem que Prosperar.
O pobre escravo havia sido comprado como mercadoria de um fazendeiro vizinho, uma galinha d’Angola que, imediatamente começou a dar cria enchendo seu dono de pintinhos. O infeliz, imaginou logo que, se vendesse os filhotes de sua galinha d’Angola, poderia, em pouco tempo, obter dinheiro suficiente para comprar sua alforria.
O malvado senhor, pressentindo as intenções do escravo e não querendo abrir mão de seus serviços, ordenou-lhe que fosse ao mercado e, aproveitando-se de sua ausência, matou o animal e toda a sua prole.
Ao retornar, o escravo deparou desolado com a mortandade provida por seu amo e, tratou de limpar os bichos mortos e, depois de defuma-los, guardou-os entre as palhas que cobriam a miserável choupana em que habitava.
Dias depois, o mesmo vizinho presenteou o escravo com uma ovelha prenhe que imediatamente começou a dar crias o que recendeu as esperanças do escravo.
Mas a história voltou a se repetir e novamente os animais foram abatidos pelo malvado senhor de escravos. O infeliz servo, agindo da mesma forma anterior, limpou e defumou os animais guardando-os junto com os demais.
Ao saber do acontecido, o bondoso vizinho resolveu presenteá-lo, semanalmente, com uma pequena quantia em dinheiro pra ser economizada até atingir o valor do resgate.
Certo dia, surgiram na cidade alguns homens que transportavam a ossada de um príncipe morto em combate, num lugar muito distante dali. Estes homens já vinham viajando a muito e muitos dias e seus recursos financeiros esgotaram-se por completo.
Sem condições de prosseguirem em sua viagem, resolveram colocar a venda os ossos do príncipe, garantindo que aquele que os apresentasse ao rei, seria regiamente recompensado.
Novamente o malvado maquinou uma forma de impedir a libertação de seu escravo e pegando todo o dinheiro por ele acumulado, comprou a ossada, apresentando-se depois e dizendo: “Tomei a liberdade de lançar mão do teu dinheiro pra comprar os ossos do príncipe morto em combate. Posso garantir, desta forma que, se um dia conseguires dinheiro suficiente para sua alforria e mais uma boa quantia para uma viagem até o palácio real, nosso rei irá recompensar-te de tal forma, que a segurança de tua velhice estará garantida.

O jovem viu mais uma vez seus sonhos serem desfeitos e, conformado com sua desdita, guardou os ossos junto com os animais defumados.
Passaram-se os anos, e um dia uma epidemia assolou a capital do país. O Rei, tratou de consultar seu advinho e na consulta surgiu Owonrin Meji que exigiu um sacrifício no qual era necessário uma certa quantidade de galinha e pintos d’Angola, assim como de ovelha e carneirinhos defumados a mais de três anos.

Os mensageiros do rei saíram, país afora, em busca dos ingredientes necessários ao ebó que terminaria com a moléstia que dizimava a população e, depois de muitos dias de busca infrutífera, chegaram a cidade onde viviam nossos heróis e, no mercado, anunciaram as suas pretensões.

Ao ouvir o que desejavam aqueles homens, o escravo apresentou-se e colocou a disposição seu estoque de carnes defumados e o chefe dos mensageiros ordenou-lhe que recolhesse tudo de seu e que os acompanhasse até o palácio real, o que não pode ser evitado pelo senhor de escravos que nada era diante da autoridade dos arautos reais.

Desta forma, o pobre escravo juntando seus poucos pertences, dirigiu-se ao palácio real, onde entregou ao Babalawo do rei o material necessário ao ebó determinado.
Feito o ebó, o resultado foi surpreendente e muita gente já desenganada, recuperou a saúde como que por milagre.

Muito contente, o rei mandou que fosse dado ao jovem escravo, além do valor correspondente a sua alforria, o direito a um terço dos impostos arrecadados no reino, tornando-o desta forma, muito rico.

Pouco tempo depois, o ex-escravo relatou à sua majestade, a passagem relativa aos ossos do príncipe que ainda estavam em seu poder, o que deixou o rei muito emocionado por tratar-se dos despojos de seu próprio filho. como recompensa por mais este obséquio, o rei concedeu ao jovem, a mão de sua própria filha em casamento, ficando assegurado que, após sua morte, caberia ao rapaz o reinado por inteiro.

Rico e poderoso, o mancebo mandou que fossem buscar seu antigo amo e, ao contrário que se esperava, demonstrando bondade e compreensão, soube perdoar todo o mal que lhe foi feito oferecendo-lhe um lugar de destaque na corte real.
Este caminho determina a realização de um sonho, através de persistência, resignação e bondade.

Ebó Uma galinha, dois pintos, uma ovelha e tudo mais que se oferece a Eshú. Sacrifica-se os animais sobre o Igba de Elegbara, com tudo o mais e despacha-se no local determinado pelo jogo.



SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
EJILASHEBORA

Ejilashebora é o 12º Odu no jogo de búzios e o 3º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido como Iwori Meji.
Responde com 12 búzios abertos.
Iwori Meji recebe na linguagem Fon, o nome de Woli Meji. Segundo uma etimologia Yoruba encontrada no Abomey, Wo-Li exprime a idéia de cortar (Wo) a cabeça (Li e Ori) - cortar a cabeça, decapitar.
Iwori Meji é considerado, como sendo o encarregado da função de decepar as cabeças. Num mundo que nos é inteiramente desconhecido.
Foi a este Odu que Mawu confiou o cutelo ao carrasco.

Sua representação indicial em Ifá é: * * * *
* *
* *
* * * *
que corresponde na Geomancia Européia, a figura denominada “Conjunctio”.
Ejilashebora é um Odu composto pelos Elementos Água sobre Ar, o que determina um encaminhamento dos esforços, ao encontro de obstáculos que, poderão ou não, ser transpostos, dependendo da quantidade de esforços despendidos neste sentido. Significa que duas forças conflitantes se confrontam e que o resultado desta disputa, tende sempre em favor do lado mais fortalecido.
Corresponde ao ponto cardeal Sul, do qual é o regente, sendo, com Ejiogbe (Leste), Odi (Norte) e Oyeku Meji (Oeste), um dos quatro Odu principais do sistema de Ifá.
Seu valor numérico cabalístico é o 10 e corresponde, no Tarot, à carta no. 6 (Os Amantes).
Suas cores são irisadas, mutantes, imprecisas. E um Odu masculino, representado esotericamente pela silhueta de um animal selvagem, provavelmente de uma hiena (Xla), o que explica o fato de haver ensinado ao ser humano, o costume de comer carne.
Ejilashebora representa Xuji - o Sul e Kãli (os animais selvagens que habitam as florestas, as bestas ferozes), principalmente o xla (hiena) e o kinikini (leão).
Expressa a idéia de contato, de troca, de relação entre dois seres ou duas coisas. Refere-se a tudo o que diz respeito a união, casamento, contratos, pactos, acordos, compromissos, etc...
Esta figura exprime tudo o que entra em contato, não só por associação, como também por oposição. Desta forma, o confronto de dois homens, dois exércitos em luta, desde que ocorra um contato bem próximo, corpo-a-corpo, assim como um acoplamento sexual ou um par de dançarinos em ação, estão sempre sob sua influência.
Pode significar ainda, o fim de uma estadia sobre a Terra, a morte do corpo físico, daí seu nome significa “cortar a cabeça”.
Simboliza ainda a ligação entre o céu e a terra e o caminho que une os dois planos e que deve existir material e espiritualmente, possibilitando a evolução espiritual do ser humano.
As pessoas nascidas sob os auspícios deste Odu, apresentam características muito atraentes. Suas atitudes são pautadas na diplomacia, na habilidade e na polidez. Dotadas de profunda percepção, assimilam com muita facilidade os conhecimentos considerados de caráter subjetivo, o que fortalece suas estruturas espirituais.
Um comportamento instável provoca uma constante mudança de opinião, o que, por questões de segurança e para que não pareçam contraditórias, faz com que evitem tomar partido, ou posicionar-se diante de uma questão, permanecendo contentemente, “em cima do muro”.
São pessoas sensíveis, amáveis e cordiais, que adoram os relacionamentos superficiais e numerosos.
Da mesma forma, no amor, preferem a superficialidade e dificilmente assumem compromissos que durem por muito tempo, o que provoca uma constante troca de parceiros. A inconstância é uma de suas características mais marcantes.
Possuem gosto muitíssimo apurado, mas entediam-se até com as melhores coisas da vida, bastando para isto, que se transformem em rotina.

SAUDAÇÕES DE EJILASHEGBORA:

Em Fon: Mi kan Woli Meji
Zun gan do ta numio!

Tradução: Saudemos a Iwori Meji!
Que em nossos caminhos nunca surjam acidentes!.

Em Nagô: Ejilashebora kimba insolá.

EJILASHEBORA EM IRE:

Quando em Ire, Ejilashebora pode indicar, principalmente: Vitória em todos os sentidos; situação de desespero que chega ao final, sendo superada com esforços; fortalecimento espiritual, inteligência, um relacionamento de amizade que se transformará em romance; vitória numa disputa, casamento ou união sentimental, contrato bem sucedido.

EJILASHEBORA EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Uma troca ruim que traz maus resultados, morte (no sentido literal da palavra), um inimigo difícil de ser derrotado, derrota, associação prejudicial, compromissos que não podem ser satisfeitos, tendências ao suicídio, desespero.
Em Osogbo Arun, indica principalmente, as seguintes doenças: Distúrbios nervosos, paralisias locais ou gerais, falta de coordenação motora, epilepsia, loucura total, catalepsia.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Gun, Age (pronuncia-se Aguê), Lisa, Toxosu e Loko.
Orishá (Nagô): Shangô, Ogun, Oshosi, Iroko e Obatala.

INTERDIÇÕES DE EJILASHEBORA:

Ejilashebora proíbe aos seus filhos: Comer a carne de qualquer animal morto por decapitação, comer qualquer alimento feito com farinha de milho vermelho (polenta, angu, etc...), ingerir mel de abelhas ou qualquer alimento que o contenha, matar ou colecionar borboletas, assim como possuir objetos, quadros, jóias, etc. adornados com suas asas.

SENTENÇAS DE EJILASHEBORA:

(1) Existem muitas riquezas no pais de Xla (*), mas você não deve ir lá. As bestas ferozes o devorarão.
(O consulente deverá desprezar uma chance que lhe surgir na vida, para não correr o risco de morrer).
(*) Hiena
(2) Se o Xla grita “yu yu!”, é porque vai se alimentar.
(As dificuldades pelas quais o cliente vem passando estão chegando ao final).
(3) Uma laranja pede para ser plantada, outra laranja pede para ser arrancada e comida.
(O consulente, que hoje está quase morto, ficará bom e amanhã já estará de pé).
(4) Se o país de Gbodo é bom, o Xla terá o que comer. É desta forma que Deus substitui por outra, alguma coisa que está faltando.
(nada faltará ao consulente)
(5) Quando a cerca da casa de Vodun é arrancada, o sacerdote não deve fazer disto, motivo de zombaria.
(O advinho não deve desprezar o consulente que venha consulta-lo e que seja desprovido de recursos).
(6) Xla não pode ficar no local onde vive Dãgbe (*) e ali morrer de fome, Ifá, no entanto, jamais zomba de uma divindade: É sacrilégio ordenar que Xla devore a Serpente Sagrada.
(As oferendas devem ser feitas, mesmo que representem um sacrifício muito dispendioso).
(*) Pithon Real.

ITAN DE EJILASHEBORA

(1) Desde o seu nascimento, Xla sofria de fome insaciável e nem possuía garras para capturar outros animais.
Um dia, contemplando com sua vida indagou: “Todos os animais estão aptos a obter seu próprio alimento, ao passo que eu fico impotente, sem meios de capturar alguma caça que possa saciar minha fome!...
O que terei feito a Mawu para ser tão duramente castigado?” Assim pensando, resolveu que deveria consultar Ifa.
Na consulta, Ifa fez com que surgisse Iwori Meji em seu Kpoli, determinando que Xla trouxesse garras de ferro, duas galinhas, um cabrito e doze búzios para oferecer em sacrifício.
“Como?” Perguntou Xla. “Se não tenho o que comer, como posso oferecer tal sacrifício? Se eu tivesse um cabrito, por certo que o teria comido e não precisava te consultar!”
Aborrecido, Xla seguiu seu caminho e sentindo-se cansado, juntou um monte de folhas, para descansar sobre elas.
Ao voltar para casa, passou por um campo onde pastavam muitos cabritos, cujo dono havia se afastado, Xla imediatamente pegou um dos cabritos, olhou para um lado, olhou para o outro... e um segundo cabrito foi surrupiado.
Satisfeito com sua conquista, Xla partiu cantando: “Estou indo para Gbodo! Eu, Ajanu Xla... Estou indo para Gbodo... Existem tantos animais em gbodo... Estou indo para lá!”
Depois de negociar um dos cabritos, Xla apresentou-se diante de Ifá portando um cabrito, duas galinhas, doze búzios e dez garras de ferro, Ifá recebendo as oferendas, fez o sacrifício e, devolvendo as garras de ferro, recomendou que as mantivesse escondidas entre os dedos, de forma que não tocassem o chão. Na manhã seguinte ao despertar, notou com enorme alegria, que as garras haviam aderido, cada uma a um dedo, como se ali estivessem desde o seu nascimento.
Caminhando feliz pela floresta, Xla encontrou Agbanli (*), seu companheiro de folguedos e que, até então, ignorava a existência das garras.
Como era de costume, puseram-se a correr e a brincar e, num determinado momento, a hiena cravou suas afiadas garras na garganta de Agbanli que, debatendo-se implorava: “Sheevo!... não faça isto comigo!”
“N’kan Wooo-Meji “Respondeu Xla, “Eu consultei Iwori Meji!”
Agbanli chorava: “Sheevo! Sheevo!” E Xla uivava “N’kan Woo-Meji!”
Foi sob este signo que a hiena aprendeu a comer carne e, a partir de então, Agbanli, o antílope, repete na floresta: “Sheeevo! sheeevo!”
(*) Antílope considerado sagrado por trazer, no dorso, manchas que se assemelham as marcas do Odu.
Ebó: Um cabrito, duas galinhas, doze búzios, dez pedaços de ferro que se assemelhem a garras. Sacrificam-se os bichos a Elegba, deixando o ejé correr sobre as garras de ferro. Despacha-se o carrego, deixando que as garras permaneçam no igba de Elegbara durante doze dias, findo os quais, as garras são retiradas e entregues aos cliente, que deve levá-las para casa e guardá-las como amuleto que lhe conferirá força e poder de realização.
Este ebó é aplicado para pessoas que não conseguem emprego, ou meio de subsistência para si e para os seus. Feito o ebó, seus caminhos se abrirão e oportunidades deverão surgir em sua vida.
(2) Ejilashebora, (Iwori Meji), é o signo sob o qual a hiena veio ao mundo.
Ainda muito jovem, a hiena padecia de fome constante. Para aliviar-se deste sofrimento, resolveu consultar Ifá e, durante a consulta, foi prescrito um ebó composto de três galinhas e três cabaças.
Com o material pedido, deveriam ser feitos três ebó distintos. o primeiro, feito pela manhã, foi despachado no brejo; se como caminho fosse encontrado qualquer tipo de caça, não deveria ser tocado.
Voltando do pântano, Xla deparou com um elefante morto e apesar da proibição, pensou em comer um bom pedaço, dizendo: “Como poderei com a fome que estou, deixar este elefante sem tocá-lo?” Legba, que naquele momento passava por perto, interviu dizendo a hiena que abandonasse seu intento, pois a desobediência à proibição de Ifá, faria com que o ebó não desse resultado. Desolado, Xla abandonou a carniça, pondo-se novamente a caminho.
Ao meio dia, ele levou o segundo ebó ao pântano e ao voltar, encontrou um carneiro morto. Novamente instigado pela fome, já se propunha a devorar o animal, no que foi novamente impedido por Legba.
A noite Xla levou o terceiro ebó e na volta, encontrou um antílope morto, Legba então apareceu e disse: “Aproxima-te e coma à vontade, de hoje em diante nunca mais padecerá de fome!”
Foi a partir daquele dia, que a hiena nunca mais conheceu o sofrimento da fome.
Ebó: Três galinhas e o mesmo número de cabaças, dendê, mel, aguardente, velas, efun e ataré. Sacrifica-se as galinhas sobre o igba de Elegba, obedecendo-se o preceito, arruma-se dentro das cabaças, cobre-se com pó de efun e manda-se que o cliente leve a um pântano, onde devem ser despachadas. Sai uma cabaça pela manhã, bem cedo, a segunda ao meio dia e a terceira ao anoitecer. As galinhas são passadas no corpo do cliente antes de serem sacrificadas, exceto a terceira que deve ser passada no corpo do oficiante.
Depois de despachada a última cabaça, ao voltar, o cliente deve tomar banho de folhas frescas com um pouco de efun misturado.
(3) Ejilashebora foi o signo que surgiu quando Xla e o homem vieram ao mundo.
O Xla encontrou-o na floresta e seu advinho ordenou que oferecesse garras de ferro em sacrifício e, como a hiena se negasse, o sacerdote reuniu tudo o que receitara, e ofereceu o ebó as suas próprias custas.
Um dia Xla sentia uma fome terrível! e nada encontrava para comer. Caminhando pela floresta, encontrou um advinho que se fazia acompanhar por um menino.
“Es tu o meu Bokonõ! Dá-me algo para comer pois fazem muitos dias que não coloco nada em meu estômago!” Exclamou a hiena.
“Como conseguir carne neste local?” Indagou o Oluwo. “E mesmo que surgisse alguma caça, tu és caçador, e não eu!”
Xla então respondeu: “Vejo uma bela caça caminhando ao teu lado. E a esta caça que estou me referindo. Encontrei muita gente em meu caminho, sem nada lhes pedir, mas como tu és o meu Bokonõ, tens a obrigação de me ajudar!”
Assustado, o sacerdote falou: “Sabes muito bem que os Bokonõ existem para salvar as pessoas e não para conduzi-las à morte. Se eu tenho alguma coisa que sirva para salvar tua vida, podes pegá-la!” Imediatamente, Xla saltou sobre o menino devorando-o, enquanto o Bokonõ gritava estarrecido: “Xla devorou o menino!”
Depois de saciada a fome, a hiena pôs-se a lamentar:
N’dubulu de!
N’du buulu de!
(Eu comi aquilo que ninguém pode comer)!
Todos aqueles para quem surgir este signo, devem encher-se de desconfiança e cuidar para que o mal ceda lugar ao bem.
Ebó; Um galo, 12 quiabos, dendê, mel, pano vermelho, aguardente, efun e mel. Passa-se o galo no consulente e sacrifica-se a Legba, arruma-se a cabeça, as asas, os pés e o rabo dentro do alguidar, coloca-se os 12 quiabos em volta, com as pontas viradas pra cima, enfeita-se com as penas, rega-se com mel, dendê e aguardente, cobre-se com pó de efun. O corpo do bicho é aberto, retira-se as ashés, frita-se no dendê e oferece-se a Elegba num recipiente a parte, cobrindo-se também, com pó de efun. As carnes são preparadas e comidas pelas pessoas da casa, guisadas com quiabo. Depois da refeição, coloca-se os ashés junto com as coisas no alguidar, levanta-se o ebó, envolve-se no pano vermelho e despacha-se no mato.
(4) No país de Tapa, apareceu um homem que, em pouco tempo, ficou famoso e conhecido pelas bravatas que se dizia capaz de realizar.
Sabendo de sua existência, Lonfin, rei do país, mandou intimá-lo à sua presença, para puní-lo ou premiá-lo, de acordo com o seu merecimento.
Chegando a presença do rei, o estranho não se intimidou e, de forma audaciosa e irreverente, começou a descrever os prodígios de que era capaz.
Dentre as vantagens que afirmava ser capaz de fazer, uma deixou o rei muito curioso. Segundo ele mesmo, possuía a capacidade de plantar sete inhames assados, fazendo com que, em poucos dias, os sete brotassem, deixando ramas e folhas.
Indignado com tal absurdo, o rei ordenou que o portento fosse realizado sob a promessa de que, se desse certo, faria do estranho um homem muito rico e, se ao contrário, os inhames não brotassem no prazo de vinte e um dias, mandaria cortar-lhe a cabeça.
Vendo perigar sua vida, o homem resolveu consultar Ifá, sendo-lhe exigido um ebó composto de um galo, um preá e todas as coisas que são do agrado de Elegbara.
Depois de oferecer o sacrifício, o homem foi aos campos do rei e, num sítio que ficava próximo a uma grande cachoeira, abriu sete pequenas covas, nas quais plantou sete inhames que o rei mandara assar por pessoas de sua confiança, entregando-os pessoalmente nas mãos do aventureiro.
Uma forte guarda foi colocada dia e noite no local, para evitar que o homem substituísse os inhames assados por outros bons para serem plantados.
No terceiro dia, depois do plantio dos inhames. Elegbara se apresentou diante do homem, entregando-lhe sete inhames já brotados para substituírem os que foram enterrados.
“De que forma - perguntou o infeliz - poderei substituir os inhames, se a guardas real não se afasta um minuto sequer do local da plantação.
Elegbara apenas lhe disse: “Vá pra o local e fique atento, quando surgir a oportunidade, substitua os inhames assados por este brotados.
O homem colocou os inhames num saco e dirigindo-se ao local determinado, permanecendo escondido, enquanto aguardava sua oportunidade de agir.
Depois de algumas horas de espera, viu quando Elegbara se aproximou dos guardas e falou: “Vejam! O homem que plantou estes inhames assados que vocês estão agora vigiando, não passa de um vigarista mentiroso que na verdade ele pretende é roubar a minha fama de realizar eventos extraordinários. Os inhames ai plantados jamais brotarão e, sabedor disto e do castigo que lhe será imposto pelo rei, já deve ter fugido, encontrando-se agora, muitas milhas de distância deste local. Se querem testemunhar um verdadeiro milagre, aproximem-se da cachoeira que eu farei com que suas águas desobedecendo todas as regras da natureza subam, ao invés de cairem como sempre fizeram.
Curiosos, os guardas abandonaram seus postos, reunindo-se todos em frente a cachoeira, para assistirem ao milagre anunciado por Elegbara que, aproveitando-se da confusão desapareceu de vista. Os guardas aguardaram durante horas o evento prenunciado por Elegbara e, como nada acontecesse e as águas continuassem a cair como sempre resolveram voltar aos seus postos.
O tempo em que estiveram afastados foi mais que suficiente para que o esperto aventureiro substituisse os inhames e, quando os guardas chegaram aos seus postos, notaram com espanto que brotos de inhame já despontavam na superfície da terra.
Comunicado do acontecido, o rei resolveu verificar pessoalmente a veracidade do fato e, três dias depois, quando chegou na roça, deparou com todos os inhames já brotados e com as ramas repletas de folhas verdes que se espalhavam pelo chão. Maravilhado, mandou chamar o aventureiro, a quem confiou o cargo de primeiro ministro do reino, tornando-o rico e poderoso como prometera.
Este caminho indica que a pessoa para quem surgir, deve usar de astúcia e audácia para atingir o objetivo pretendido, além de oferecer o sacrifico determinado.
Ebó: Um galo, um preá, sete inhame assado com casca, epô pupa, mel, aguardente e velas. Sacrifica-se o galo e o preá à Elegbara, seguindo o rito normal, Leva-se os sete inhames e os animais sacrificados à uma cachoeira e arria-se o carrego num local qualquer, de maneira que se possa fazer sete buracos em volta. Em cada buraco se enterra um inhame e acende-se uma vela ao lado.
(5) Houve uma época em que Aganju reinava sobre uma grande extensão de terra e Shangô era seu primeiro ministro, submetido então às suas ordens.
Formaram então, uma nação muito poderosa, que havia dominado por força de seus exércitos, a diversos povos, que tinham que pagar periodicamente tributos de guerra, em forma de todos os tipos de alimentos.
Aganju, possuía muitos e fiéis amigos e Shangô, mulherengo como ninguém, tinha um grande número de esposas e concubinas.
Periodicamente, os povos dominados por Aganjú enchiam barcos com alimentos e enviavam-nos, rio a baixo, em direção a capital do reino.
Shangô, reuniu um grupo de homens chefiados por um de sua inteira confiança, encarregando-os de interceptar os barcos de alimentos destinados a Aganjú, o que acabou por criar um problema muito sério.
Interrompido o abastecimento de gêneros alimentícios na capital, a fome passou a habitar o palácio real, onde viviam apenas nobres e guerreiros, que nada produziam e que serviam apenas de sustentáculo ao sistema estabelecido.
Preocupado com a situação, Aganjú enviou alguns guerreiros de sua confiança para, de forma secreta, verificarem o que estava acontecendo. Os homens foram se espalhando, escondidos por toda a margem do rio, em determinado momento, viram uma grande embarcação carregada de quiabos e muitos sacos de farinha, aproximando-se ao sabor da corrente.

Repentinamente, os homens de Shangô, chefiados por um tal Ogan, aproximaram-se da margem do rio e, esperando que a embarcação se aproximasse, lançaram cordas de forma que o curso do barco fosse interrompido. Imediatamente o cargueiro foi puxado até a margem e ali, depois de descarregado, foi totalmente destruído para não deixar vestígios do acontecido.

Perpetrado o roubo, os guerreiros de Aganju lançaram-se sobre os ladrões que lograram fugir com a exceção de Ogan que foi capturado e conduzido a presença do rei.

Apresentado ao povo como responsável pelo desaparecimento da comida, Ogan foi condenado a tocar Ilú, dia e noite, para que as pessoas dançassem enquanto cantavam:
Lu manlo, emanlo,
Lu manlo, emanlo!
Mojee mofile
Eni oma mofile,
Mojee mofile!

Tradução: Baila e faz bailar,
Baila e faz bailar!
Em pagamento pela comida
Que foi consumida
E que nos pertencia!

Foi a partir de então que Shangô tornou-se rei em suas terras, libertando-se do poder de Aganjú que, para poder receber os alimentos a que têm direito, deve usar dos atributos de Shangô, uma vez que tudo o que lhe é endereçado, passa primeiro diante deste Orishá.

Ebó: Trata-se de um adimu para Shango; Gordura de coco, cebola, pimentão vermelho, camarão seco, cominho, orégano, louro verde, tomate, quiabo, farinha de acaça, azeite de dendê. Pica-se a cebola, o pimentão, os tomates, os quiabos (estes em rodelinhas bem finas). Coloca-se a farinha para cozinhar, com água, em fogo brando, deixando engrossar um pouquinho.

Numa panela a parte, coloca-se uma colher de gordura de coco, uma pitada de cominho uma de orégano, a folha de louro, a cebola picadinha, o pimentão e o tomate, espere cinco minutos e acrescenta-se o camarão seco, o quiabo e o mingau que foi cozido em separado. Coloca-se um pouco de dendê se possível à pasta chamada (pambarra).

Deixa-se cozinhar em fogo brando por aproximadamente por uma hora. Quando estiver cozido, retira-se do fogo e se derrama tudo numa gamela, separa-se uma porção num alguidar para ser oferecida a Elegbara. Depois de entregar-se a parte a Elegbara, oferece-se o adimu aos pés de Shangô, sacode-se o shere e vai-se pedindo o que se quer em voz baixa, cabeça no chão diante do adimu.

Acende-se duas velas e, no dia seguinte, levanta-se o adimu e se leva aos pés de uma palmeira ou dendezeiro.

Este trabalho é indicado para obter coisas consideradas impossíveis, em qualquer situação.



SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
EJI OLOGBON

Eji Ologbon é 13º Odu no jogo de búzios e o 2º na ordem de chegada do sistema de Ifa onde é conhecido como Oyeku Meji.
Responde com 13 (treze) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Yeku Meji”, palavra cuja etimologia é desconhecida.
Existe uma corrente que pretende dar a esta palavra, um significado que está ligado ao termo “ye” (aranha) e “Ku” (morte), por considerar-se a aranha, como um animal de mau agouro e anunciador da morte.
Em Nagô, o sentido pode ser o seguinte: “Tudo deve retornar depois da morte”.
Os nomes honoríficos deste Odu são: Alagba Baba Egun (Velho Pai dos Egun) e Alagba Baba Mariwo (Velho Pai do Mariwo), títulos estes, que designam o chefe vivo dos kututo, de quem Oyeku Meji é o chefe espiritual!: Ye-ku-Ma-Yeku (nós somos compostos de carne e de morte): Zã-ki (O dia está morto). Esta última expressão usada pelos arautos (Ago Zãgule) do Abomey, para anunciar a morte do rei, Jioye ou Ejioye (Dois ye, duas mães), evocando como Ejiogbe, a dualidade Céu e Terra.
Sua representação indicial em Ifá é : * * * *
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* * * *
* * * *
que corresponde na Geomancia Européia, à figura denominada “Populue”.
Eji Ologbon é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Terra, o que indica a saturação total, o esgotamento de todas as possibilidades de acrescentar-se algo, o fim de um ciclo, a morte.
Corresponde ao ponto cardeal Oeste, a carta n. 13 do Tarot ( A Morte) e seu valor numérico é o 16.
Suas cores são o negro, o branco nacarado e o cinza prateado. É um Odu feminino, representado esotéricamente por um circulo inteiramente negro, o contrário de Ejiogbe (Ejionile). Oyeku é a noite, o inverso do dia; a morte, o inverso da vida.
Alguns advinhos afirmam que este foi o primeiro Odu a ser criado, tendo perdido o seu lugar pra seu irmão Ejiogbe. Esta opinião, prende-se ao fato de que as trevas existiam antes que fosse criada a luz. Oyeku Meji é essencialmente, o contrário de Ejiogbe, ou sua complementação. Representa o ocidente (Lisaji), a noite (Zan) e a morte (Iku).
Quando Ejiogbe veio a Terra, não existia a morte, Oyeku aqui a introduziu e dele depende o chamamento das almas e suas reencarnações após cada morte.
Oyeku participa dos rituais funebres e um pouco das guerras. É ele que comanda a abóbada celeste durante a noite e o crepúsculo.
Devido a sua influência direta sobre a agricultura e toda a produção agrícola, aqueles que nascem sob este signo poderão ser excelentes agricultores.
Todos reconhecem neste Odu, uma enorme influência e uma estreita relação com a Terra, o que reafirma sua condição de oposição à Ejiogbe que comanda o Céu.
Foi este Odú que ensinou os homens a alimentarem-se de peixe. Pouco depois de sua chegada a Terra, começou a chover e junto à chuva, cairam do Céu várias espécies de peixes, que foram levados aos lagos e rios por diverssos cursos d’água. Oyeku, então, disse aos homens surpresos: “Nada existe de mistérioso nisto, estes animais são comestíveis e foi o céu quem os enviou. Podem, portanto, come-los sem qualquer receio.
Além dos peixes, vieram ao mundo sob este signo o couro do crocodilo, o focinho do hipopotamo, o chifre do rinoceronte, todos os animais de pelo ou de penas que possuem hábitos noturnos, as nodosidades das madeiras e os nós das cordas.
Representa tudo o que é neutro, ineficiente, fatal. O conformismo, a coisa comum, tudo o que é próprio do indivíduo sem importância. Aquilo que cai, que se decompõe. É o declinio do Sol, o final do dia, o fim de uma etapa, a noite que se aproxima, a morte.
Anuncia um acontecimento nefasto, uma notícia desagradável, um falecimento, uma condenação na justiça. Determina sempre o fim radical de uma situação, o que pode ensejar ou não, o surgimento de uma condição inteiramente nova.
Os filhos deste Odu, são pessoas dóceis, de temperamento morbido, que preferem ser dirigidas e orientadas por alguém em quem depositam confiança cega.
Preferem as coisas simples mas de muito bom gosto, conseguindo reunir desta forma, simplicidade a beleza e a praticidade. Preferem viver em grupo e vivenciar com muita intensidade, os problemas do grupo de que fazem parte.
Intelectualmente receptivos, tem a capacidade de acumular uma infinita quantidade de conhecimentos sobre os mais variados assuntos, Independente disto, são incapazes de formularem teorias ou idéias próprias e quando o fazem, suas opiniões assumem aspéctos negativos ou demasiadamente místicos.

SAUDAÇÕES DE EJI OLOGBON:

Em Fon: Mi kan Yeku Meji
Ma ku zan do mi o!

Tradução: Saudemos Oyeku Meji
Para que as trevas da noite não caiam sobre nós!

Em Nagô: Ejiolgbon obetiti omo ki.

EJI OLOGBON EM IRE:

Quando em Ire: Eji Ologbon pode indicar, principalmente: Mudanças para melhor, fim de uma situação desagradável, boa orientação de alguém, que deve ser seguida, desmascaramento de certa pessoa que vem agindo com falsidade no amor, neutralidade em relação a uma briga ou disputa envolvendo outras pessoas.

EJI OLOGBON EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: ineficiência, incapacidade de tomar decisões, queda de situação, morte do cliente ou de uma pessoa ligada (fala principalmente da morte de pessoas do sexo feminino), notícias ruim que está para chegar, rompimento definitivo de qualquer tipo de relação; fim de uma situação agradável, esgotamento de possibilidades e de recursos.
Em Osogbo Arun, indica problemas relacionados com as vistas, o estômago, do aparelho digestivo em geral, da bêxiga, do útero. Indica ainda, queda de temperatura do corpo, perturbações emocionais e ou psíquicas: anemias, obsessões, alucinações fantasmagóricas.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Gbaadu, Kututo, Toxosu, Dã, Sakpata e Xevioso.
Orishá (Nagô): Nanã, Iyami Oshorongá, Omolu, Obá, Olokun, Oya, Oshosi, Ogun, Eshú, Egun e Ori.

INTERDIÇÕES DE EJI OLOGBON:

Eji Ologbon proíbe aos seus filhos: O uso de perfumes muito forte e ativos, a ingestão de alimentos demasiadamente condimentados ou de sabor muito forte. A carne do antílope, de veado e de qualquer ave de rapina. O uso de roupas vermelhas, a cultivo em suas casas de plantas que produzem espinhos, como roseiras, cactos, palmeiras, etc.
Os naturais deste Odu não podem, sob nenhum pretexto, destruir, seja por fogo ou por veneno, qualquer tipo de formigueiro. O vinho de palma (emu) também lhes é proibido.
Para manterem seu signo em Ire, devem banhar-se com folhas de cabaceira e algas. A pérola negra e o quartzo são excelentes catalizadores das vibrações positivas deste Odu, servindo portanto como poderosos amuletos para seus filhos.

SENTENÇAS DE EJI OLOGBON:

(1) A nodosidade da árvore não mata a árvore, o nó da corda não mata a corda, a aspereza do couro do crocodilo não mata o crocodilo.
(O consulente escapará de doenças, de acidentes e de seus inimigos).
(2) Um peixe caiu do céu no país de Alagba e todos gritaram: “É a morte”! E a morte Fa Aiydogun lhes disse: Peguem estes peixes e tratem de cozinha-los. A morte jamais saberá o que há dentro deles!”
(O cliente ficará curado da doença que o atormenta).
(3) O olho não pode ver através de um pano negro, na escuridão da noite).
(A morte, os acidentes e os inimigos, não molestarão o consulente).
(4) Um advinho chamado Boko Bedibedi, ao ser consultado por Aleshua, rei de Sakete, lhe disse: “A carne do porco contém muita vida, más se tu não a comeres com parcimônia, te fará muito mal”.
(O resultado do que se pretende será bom, mas necessário que se tenha cautela).
(5) A vida é uma mudança constante, mas o camaleão (simbolizado por Shegbo Lisa). Jamais se vestirá com um só pano.
(O rico de hoje, poderá ser o mendigo de amanhã e vice-versa).
(6) Um crocodilo, por maior que seja, não pode abocanhar e engolir os talos espinhosos do dendezeiro.
(É necessário que se respeite o inimigo).

ITAN DE EJI OLOGBON

(1) Um Bokono chamado Mi Va Sãnã So Yi (Bela talha que se leva ao poço), consultou para dois jovens que vieram ao mundo e que se chamavam Talha e Água, ordenando-lhes que fizessem sacrifícios, mas os jovens se negaram. O signo que surgiu na consulta foi Oyeku Meji.
Antigamente, os homens não possuíam qualquer tipo de recipiente aonde pudessem recolher água. Suas mãos não eram suficientes para tal função. Tentaram com folhas, mas estas também se mostraram insuficientes.
Em busca de uma solução, consultaram Ifá, que lhes mandou fazer um sacrifício composto de uma enxada, uma galinha, um pombo e um cabrito.
Os homens trouxeram os elementos necessários a Ifá, depois de sacrificar os animais, entregou-os aos homens com a seguinte orientação: “Vocês deverão arriar este ebó nas margens de um rio, numa distância de três vezes vinte e cinco passos da água. Ali deverão cavar um poço que será proporcional a vossa altura.”
Os homens mediram a distância e depois, começaram a cavar o poço, enquanto cantavam:
“Fa we zon mi
Ogbe zon!
Du ma le Kpoli we zon mi,
Gbe zon!”

Tradução: “Foi Ifá quem me deu esta ordem,
E o trabalho da vida!
Foi Kpole quem me deu esta ordem,
E o trabalho da vida”.
Eles cavaram o buraco e logo que sua profundidade atingiu o tamanho de um homem, encontraram um novo tipo de terra que se grudava na enxada. Foi desta forma, que Oyeku permitiu a descoberta da argila.
Curiosos com aquele novo tipo de terra, os homens recolheram uma porção da mesma, com a qual modelaram uma tigela que encheram d ‘água, observando então, que o líquido não vazava.
Considerando aquilo como um presente de Ifá, carregaram uma grande porção de argila para a aldeia e com ela, revestiram as paredes de suas casa, que se tornaram lisas e brilhantes, modelaram vários tipos de vasilhames, que lhes permitia carregar água melhor que em suas próprias mãos.
No outro dia, foram prestar contas a Ifá e lhe contaram sobre a descoberta, reclamando somente, que os objetos que fabricaram não eram muito sólidos e deformavam-se com muita facilidade. Ifá lhes disse então: “Que cada um de vocês recolham dois feixes de lenha. Cada um me fará um pote bem fundo, que me será entregue com dois caurís.
No dia seguinte, os homens se apresentaram diante de Ifá munidos de dois feixes de lenha, um pote de argila e dois búzios. Ifá ordenando-lhes que marcassem nos potes um sinal, que permitisse sua identificação, depois do que foi feito. Mandou cavar uma grande cova, para que nela fossem colocados os potes cobertos de lenha. Quando tudo estava pronto, Ifá incendiou a lenha, transformando tudo numa enorme fogueira e ordenou que todos fossem embora e que retornassem depois de três dias.
No terceiro dia, os homens retornaram e encontraram os potes enegrecidos, misturados a um monte de cinzas.
Cuidadosamente, procuraram, cada um pelo seu e, depois de encontra-los viram com alegria, que haviam se tornado duros e resistentes, permitindo que a água ficasse presa dentro deles, por tempo indeterminado.

Foi desta forma que a jarra e a água, foram punidas por não haverem feito os seus sacrifícios. A jarra, para trabalhar, tem que ser queimada e a água, para cumprir seu destino, tem que ser aprisionada, enquanto nós homens, cantamos:
Ta lo ko nna logbõ o?
Oye!
Oye la do a wa gbo?
Oye!
Ta lo wo enia logbõ?
Oye!

Tradução:
Quem fez com que os homens se tornassem engenhosos?
Oyekú!
Quem fez com que os homens se tornassem criativos?
Oyekú

Ebó: Uma talha de barro grande, uma galinha preta, um pombo preto, um cabrito, mel, dendê, oti, uma enxada, velas, etc. sacrifica-se os bichos a Elegbara sobre a talha, primeiro o cabrito, depois a galinha e depois o pombo (dentro da talha), retiram-se os ashés que são preparados e colocados dentro da talha (cabeças, pés, asas, rabos, corações, fígados, etc... Marca-se o signo de Oyekú Meji nos quatro lados da talha, leva-se para o mato e se enterra num buraco fundo, de forma que a talha possa ficar em pé. Para cavar-se o buraco deve ser usada uma enxada nova, que depois pode ser aproveitada, não precisando ser despachada. Ao voltar para casa, tomar banho de ervas frias e frescas. As carnes dos animais sacrificados podem ser consumidas normalmente pelas pessoas da casa, com exceção do pombo que vai dentro da talha.
Este ebó é indicado para obter-se recursos para qualquer tipo de empreendimento, empréstimos, financiamento, etc.
(2) Ogbe Meji e Oyekú Meji são filhos do mesmo pai; Olonfin.
Foi ele, quem enviou Oyekú Meji à Terra, para vigiar os homens, enquanto Ejiogbe, recebia a guarda de Ló.
Uma vez instalados na Terra, Oyekú Meji usurpou todos os nomes, todos os títulos que seu irmão mais velho possuía em Ifé, principalmente os seguintes:
Azin duto nõ du butebu - (Aquele que come o amendoim e sua casca).
Fio du to nõ butebu - (Aquele que come o fiõ e sua casca).
Nun ta do ku nu we nõ na xosu - (Ele não oferece ao rei animais decapitados)
Nun na xosu to nõ na dokpo a - (Ele não precisa dar ao rei, nenhuma porção de coisa alguma).

Diante disto os homens começaram a ficar alarmados, pois sabiam muito bem que o verdadeiro rei era Ejiogbe e pediram então a Xevioso, que trouxesse o verdadeiro rei a Terra.

Quando Ejiogbe chegou, descobriu que até o tambor que possuía em Ifé e que era tocado em sua honra, Oyekú possuía igual na Terra.
Oba oto toto
Oba oro lolo
Oni ba n’te Lisa layo, e Ejiogbe!
Woni Oba we!

Tradução: Desconhecida.

(Estas são as palavras ditas pelo tambor de Ejiogbe e que hoje em dia, o trovão repete de forma que possamos perceber, de maneira muito confusa).
Furioso, Ejiogbe ordenou a Xevioso que exterminasse tudo o que vivesse sobre a Terra e desta forma, devido a falta cometida por Oyekú, foi criada a morte.
A partir deste dia, Oyekú assumiu o comando sobre tudo o que está morto e Ejiogbe voltou a reinar sobre as coisas vivas.
Ebó: Risca-se o sino de Oyekú Meji sobre o Opon, apaga-se a marca e risca-se imediatamente, Ejiogbe, fazendo-se a saudação do Odu. Toca-se o tambor enquanto se repete por três vezes a reza contida neste itam, sacrifica-se um galo sobre Elegbara e espalha-se, sobre seu corpo, o yerosun contido no Opon e que serviu para marcar os Odu. Deixa-se algumas horas diante do Igba e despacha-se num lugar alto.
Indicado para problemas em que a pessoa queira reaver alguma coisa que lhe tenham usurpado, uma herança, uma propriedade ou um amor.
(3) Certo dia, um homem chamado Sheiwomo, decidiu comemorar o aniversário da morte de seu pai.
Para que tudo corresse bem durante a cerimônia, buscou a orientação de Ifá, que lhe disse: “Se é teu desejo comemorar a morte de teu pai, deverás oferecer um sacrifico de dezesseis carneiros.
Quando faltarem dezesseis dias para a cerimônia, deverás sacrificar o primeiro carneiro e dai por diante, um por dia, até que, no dia do ritual, o décimo - sexto seja abatido”.
O homem, no entanto, negou-se a fazer o sacrifício.
O dia chegou e a cerimônia teve inicio com a saída dos Kuvito. Logo que começaram a sair, o pai de Sheiwomo surgiu diante de seus olhos.
Ao soarem os tantãs, o espírito resolveu levantar-se para realizar sua dança ritualistica.
Atrás do trono de madeira onde estava sentado, havia uma árvore de galhos muito baixos. Ao erguer-se, o Egun prendeu, num dos galhos da árvore, o pano que cobria sua cabeça. Na tentativa de livrar-se, sacudiu furiosamente o galho, fazendo que caísse sobre si toda a sujeira ali acumulada, poeira, folhas secas e teias de aranha.
Vendo isto, o filho correu em socorro do pai e passando a mão em sua cabeça, começou a retirar dali, as teias de aranha.
Ao ser tocado, o Egun segurou o rapaz pelo braço, dizendo: “Agora que me tocastes, terás de vir comigo”! E conduziu-o para o mundo dos mortos.
O galho da árvore não era outro senão Legba, que se metamorfoseou, para castigar o desobediente.
Cântico do itan: Sheiwomo!
O shey, shey!

Tradução: Não compreendes que se me tocares,
Eu te levarei para o local de onde vim!

(Se alguém tocar num Egun, deverá partir em sua companhia. Este Cântico é muito conhecido pelos Egun).

Ebó: Um voko (boneco de argila) escurecido pelo negrume da fumaça, um voko de argila branca, um pano branco, um pano preto, uma quartinha pintada de preto (lebe), um pequeno cesto (anlã), uma galinha preta, uma galinha branca, uma pena de ekodidé. Coloca-se o voko funfun, dentro do anlã e cobre-se com o pano branco e coloca-se a pena de ekodidé por cima. Sacrifica-se a galinha preta e cobre os objetos pretos.
Cava-se um buraco na terra e nele se enterra os símbolos do negro, jogando-se por cima, um pouco de wosin (farinha de acaça), cobre-se tudo com terra, deixando um pequeno buraco no meio, sobre o qual, deposita-se os símbolos brancos.
Em seguida, os signos de Ejiogbe e de Oyekú Meji, devem ser traçados sobre o Fate recoberto de wosin, em substituição ao yerosun. A farinha onde se inscreveu Ejiogbe, deve ser espalhada sobre o ebó e depois, coloca-se outra porção sobre o Fate, riscando então, Oyekú Meji. a segunda porção de farinha (onde se traçou Oyekú Meji), é espalhada em redor do ebó, por ser este signo da consulta.
Esta operação, tem por finalidade enviar Oyeku a Ló, substituindo-o por Ejiogbe sobre a Terra.
Este ebó, pertence a categoria dos kudyõ (que traçam a morte) e seu nome e Seovi. Pode-se observar, através deste sacrifico, a perfeita identificação entre Ejiogbe e Oyekú Meji.

Prece do ebó: Ali kutã adagba ojonuku diwãlã diãlã.
Ojo teloko mõ lé ni on kbayaoku
Ni ajaogbo mekun.
Iku gbon lé, Iku kpakese kelekele zja mõ she.
Dayin dãyin ikuye nilun mõ adie n’dõ.

Tradução: Desconhecida.

(4) Ejiogbe é o primeiro dos quinze Odu, que tem todos, o mesmo pai, mas nem sempre foi assim.
Naquele tempo, uma inundação anual expulsava os homens de onde se encontrassem e Olofin, encarregava Oyekú de arranjar outro lugar para eles.
Numa destas buscas, Oyeku passava por uma plantação de milho branco que já se encontrava maduro. O proprietário da plantação que vigiava de longe, começou a gritar e a correr, pensando tratar-se de um ladrão. Ao chegar, reconhecendo Oyeku, jogou-se ao solo implorando: “perdoa-me, eu não sabia que eras tu!”
Oyeku, com pena do lavrador, não só perdoou-o como resolveu proteger o milho da ação dos homens e dos pássaros, garantindo àquele homem, que jamais ficaria pobre.
Como lembrança deste acontecimento, todos devem cantar:

Abobo n’jole.
Abobo kpakpada n’jole.
Sha woro bobo n’jole.
Sha woro.

Tradução: Os gritos podem espantar o ladrão.
Os gritos não podem espantar a Terra. (quer dizer: Oyekú).

Ebó: Uma tigela ou alguidar de barro, bastante milho branco. coloca-se o milho na tigela, passa-se no cliente e oferece-se a Elegbara, repetindo por três vezes o cântico do itan. Acende-se uma vela e deixa-se nas águas de um rio.
Indicado para pessoas que desejem obter o perdão de alguém a quem tenham ofendido ou prejudicado sem intenção.
(5) Naquele tempo, Orunmilá era pouco conhecido, muito embora já realizasse adivinhações com muito acerto.
Certo dia, sua mulher entregou-lhe a importância de dezesseis cauri, para que fosse ao mercado e ali adiquirisse um escravo para ajudá-la nos serviços domésticos.
No caminho, Orunmila passou por um local nas margens de um rio, onde inúmeras pessoas se encontravam pescando. Como sentisse fome, pediu aos pescadores que lhe dessem um peixe para comer e os homens lhe disseram que, se quisesse comer peixe , teria que adivinhar o total de peixes que o grupo todo já havia conseguido capturar, desde a hora em que ali haviam chegado. Sem titubear, Orunmila lançou seu Okpele apenas uma vez e afirmou resoluto que o número de peixes capturados, era de exatamente duzentos e um.
Imediatamente, os pescadores puseram-se conferir os pescados e verificaram que haviam capturados exatamente os duzentos e um peixes anunciados pelo adivinho.
Após presentearem Orunmilá, não com um, mas com dezesseis peixes, os homens saíram pela cidade, espalhando o acontecido.
Depois de alimentar-se, Orunmila prosseguiu em direção ao mercado e lá chegando, verificou que a importância que trouxera, dava somente para comprar um menino ainda pequeno, mas para não decepcionar sua mulher, adquiriu o pequeno servo, retornando com ele para casa.
No caminho, encontrou um grupo de caçadores, que se propunham a abater preás, com a ajuda de diversas armadilhas.
Aproximando-se, Orunmila solicitou um preá para alimentar-se e ao seu pequeno escravo.
Novamente foi-lhe exigido, para fazer jús ao alimento, que adivinhasse o numero exato de animais abatidos, que Orunmila, depois de lançar seu rosário, afirmou ser de duzentos e um. Conferidos os animais, verificou-se que a quantidade era exatamente a prevista por Orunmila e os caçadores alegremente lhe presentearam com dezesseis preás, saindo em seguida espalhando por toda a cidade o feito do Oluwo.
Em pouco tempo a notícia chegou ao palácio, onde residia, em companhia do rei um velho Babalawo, cujos poderes de adivinhação já haviam deixado de existir, por serem empregados somente para a obtenção de riquezas materiais.
Preocupado com o surgimento de um novo adivinho no país, o velho mandou construir uma casa, onde fez encerrar cem donzelas e o jovem escravo de Orunmilá. A casa teve as portas e as janelas lacradas, guardas foram colocados em sua volta e todos os que trabalharam na sua construção foram decapitados, para que não informassem a ninguém o número de pessoas que estavam lá dentro.

Quando tudo estava pronto, orunmilá foi trazido à presença do rei, que lhe ordenou que determinasse o número exato de pessoas encerradas na casa.
Orunmilá imediatamente consultou seu oráculo, depois de que, disse com segurança: “Dentro daquela casa estão encerradas duzentas e uma pessoas!”
O malvado Babalawo do rei, fingindo consultar o oráculo, afirmou existirem no interior da casa, somente cento e uma pessoas e que se isto não fosse verdade, abandonaria de bom grado, sua posição de adivinho da casa real.

Imediatamente o rei ordenou que a porta da casa fosse aberta e contou pessoalmente o número de pessoas que dela saiam.
“Cem moças e um menino! Cento e uma pessoas como afirmou o meu adivinho. Esse tal Orunmila não passa de um embusteiro e por isso será condenado a morte”!
Foi então, que o jóvem escravo se manifestou dizendo: “Espere, eu sou Eshú, que disfarçado num menino escravo, vim para desmascarar o verdadeiro farsante que é o Babalawo do rei. Dentro da casa encontram-se cento e uma pessoas conforme foi por ele afirmado sem nenhuma vantagem, já que preparou tudo pessoalmente. No entanto, eu Eshú Elegbara, afirmo que, na hora da consulta, existiam alí duzentos e um seres viventes, pois durante a noite que ai passei em companhia das cem donzelas, copulei com todas e agora, carregam em suas barrigas uma criança, num total de cem novos seres humanos viventes.

Cem mulheres, cem crianças e eu, duzentas e uma pessoas como predisse Orunmilá.
Foi então que o rei, descobriu a manobra de seu adivinho, expussou-o do palácio, nomeando Orunmilá para seu lugar e acumulando-o de presentes e honrarias. O menino escravo, passou a viver em sua companhia e Orunmilá, em agradecimento, passou a oferecer-lhe uma boa parte de tudo quanto recebe.

Ebó: Dezesseis búzios, um peixe, um preá, um anzol e uma ratoeira. Assa-se o peixe depois de limpo, temperando-se com bastante lelekun em pó. Sacrifica-se o preá a Elegbara deixando o ejé correr um pouco sobre a ratoeira e o anzol. O peixe é colocado numa travessa e os búzios são colocados em volta dele. Oferece-se o peixe à Orunmilá. Despacha-se no dia seguinte, o peixe nás águas de um rio e o preá dentro do mato. O anzol e a ratoeira permanecem, para sempre, juntos ao igba de Elegbara.

Este ebó e indicado para melhora de situação e obtenção de graças consideradas impossiveis.


SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
IKA MEJI

Iká Meji é o 14º Odú no jogo de búzios e o 11º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 14 (quatorze) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Ka Meji”, Os Nagô o chamam também de Ika palavra que designa a serpente venenosa “amanõnú”. Os Yoruba também dizem, “Faa Meji”(dividindo em dois), ou “Iji Oka” (Duas serpentes).
Ika Meji representa Dan, a serpente (ojo em Yoruba); rege todos os répteis do campo, como também, um bom número de animais que vivem na floresta, como macacos, os lagartos e certos pássaros, como o “sasagoli” (espécie de tucano), a “ahwa lokolwe)” (espécie de rola), o “agonjihwele” (pombo verde), o sapo, a rã os caramujos, os ouriços, o “linwi” (pequeno pangolim) e todos os peixes. Ika Meji rege todos os animais de sangue frio, aquáticos ou terrestres. De uma forma geral, ele busca o frescor.
Sua representação indicial em Ifá é: * * * *
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que corresponde, na Geomância Européia, a figura denominada “Rubeus”.
É um Odu composto pelos Elementos Água sobre Terra, com predominância do primeiro, o que indica o objetivo e em si mesmo, o de se reiniciar a tarefa é a consequente revolta do individuo, contra a sua própria condição e contra o mundo, que passa a considerar injusto e mal feito.
Criou a piedade e o amor filial. Ao contrário do que algumas pessoas pensam, não se ocupa da fecundação e sim dos abortos e das falsas gravidez.
É dito como o signo que mata as crianças, provocando abortos, sempre acompanhados de hemorragias incontroláveis, o que pode ser evitado por ebós especificos a ele relacionados.
Os macacos vieram ao mundo sob este signo, que é o odu principal dos gêmeos selvagens (Zun Hoho). Seu aparecimento na consulta de uma mulher grávida, pode prognosticar portanto, o nascimento de gêmeos.
A vinda dos haussas a terra, é devida a este Odu.
Corresponde ao ponto cardeal Este-Sudoeste, a carta no. 7 do Tarot (A Carruagem) e seu valor númérico é o 11.
Suas cores são o vermelho, o negro e o azul. É um Odu masculino, representado esotéricamente por uma serpente.
Morfologicamente, Ika Meji exprime a ideia de algo que esteja prestes a explodir, uma granada, uma bomba, uma cadeira... e esta idéia se estende a situação de aspécto explosivo como uma greve, uma briga, ou uma situação insustentável. Determina conquista pela força, sem tréguas nem piedade.
Os naturais deste Odu são pessoas impulsivas, corajosas e quase sempre violentas. Ativas e perspcases, constumam deixar-se levar mais pela paixão que pela razão, tomando atitudes inesperadas e corajosas. São heróis em potêncial que, sem medir consequências, não axitam diante do perigo.

SAUDAÇÕES DE IKA MEJI:

Em Fon: Mi kã Ka Meji.
Emi Do gã to.
Hun kun-nõ do gã to,
Bo nun se wo.

Tradução: Saudemos Ika Meji.
Que ao atravessarmos o rio nossa canoa não naufrague!

Em Nagô: Iku kati, kati, ko ka mi,
Janka awo yika akao.

Tradução: Morte conte, conte, mas nunca conte comigo,
Esta é a fuligem que envolve as espigas de milho.

IKA MEJI EM IRE:

Quando em Ire, Ika Meji pode indicar, principalmente: Vitória sobre os inimigos, controle sobre uma situação tumultuada, coragem pra enfrentar um problema, sorte com o sexo oposto, conquista amorosa.

IKA MEJI EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Tumultos, envolvimento com polícia, inimigos declarados e perigosos, crimes sexuais, violencia, agressões impostas ou sofridas, revoltas, filho adulterino.
Em Osogbo Arun, indica quase sempre: impotência, frigidez, atrofias e inflamações musculares, problemas do figado e da vesicula, interrupções do fluxo saguíneo ou mesntrual, doenças de pele (erupções), rubéola, sarampo, inflamações externas, desarranjos intestinais, hemorragias seguidas de aborto.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun: (Jeje): Hohovi, Xevioso, Dã, Toxosu, Lisa, Gu, Loko.
Orishá (Nagô): Oshumarê, Shangô, Ogun, Iroko e Ibeji.

INTERDIÇÕES DE IKA MEJI:

Ika Meji, proibe aos seus filhos: peixe defumado, carne de serpente, de jacaré, de pangolim e de macaco (a violação desta última inteerdição, é punida com a morte), a batata doce e o vinho de palma. São proibidos de beberem, seja o que for, em cabaças.
Aqueles que nasceram sob este signo, devem despachar nas águas todos os sacrificios determinados pelo odu. Devem abster-se também de usarem “Abuta” “panos coloridos fabricados no Abomey).

SENTENÇAS DE IKA MEJI:
(1) A pequena cabaça “legede go vi”, onde são guardados os talismãs, cai na água mas não afunda.
(Se o consulente caiu diante de qualquer situação negativa, em breve se reerguerá).
(2) Aquele que caiu nas águas de um rio, não precisa de uma cabaça para levar água aos seus lábios.
(A fortuna do consulente foi adquirida com muita maldade).
(3) Ancore a canoa e a canoa se detem.
(O consulente esteve perdido na vida, como uma canoa ao sabor das águas, mas encontrou seu rumo em Ika Meji).
Outra interpretação: ( Se o consulente oferece os sacrificios exigidos pelo Odu, sua mulher não abortará).
(4) Os caules da cabaceira se estendem por todo o campo do lavrador. No dia que chover, o lavrador as recolherá e as amontoará ao lado de seu campo.
(Se o consulente tem filhos, deve prestar atenção para que não corram o risco de morrer durante as proximas chuvas).
(5) Ika destruiu a casa; A cabaça é feita para ser quebrada.
(Os moradores da casa do consulente estão em perigo).
(6) Uma canoa se dirige a Awosa (Pais dos Haussas) e um outra se dirige para Awonli (Pais dos Oyo): As frutas ainda não estão maduras, o milho já está completamente seco. Eis o “Kla” (macaco) sobre o mamoeiro. Esta é toda a sua fortuna.
(O consulente, assim como o macaco da sentença, verá suas chances aumentarem e nada fará pra tirar proveito. Não saberá sequer por onde começar).
(7) jamais faltará ouro aos olhos do leopardo.
(O cliente ficara fico).
(8) O rei dos haussas não poderá morrer de outra forma, que não seja muito rico).
(O consulente está muito rico quando chegar a hora de sua morte).
(9) Todas as árvores frutificam, o bambú não frutifica jamais.
(O consulente não sucumbirá aos seus inimigos).

ITAN DE IKA MEJI

(1) Ajinaku (o elefante), era antigamente um animal muito pequeno. Seu desejo era ver suas forças aumentadas e com esta intenção, foi procurar um adivinho chamado Sheke Sheke La Allo Ekuru (Sheke-Sheke: ruído que produzem, aos serem sacudidas, os pequenos caramujos “Ekuru”).
Durante a consulta, apresentou-se Ika Meji, que exigiu o seguinte sacrifício: Um cesto cheio de igbis, quatro cabaças e quatro pilões. Estas coisas deveriam ser entregues a Oduduwa.
Ajinaku seguiu a prescrição e apresentou-se diante do Orishá, portando os objetos pedidos.
Oduduwa ordenou-lhe então, que enfiasse os pés nos pilões, como se fossem sapatos e que os cobrisse com um grande pano. Durante oito dias consecutivos, o Orisha fez preces pelo Elefante.
No oitavo dia, Ajinaku retirou os panos e pode verificar que os quatro pilões haviam transformado em prolongamentos de suas pernas, ficando, a partir de então, alto e forte como o vemos hoje.
Ebó: Um cesto, dois igbi, duas cabaças, dois pilões de madeira pequena, de forma que caibam dentro das cabaças, um pano preto, um pano branco.
Abre-se as cabaças pelo meio, no sentido horizontal. Na primeira, pinta-se com pó de carvão, coloca-se dentro um dos pilões, puxa-se um igbi, coloca-se a carne e a casca dentro da cabaça, cobre-se tudo com pó de carvão, tapa-se a cabaça, envolve-se no pano preto e coloca-se dentro do cesto.
Adota-se procedimento idêntico em relação a segunda cabaça, apenas substituindo-se o carvão por efun e o pano preto pelo pano branco. O cesto com as duas cabaças, deve permanecer por oito dias diante do igba do Orishá, sendo levado depois, para o alto de um morro. (Quem não tiver Oduduwa, pode levar imediatamente e entregar no alto do morro).
Este ebó é indicado para obtenção de vitória e melhora em qualquer situação.
(2) O rei Haussa (O Sarki), veio ao mundo sob o signo de Ika Meji.
Quando os Haussas resolveram eleger um rei, foram procurar um Bokonõ, para que os ajudassem a escolher alguém que pudesse reinar com coragem e mantendo a paz.
Feita a consulta, apareceu Ika Meji, que prescreveu o seguinte sacrifício: Dezesseis chifres de qualquer animal, dezesseis cestos, cada um com uma galinha, dezesseis ovelhas, dezesseis cestos, cada um com um pombo, dezesseis cestos com galinhas d’Angola e dezesseis sacos cheios de búzios.
Os Haussas prepararam o sacrificio e entregaram tudo ao Bokonõ, que preparou os dezesseis chifres para serem enviados a Ifá.
Pouco depois, os Haussas pediram ao sacerdote que se encarregasse da coroação, afirmando que Ifá já apontara um rei e devolvera os chifres ao Bokonõ. O adivinho então, pegou dois chifres e os colocou sobre a testa do novo rei. Imediatamente, Legba apareceu soprando sobre os cornos, que se fixaram à testa do rei, que ficou conhecido pelo nome “Usaxolu Ko u Zo” (O rei dos Haussas carrega chifres).
Devido a isto, ninguém mais respeitou o rei, tratavam-no de igual para igual, insultavam-no e chegavam mesmo a agredí-lo.
E como lembrança deste episódio, que os chapéus Haussas, tem uma ponta semelhante a um chifre.
Ebó: Um cesto, uma galinha, uma galinha d’Angola, um pombo, dezesseis búzios, um chifre de carneiro. Sacrificam-se os bichos a Elegbara, no igba, deixando um pouco do sangue de cada um correr sobre o chifre de carneiro e sobre os búzios; precede-se normalmente em relação aos animais sacrificados. De cada um, retira-se um pouco de penas que são colocadas dentro dos chifres junto com os búzios. O chifre fica por dezesseis dias, junto ao igba de Elegbara e depois, é entregue ao cliente, devendo ser levado para sua casa, onde ficará guardado como amuleto. A abertura do chifre deve ser lacrada com qualquer tipo de material, pra evitar que seu conteúdo se derrame.
Este ebó é indicado pra problemas relacionados a desmoralização pessoal, perda de prestígio, etc.
(3) A batata doce, (dukwin), fez um talismã para o inhame, quando este ainda era muito pequeno. Com isto, o inhame cresceu e tornou-se muito maior que a batata doce.
Diante disto, a batata doce disse espantada: “Eu te fiz um talismã para que crescesses e agora estás muito maior do que eu. Deves lembrar-te no entanto, que este talismã não é igual ao que possuo. O meu permites que eu cresça como crescestes, mas evita que minhas raízes sequem e morram durante a estiagem. Este jamais te darei”.
Interpretação: O cliente ficará rico e terá muitos filhos, mas sua boa sorte poderá abandona-lo se não entregar, na floresta, o seguinte sacrifício;
Uma galinha, um galo, uma batata doce, um inhame e vinte caurí. Os animais são soltos com vida, depois que a batata e o inhame forem arriados com os búzios ao redor.

Cânticos do Ebó:
Iku kati, kati ko ka mi,
Aro kati, kati ko ka mi,
Ofo kati, kati ko ka mi,
Olan ka ti, ka ti ko ka mi,
Ojo ka ti, ka ti ko ka mi,
Janka awo yika akao!

Tradução:
Morte conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.
Fogo conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.
Miséria, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.
Doença, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.
Tempo, conte, conte continuamente, mas nunca conte comigo.
Esta é a fuligem que envolve as espigas de milho!.
(4) Um certo adivinho, consultou Ifá para três personagens: Dekpa (madeira para a sustentação de telhados), Jokú (espécie de lentilha utilizado pelos Mina, num tipo de Jogo), e Azigokwin (feijão pintado conhecido como ekpaboro pelos yoruba).
Por ocasião de sua chegada ao mundo, estes três personagens foram juntos consultar Ifá, para para saberem qual seria seu destino sobre à terra. Ifá lhes recomendou sacrificios, que sómente os dois primeiros ofereceram.
Foi por não haver cumprido com esta obrigação, que azegokwin é hoje posto no fogo, cozido e comido. Os outros têm uma importância muito maior: um permite que se construam casas e o outro que se ganhe dinheiro. Sem o terceiro, no entanto pode-se passar muito bem.
Ebó: Duas cabaças pequenas cortadas ao meio, lentilhas, feijão pintado, um cabo de enchada, dois pombos, dois obi, osun e efun.
Abertas as cabaças, coloca-se dentro da primeira as lentilhas cruas e um obi. Na segunda cabaça, coloca-se o feijão (crú) e o outro obi. Sacrifica-se o primeiro pombo na cabaça com as lentilhas e arruma-se dentro, cobre-se com pó de osun e tapa-se com a parte de cima, embrulha-se em pano vermelho e deixa-se de lado. Na segunda cabaça, com o feijão pintado e o outro obi, sacrifica-se o segundo eiyele, cobre-se com pó de efun e embrulha-se em pano branco.
As duas cabaças são amarradas, uma em cada ponta do cabo da enxada, ficando diante de Legba de um dia para o outro. Na manhã do dia seguinte, leva-se tudo e despacha-se nas águas de um rio.
Este ebó é indicado para pessoas que estejam sendo desprezadas ou que estejam perdendo prestigios em qualquer situação.

(5) Naquele tempo, Orunmila erá muito pobre e não tinha sequer uma casa para morar.
Resolveu então, consultar seu Kpoli, para saber o que deveria ser feito para melhorar sua vida e na consulta, surgiu Ika Meji.
No dia seguinte, Orunmilá ofereceu o sacrifico e logo as coisas começaram a mudar em sua vida.
Certo dia, quando caminhava por uma estrada, Orunmila encontrou Egun, que ameaçava levá-lo para Ló e Orunmilá, para apaziguá-lo ofereceu-lhe uma tijela cheia de leite de cabra e Egun, agradecendo, colocou seu Ashé a disposição de Orunmilá.

No outro dia, foi Orishá que se interpôs no caminho de Orunmila e este também ofereceu-lhe Eku defumado, conseguindo depois de apazigua-lo, obter a força de seu Ashé.
No terceiro dia, Orunmila foi novamente interceptado, desta vez por Ajé, que furiozo ameaçava destruí-lo e Orunmila, depois de espetar no solo um talo de palmeira, ofereceu-lhe Akire (*) defumado, conseguindo desta forma, que Ajé se afastasse para muito longe dali.
(*) Akire = Rã.
Ebó: (Indicado para obter simpatia das pessoas, para sorte na vida e nos negócios).

Leite de cabra, um talo de qualquer tipo de palmeira, ekú defumado, Akire defumado, acassa, uma panela de barro. Torra-se o talo de palmeira e moe-se para fazer pó. Faz-se o mesmo com o eku e o Akire defumado. Coloca-se os pós obtidos numa panela de barro, misturado com leite de cabra e deixa-se ferver. Depois de frio, prepara-se um acaçá de leite com esta mistura.
Pega-se o sabão da costa e mistura-se um pouco de cada um dos três pós (uma quantidade suficiente para sete banhos), coloca-se o sabão numa panelinha de barro e imprime-se a marca de Ika Meji sobre ele.
O Acassa é oferecido a Elegbara, devendo permanecer diante de seu igba, por sete dias. Neste periodo, retira-se uma pequena porção do sabão preparado e toma-se banho com ele.
Antes de cada banho, acende-se uma vela no chão do banheiro e recita-se o seguinte oração:
Akinlogun n’lo si ilu Ilodun,
Akinicgun n’lo si ilu Ilomu Apaasa.
Ope-Yekete n lo silomu Alagunu.
Ara Ilem Alagunnu,
Ero Ilomu Apãasha
Eda lo ni kee dã temi ni rere!
Ohun rere lakere fi i pojo,
Ohun rere takere e fi i pojo
N’mi Olodumare o gba a mu!
Eni o muu ri,
E shããnu mi!
Eni o m mu ri!
Ayami benikan o múmú ri!
Eni o mumu ri!
E shanuu mi!
Eni o mumu ri!

Tradução: Akinlodun esta indo para a cidade de Ilodun.
Akinlodun está indo para a cidade de Ilomu Apaashá.
Ope-Yekete está indo para a cidade de Ilomu Alagunnu
Habitantes de Ilomu Alagunnu,
Habitantes de Ilomu Apaashá,
E Eda que diz para que as nossas coisas sejam de sorte.
É com boa voz que a rã chama a chuva.
Com aquela que Oludumare aceita.
Pessoa que ja mamou, tenha simpatia por mim.
Pessoa que já mamou,
A não ser que nunca tenha mamadado,
Pessoas que ja mamaram, Tenha simpatia por mim.
Pessoas que já mamaram,

Indicado para obter simpatia das pessoas, para sorte na vida e nos negócios.






SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
OBEOGUNDÁ MEJI

Obeogunda é o 15º Odu no jogo de búzios e o 14º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido como Irete Meji.
Responde com 15 (quinze) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Lete Meji”, suprimido o sufixo da palavra Yoruba “Irete”. Chama-se ainda, segundo alguns Nagô, “Oji Lete” ou “Oli Ate”, significando o kpoli da Terra. Em Yoruba Ire Te = “a Terra consultou o Fazun”.
Sua representação indicial em Ifá é: * *
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que corresponde, na Geomancia Européia, a figura denominada “Puar”.
Obeogunda é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Água, com predominância do primeiro, o que indica que o dinamismo inicialmente existente, tende a transformar-se em auxilio poderoso, mas que o beneficio auferido será sempre em favor de outrem. É o macho que luta e se sacrifica em beneficio da fêmea. A atividade é impulsiva e independe da vontade do agente. É o sem juízo.
Corresponde ao ponto cardeal Noroeste, à carta no. 11 do Tarot ( A Forca) e seu valor numérico e o 3.
Suas cores são o vermelho vivo, o negro, o cinzento, o azul e o branco.
É um Odu masculino, representado esotericamente por um quadrado dentro de um círculo. O circulo representa o ignoto, o céu. O quadrado representa o domínio do que conhecemos, o mundo material, a Terra.
O círculo, representação de tudo o que desconhecemos, chama-se “Weké”; Weke-Non”, mestre do oculto é um dos nomes honoríficos de Lisa e de Dàgbada Hwedo. Gbe designa tudo o que é perceptível aos nossos sentidos, a vida, da forma que a percebemos. “Gbé-To”, Pai da vida - Aquele que Comanda - Pai da Criação visível.
Irete no entanto é visível através da figura em forma de circulo, e para melhor enquadramento do retângulo, ao qual devemos, na verdade, dirigir nossa atenção. É este quadrado que na verdade, pertence a Irete. Se tivermos que “colorir” esta figura, representaríamos o céu (circulo), em branco - cor de Lisa, ou em azul - cor do céu conforme vemos e a terra (quadrado), em vermelho - cor do Vodun Sakpata.
Aquele que encontrar Irete, deve oferecer quarenta búzios, uma galinha e uma garrafa de aguardente à Igbaadú. A Galinha é solta no quintal do Babalawo, devendo ser enterrada, quando morrer naturalmente.
Irete é o signo da Terra (Ile Yoruba), Aykungbã (Fon) é de domínio terrestre, desta forma, tudo o que está morto lhe pertence, mas a morte é propriedade de Oyeku Meji.
Este signo traz os abcessos, os furúnculos, a varíola, uma febre eruptiva e mortal conhecida como “Nutite” e a lepra {Adete (Yoruba), Gudu ( Fon)}. Os Fon, jamais se referem a lepra por este nome, preferindo chama-la de Azon-Vo, o mal vermelho. Considerada por eles como doença mais hereditária que contagiosa, tem como principal contra-indicações alimentares; camarão, carne de antílope, carne de porco, pimenta, mamão, vinho de palma, azeite de dendê, feijão e galinha.
Este signo não deve jamais ser invocado em companhia de Oshe Meji. “Bokonõ ma do o” (Um advinho não pode dizer isto), em referência ao nome do Amolu gerado no encontro destes dois Odu.
Influência o corpo humano, provocando atividade excessiva das funções, irritações e enfermidades inflamatórias.
É uma figura muito negativa, que respondendo quase sempre não, anuncia tempos muito ruins. Crises agudas, traumatismos, referimentos por acidentes, hematomas e pancadas também são causados por sua atuação.
Seus filhos, são sempre impulsionados pelo desejo de conquista e de domínio, não exitanto em para isto, assumirem atitudes ameaçadoras, que visam manter controle permanente sobre a situação. São pessoas corajosas, audazes e presunçosas, mas muito solícitas e prontas a socorrer tantos quantos necessitem de seus préstimos.Possuem caráter altivo, sarcástico e indisciplinado.
São amantes do trabalho e batalhadores entusiastas.

SAUDAÇÕES DE OBEOGUNDÁ;

Em Fon: Mi Kan Lete Meji,
Emi ku na ku ku vaun O!

Tradução: Eu saúdo Irete Meji,
Para que a morte não nos carregue súbtamente!

Em Nagô:

OBEOGUNDÁ EM IRE:

Quando em Ire, Obeogunda pode indicar, principalmente: Amor correspondido, domínio absoluto de uma situação, influência, respeito, auxílio poderoso, dinamismo.

OBEOGUNDÁ EM OSOGBO;

Em Osogbo este Odu, pode indicar: Falta de juízo, atitudes egoístas, indisciplina, uma aventura que terá um fim desastroso, violência, cólera incontrolável, violência sexual, estupro. Em Osogbo Arun: Impotência sexual, atrofia muscular, inflamações intestinais, febre eruptivas, lepra, varíola, hepatite, lesbianismo.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Kennesi, Gbadu, Gu, Nã, Sakpata, Dã, Xevioso.
Orishá (Nagô): Omolu, Ogun, Shangô, Oba, Yemanja, Igbadú.

INTERDIÇÕES DE OBEOGUNDÁ:

Este Odu proíbe a seus filhos: O adisin, usado para preparar o indigo: feijão descascado, pilado e temperado com azeite de dendê; feijão de casca vermelha e suas folhas (ajagbe); galinha d’Angola (sonu), farinha de acaça; um certo molho denominado “hlohlo”, preparado a base de mais, o pássaro “awajixe”; banana da terra (kokwe alogli); (todas estas, interdições do Vodun Sakpata).
Todo animal encontrado já morto (lãkuku); as espécies de antílope, açoãli e zungbo (que tem o pelo avermelhado); o leopardo; o Aklasu; a farinha gbenlen, feita de milho ou de sorgo; a farinha de inhame (agu); os ramos honsu kokwe, a serpente amanonnu, o cão, as coisas que são oferecidas a Dã (Dãnu) e a Nã (Nãnu); os frutos brancos da arvore gbegba, os frutos do ahwa e os macacos.

SENTENÇAS DE OBEOGUNDA:

(1) Se um Bokonõ sabe fazer corretamente seus sacrifícios, de onde procura conseguir qualquer coisa. o sol não castiga aquele que procura sombra.
(Os inimigos não poderão tomar nada do consulente, que desta forma, preservará tudo o que lhe pertence).
(2) o martelo corajoso crava a bigorna na terra.
(Se for corajoso e cumprir com suas obrigações e sacrifícios, o consulente derrotará todos os seus inimigos).
Obs.: Esta sentença é também utilizada em Ogundá Meji.
(3) O dinheiro pertence ao acaso, os panos pertencem ao acaso, os filhos pertencem ao acaso, as mulheres pertencem ao acaso. Aquele contra quem nada se pode (a Terra), pode insultar os órgãos genitais da mãe da morte e continuar vivendo.
(O consulente está a salvo)
Obs.: Este signo é dispensador de muita coragem. Todos os que nascem, sob ele, desconhecem o medo, seja do que for. Chegam mesmo a zombar da própria morte, insultam-na e ela nada pode contra eles.
(4) Aquele que tendo feito, também deve bater cabeça para a Terra, a Terra vê tudo o que cai sobre ela.
(O consulente saberá de tudo o que se passa, de bom e de ruim, ao seu redor).
(5) Alguém perguntou: “O que faz a Terra para não morrer?” E ela respondeu: “Eu abriguei Ifá e encontrei Irete meji”.
(O consulente não tem motivos para se preocupar com a morte).
(6) Alguém lançou uma flecha na floresta de Ake e mesmo assim, a floresta manteve a calma. “Meu filho (é Irete Meji falando a Dezun), se é verdade que eu te enviei ao mundo, tua vida será boa”.
(O consulente será sempre muito bem protegido).
(7) A superfície do óleo de palma em repouso é sempre muito clara, mas no fundo, existe muita coisa escura depositada. A terra não apresenta nada de anormal em sua superfície, mas se cavarmos, encontraremos cadáveres, esqueletos, excrementos e fósseis.
(Um perigo inexplicável ameaça o consulente).
(8) Ifá diz: “Estou sempre presente quando a desgraça chega e quando vai embora”.
(Alusão ao interior da terra, que recolhe todos os dejetos e todos os cadáveres).
(O consulente encontra-se sob ameaça. Ele não é mais forte que a Terra).
(9) A árvore Gbegbe está todos os dias lá nas margens do rio Wewe. Todo aquele que explora a Terra (Gbe - a vida), acabará encontrando o mar. Irete Meji se estende por toda a parte, até mesmo pelo mar e assim mesmo não morre.
(O consulente deverá oferecer sacrifícios, para que viva por muito e muito tempo).
(10) Eu tenho um pé dentro do barro, cheio de nozes de palma e outro de dentro do barro, cheio de frutos variados.
(O consulente está deste lado da vida, mas a morte, do outro lado o ameaça).

ITAN DE OBEOGUNDA

(1) “Se a cidade me aceitar, ela viverá: se a cidade não me aceitar, ela morrerá”
Lonfin, rei de Ifé, tinha duas esposas, ambas terrivelmente ciumentas. Um belo dia, a primeira esposa pôs-se a cozinhar nozes de palma e a segunda, frutos de ahwa. Terminado o trabalho, elas vieram procurar o rei, dizendo: “Nós já cozinhamos nossos frutos, amanhã tú deverás pilá-los.”
“Como”- protestou Lonfi, “Eu, o rei do país?”
Embora a contragosto, para não desapontar as mulheres, o rei concordou em realizar o trabalho. Colocou uma mão dentro do pilão cheio de nozes de palma e outra no pilão com frutos de ahwa.
Naquele tempo, era costume que todos os súditos viessem ficar diariamente pela manhã, cumprimentar o rei. Naquele dia as pessoas ficaram muito surpresas e chocadas ao encontrarem sua majestade real, ocupada com uma atividade reservada as mulheres.
O trabalho terminou, sem nada dizer, ao seu povo, o rei foi visitar Ifá e lhe disse: “Esta manhã para satisfazer os caprichos de minhas duas esposas, dispus-me a pilar nozes de palma e frutos de hawa. Meus súditos, que sempre vêm me saudar, viram-me fazendo tal trabalho. Tenho certeza que depois disto, meu prestígio ficará abalado. Que posso fazer para reabilitar-me diante de meu povo?”
Na consulta, foi exigido um sacrificio de nozes de palma e frutos de ahwa pilados, um galo, uma bandeija de bambu trançado, sobre a qual deveriam colocar os frutos pilados, cada qual de um lado. O signo Irete Meji, deveria ser riscado três vezes, sobre o Fate e o pó yerosun, utilizado para isto, deveria ser salpicado, sobre a bandeija e seu conteúdo. A bandeija deveria ser entregue ao rei, que colocaria sobre ela, um galo e levaria tudo, em sua própria cabeça, até Elegbara. Ai, diante dele, o próprio rei deveria arriar a oferenda, degolar o galo e oferecer o ebó.
Cumprida a risca a recomendação de Ifá, Elegbara, depois de receber o sacrificio, colocou uma coroa sobre a cabeça de Lonfi e retornou em sua companhia ao palácio.
No caminho, vendo o rei coroado e acompanhado de Elegbara, todos saldavam-no com respeito. alguns, mais audaciosos, ainda ousavam perguntar: “Não foi a ti que vimos, não faz muito tempo, ocupado em realizar trabalho de mulher?”
O rei, orientado por Elegbara, respondeu: “Sim, fui eu mesmo. Um grande mal estava por cair sobre nossa cidade. Consultei Ifá que me recomendou fazer um sacrifico, do qual faziam parte nozes de palma e frutos de ahwa pilados com minhas próprias mãos. Como podem ver, acabo de oferecer o sacrifico e Legba veio em minha companhia, para assegurar o bem estar da cidade.
Desta forma, o rei consegui readquirir o respeito de seus súditos, que passaram a depositar nele, mais confiança que antes do ocorrido.
Ebó: Conforme descrito no itan.
Este ebó é indicado para pessoas que tenha o prestígio e a moral ameaçados.
(2) Foi o Odu Irete Meji, quem aboliu os sacrifícios humanos que eram, em tempos imemoriais oferecidos a Orunmilá.
Antes disto, havia uma filha do rei de Ayo, chamada Osu N’Layo, que tendo se casado, não conseguia gerar filhos. Inconformada com sua esterilidade, Osu resolveu consultar Ifá, em busca de orientação. Na consulta, o adivinho pediu um sacrifício de dois cabritos, duas galinhas, dois tecidos de ráfia e quatorze moedas. O sacrificio deveria ser arriado ao cair da noite, diante de um certo matagal, por ele indicado.
Naquela mesma noite, a jovem foi fazer o ebó e no caminho, caiu dentro de um enorme buraco, onde foi obrigada a permanecer, durante toda a noite ao lado de sua oferenda. Na manhã seguinte, percebendo que alguém se aproximava, pôs-se a pedir ajuda: “Socorro! Tire-me deste buraco onde cai com todas as oferendas que compunham meu ebó.
O passante era nada mais, nada menos, que Fa Aydegun que, da borda do buraco, falou: “Joga-me teus dois tecidos de ráfia!”
A mulher jogou os panos e Fa Aydegun, amarrou um ao outro e segurando numa das pontas, estendeu a outra para a jovem, que desta forma, foi içada até a superfície. Aproveitando-se da situação. Fá possuiu a mulher, depois do que, seguiu seu caminho.
Algum tempo depois, a mulher percebeu que estava grávida e passado o tempo de gestação, deu a luz uma menina, que ficou morando em companhia da mãe e do avô. A menina crescia rapidamente...
Um dia, o país foi envolvido numa guerra. Atacado o palácio, Osu N’layo foi morta e a menina capturada pelo inimigo.
Tempos depois, Fa Aydegun voltou e antes de chegar à cidade, mandou seus servidores capturarem um ser humano, para ser sacrificado em honra de seu Ipori. Em sua busca, os servidores encontraram uma jovem escrava, que era na realidade, a filha de Osun N’Layo, que desta forma, foi levada a casa de Fa.
Enquanto não chegava o dia da cerimônia a menina ocupava-se de pequenos serviços caseiros. Encarregada de pilar o maiz a fim de obter a farinha de acaça, a menina, que sabia tudo sobre a ligação de sua mãe com Fa Aydegun, começou a chorar, lamentando-se:
“Que triste sina a minha! Quando minha mãe tinha trinta e um anos, foi consultar um Babalawo, para poder ter filhos. No dia em que foi oferecer o sacrifício determinado, caiu num buraco de onde foi retirada por um homem negro, que aproveitando-se da situação, fez amor com ela, seguindo depois seu caminho, sem jamais ser novamente visto. Foi este contato que me fez vir ao mundo. Agora vou morrer sem ter tido a chance de conhecer meu pai!...”
Os que ouviam seus lamentos, penalizados, perguntaram se ela sabia pelo menos o nome do tal homem negro que possuíra sua mãe.
“Minha mãe disse que seu nome era Fá Aydegun!” Respondeu a criança.
Suas palavras foram comunicadas a seu pai, que escondido, tentou escutar o que a menina tinha para dizer. Ao ver a menina, Fá teve a certeza de que estava diante de sua própria filha. Como poderia sacrificar alguém que ele próprio havia engendrado?
Fa ordenou que fossem trazidos cabritos, galinhas, pombos, ratos do campo, etc..., e mostrando ao seu Ipori, falou: “Aqui está o que comerás de hoje em diante. Tu não receberás mais sangue nem carne humana!”
Desta forma, foram suprimidos os sacrifícios humanos nos ritos de Ifá. Hoje em dia, os sacrifícios oferecidos compõe-se somente de animais.

Cântico: Koma ma gbo mon lo mon
eku ni ke ogba.
Koma ma gbo mon lo mon
eye ni ke ogba,
Koma ma gbo mon lo mon
adie ni ke ogba,
Koma ma gbo mon lo mon
elã ni ke ogba,
Koma ma gbo mon lo mon.

Outro cântico: Elã ni ogba,
Mama gbe li eni,
Elã ni ogba,
Mama gbe li eni,
Kpalo, okpalo bajiwo feli elã.
Kpalo, kpalo, kpalo.

(Estes cânticos, acompanham os sacrifícios oferecidos a Irete Meji e tem aproximadamente o seguinte significado):
“Receba os animais, não aceite seres humanos. Decapite os animais, poupe os seres humanos”.

Ebó: Sacrifica-se dois pombos, duas galinhas e dois cabritos a Orunmila. o signo Irete Meji, é riscado no Yerosun, que é depois salpicado sobre os animais sacrificados. O ebó dever ser enterrado num buraco dentro de uma mata. Faz-se a saudação (cântico), de Irete Meji antes e depois do sacrifico. Saúda-se também os Dezesseis Meji sobre o Opon, usando o Irofá e dentro do preceito. Depois de enterrado o carrego, faz-se a prece abaixo descrita.
Este ebó é indicado para pessoas que se encontrem em Osogbo Iku. (Este ebó só pode ser feito por Babalawo consagrado).

Prece: (A prece que se segue é considerada a mais importante deste Odu).

Kpapo nni feli gbã na ku je bobo shigi,
Nhi kpaya o kpu lulu kpu lulu,
Wolu a difa fun ologa dudu mon gbe akpédu.

Tradução: Desconhecida.

(3) Esta é a história da criança gerada por Ajé, mulher de Metonlonfin, chefe de todos os feiticeiros.
Em seu nascimento, esta criança prometida a Olofin - mestre de todas as coisas, aos homens, para servir de intermediador entre eles, recebeu o nome de Fá Aydegun. Logo depois de haver nascido, apesar da missão a que fora destinado. Fá Aydegun permanecia preso de um mutismo inexplicável, o que deixava seu pai muitíssimo irritado. Por mais que se insistisse, o menino limitava-se a chorar, sem emitir uma só palavra.

Certo dia, já bastante irritado pelo enigmático mutismo da criança, Metonlonfin deu-lhe uma pancada com um pedaço de marfim entalhado que portava no momento e o menino, interrompendo seu pranto permanente, gritou em alta voz: “Ogbe”.

Admirado, Metonlonfin golpeou-o novamente e o menino gritou a palavra Oyeku. A um terceiro golpe, foi dito Iwori e recebendo golpes consecutivos, o menino foi falando: Odi, Irosun, Owonrin, Obara, Okanran, Ogunda, Osá, Ika, Oturukpon, Otura, Irete, Oshe e Ofun.

Depois de pronunciados este dezesseis nomes, o pai parou de bater no menino que então lhe disse: “Pai, as palavras que me ouvistes pronunciar, são os nomes de meus dezesseis filhos espirituais. Eu não posso anunciar mais que um deles por cada golpe recebido, por conseguinte, não poderia manter uma conversação sem não receber consecutivos golpes de teu bastão, ao qual darei o nome de Irofá.

Assim sendo, quando mais tempo me baterem com o Irofá, mais tempo manterei contato com os homens. Devo revelar agora, os segredos de cada um dos meus dezesseis filhos, de posse destes segredos, qualquer ser humano poderá aliviar seus sofrimentos, amenizar suas vicissitudes.

Todos eles apresentam duplas características, são Meji (duplos), podendo assim, causar o bem e o mal.

Seus nomes são sagrados e não devem ser pronunciados de forma profana, por bocas ímpias, sob pena de terríveis maldições.

Para que se sintam bem e possam sempre trazer benções para os homens, devem ser tratados e agradados com os seguintes elementos que lhes pertencem especificamente.:

Ogbe Meji - a água fria.
Oyeku Meji - a galinha preta.
Iwori Meji - as bebidas alcóolicas.
Odi Meji - a banana.
Irosun Meji - o galo de penas amarelas.
Oworin Meji - a galinha de penas arrepiadas.
Obara Meji - a abóbora
Okanran Meji - o galo negro.
Ogunda Meji - peixe fresco.
Osa Meji - o óleo de palma.
Ika Meji - o pombo.
Oturukpon Meji - o pato.
Otura Meji - o carneiro
Irete Meji - o porco e o cabrito.
Oshe Meji - o milho torrado e o galo.
Ofun Meji - os ovos, as manteigas de ori e de cacau.

Um dia, Fá Aydegun, após revelar seus segredos a seu pai, transformou-se numa palmeira e por isto, é até hoje representado pelos negros caroços desta palmeira.

É por este motivo que os adivinhos, para invocarem os filhos espirituais de Ifá, batem em seu Oponifá com os seus Irofá, pois só desta forma, Ifá estabelece conversa com eles.



SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
ALAFIÁ

Alafia é o 16º Odu no jogo de búzios e o 13º na ordem de chegada do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo nome de Otura Meji.
Responde com 16 búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Tula Meji”, “Otula Meji” ou “Otura Meji”. Em Yoruba é denominado por vezes, “Otuwa”, que significa: “Té estas de volta”. É conhecido também, pelo nome de “Alafia”. O termo Yoruba mais comum é, “Otura Meji”, que evoca a idéia de separar, desligar, apartar.
Otura Meji é o mestre das línguas, indica quando alguém tem duas palavras, aquele que cai sob este signo costuma ser muito falador.
Sua representação em Ifá é: * *
* * * *
* *
* *
que corresponde na Geomancia Européia, a figura denominada “Puella”.

Alafia é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Fogo, com predominância do primeiro, o que indica a hesitação do ser, diante do domínio dos instintos. É a fêmea que, desejando se entregar, finge resistir. É o devaneio, a vocação artística influenciada pelo sentimentalismo e pelo amor.
É um Odu muito bom, sempre pronto a beneficiar e que responde afirmativamente, embora prenunciado tempo variável. Alafia rege as raças humanas (exceto a raça negra), a palavra, as roupas longas, a cegueira, a mendicância, as disputas, o grande caramujo eje, os esquilos, a tartaruga terrestre (Lógozo) e os animais inofensivos.

Fala das raças humanas diferentes da negra, principalmente dos muçulmanos.
Como mestre das línguas, indica quando alguém tem duas palavras e empresta o poder as eloquência aos seus favi. Tem o domínio da boca e, como Legba, diz coisas boas e más. Morfologicamente, representa dois braços abertos, uma vulva pronta a ser penetrada, uma possibilidade de conquista e de prazer, uma acolhida afetuosa e sincera.

Sua influência no corpo humano pode provocar inércia da vida celular ou desfunções fisiológicas, apatia dos orgãos e relaxamento patológico dos tecidos.
Corresponde ao ponto cardeal Sudoeste, ao arcano no 14 do Tarot (A Temperança) e seu valor numérico é o 5.

Suas cores são o azul, o branco e o dourado, gostando muito de tudo o que é estampado com estas três cores. É um Odu feminino, representado esotéricamente por um busto humano, trajando uma blusa especial, chamada anteriormente de “nahwami” é conhecida atualmente como “Kansã”.

Esta blusa é usada no Abomei, somente pelos ministros do rei e seus soldados, não devem ser confundidas com o woduwu (fon) ou agbada (Yoruba), usado pelo rei, pelo grande Bokono do rei e por algumas poucas personalidades sacerdotais.

Antes de falar em Oturá alguns advinhos dizem: “Otwa, Otwa, Otwa a difa fun nun”. (sentença que será explicada mais adiante).

SAUDAÇÕES DE ALAFIA

Em Fon: Mi kan Tula Meji,
Nunshe ma do azo lin e o!

Tradução: Nós saudamos Otura Meji,
Que as palavras de sua boca, jamais sejam para nos acusar!

Em Nago: Ejobe Baba
Mu dilonã!

ALAFIA EM IRE:

Quando em Ire, Alafia pode indicar, principalmente: Vocação artística, sinceridade no amor, amor correspondido, sabedoria, conquista de alguma coisa, prazeres, acolhimento afetuoso, sinceridade.

ALAFIA EM OSOGBO:

Em Osogbo, este Odu pode indicar: Domínio dos instintos (as necessidades físicas sobrepujando a razão e induzindo ao erro); falta de determinação para dizer não; pessoa de caráter dúbio, de duas caras, sem palavra.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Voduns (Jeje): Legba, Duduwa, Hohovi, Dã, Toxosu, Gun, Orunlá.
Orishá (Nagô): Orunmila, Obatala, Oduduwa, Elegbara, Aje Shaluga.

INTERDIÇÕES DE ALAFIA:

Alafia proibe aos seus filhos: Possuir um cão ou tê-lo proximo de si, comer galo, milho assado, inhame pilado, carne de porco e carne de tartaruga. Portar facas ou armas brancas, vestir agbada, fazer uso de tabaco e ser indiscreto.
Recomenda-se a seus favi, dar esmolas generosas e, quando possível, ter perto de si, um destes pequenos altares que os muçulmanos utilizam para fazerem suas preces.
SENTENÇAS DE ALAFIA:

(1) Tuwa, Tuwa, Tuwa! Este é o signo que consulta Ifá para a boca.
(2) Otura Meji! Um muçulmano não pode reverenciar a ninguém.
(3) Nós vimos duzentos muçulmanos e seus sapatos eram um números de quatrocentos. Nós vimos quatrocentos e cinquenta búfalos, e seus chefres eram em número de novecentos e sessenta. A Serpente não pode penetrar no seio da floresta onde se encontra Dã Ayidohwedo.
(4) O mesmo bico que come o milho, serve para construir o ninho, não devendo ser usado pra destruí-lo.
(O consulente melhorará de vida, mas suas palavras poderá destruir-se).
(5) O boi não pode alcançar a Lua e fazer-lhe qualquer mal.
(O inimigo não pode fazer nada contra o consulente, por isto, deve ser deixado para lá).
(6) A folha Adã-mi-na-kpe, veio ao mundo e She (Mawu), colocou espinhos em suas bordas. A morte que levará o rei de Agwa, encontra-se na floresta de Agwa.
(O consulente procura confusão com os outros e a resposta virá de sua própria boca. Suas palavras impensadas provocarão sua própria morte).
(7) Otura Meji, diz: Deus é muito grande!
(O consulente não deverá se escusar de dar esmolas consideráveis).
(8) Gove, a pequena faladeira, provocará, com sua maldade, uma guerra que destruirá o país.
(O consulente encontra-se ameaçado pela maledicência de alguem muito falador).
(9) O índigo existe para tingir o tecido.
(O consulente jamais conhecerá a miséria total).

ITAN DE ALAFIA

(1) Todo mundo sabe que nada interessa mais a um muçulmano que o dinheiro, logo que o muçulmano chegou a Terra, consultou três Bokono, para que o orientassem na melhor maneira de obter dinheiro.
Após a consulta, os Bokonon recomendaram ao muçulmano, que oferecesse um sacrificio, para evitar o insucesso em seus negócios, mas o homem não concordou em fazê-lo.
O muçulmano, que morava no céu na companhia de Mawu, resolveu trazer de lá três cavalos, para serem vendidos na Terra.
Entre o Céu e a Terra, existia então, uma expécie de barreira alfandegária, que era fiscalizada por Agosu Sava (um dos nomes da morte).
Agosu Sava, barrou a passagem do marabu com os cavalos. Impedido de seguir viagem, ficou por alí, aguardando uma oportunidade de passar.
Durante a espera, o muçulmano encontrou um paralítico, que demonstrou interesse em dirigir-se a Terra. Aproveirando-se da situação, o muçulmano mandou que o aleijado montasse num dos seus cavalos.
O paralítico, sem que o muçulmano soubesse, carregava consigo três flechas.
Ao se aproximarem da barreira, alegaram que a montaria excedente era uma reserva, para o caso de cansaço daquele que carregava o paralítico, conseguindo desta forma, permissão imediata para prosseguirem viagem.
Já na estrada, o muçulmano precisou apear para fazer suas necessidades. Aproveitando-se de seu afastamento, o paralítico temendo que o companheiro fosse utilizar o terceiro cavalo para transportar algum malfeitor, introduziu uma flecha na barriga do animal.
Prosseguiram viagem, sem que o muçulmano percebesse nada e de repente o animal caiu sem vida.
Caminharam algumas horas, depois de terem substituido a montaria do paralítico, quando o muçulmano, sentindo cólicas novamente, dirigiu-se ao mato para aliviar-se. Imediatamente e agora por compulsão, o paralítico introduziu outra flecha na barriga de seu cavalo, que após caminhar alguns minutos, veio a morrer.
O mesmo destino estava reservado ao terceiro animal e só então, o muçulmano se apercebeu de que tudo não passava de um castigo, por haver negligenciado o sacrificio determinado pelos adivinhos.
O paralítico, não tendo mais o que o carregasse, ficou pelo caminho e o muçulmano prosseguiu viagem a pé, chegando a terra no exato momento em que o rei do lugar acabara de morrer.
Segundo os costumes da época, o estrangeiro que chegasse no momento da morte do rei, deveria ser o seu substituto e ao muçulmano, foi dado o título de Imamú.
Foi a partir deste dia, que ficou estabelecida a dinastia Imamú (Islanmismo).
(2) Quando o arbusto edau-de-folhas-vermelhas, chegou ao mundo, Shebo Lisa deu-lhe espinhos que foram presos ao seu próprio corpo, com a seguinte recomendação: “Haja com doçura! Se agires com doçura, será a ti mesmo que protejerás”.
Adãun-Ve, era uma moça. Logo que ela veio ao mundo, Shebo-Lisa lhe deu um punhal (espinhoso). Este punhal representava seu seios (anõ).
Quando os seios cresceram, os rapazes sentiam grande prazer em tocá-los, irritada com isto, a jovem resolveu ferir as mãos indiscretas mas agindo assim arriscava-se a ser destruída por um malvado que, ao se sentir ferido, viesse a matá-la por vingança. Seus belos seios seriam então, a causa da sua desgraça.
Da mesma forma, se a planta espinhos Adãun pica aqueles que tocam em seus espinhos, por vingança, será arrancada.
Ebó: Envolve-se em algodão, dezesseis espinhos de qualquer planta, tornando-se dezesseis rolinhos, embebe-se os dezesseis rolos em azeite de dende e, a cada dia, quima-se um diante de Elegbara, sem nada dizer. No ultimo, pede-se o que se quer, antes de atear fogo ao algodão. Sacrifica-se um pinto a Elegbara e despacha-se nos pés de uma planta de espinhos.
Este ebó é indicado para pessoas que se sintam ameaçadas por qualquer perigo.
(3) Primeiro Deus criou o homem negro, depois o marabu e depois o branco.
Certa noite, Olofin estava numa encruzilhada, de onde abençoava seus filhos, quando um negro vinha passando, Olofin chamou-o e, entregando-lhe uma botija e cinco centavos, pediu-lhe que fosse comprar óleo de palma. O negro partiu, comprou quatro centavos de oleo e guardou um centavo para si.
Deus que tudo vê, perguntou ao negro: “Só este óleo por cinco centavos? Sabes que tudo vejo e vi quando embolsastes um centavo. Se achas que um centavo pode suprir suas necessidades, segue teu destino com esta importância!”
No outro dia passou o marabu, Olofin chamando-o, entregou-lhe a mesma botija com cinco centavos, dando-lhe a mesma ordem que havia dado ao negro. Chegando ao mercado, o marabú comprou três centavos de oleo e surrupiou os outros dois.
Ao receber de suas mãos a botija com oleo, Deus perguntou: “Só este óleo por cinco centavos? Vi muito bem quando guardastes dois centavos em tua bolsa. Se achas que dois centavos podem suprir suas necessidades, segue teu destino com esta importância!”
No dia seguinte foi a vez do branco. Deus confiou-lhe a mesma missão, com a botija e cinco centavos. O branco partiu, comprou cinco centavos de óleo e voltou com a botija cheia. Deus então lhe disse: “Muito bem! Dê-me tuas mãos para que as abençoe!” E soprando sobre as mão estendidas, assim falou: “Té és bendido entre todos os teus irmãos. Tu os comandarás, eles viverão submetidos a ti”! É por isto que até hoje, todas as demais raças são subjugadas pela raça branca.
(4) Awasasatonu (formigueiro) e Bejinfin (rato do mato) eram amigos, com fortes destinções.
Rato do mato que era andante e Formigueiro que jamais se mudava de casa, possuia muitos filhos, Rato do Mato Procurou seu amigo e anunciou-lhe o deseja de residir junto dele e, como Formigueiro não concordasse, ressolveu cavar um tuneo que passasse em baixo da casa do amigo.
A casa de Formigueiro havia sido muito bem construida sobre um grande placa de terra batida e o Rato Construiu o seu túnel bem em baixo desta placa, túnel este, que era utilizado pra servir de passagem, em suas investidas contra as plantações vizinhas, de onde surrupiava grande quantidade de nozes de palma.
A voracidade do Rato era tão grande, que em pouco tempo, as nozes que roubou davam para encher uma choupana.
Os frutos roubados pertenciam a uma palantação de propriedade de Metolonfin, que um dia ao visitar a plantação, sentiu falta de muitos cachos de dendê.
Regressando ao palácio, o rei mandou emissários ao local, com a missão de descobrirem o ladrão que lhe estava causando tantos prejuízos.
Os emissários, após um minuncioso exame do local, descrobriram o túnel aberto pelo Rato e na sua borda, vestígios claros da existência em seu interior de nozes de palma.
Retornando ao palácio, relataram sua descoberta e receberam de Metonlonfin, ordens de destruirem o túnel e materem o ladrão.
Imediatamente os homens voltaram a fazenda onde, munidos de ferramentas apropriadas, começaram a cavar uma vala sobre o túnel e seguindo a direção por ele estabelecida, chegaram ao local onde se encontrava o Formigueiro, que foi destruído, sem que tivesse qualquer culpa no acontecimento.
“Que fiz eu pra merecer tal catigo?” Perguntava Formigueiro, vendo seus filhos abandonando-o, enquanto era destruído pelos homens e suas ferramentas. Enquanto isso, Rato do Mato dormia tranquilamente abrigado sob as árvores, barriga cheia de nozes de dendê.
Quem causou tamanha desgraça a Formigueiro? É por isto, que todos aqueles que dão abrigo ou si juntam a pessoas de procedimento ruim, acabam pagando por coisas que não fizeram.
Se Formigueiro tivesse consultado Ifá, certamente teria encontrado orientação para livrar-se de tamanho maleficio.
Ebó: Um preá, dendê, mel, oti, dezesseis frutos de dendezeiro, uma panela com tampa. Sacrifica-se o preá para Elegbara, deixando o sangue correr sobre o igbá e um pouco dentro da panela, onde já foram colocados os dezesseis frutos de dendezeiro. Coloca-se o animal sacrificado dentro da panela e em sua toca, escrito em papel branco, o nome da pessoa que se deseja afastar. Rega-se com bastante dendê e cachaça, sem cobrir completamente o bicho sacrificado. Despacha-se no mato, em cima de um formigueiro bem grande, para que as formigas se alimentem.
Este ebó é indicado para afatar pessoas que tragem má influência para amigos e parentes.
(5) Naquele tempo, uma epidemia dizimou a cidade de Ifé.
Ifá e os Vodun, que frequentemente alardeavam seus poderes, não puderam conter a mortandade.
Metonlonfin, rei de Ifé, aborrecido, mandou prender Sakpata (o Vodun da Terra), Xevioso (o Vodun do Fogo), Toxosu (o Vodun da Água), Ayidohwedo (o Vodun do Ar), e um jovem muçulmano muito poderoso, denominado Tula al Fa (Alafia).
Irritado, Metonlonfin gritou: “Voces não passam de falsos amigos! Certos de suas imortalidades, deixaram morrer todo o meu povo! Agora eu os prendo no interior desta gruta, onde permanecerão encerrados durante oito dias.
No quarto dia, os Vodun morreram de fome, somente Alafia, que levava em seus bolsos vários obis e grãos de pimenta atakun, conseguiu sobreviver.
No oitavo dia, Metonlonfin ordenou que fosse aberta a entrada da gruta e, no seu interior, foram encontrados os quatro cadáveres dos Vodun e Alafia vivo, sempre mastigando seus obis e seus grãos de pimenta.
Levado diante do rei, Alafia ouviu de dua boca: “Tu Alafia, porque sobrevivestes ao castigo, ressucita os Vodun, ou sirva-lhe de carrasco!”
Ressucitados os Vodun, prosternaram-se diante do rei, ouvindo sua sentença: “Eu vos maldigo Vodun, tristes filhos dos elementos. Eu vos provi de sentimentos, mas eles não lhes serão úteis no futuro. Alafia, é a partir de hoje, o vosso rei. Ele verá, ele compreenderá, falará e agirá por vós. Ele estará sempre acima de vós, que nada podereis sem a sua intervenção. O Odu e denominado Rei!”
Depois disto, os Vodun deixaram de se comunicar com os mortais. Os Odu transmitem suas mensagens aos homens, através de seus códigos, que são interpretados pelos adivinhos.
(6) Quando se encontrava no céu perto de Mawu, o caramujo Aje se chamava Aina e era do sexo feminino.
Naquela época, Fa Ayedogun passava por sérias dificuldades financeiras e, por ser muito pobre, não era convidado a participar de qualquer festa ou reunião social.
Aina, recém nascida, era muito feia. Sua aparência terrível fazia com que todos evitassem sua companhia e ninguém aceitava tê-la em casa.
Depois de ser rejeitada em todas as casas, Aina bateu na porta de Fa Ayidogun, que apesar do estado de miséria em que se encontrava, acolheu a menina.
Uma bela noite, Aina acordou Fa, anunciando que estava prestes a vomitar. O hospedeiro apresentou-lhe uma tigela para que vomitasse, mas ela recusou-se. Uma cabaça foi trazida e também recusada e depois, uma jarra foi objeto de nova recusa.
Fá perguntou então, o que poderia fazer para ajudá-la e Aina disse: “Lá no lugar de onde venho, costuma-se vomitar todos os dias, no quarto. Conduzida ao quarto, Aina começou a vomitar todos os tipos de pedras preciosas, brancas, azuis, vermelhas, verdes, etc.
Naquele momento, um marabu que passava, penetrou na casa de Fá e perguntou por Aina.
“Ela está no quarto, acometida por uma crise de vômitos.” Respondeu Fá.
O estrangeiro foi ver o que se passava e ao deparar com Aina vomitando pedras preciosas, exclamou: “Ha! Nós não conhecíamos os poderes de Aina, hoje revelados!” Disposto a serví-la, colocou-lhe o nome de Anabi ou Ainayi, que em Yoruba quer dizer: Aina vomita, Aina deu toda riqueza a Fá Ayidogun. Os muçulmanos, depois disto, fizeram de Aina uma divindade, conhecida entre eles, como Anabi.
(Este itan descreve a lenda do surgimento do Orishá Aje Shaluga).
(7) O Esquilo grita: “Tõ-mpeun!” O Esquilo mesmo, com sua própria boca, chama a morte para si.
Legba e o Esquilo eram bons amigos, Esquilo era um camponês bastante próspero, o que despertou a cobiça de Legba.
Legba era então uma espécie de sócio de Ifá. Sua função era enviar consulentes para Ifá, com a finalidade de obter galinhas para sua alimentação.
A cobiça levou Legba a buscar em Ifá, orientação para apoderar-se da propriedade de Esquilo.
Um ebó foi determinado: um cabo velho de enxada, uma pedra de esmagar nozes de palma e um jarro cheio d’água. O sacrifício, depois de oferecido, foi despachado nas terras de Esquilo.
Vendo que o milho e tudo o mais que era plantado nas terras de Esquilo, brotava e crescia com muita abundância, Legba queixou-se a Lonfin: “Esquilo apoderou-se de minha lavoura!”
Chamado a presença do rei, o camponês defendeu-se afirmando que Legba jamais havia cultivado um campo. “Ele jamais trabalhou!”
Gritava, “Tudo o que faz na vida é arrebanhar clientes para Ifá e roubar tudo o que estiver ao seu alcance! A lavoura me pertence, eu a plantei e colherei seus frutos!”
Para solucionar a questão, o rei enviou alguns investigadores de sua mais alta confiança, para averiguarem quem estava mentindo.
Chegando na roça os investigadores encontraram Esquilo trepado numa árvore de onde constumava vigiar sua propriedade.

“É trepado nesta árvore que cultiva a terra?” Perguntaram os enviados do rei. Legba, que neste momento chegava, solicitou aos investigadores que o acompanhassem, conduzindo-os até o local onde arriara o ebó.
Na chegada, pegou a pedra manchada de azeite de dendê, dizendo: “Vêem? Esta é a pedra com que extraio meu próprio óleo dos frutos produzidos por minha plantação. Este é o cabo da enxada com a qual arei minhas terras, de tão usado, quebrou-se. Esta é a jarra onde carrego água para, todas as manhãs, sob o Sol inclemente, molhar minha plantação. Peçam agora ao Esquilo, para mostrar suas ferramentas!”

Solicitado, Esquilo não pode mostrar seus instrumentos de trabalho que Legba, momentos antes havia escondido.
Ao ser informado do resultado da investigação, o rei declarou Legba como legítimo dono da terra e de tudo o que nela pudesse ser colhido.
Revoltado, Esquilo disse a Legba: “Tu és um ladrão! Tu não vales nada! Serás maldito pela vida! Me consolo em saber que nada mais possuirás que estes campos. Eu conquistarei outras coisas e terei muitos filhos, tu não poderás ter nada!”

Hoje, Esquilo não precisa, para viver, de nada mais do que saber subir em árvores e procriar!
Neste itan existe um ebó que pode ser utilizado para fins escusos. A responsabilidade de interpretá-lo cabe a quem desejar fazer uso dele.
(8) Deus fez o mundo e quando criou os animais, disse-lhes que, aquele que encontrasse a cabaça da vida, seria o mestre da vida.

Nesta cabaça estava encerrados tecidos, dinheiro, filhos, mulheres e tudo o mais que havia criado para seu entretenimento e para entretenimento dos outros. Os animais consultaram Ifá, que os recomendou oferecerem um sacrifício, para que pudessem encontrar a cabaça da vida.
Tudo o que tem vida neste mundo, consultou Ifá com a mesma finalidade, mas todos se recusaram a fazer o ebó.

Quando os homens surgiram no mundo, consultaram Ifá com a mesma finalidade e não recusaram a fazer o sacrifício exigido por Alafia.
Depois do sacrifício, Ifá lhes deu duas varas e disse: “Se encontrarem peixes, serpentes ou qualquer animais lutando entre si, não os separem deixem que se destruam. Mas se encontrarem dois pássaros lutando, separe-os!”

Seguindo seu caminho, os homens depararam, sucessivamente, com dois búfalos, depois com dois leões, depois com duas serpentes, depois com dois peixes, que lutavam entre si. Sem tomar conhecimento seguiram em frente.

Encontraram depois, no interior da vida, dois pássaros que lutavam pela posse de uma cigarra e que, no ardor da luta, já haviam embaraçado suas penas.
O chefe dos homens, pegando uma das varas, lançou-a contra os pássaros. Assustadas as aves se separaram e a cabaça caiu no chão.

Os homens, de posse da cabaça da vida, encontraram em seu interior o Ashé, tudo o que pode satisfazer os Vodun, tudo o que pode apaziguá-los, tornando os homens mais poderosos que eles.

Os animais foram então dominados pelos homens e os reconheceram como seus mestres e senhores da própria natureza. É por isto que os homens receberam o nome de Gbe-to (Pais da Vida).



OPIRA

Aqui, não se trata de um Odú, senão de uma caída em que todos os búzios aparecem fechados. Não existe mensagem nem interpretação. É um prenúncio de acontecimento nefasto inevitável e irremediável.

Qualquer tipo de Osogbo pode estar sendo preconizado e não existe ebó para modificar o mau pressagio. Quando cair Opira, pode ser um Egun anunciando a morte de alguém. A determinação é de que o jogo deve ser fechado, o que deixa o adivinho sem qualquer recurso oracular.

Algumas providências devem ser tomadas para afastar ou aliviar o Osogbo que se prenuncia. O jogo é imediatamente colocado numa tigela com água fresca, onde se acrescenta oito pedacinhos de Ori da Costa.

Prepara-se um ebô, separa-se a água e junta-se um pouco deste, aquele da tigela, onde estão os búzios.

Faz-se sacudimento de folhas de São Gonçalinho em toda a casa e nas pessoas que nela se encontrarem. Passa-se um frango ou galinha na casa e nas pessoas, sacrifica-se para Eshú Buruku na rua. Defuma-se tudo e todos com incenso verdadeiro.

Uma parte da água da canjica é separada para que todos se banhem com ela.

A canjica é oferecida a Oshalá e uma parte a Elegbara.

Os búzios devem permanecer em repouso, dentro da tigela, por sete dias, depois do que, são retirados, lavados em água corrente, secos e envolvidos em pó de efun ou atin de Oshalá. Isto feito, pode-se voltar a utilizá-los normalmente.

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GLOSSÁRIO

“A”

Abiku: Espíritos que provocam a morte das crianças. Literalmente: “Nós nascemos para morrer”.
A ação do Abiku, encarnando-se sucessivas vezes em crianças geradas por uma mesma mulher e provocando sua morte durante a fase de gestação ou logo após o nascimento, mas sempre antes dos sete anos de idade, é tida e havida como uma verdadeira maldição.
Periodicamente oferecem-se comidas ritualisticas as crianças Abiku, produzidas principalmente, com feijões e óleo de palma. Acredita-se que durante estes festivais, os espíritos Abiku se apresentem e ao participarem do evento, são apaziguados.

Abuta: (F) Panos coloridos, fabricados no Abomey.

Adete: (Y) Lepra.

Adie: (Y) Galinha.

Adimu: (Y) Presente que se dá a um Orixá ou qualquer outra entidade do culto e que não importa em sacrifício com sangue.

Adisin: (F) Substância vegetal, de cor azul, da qual é extraído o índigo. É o mesmo waji dos nagôs, muito utilizados em pinturas e outros procedimentos ritualísticos.

Adra: (F) Sacrifícios expiatórios exigidos por Odu.

Agbanli (F) Tipo de antílope das estepes africanas.

Agbe: (Y) Ave rapinante de grande porte, natural do Continente Africano, cujas pernas de coloração vermelho - vinho são muito utilizadas em procedimentos ritualísticos.

Age: (F) Vodun Caçador - Correspondente ao Orixá Oshosi dos nagô.

Agonjihwele: (F) Pombo de plumagem verde.

Agu: (F) Farinha de inhame.

Ahwalokolwe: (F) Espécie de rola.

Aiku: (Y) Não ver a morte, não correr o risco de morrer.

Aiya: (Y) Esposa, mulher, concubina.

Aje: (Y) Feiticeiro, bruxo, espírito maligno.

Aje (Y) Fortuna, riqueza. Nome de um Orixá de origem Fon “Aje Shaluga”, tido como propiciador de fortuna.

Ajinaku: (F) Elefante.

Ajinoto: (F) Ferreiro.

Akere (F) Rã.

Akoko: (Y) Árvore que atinge altura considerável, cujas folhas são consideradas sagradas e muito utilizadas no ritual.

Akpakpo: (F) Almofada.

Aluko: (Y) Ave de rapina de plumagem azul-marinho e preta, as penas desta ave são utilizadas em muitas procedimentos ritualísticos.

Amanonnu: (F) Serpente venenosa.

Amiwo: (F) Alimento preparado com farinha de inhame e azeite de dendê.

Amolu: (Y) Nome genérico dos 240 Odus que resultam da interação dos 16 Odu Meji, perfazendo um total de 256 Odus, base do sistema oracular de Ifá.

Apadi: (Y) Caco de cerâmica.

Araba: (Y) Árvore de grande porte, considerada sagrada para os seguidores do culto, segundo se crê, o Araba é morada de muitos espíritos.

Arun: (Y) Doença, moléstia.

Ashé: (Y) Força, energia, poder, proteção. De acordo com a forma como é empregada, pode representar uma saudação, um desejo de sorte, de sucesso, de coisas boas.

Ashekun: (Y) Vitória por meio de um trabalho. Etm.: ashe = graza: okun = trabalho vencedor. Dai: Ire ashekun ota = bem de vitória sobre inimigos.

Astrologia: Ciência que estuda a influência dos astros sobre o caráter e o comportamento humano. Possibilitando a previsão de acontecimentos futuros, é considerada também, uma arte divinatória de caráter não religioso.

Ata: (Y) Pimenta.

Atakun: Pimenta malagueta.
Atare: (Y) Pimenta da costa.

Ate: (F) Peneira ou esteira de paina trançada utilizada no jogo de búzios.

Aviti: (F) Um dos nomes da Morte.

Azãgada: (F) Um dos nomes da Morte.
Azon-Vo: (F) Lepra. Literalmente, “O Mal Vermelho”

Azwi: (F) Lebre.











“B”

Babá: (Y) Pai, papai, avó, ancestral masculino.

Babaegun: (Y) Ancestral divinizado com culto próprio e específico. No Brasil, o culto de Babaegun é mantido integralmente nas amoreiras, Bahia.

Babalawo: (Y) Sacerdote do culto de Ifá, consagrado à Orunmilá e encarregado, dentre outras coisas, da divulgação e denotação de todos os processos, de adivinhação inerentes ao culto de Orixás.

Balogun: (Y) Chefe guerreiro; comandante de tropas; general.

“C”

Cartomancia: Arte divinatória na qual são utilizadas cartas de baralhos para a previsão do futuro. Um dos mais tradicionais e divulgado método de cartomancia e o Tarot.

Cawri: (Y) Búzio - Pequeno molusco marinho utilizado no jogo advinhatório que recebe, no Brasil, o mesmo nome (jogo de búzios).

Conquen: Galinha de Angola.

“D”

DãgbadaHwedo: (F) Uma das manifestações do Vodun Dã, que serviria de suporte e proteção aos demais Voduns. Dã é o símbolo da continuidade e do movimento, é representada pelo arco-íris e suas funções são múltiplas e demasiadamente completas para uma definição simplificada.

Dãgbe: (F) O Pithon Real, serpente sagrada cultuada pelos Fon. Uma das manifestações de Dã. Vodun que corresponde ao Oshumare dos nagô.

Dilogun: (Y) O número dezesseis (16).

Divinatório: Que permite fazer adivinhações, previsões.

Do: (F) Buraco, cavidade.

Dokwin: (F) Batata doce.

Dudu: (Y) Preto.



“E”

Ebó: (Y) Sacrifício propiciatório. Existem diversos tipos de sacrifícios, desde os simples adimus ou presentes às divindades, até os mais complexos procedimentos mágico - ritualísticos.

Ebó Ejé: oferenda votiva que têm por finalidade obter determinado favorecimento ou graça de uma divindade.

Ebó Etutu: sacrifício de apaziguamento. Este tipo de sacrifício é geralmente determinado pelo Oráculo e têm por finalidade acalmar a ira ou o descontentamento de uma entidade qualquer.

Ebó a ye ipin ohun: sacrifício substitutivo. Tem por finalidade substituir a morte de alguém pela oferenda determinada pelo Oráculo.

Ebó ba mi o iya: sacrifício que visa atenuar uma punição de morte imposta a uma pessoa por um Orixá ou por um espírito maligno. Neste caso, como no anterior, um carneiro é sacrificado em substituição ao ser humano.

Ebó Ogunkoja: sacrifício preventivo que pode ser público ou individual. Têm por finalidade evitar qualquer tipo de acontecimento nefasto que ameaça a pessoa (individual) ou até mesmo uma cidade ou aldeia (pública).

Ebó a d’ipode: trata-se de um sacrifício propiciatório e preventivo. Este sacrifício é oferecido na fundação de uma casa, aldeia ou cidade e têm por finalidade acalmar os espíritos da terra no local da fundação. Anteriormente, este ebó exigia o sacrifício de seres humanos que hoje em dia, foram substituídos por carneiros, vacas e aves.

Ebora: (Y) Divindades africanas cultuadas no Candomblé do Brasil e nas Santerias do Caribe. São os nosso Orixás que se posicionam hierarquicamente, abaixo dos denominados Orixás Funfun. Segundo os ensinamentos contidos em Ifá, os Ebora teriam participado da criação do nosso planeta, sendo sua ação circunscrita ao mesmo. Estão relacionados aos Elementos Naturais, aos fenômenos e manifestações da Natureza como também, aos quatro reinos (mineral, animal, vegetal e hominal). Acessam e influenciam também, os planos sutís de existência, como o etérico, o astral, o mental, etc.

Efun: (Y) Calcário branco extraído naturalmente e muito utilizado em pinturas e outros procedimentos ritualísticos.
Egun: (Y) Osso, esqueleto, defunto, espírito desencarnado, (ver Babaegun).

Eiyele: (Y) Pombo.

Eja: (Y) Peixe.

Ejé: (Y) Sangue.

Eji: (Y) Duplo, duas vezes, o número dois.

Ejo: (Y) Briga, confusão, questão judicial, o número oito.

Eku: (Y) Rato do mato, Preá.

Elegbara: (F) Divindade de grande importância no contexto religioso. Estericamente, seria a energia que reúne os átomos, possibilitando a diferenciação da matéria a partir de uma essência única. É o grande transformador, comunicador, o intermediário entre os homens e as Divindades e entre estas e o Supremo Criador. Mais comumente conhecido como Supremo Criador. Mais comumente conhecido como Eshú, termo que pode ser traduzido como esfera. Elegbara possui muitos emblemas como a laterita, imagens de madeira ou de barro sempre encimadas por uma lamina ou ponta afiada, bastões fálicos, etc.

Epo pupa: (Y) Azeite de dendê. Literalmente: azeite vermelho.

Ese: (Y) Pé, apoio, base, alicerce.

Eshú: (Y) Ver Elegbara.

Eta: (Y) Triplo, três vezes, o número três.

“F”

Fanuwiwa: (F) Festival que é realizado anualmente em honra de Ifá.

Fazun: (F) Cerimônia de iniciação no culto à Ifá.

Funfun: (Y) Branco, lívido, a cor branca.

“G”

Gã-da: (F) Arco e flecha (o mesmo que ofá dos yorubas).

Gãkpo: (F) Bastão de caça.

Gbadu: (F) Ver Igbaadu.

Geomancia: Processo de adivinhação através da Terra. Etm.: Geo = Terra / mancia = previsão, adivinhação. Existem vários sistemas geomânticos tais como a geomância árabe, a geomância européia, etc. Nosso estudo está ligado a geomncia africana, originaria sem dúvida, da geomancia árabe.

Gu / Gun: (F) Vodun da guerra e do ferro. Correspondente ao Ogun dos nagô.

Gubasa: (F) Facão, insígnia do Vodun Gu.

“I”

Igba-iwa: (Y) Cabaça da existência.

Igba: (Y) Cabaça cortada pela metade, (Y). No Brasil, é o nome genérico dado aos assentamentos dos Orixás. Diversos tipos de Igbas são conhecidos e utilizados no Brasil, variando de acordo com o Orixá ao qual se destina. Existem igbas de porcelana, de barro, de metais, de madeira ou, mais tradicionalmente de cabaças.

Igbaadu: (Y) Cabaça misteriosa, onde são contidos os segredos dos 256 Odus de Ifá.
O Igbaadu é considerado como sendo a cabaça da vida e da morte e somente os sacerdotes da mais alta graduação dentro do culto de Orunmilá, podem possuí-los. A etimologia de Igbaadu seria a seguinte: Igba Odu (Y) Cabaça de Odú.

Igbi: (Y) Lesma de tamanho grande, considerada como um animal fundamental dos Orishá Funfun. O Igbi é também conhecido como “Boi de Oshalá”, havendo quem afirme que o seu sacrifício corresponde a de um boi.

Igbo: (Y) Símbolos utilizados nos jogos de búzios e que servem como apoio, para determinar respostas negativas ou positivas.

Ija: (Y) Ver Ejo.

Ikin: (Y) Semente existente no interior do fruto do dendezeiro, coco de dendê, caroço de dendê. Os Ikins, depois de devidamente consagrados, representam o próprio Deus da Adivinhação, além de serem utilizados num dos jogos divinatórios, denominado, por sua importância, “O Grande Jogo”.


Ikú: (Y) Morte - Morte é para os adeptos do culto, um Orishá masculino, dos mais poderosos, sendo o único que um dia, irá pegar a cabeça de todas as pessoas, independente do seu cargo ou a qual Orishá tenha sido consagrada.

Ile: (Y) Solo, chão, a Terra, a terra natal, casa, residência.

Iná: (Y) Fogo. Um dos nomes ou qualidades de Eshú, forma como este Orishá é louvado num ritual denominado “Ipade”.

Ipori: (Y) O mais importante dos elementos que compõe o ser humano. Ipori seria a partícula divina que habita em cada um de nós, sendo portanto, a parte imortal do homem e que depois de sua morte renasce, cumprindo o ciclo de reencarnações que lhe tenha sido determinado. Segundo a filosofia religiosa Yoruba, o ser humano é composto de vários corpos ou entidades que são: Ipori (espírito imortal), Emi (sopro de vida), Ara (corpo físico) e Ojiji (corpo tenúrico).

Ire: (Y) Benção, coisa boa, acontecimento positivo, influência benfazeja. No decorrer da consulta Oracular, é necessário que se identifique se o Odu que se apresenta como responsável pela questão está em, Osogbo ou em Ire. Isto feito, é constatado que a posição é de Ire, tem-se que, com o auxilio dos símbolos respectivos, identificar o tipo de Ire. Os principais tipos de Ire, identificados por intermédio cinco símbolos auxiliares são: Ire Aiku ou Ariku (um bem sem morte), Ire Aje (um bem que está ligado a dinheiro), Ire Okunrin ou Obinrin (bem que chega através do marido ou da mulher), Ire Omo (bem que chega que chega através por intermédio dos filhos), Ire Ashekun Ota (bem resultante da vitória sobre os inimigos). Além destes outros tipos de Ire podem e devem ser pesquisados no decorrer da consulta, garantindo uma maior segurança nas respostas, são eles os seguinte: Ire Bojuku - uma vitória relacionada com o lar ou o trabalho, Ire Busu - denuncia uma melhora qualquer que pode ser de posição, de saúde, etc., variando de acordo com a situação que se configure, Ire Osha Mojiji Onire - proteção de Orunmila ou de todos os Orishás, Ire Osha Warin - um bem que é garantido pela pedra consagrada a um Orisha.

Neste Ire, arranja-se um Okuta do Orisha que estiver agindo em defesa da pessoa, lava-se com as ervas do Orisha em questão, deixando a pedra de lado. Em seguida, retira-se os cabelos da coroa da pessoa, abre-se quatro pequenas incisões naquele local e cobre-se com uma massa composta com as folhas utilizadas na lavagem do Okuta, ori da costa, obi, orogbo, osun, efun, e a pedra em questão. Sacrifica-se os bichos de pena pedidos pelo Orisha sobre a massa na coroa. Envolve-se tudo com um oja branco novo, deixando a pessoa recolhida por três dias em preceito total. No fim do terceiro dia retira--se tudo. O Okuta, fica em poder da pessoa, dentro de um recipiente de louça para quando a pessoa fizer santo. A massa que envolvia o Okuta é retirada e, depois de embrulhada num pano com as cores do orisha em questão é conduzida até as margens de um rio, onde o embrulhinho é enterrado.

Se este Ire sair para alguém já feito, o Okuta deve servir para assentar o Orisha e se este já estiver assentado, deve ser acrescentado dentro do igba. Ire Faura - Um bem vindo pela Terra. Quando mais sacrifícios se oferecer a Terra, maiores serão os benefícios. Ire Lashere ou Ita Meta Iyagada - Bem da providência. Deve-se oferecer sacrifícios a quatro esquinas. Ire Kokoni Fuye - Bem pela influência dos animais. Este Ire determina que se tenha um bicho solto dentro de casa.

Manda sempre que se faça um ebó. Ire Tonti Ibi - Se for trazido por Egun, tem que dar coco ou obi a Egun para aumentar suas forças em defesa da pessoa. Ire Kontoniku - Um bem que exige um morto por outro. Tem que fazer ebó de troca. Ire Ashenioshawiwo - Um bem que é garantido pela obediência às determinações dos Orishas. Ire Osha Larishe - Tem que assentar o Orisha e dar bicho de quatro patas. Ire Otonowa - neste Ire a ordem é fazer Santo. Ire Lese Kirin - Bem que chega por uma viagem. Ire Abilona - Caminhos abertos para a pessoa. Tem que dar de comida a rua e a Elegbara. Ire Arun - Bem que chega através de uma enfermidade. Este Ire nasceu em Odi Meji. O bem chega por intermédio de uma doença que um mal maior venha a acontecer.

Irofá: (Y) Bastão confeccionado em marfim ou madeira ou qualquer outro material, utilizado para “chamar Ifá”, durante a consulta e durante o procedimento de sacrifício. O Irofá, é batido pelo Babalawo, numa das laterais do Opon Ifá, ao mesmo tempo que são recitadas as saudações dos Odu. Em Cuba os Irofás de Marfim foram substituídos por outros de chifres de veado.

Itan: (Y) Contos que, de forma poética e alegórica descrevem os principais fundamentos da religião. Os Itans contam ensinamentos filosóficos, procedimentais e ritualísticos, além de transcreverem as lendas referentes aos Orishás e demais entidades cultuadas.

“K”

Kãli: (F) Nome genérico dado pelos Fon a todos os animais ferozes que habitam a floresta e que se alimentam de carne.

Keke: (Y) Pequeno.

Kennesi: (F) Espíritos ligados a magia negra. Bruxa, feiticeira.

Kinikini: (F) Leão.

Kla: (F) Macaco

Kle: (F) Parte dos alimentos oferecidos ao Vodun Nã, distribuída entre as pessoas que participaram da festividade e de sua preparação. Estes alimentos só podem ser consumidos depois que o Vodun for servido e homenageado.

Kokwe alogli: (F) Banana da terra (Y).

Kosmogênese: Surgimento ou criação do universo cósmico.
Kpo: (F) Leopardo.

Kpoku Abuta: (F) Pano de cabeça.

Kipoli: (F) O destino individual determinado por “Ipori”. A predestinação de cada indivíduo sobre a terra.

Kpovodun: (F) Vodun que se atribui as características do Leopardo. No Brasil, é cultuado com o nome de Kposum.

Kwelekun: (F) Grão-de-Angola. (Cajanus Indica).


“L”

Legba: (F) Eshú, Elegbara. O primeiro Vodun criado por Lisa e Mawu, tendo Ogun como irmão mais novo.
O culto de Legba é muito individual, cada indivíduo, assim como cada coisa possui o seu Legba, podendo portanto, edificar o seu assentamento, onde poderá cultuá-lo e apaziguá-lo.

Legede govi: (F) Pequena cabaça, utilizada para guardar amuletos e outros ashés.

Lelekun: (Y) Pequena semente usada como tempero e considerada indispensável na culinária religiosa.

Leri: ( ) Osso do crânio.

Lihwi: (F) Pequeno pangolim.

Lisa: (F) Vodun correspondente ao Obatalá dos Nagô. Principio masculino da criação.

Ló: (F) O outro mundo ou o outro plano da existência.

Loko: (F) Vodun cultuado nas árvores do mesmo nome. Corresponde ao Iroko dos Nagô. Embora se trate de um culto ligado a um vegetal, não pode ser considerado filolátrico, dada a dissociação possível entre o Vodun e o vegetal que o representa.

“M”

Male: (F) Adivinho muçulmano.

Malu: (Y) Boi.

Marabu: (F) Muçulmano.

Mawu: (F) Vodun correspondente a Oduduwa dos Nagô. Principio feminino da criação e que muitos Itans é confundido com o próprio Criador Supremo.

Meji: (Y) Duplo, duas vezes.

Merindilogun: (Y) Tudo o que é composto de dezesseis unidades, ou que esteja relacionado ao número dezesseis - O Jogo com dezesseis búzios.

Mojuba: (Y) Reverência, prece louvatória, invocação. Literalmente: “Eu te presto reverências”.

“N”

Nhonnu: (F) Mulher. corruptela do termo ñon - nu = coisa boa. Uma forma de designar a mulher, como uma coisa boa.

Nunsunun; (F) Parto típico de Benim.

Nutiti: (F) Febre eruptiva atribuída a ação de Sakpata.


“O”

Obirin: (Y) Esposa, mulher.

Odu: (Y) Cada um dos duzentos e cinqüenta e seis signos utilizados no Oráculo de Ifá. Situação. Caminho. Indicação. Por vezes pode ser um karma. Destino. Os Odu de Ifá são signos que, em numero de 16 (dezesseis) compõe o sistema oracular. Estes signos principais denominados “Odu Agba” ou “Oju Odu”, combinando-se entre si, dão origem a outros 240 perfazendo um total de 256.

Oduduwa: (Y) Orishá Funfun sobre o qual existe muita discordância dos adeptos do culto. Se Oshalá representa o princípio masculino - ativo da criação, Oduduwa é a representação do principio feminino - passivo, do qual surge a vida após o processo de “Fecundação”. Oduduwa é um Orishá Funfun absolutamente diferente dos demais, embora semelhante em essência é feminina, sendo cultuada em diversas religiões como a esposa de Oshalá, embora seja, em principio, sua irmã.

Ofo: (Y) Perdas, prejuízos.

Ojo: (Y) Serpente.

Oju: (Y) Olho - Oju malu = olho de boi: oju oba = olhos do rei (titulo honorifico de alguns sacerdotes de Shangô): Oju omi = olhos d’água.

Ojubona: (Y) Segunda pessoa em importância na iniciação de um noviço. correspondente a mãe ou pai criador.

Oko: (Y) Homem, marido, pênis, fazenda, sitio, lavoura. Nome de um Orishá (Orisha Oko ou Osha Oko).

Okpele: (Y) Corrente ou rosário utilizado pelos Babalawo no oráculo de Ifá, composta de oito peças côncavas de qualquer material de formas e tamanhos semelhantes, distribuídas na corrente de forma eqüidistante.

Okun: (Y) Oceano.
Okurin: (Y) marido, esposo, amante, (sexo masculino).

Olodumare: (Y) Nome ou título honorífico do Deus Supremo. O termo “Olodumare”, propõe uma idéia mais completa e de maior significado filosófico. Desmembrando a palavra, encontramos os seguintes componentes:
“Ol”, “Odu” e “Mare”, que passamos a analisar separadamente. O prefixo “Ol” resulta da substituição pelo “l” das palavras “n” e “i” da palavra Oni (dono senhor, chefe), prefixo utilizado, modificado ou em sua forma original, pra designar o domínio de alguém sobre alguma coisa ( propriedade, profissão, força, aptidão, etc.), exemplo: “Olokun” - Senhor dos Oceanos.

O termo intemédiario “Odu”, possui diversos significados, dependendo das diferentes entonações na sua pronuncia, que no caso é “Odù” ou “Odu” o sinal gráfico utilizado no idioma Yoruba correspondente ao acento grave no português determina uma entonação mais baixa na pronuncia da letra em que aparecer e que reunido ao prefixo “ol”, resulta em “olodu”, cujo o significado é: “aquele que possui o cetro ou a suporidade” ou ainda: “aquele que é portador de excelentes atributos, que é superior em pureza, grandeza, tamanho e qualidade”.

A ultima palavra componente “Mare” é por sua vez, o resultado do acoplamento de dois termos “ma” e “re”, imperativo que significa: “não prossiga”, “não vá”. A advertência contida no termo faz referência a incapacidade do ser humano inerente a sua própria limitação, de decifrar o supremo e sagrado mistério que envolve a existência da divindade.

Olori: (Y) Dono, Senhor da cabeça. Orishá da cabeça de alguém é o seu Olori.

Olorun: (Y) Deus, Criador Supremo. Segundo a filosofia religiosa africana Olorun encontra-se em plano tão superior em relação aos seres humanos e é de tal forma inesplicável e incompreensível, que inútil seria manter-se um culto específico em sua honra e louvor, já que o Absoluto não pode ser alcançado pelo ser humano, em decorrência de suas limitações e imperfeições. É o nome mais comumente usado par designar a Divindade Suprema a esta preferência de uso estar ligada a sua aceitação por parte dos Islâmitas e dos Cristãos, que adotaram-no como sinônimo, tanto de Ale, quanto de Jeová. o termo é fácil de ser analisado e traduzido, uma vez que se compõe de duas palavras apenas: “Ol” de oni “dono, senhor, chefe,” e “Orun” (Céu, mundo onde habitam os espíritos mais elevados), formando “Olorun” - Chefe, Proprietário, ou Senhor do Céu.

Oluwo: (Y) Olhador, aquele que olha, (o oráculo). O mesmo que Babalawo.

Omi ero: (Y) Banho lustral, preparado pela trituração de folhas liturgicas e outros elementos sagrados, para diversas finalidades sagradas.

Omo: (Y) Filho

Ona: (Y) Caminho, rua, o lado de fora de casa.

Opole: (Y) Que está com os pés sobre o solo; que está de pé.

Opon Ifá: (Y) Tabuleiro de madeira entalhada, de uso exclusivo dos Babalawo, em vários procedimentos no culto de Orunmilá.

Opon: (Y) Tabuleiro, bandeja.

Oráculo: (Y) Sistema de adivinhação, processo ou método, através do qual, o homem pode contactar entidades sobrenaturais, deuses, espíritos, além de descortinar acontecimentos passados, saber o que está acontecendo, o presente e prever o futuro.

Ori: (Y) A cabeça. Num sentido mais profundo, o termo ori faz referência, não somente a cabeça como parte componente do corpo, como também é principalmente, ao espírito que nela habita. Ori é considerado um Orishá para o qual, existe um culto específico, (ver Ipori).

Oriki: (Y) Reza que exalta as qualidades dos Orishás.

Orishás: (Y) Divindade do Panteão africano, consideradas como forças da Natureza.
Compilamos algumas definições dadas por diferentes autores. Segundo Abran, Orishá = Oosa - Divindade yorubana separada de Olorun.
.. Fonseca Jr. Orisha = Anjo da Guarda, etmo.: Ori = cabeça, Sa (shá - Guardião - Guardião da cabeça). Divindade Elementar da Natureza, figura central do culto afro. Os yorubanos acreditam que quando Deus criou o céu e a terra, criou simultaneamente, espíritos e divindades, conhecidos como Orishas, Imole e Ebora, para assumirem funções específicas no processo de criação, manutenção e administração do universo.

A diferença possivelmente existente entre as três categorias de entidades espirituais aqui referidas não está muito bem delineada, devido ao tratamento genérico dado a todos, até mesmo pelos próprios yorubanos.

No Brasil os termos Imole e Ebora são praticamente desconhecidos, sendo poucos os adeptos da religião que os utilizem ou saibam o seu significado. Alguns sacerdotes conceituados afirmam que o termo Orisha, deveria ser utilizado exclusivamente em relação ao espíritos genitores que efetivamente participaram da criação do universo e que deram origem aos demais, de categoria hierárquica inferior, personificações de fenômenos e de elementos naturais como Terra, Fogo, Água, Ar, etc... Outros seriam ainda, figuras históricas, tais como reis, guerreiros, fundadores de cidades, de dinastias, heróis e heroinas que, dado a importância de seus feitos, foram, depois de mortos, deificados e acrescentados ao panteão que, segundo Awolalu, está estimado em mais de 1.700 entidades.

Orun: (Y) É o céu metafisico, local onde habitam as deidades e os seres espirituais das mais diversas classificações hierárquicas. Os nagôs acreditam na existência de nove Orun ou que um único orun seja dividido em nove partes distintas.

Orunmila: (Y) Deus da sabedoria, patrono do Oráculo de Ifá. Orunmila é sustentado com um culto especifico, de carater patriarcal, onde os sacerdotes são denominados Babalawo, entre os nagô e Bokonon, entre os Fon. Orunmila, seria uma espécie de mente cósmica, onde está contida toda a ciência do universo, que o homem vai acessando gradativamente.

Oshá: (Y) O mesmo que Orishá.

Oshebili: (Y) Palavra de origem Yoruba, com a qual, os povos do Caribe particularmente os cubanos, costumam denominar o côco. Naquelas regiões, pela impossibilidade de se obter o obi, passou-se a utilizar o coco em sua substituição, inclusive num tipo de jogo denominado “Oraculo de Biague”, onde quatro pedaços de coco são usados em substituição aos quatro segmentos do obi.

A utilização do coco é de tal forma popularizada, que este vegetal chega a ser chamado de obi, designando-se o verdadeiro obi, como obi-kola. O coco é utilizado como oferenda principal aos Orishas. Eguns, Eshús e até mesmo a Ori, entrando em muitas formas de bori.
Quando Obatalá, dono do coco, reuniu todos os Orishás, para dar-lhes cargo e hierarquias, isto foi feito embaixo de um coqueiro. Obatalá colocou aos pés de cada Orishá, um coco partido, com isso, todos os Orishás tem direito ao coco, embora o coco inteiramente descascado, seja um direito exclusivo de Obatalá.

Todos os Orishás sentaram-se ao redor do coqueiro para ouvirem com muito respeito e atenção as instruções de Obatalá, com excessão de Obaluaye que se mostrou relutante em aceitar as ordens e orientações que lhe eram dirigidas, Obatalá no entanto, conseguiu convence-lo e com muita paciência, fez com que acatasse suas ordens e orientações.
Desde então, não é possivel que se proceda a nenhum ritual sem que se ofereça antes, coco aos Eguns e aos Orishás.

O Oráculo Biage.

Certo advinho, conhecido pelo nome de Ifá Biage (pronuncia-se Biague), havendo sido desterrado para terras distantes onde não tinha recursos para obter nenhum tipo de material utilizado nas consultas ao Oráculo de Ifá, recebeu em sonho, de Orunmilá, a permissão de utilizar, para fins divinatórios, o coco, da mesma forma que se utiliza o Obi.

Biage, tendo desenvolvido o sistema, ensinou-o a um discípulo denominado Adiatoto, encarregado de difundi-lo entre todos os adeptos do culto aos Orishás.
O processo foi difundido por todo o território africano e mais tarde, com o movimento de negros escravos, foi também divulgado nas Américas, principalmente nos países localizados na América Central.

Muito popular em Cuba, Haiti, Martinica, etc... o Oráculo de Biage serve de apoio aos trabalhos realizados dentro da ritualistica Afro-Americana, determinando o que deve ser feito, de acordo com as determinações das entidades místicas e dando uma segurança plena do que se esteja fazendo, na medida em que vai sendo utilizado durante todo o decorrer do ritual, assinalando qualquer erro que por ventura esteja sendo praticado, evitando desta forma, que por pequenos detalhes, alguns trabalhos percam sua validade ou deixem de ser aceitos pela Divindade a que tenham sido destinados.

que oferece, diminuindo em muito, a margem de erros de interpretação do Merindilogun, na medida em que acompanha, “pari-passo”, a oficiação de um sacrifício ou de um simples ebó, orientando no decorrer do mesmo, se alguma coisa está faltando, se existe algo errado ou se o Orishá não está plenamente satisfeito com o trabalho.

Algumas regras simples devem ser observadas na utilização deste Oráculo.
(1) Deve-se perguntar sobre um único tema.
(2) A Entidade perguntada responde breve e laconicamente, sim ou não. Da mesma forma que as respostas, as perguntas devem ser direcionadas, breves, objetivas, devendo-se sempre evitar perguntas como “isto ou aquilo”, que proporcionam respostas dúbias e de difícil interpretação.

O JOGO

Com quatro pedaços de coco (obinus), se pergunta aos Orichás e aos Eguns onde querem que se despache o ebó, se estão satisfeitos com o sacrifico oferecido, se alguma coisa foi omitida no decorrer do trabalho, se houve algum erro, se o sacrificio será eficaz, etc.

O Jogo do côco (oshebili), se resume no sistema que se acessa, uma comunicação oracular, obtendo-se da entidade que se acessa, uma resposta rápida e eficaz, podendo simplesmente ser interpretada como sim ou não.

De acordo com a disposição que se configure ao cairem no chão os quatro pedaços de côco lançados pelo advinho, pode-se obter cinco tipos de “letras” ou respostas e nada mais que isto.

Antes de se manipular o côco, deve-se fazer três libações de água a Elegbara enquanto se diz:
Atanu shé oda lifu aro mo bo shé,
Ashé mi mo aro mo bé.
Omi tutu, ina tutu, tutu laroiye!

Tocando com os dedos da mão direita no solo, se diz:
Ile mo ku o kuele mu untori ku,
untori aro,
untori eje,
untori ofo,
untori mo de li fu loni.

Pegando-se os quatro pedaços de côco se diz: Obi ku aro, obi ejo, obi fun, obi ...... (aqui se pronuncia o nome da entidade com quem está em comunicação).

Todos os presentes respondem: Afania!
Os côcos são lançados e podem, de acordo com a caida, dar uma das seguintes respostas:
4 abertos: Alafia - (Falam Shangô e Orunmila), resposta sim, tudo bem, tranquilidade, felicidade. Tem que se perguntar de novo para maior segurança.

Saudação em Alafia: Ejionile Obatala orun aye!

1 pedaço fechado e 3 abertos: Otawa - (Falam Ogun, Yemonja, Shangô e Oshosi), responde sim mas sem muita segurança. É necessário que se repita a pergunta.

Saudação em Otawa: Itaura oko oko oko
Obara ni bara, obara koso,
Tele ri o aye kika te
Ala kamake araye.
Kõbo, kõbo sile elueko
Ashe Osain, Inle,
Ogun arere la boko.

2 abertos e 2 fechados: Ejife - (Ratifica uma resposta de Alafia). É a letra maior do jogo de côcos, responde sim e sua palavra é segura e irrefutavel. Não precisa perguntar mais.
Saudação em Ejife: Ejife Oluwo,
Ejife ariku Baba o!
Ariku Baba wa!
3 fechados e 1 aberto: Okana Sode - (Falam os Eguns, Oya, Elegba, Yewa, Obaluaye, Shangô e Aganjú), diz não e é prenúncio de acontecimento nefasto. Por isto, sempre que aparece, abanam-se as orelhas e arregalam-se bem os olhos.

Saudação em Okana Sode: Mogba aye, mo gba Ogun,
Mo ri Yeye O!
Alaba Ogun, Alaba Oluwo,
Alaba Ka ma rien kamarano kameri
Eye Araye

4 fechados: Oyeku - (Falam Shangô e Oiya). Diz não. É uma caida ruim, prenúncio de morte. Deve-se acender uma vela aos mortos e quem estiver jogando toca o peito e exclama a: Olufina! Depois toca o solo e diz duas vezes:
Mo fin kare,
Mo fin kare.
Godo godo,
Da fa mo fin kare
Godo ba e!
Alafin ki si eko
Beke lo rie enia gan
Ori mi aferé asaka be ke
Ogboni mojuba!
Abe eba mi
Oma tu oma
Ese aba mi she fun ni omo
Omo ni mi.
Obs.: São considerados abertos, os pedaços de côco que caiam com a parte interna (branca) virada para cima. Consequentemente os que cairem com a parte escura (casca) para cima são considerados fechados.


INTERPRETAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO JOGO:

Se num lançamento cair Alafia, deve-se repetir a pergunta em busca de confirmação. Se a resposta seguinte for Ejife, está tudo bem, não fica a menor margem de dúvida e não se faz necessário repetir a pergunta.
Alafia pode ser uma resposta boa ou ruim. Se depois de Alafia cair Ejife ou Otawa, pode-se considerar a resposta como boa, se no entanto, sair Oyeku, a resposta e negativa, ruim e deve-se perguntar ao Orishá o que deve ser feito pra anular esta resposta. (Que sacrificio deve ser feito para evitar qualquer tipo de negatividade que possa estar sendo prenunciada).

Quando cair Oyeku, pergunta-se imediatamente se é orishá que está respondendo, porque pode ser um Egun anunciando a morte de alguém. Se isto for confirmado, acende-se imediatamente uma vela e pergunta-se que tipo de ebó deve ser oferecido para que se afaste e salve a vida da pessoa ameaçada. O ebó determinado deve ser feito imediatamente, se possível na mesma hora, pois a salvação da pessoa depende de seu oferecimento.

Se for Orishá que estiver respondendo em Oyeku, recolhe-se os quatro pedaços de côco e coloca-se dentro de uma tigela com água para refresca-los, juntando-se a eles, oito pedacinhos de ori da costa. Deixa-se descançar alguns minutos e depois, retira-se os côcos e continua-se a jogar com eles até chegar a convicção plena do que se deseja saber.

Se depois deste procedimento cair Oyeku novamente, é Shangô avisando que alguém se encontra em sérias dificuldades e acanselhando que se faça alguma coisa pra melhorar a sorte desta pessoa.
Passa-se um frango preto na pessoa diante de Elegbara para que seus caminhos sejam abertos e oferece-se um galo a Shangô.

Em Okaran Sodé, o Orishá responde não ao que lhe tenha sido perguntado. Indica sempre, que o trabalho que está sendo feito está errado e que dará maus resultados. (Quando sai Okaran Sodé, todos os presentes sacondem as próprias orelhas).

Tanto em Alafia como em Otawa ou Ejife, deve-se colocar alguém de vigia (alelo) na porta da casa onde está jogando com os côcos. Depois disto, se recolhem as tigelas, os pedaços de côco são colocados nas mãos do cliente e se derrama sobre sua nuca um pouco de água de côco.
O cliente fica deitado de bruços no chão e deve sorver as gotas de água de côco que lhe escorrer na nuca pelos lábios, dizendo: O que tem que acontecer para o bem, que aconteça. Alafia!

Oshun: (Y) orishá de caracteristicas femininas, considerado como o dono das cachoeiras e águas doces. Cultuada originalmente em Oshogbo, onde existem um magnífico templo erguido em sua honra. Oshun é conhecida e cultuada em todos os paises onde estabaleceu a religião dos Orishás. No Brasil é tida como o simbolo da feminilidade e da faceirice, senhora do ouro e poderosa feiticeira.

Osogbo: (Y) Mau presságio, maldição, negatividade. Nome dos diferentes Osogbo:
Ikú: A Morte.
Arun: A enfermidade.
Ejo: A Tragédia e revoluções.
Ofo: As perdas.
Ina: Brigas e confusões.
Ogun: Bruxarias, feitiçaria e magia.
Ashelu: Policia e Justiça.
Iku Alaleyo: Morte por ordem do Orishá.
Iku Otonowa: Morte natural.
Iku Araye: Morte por inimigos.

Ota: (Y) Inimigo. Este termo é no Brasil, erroneamente usado como sinônimo de okuta.

Oti: (Y) Bebida alcoolica fermentada; aguardente; cachaça.

Quiromância: Arte divinatória que permite que, através da interpretação das linhas da mão, seja lida a sorte das pessoas


“S”

Sakpata: (F) Vodun originário do Dahomé, geralmente qualificado como o Vodun da variola e de outras doenças contagiosas, o seu nome, cuja tradução seria “aquele que mata e come” - numa alusão à sua ação justiceira e punitiva, é considerado perigoso, não devendo, por isto, ser pronunciado, sendo comumente substituido por “Aynon” (O proprietário da Terra).
Entre os Yorubas, Sakpata recebe o nome de Shaponan, mas pelas mesmas razões que entre os Mahis, é denominado Obaluaye (Rei da Terra), ou Omolu (Filho do Senhor).

Sasagoli: (F) Espécie de Tucano.

Serki: (F) Título honorífico do rei dos Haussas.

Sonu: (F) Galinha d’Angola.

Sosiovi: (F) Pedra de raio.

“T”

Toxosu: (F) Espíritos que localizam-se, hierarquicamente, em posição inferior aquela ocupada pelos Vodun.
Observa-se a existência na região Mahi e no Aboney, de uma categoria de Vodun chamados Toxosus, nome que significa “Rei das águas”. Estes Espiritos costumam encarnar-se em seres humanos, utilizando-se para isto, de crianças anormais ou monstruosas. A vinda de um Toxosu ao mundo, representa um chamamento a ordem, um sinal de descontentamento. Antigamenente, logo que nascia uma destas crianças disformes, o costume era de que fosse imediatamente lançada a um poço, acreditando-se que, agindo desta forma, devolvia-se o espírito ao seu elemento. Diversas oferendas eram feitas posteriormente, com a finalidade de apaziguá-lo e satisfazê-lo. Dentre os diversos Toxosu cultuados pelos fon, de que se tem noticias, citamos:
Zomaduno, filho do rei Akaba, do Dahome;
Kpelu, Filho do rei Agadja, irmão e sucessor de Akaba;
Adomu, filho do rei Tegbessu.
Atualmente existem cerca de vinte templos, construidos por diversos reis do Aboney, em honra de um ou mais Toxosu. No Brasil, o culto ao Toxosu, restringe-se a Casa das Minas, em São Luiz do Maranhão, onde cultua-se, dentre outros, Zomadonu.

“V”

Vodun: (F) Entidade de origem fon, que corresponde aos Orishás dos nago. Os fon, estabeleceram-se no Brasil, onde receberam o nome genérico de “Jeje”, implantando aqui o seu culto, baseado em rica e complexa mitologia. Depois da yorubana, a mitologia jêje é a mais complexa e elevada. Assim como os Nagôs, os Jejes pertencem ao grupo Sudanês, tendo sua origem num mesmo gurpo etnico que subdividindo-se, atingiu vários estágios de evolução cultural.

Voko: (F) Boneco de argila, imitando a figura humana, usado na magia de avultamento.
Vovolive: (F) Norte, (Ponto cardeal).


“X”

Xe Nã: (F) Ritual no qual são oferecidos alimentos aos Vodun Nã.

Xevioso: (F) Vodun do Trovão e da justiça. Corresponde ao Orishá Shangô dos nago.

Xla: (F) Hiena.

Xuji: (F) O Sul, (ponto cardeal).

“Z”

Zon: (F) Fogo.

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