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sábado, 21 de novembro de 2009

A FOGUEIRA DE XANGÔ

A CASA EM FESTA - OS SÚDITOS

O sol se põe, e começa a escurecer na casa de Obaladô. A casa de Xangô, especialmente iluminada neste dia, aguardava o início da festa. As árvores do terreiro foram plantadas por Obaladô a mais de 21 anos, quando recebera de Xangô , seu orixá, a ordem de abrir uma casa – de – santo.

Lenta e calmamente, interrompe suas divagações, dirigindo-se para frente da casa – de – Airá sentando-se em um pequeno banco. A poucos metros erguia-se majestosamente a fogueira, armada be cedo e já contendo os axés próprios do orixá do fogo.
A um aceno seu , uma filha de Oiá traz o seu Adjarim. Obaladô , com delicadeza, apanha a sineta que, ao ser vibrada, anuncia o início de uma reza.
As esteiras são estendidas e sobre elas os iniciados se ajoelham, busto curvado, pousando a cabeça no chão, em direção a Obaladô. Sua voz faz-se ouvir, então, salmodiando cada verso como um lamento, um canto em solo é ouvido e que se repetirá por três vezes. È um lento responsório, em que o oficiante canta primeiro, acompanhado em um segundo momento , pelos presentes.

Oba kawòó o Ó Rei, meus cumprimentos.
Oba kawòó o Ó Rei, meus cumprimentos.
O, o, Kabíyèsílè Sua majestade, o Rei mandou construir uma casa.
Oba ni kólé
Oba séré O Rei do xere, o Rei prometeu e traz boa sorte,
Oba njéje o dono do pilão.
Se´re aládó
Bongbose O ( wo ) bitiko Bamboxé abidikô, meus cumprimentos ( ao )
Osé Kawòó Oxé, sua majestade.
O, o, Kábíyèsilé Meus cumprimentos.

O som do Adjarim marca o início do paó, palmas compassadas que a anunciam uma nova reza para o orixá do fogo....... o cântico continua:

Ó níìka, ó Níìka Ele é cruel, ele é cruel(o trovão ).
Áwè jè atètú Eu jejuo para o punidor.
Badé, badé ìyá Tèmi Badé, badé, meu espírito sofre
Ó níìka, ó níìka árá ìn álàde o Ele é cruel, o trovão é cruel sim. O dono da coroa é cruel.
Ó níìka àwe jé atètu Ele é cruel, ele é cruel(o trovão )Eu jejuo para o punidor.
Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Ma sè Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
Aira ma sá re awo, ariwo, ale odó Airá(o trovão), verdadeiramente voa e cai ruidosamente.
Ma sè Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).
Yèyé, kèrè-kèrè lo ni joko ayagba O pássaro vagarosamente senta e chora para as grandes mães.
Ale odó ma sè Forte como um pilão, como um tambor ( barulho ).

A reza diz que o trovão é cruel, implorando a Badé... "ele é a voz estrepitosa e aterrorizante do Trovão, é a força que deflagra a carga irregular dos raios". Os nagôs dizem ser Badé é um vodum, isto é, de origem jêje, e que os jêjes do maranhão, dizem que é um orixá nagô e que, quando ele se apresenta na Casa –das –Minas, fala por sinais para não revelar os segredos dos nagôs.

Os pássaros lembram as feiticeiras que ameaçam os seres humanos, é necessário implorar as grandes mães senhora dos pássaros, para que não flagelem os homens.
Airá também é mencionado no texto sagrado, recolhido entre os que se originam do axé de IÁ Nasô. Este orixá ocupa um lugar especial nesta comunidade, estando ligado a primeira no nominação...Axé Airá Intilé.

Novamente o Adjarim anuncia que o Rei Xangô continuará sendo louvado, e uma nova reza começa:

Oba ìrú l´òkò O Rei lançou uma pedra.
Oba ìrú l´òkò O Rei lançou uma pedra.
Ìyámasse kò wà Iyámasse cavou ao pé de uma grande
Ìrà oje árvore e encontrou.
Aganju ko má nje lekan Aganju vai brilhar, então , mais uma vez como trovão.
Árá l´okò láàyá Lançou uma pedra com força (coragem)
Tóbi òrìsà, O Grande Orixá do orum (terra dos ancestrais) vigia.
Oba só òrun O Rei dos trovões, está no pé
Árá oba oje de uma grande árvore ( pedra de raio )

A oração saúda o Rei dos trovões, como sendo Aganju, o Alafin de Oió, filho de Ajaká e sobrinho de Xangô. Iamassê considerada sua mãe é quem revela aos mortais, que a pedra de raio, símbolo do seu poder, é encontrada ao pé de uma grande árvore. O brilho dos raios e o barulho dos trovões lembram que Aganju vigia do orum , terra dos ancestrais, seus súditos fiéis.

O Adjarim marca um novo momento, Obaladô levanta-se e se dirige a casa de Xangô pousando no chão da mesma uma gamela cheia de Amalá , a comida predileta deste orixá.

Béè ni je a! pá bo Sim, comer(amalá)dentro(de uma gamela) com satisfação, de uma só vez, adorando.
Je bí o o ni a! pá bo Comer, nascer dele, dentro(de uma gamela)com satisfação, de uma só vez, adorando.

E ni pá léèrín àdá bá lài Cortado muitas vezes(o quiabo),sempre com cutelo, dentro da gamela

Ìmó wá mònà mòwé Procurar conhecimento,
Kó je nà mímò àsé certamente torna inteligente.
Kó je nà mímò àsé A comida (amalá) faz adquirir
Kó je nà mímò àsé e aumenta o conhecimento do Axé.

A reza indica que, ao se desfrutar da comida sagrada, descobre-se o axé, isto é, a força, que dá conhecimento e sabedoria aos que delas usufruem.
Nos últimos acordes da reza, os ogans de Xangô pousam os xeres e acendem a fogueira. Varias vozes gritam..

Kawòó Kàbíyèsilè !!! Kawòó Kàbíyèsilè !!! = Meus cumprimentos à sua majestade !!!

A RODA DE XANGÔ.....
Alguns minutos decorrem entre as imagens fortes do fogo e o início do xiré do Rei de Oió, no barracão. O ritmo da Hamunha convida a todos, os da casa e os convidados a iniciarem a roda de Xangô.
Começa o xirê, louvando Ogum, em seguida, Oxossi, Obaluaiê, Ossaim, até que, repentinamente, ouve-se o som do batá , ritmo próprio de Xangô.

A roda – de – Xangô ou batá-de-Xangô começa a ser executada:

Àwa dúpé ó oba dodé Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.
A dúpé ó oba dodé Nós agradecemos a presença do Rei que chegou.

A dupé ni mòn oba e kú alé
A dupé ni mòn oba e kú alé Nós agradecemos por conhecer o Rei, boa noite a vossa majestade.
Ó wá , wá nilè Ele veio, está na terra.
A dupé ni mòn oba e kú alé

Os primeiros cânticos dirigem-se ao Rei, a Xangô. Sua presença é louvada e a sua saga mítica será contava através do canto e da dança. Não será somente o seu aspecto guerreiro que será homenageado, outros serão lembrados.... O Xangô justiceiro será um deles.

Fé lè fé lè Ele quer poder...ele quer poder ( vir )
Yemonja wé okun Iemanjá banha (lava) com água do mar
Yemonja wé okun Dê-nos licença para vermos através dos
Àgó firè mòn seus olhos e conhecer-mos...
Àgó firè mòn Dê-nos licença...
Ajaká igba ru , igba ru Ajaká traz na cabeça, traz na cabeça ( água do mar )
Ó wá e Então estas de volta.

O canto dedicado à Ajaká fala da água do mar, como também de ver através dos olhos. Ajaká é cultuado durante as festas de Xangô junto com sua mãe, Iamassê, considerada como uma Iemanjá.

Sàngbá sàngbá Ele executou feitos maravilhosos, feitos maravilhosos.
Didè ó ní Ígbòdo Pairou sobre Igbodo,
Ode ni mó os caçadores
Syìí ní, òní ó sabem disto.

O cântico fala de Ajaká, destronado por seu irmão Xangô, refugiando-se em Igbodo. Ficou nesta cidade por sete anos, período em que reinou sobre Oió seu irmão Xangô.

Òní Dàda , àgò lá rí Senhor Dadá, permita-nos vê-lo !!
Òní Dàda , àgò lá rí Senhor Dadá, permita-nos vê-lo !!

Dàda má sokun mò
Dàda má sokun mò Dadá não chore mais.
Ò feere ó ní feere É franco tolerante,
Ó bgé l´orun ele vive no orun,
Bàbá kíní l´onòn da rí é o pai que olha por nós nos caminhos.

Ajaká além deste nome , também era conhecido como Baaiyani e também como Dadá, em razão de seus cabelos anelados. O Ritmo forte e cadenciado do batá louva Dadá ou Ajaká.

Báyànni gìdigìdi , Báyànni olà
Báyànni gidigidi , Báyànni olà Baiani ( Ajaká ) é forte como um animal e muito , muito rico.
Báyànni adé , Báyànni òwò A coroa de Baiani é honrosa e muito rica.
Báyànni adé , Báyànni òwò

A coroa de Baiani, descrita no cântico, da qual é dita ser honrosa e pertencer a um Obá, refere-se a Ajaká, terceiro Rei de Oió. A palavra owó, significa , dinheiro, riqueza, e está relacionada a uma grande quantidade de búzios que ornam esta coroa e que antigamente serviam como moeda. Referente ao termo: gidigidi, que é um superlativo, isto é, muito; e gìdigìdi, animal grande e forte. Trata-se de um trocadilho comum no iorubá. Os cânticos continuam sucedendo-se. Discutem normas morais, e também falam de particularidades referentes ao culto dedicado ao Deus do fogo.

Fura ti ´ná, Fura ti ´ná e , Fura ti ´ná, Desconfie do fogo, desconfie do fogo.
Àrá lò si sá jó O raio é a certeza de que ele queimará.
Fura ti ´ná, Fura ti ´ná e , Fura ti ´ná, Desconfie do fogo, desconfie do fogo.
Àrá lò si sá jó O raio é a certeza de que ele queimará.

O cântico chama a atenção para que os descuidados, não tenham a devida cautela e respeito com o fogo.
Este elemento, fundamental na vida do homem, pode lhe proporcionar conforto, mas quando sem controle, pode significar a morte. O raio é a certeza de que ele queimará, pois seu direcionamento é incerto.

Ìbà òrìsà
Ìbà Onílè Abenção dos orixás,
Onílè mo júbà o Abenção do Senhor da terra,
Ìbà òrìsà , Ìbà Onílè Ao Senhor da terra (Onilê)
Onílè mo júbà o minhas saudações.

O cântico saúda Onilê o "Senhor da terra", nas cerimônias dedicadas a Xangô, oferendas são destinadas á terra, para que este orixá permita sobre seu templo, "A Terra" ser acesa a fogueira de Xangô.

O canto a seguir fala que o "rei não se enforcou" , por tanto não morreu, sumiu chão adentro como convém a um orixá.

Òràn in a lóòde o Sim, a circunstância o colocou de fora.
Bara enì já, ènia rò ko O mausoléu real quebrou ( não foi usado )
Oba nù Ko´so nù rè lé o O homem não se pendurou.
Bara enì já, ènia rò ko O rei sumiu, não se enforcou, sumiu no chão e reapareceu.
Ó níìka wòn bò lórun kéréjé O mausoléu real quebrou ( não foi usado )
Ó níìka wòn bò lórun O homem não se pendurou.
Kéréjé àgùtòn Ele é cruel, olhou, retornou para o rum,
Ìtenú pàdé wá lóna deu um grito enganando ( seus inimigos ).
Í níìka si relé O carneiro mansamente procura e encontra o caminho
Ibo si òràn in a lóòde o Ele é cruel contra os que humilham.
Bara enì já, ènia rò ko A consulta ao oráculo foi negativa.
Oní máa, ni wó èjé O verdadeiro senhor é contra juras ( falsas ) .
Bara enì já, ènia rò ko Sim, a circunstância o colocou de fora. O homem não se pendurou.

Oba sérée la fèhinti Incline-se o rei do xere salvou-se
Oba sérée la fèhinti Incline-se o rei do xere salvou-se
Oba ni wá ìyé bè l´órun Suplique ao rei que existe e vive no orum.
Oba sérée la fèhinti Incline-se o rei do xere salvou-se

Dizem que o rei recebeu um cesto contendo ovos de papagaio. Era o sinal determinado pela tradição de que deveria renunciar á coroa e talvez á vida. Xangô retira-se para o interior seguido de alguns amigos e de sua esposa Oiá, que volta para sua cidade de origem, Irá. O mito diz que entristecido o Rei enforca-se em um pé de Arabá. Seus companheiros vão a Oió e relatam o fato, quando retornam ao local, encontram um buraco vazio, por onde ele teria entrado, após uma crise de fúria, tornando-se assim um Orixá. Em Oió os que admitiam a sua morte ( inimigos ) falavam "Obá so" que significa "o rei enforcou-se"
Os seus partidários falam ”Obá ko so" o que significa "o rei não se enforcou" afirmando o Rei virou Orixá.
Xangô não morreu, ele existe e vive no Orum, esta é a crença dos seus fiéis súditos.

Um breve cântico, saúda a mãe deste poderoso orixá:

Eye kékéré O pequeno pássaro na cabeça, é da esquerda,
Adó Òsi arálé é parente da mãe do rio , mase.
Ìyá l´odó mase
Eye ko kéré lánú Apanhou com gentileza, o pequeno e sofrido pássaro
Soko ìyágba l´odò mase a grande mãe do rio , mase.

Os pássaros são um dos símbolos mais conhecidos das Iagbás, além de serem sua representação, são por elas cultuados e protegidos. São criaturas das grandes mães, consideradas como seus filhos.
O orixá do fogo é múltiplo, reconhecem seus fiéis, e nesta acepção seus súditos imploram a Xangô Airá,
para que as chuvas não sejam destruidoras, que elas apenas limpem e fecundem a terra.

Aira òjo A chuva de Airá,
Mó péré sè apenas limpa e faz barulho como um tambor.
A mó péré sè Ele apenas limpa e faz barulho como um tambor.

A Roda-de-Xangô atinge o seu clímax com este canto, mais rápido e vibrante.
Começam a surgir os primeiros sinais da presença dos Orixás. O primeiro a chegar foi Ogum, logo acolhido pelas Ekedis. Em seguida quase que no mesmo momento, apresentou-se Oxum, Iemanjá, Oiá e Obá.
Finalmente é a vez de Oxaguiã, o deus funfun ( do branco ) da criação e também guerreiro.

A casa de Xangô, esta em festa, Obaladô está feliz.. os cânticos continuam...

A níwà wúre Nós temos a existência e a boa sorte.
A wúre níwà Nós temos a boa sorte e a existência
A níwà wúre Nós temos a existência e a boa sorte.
A wúre níwà Nós temos a boa sorte e a existência
Oba lùgbé obaladó O rei afugentou ( os maus feitores ) o rei do pilão.
Obaladó rí sò O rei do pilão olha e arremessa ( os raios )
Obaladó O rei do pilão.

O rei sempre protege seus adeptos, dando-lhes boa sorte. O Obá também faz justiça e persegue os ladrões, mentirosos, perjuros e jamais esquece os que contra ele blasfemam.

Olówó Abastado Senhor, aquele que definitivamente
Kó mà bò , mà bò dá proteção, dá proteção.
Kó mà bò Aquele que definitivamente dá proteção.
Olówó Abastado Senhor, aquele que definitivamente
Kó mà bò , mà bò dá proteção, dá proteção.
Aláààfín òrìsà Senhor do palácio e orixá.

Xangô é considerado muito rico, grande proprietário das riquezas da terra, possuidor de tesouros e cidades , palácios, filhos e mulheres.

Omo àsìkó Bèrè Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )
Èkó inón, Èkó inón fogo de Ékó ( lagos ), o culto do fogo de Ékó.
Omo àsìkó Bèrè Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )
Èkó inón, Lóòde roko fogo de Ékó, ao redor das plantações.
Omo àsìkó Bèrè Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )
Èkó inón, Èkó inón fogo de Ékó ( lagos ), o culto do fogo de Ékó.
Omo àsìkó Bèrè Os filhos , com o tempo, iniciaram o ( culto do )
Èkó inón, fogo de Ékó,
Èrù njéjé com medo extremo.

O canto talvez relembre o início da imigração Yorubá, em direção ao mar, ligados aos mitos de origem da cidade de Lagos e a divisão das terras entre filhos do conquistador, que implantaram na região sua cultura e seus deuses, provavelmente o culto a Xangô ou Jakutá.

....O CANTO E A DANÇA DO REI...

Mal termina o Alujá, um novo surge. Ele pede licença para percorrer os caminhos e determina que os orixás
estão chegando. Todos em gala, portando em suas mãos as insígnias que identificam sua procedência.

Àgó l´óna e Licença no caminho.
Dìde máa dáago Levantem-se, eles estão chegando na hora
Àgo àgo l´óna prevista ( de costume )
E dìde máa yo Levantem-se com alegria habitual
Kórò wà nise o Que o ritual teve trabalho.


À frente do cortejo estava Ogum, a quem cabe a primazia, logo após Exú, de ser o primeiro louvado. Logo após. Xangô – Airá, todo de branco, exibia dois oxés prateados e uma coroa também de prata que reluzia, dando majestade ao patrono da casa. Logo a seguir deste mais três Xangôs, todos portando seus oxés porém desta vez de cobre, seguidos de Oyá , Oxum, Obá e fechando o cortejo Oxaguiã.
Começa, então os louvores ao orixá do fogo....ao ouvirem os atabaques, os quatro Xangôs levantam-se precedidos pelo mais velho, ou seja, Xangô Airá.

Oba ní sà rè lóòkè odó Ele é o rei que pode despedaçá-lo sobre o pilão;
Ó bé rí omon Aquele que cumprimenta como um guerreiro os filhos,
Oba ní sà rè lóòkè odó Ele é o Rei que pode despedaçá-lo sobre o pilão.
Oba kòso ayò O Rei de kosó com alegria.

Neste cântico Xangô é chamado de rei de Kosó, cidade próxima de Oyó e que teria sido sua primeira investida em sua trajetória guerreira e política daqueles tempos. Uma a uma vão sendo "contadas as histórias" de Xangô, Elas falam dos lugares sagrados percorridos, de suas esposas, seus filhos, seus feitos e poderes.

Máà inón inón
Máà inón wa inón inón Não mande fogo, não mande fogo sobre nós,
Oba Kòso vos pedimos em vosso templo, não mande fogo;
Olóko so aráaye o lavrador pede pela humanidade,
Máà inón inón não mande fogo,
Oba Kòso aráaye rei de Kosó que governa a humanidade
Máà inón inón não mande fogo,
Oba Kòso aráaye rei de Kosó que governa a humanidade

A relação de Xangô com o fogo, domínio este conseguido através das forças mágicas, é definitivo em termos de conquistas por ele empreendidas.

Aláàkòso e mo júbà O Senhor de Kosó, a vós meus respeitos,
Á ló si oba ènyin nós iremos a vós,
Oba tan jé ló síbè rei a quem iremos
Ló si oba ènyin contar tudo.

A sìn e doba àra Nós vos cultuamos, rei dos raios, que
Àra yìí ló síbè ènyin estes raios vão para (lá)longe de nós.
A sìn e doba àra Nós vos cultuamos, rei dos raios, que
Àra yìí ló síbè ènyin estes raios vão para (lá)longe de nós.

Neste momento, ao ouvir o cântico, o Xangô de branco, o dono da festa, dirige-se até a frente da orquestra ritual e, curva-se frente aos tambores e seus ogãs e emite seu brado em sinal de aceitação á cantiga em que esta contida a sua louvação.

Aira ó lê lê, a ire ó lê lê Airá está feliz, ele está sobre a casa.
A ire ó lê lê, a ire ó lê lê Estamos felizes, ele está sobre a casa.

Aira ó, ore gédé pa, Airá nos presenteie afastando os que podem nos matar
Ore gédé (àwa) nos presenteie afastando os que podem nos matar
Aira ó, ore gédé pa, Airá nos presenteie afastando os que podem nos matar
Ore gédé nos presenteie afastando os que podem nos matar
Aira ó, Adjaosi pa... Adjaosi Airá Adjaosi (tipo de Airá) pode matar, (nos presenteie)
Aira ó, ebora pa... Ebora Airá, Ebora pode matar, (nos presenteie )

O primeiro cântico faz referencia a Airá muito velho e seu enredo com Oxalufã, relação esta ligada ao mito e cerimonial denominado “ Águas de Oxalá” em que se comemora a criação do mundo e colheita dos inhames. A seguir o cântico fala de Airá Adjaosi como ebora parte integrante dos Doze Xangôs cultuados na Bahia, juntamente com Airá Intile e Airá Igbonan. A partir deste canto, começa a se instaurar o domínio do Alujá. Os orixás dançam com gestos mais largos e vigorosos. O canto enumera as incursões guerreiras dos diferentes Alafins de Oió aumentando seu poder através das guerras. Baiani (Baàyònní) um dos títulos de Ajaká junto com Iamassê, são cultuados na festa.

Gbáà yìí l’àse onílá lòkè, baàyònnì Ele possui um axé enorme
Gbáà yìí l’àse senhor da riqueza.
Gbáà yìí l’àse onílá lòkè, baàyònnì Que governa acima das coroas.
Gbáà yìí l’àse

Sàngó e pa bi àrá aáyé aáyé Xangô mata com o raio sobre a terra.
Sàngó e pa bi àrá aáyé aáyé Xangô mata arremessando raios sobre a terra.

Fírí ínón fírí ínón Ele lança rapidamente o fogo, lança rapidamente o fogo
Fírí ínón bàiyìnjó rapidamente o fogo o fogo às vezes fraco(poucas luz)
Máà ínón, máà ínón Não nos mande fogo, não nos mande fogo
Fírí ínón bàiyìnjó Ele lança o fogo às vezes fraco.

Quando um raio atingia alguma casa, podia ser um sinal de que a justiça de Xangô estava sendo aplicada cabia ao dono da casa provar sua inocência. O fogo sempre presente nos mitos adquire significado especial quando relacionado a Xangô, o fogo originado dos fenômenos naturais, como raios, meteoritos e vulcões.

Barú de sobo ada Barú faz emboscada em Sobô de facão.
se ké èré, se ké èré Faz gritar e é vitorioso.
de sobo ada

Xangô Barú era muito destemido, o cântico alude às guerras empreendidas ás diferentes cidades-estado e esta refere-se a Sobo uma cidade localizada no reino do Benin.

Os mitos apontam Ajaká como terceiro rei ou oba da cidade de Oió. Foi destronado por Xangô, seu meio irmão, por parte de pai, Oranian. Ajaká é também conhecido como Baayani ou Dadá, segundo P.Verger.

Àjàká máa bè ká wòóo Ajaká não implora nem mesmo ao poderoso Xangô.
Àjàká máa bè ká wòóo Ajaká não implora nem mesmo ao poderoso Xangô.
A e bàbá àjàká máa bè ká wòóo Nosso pai Ajaká
Àjàká máa bè ká wòóo não implora nem mesmo ao poderoso Xangô.
Àjàká máa bè ká wòóo

Àjàká òké Òrìsá O orixá do monte Ájàká.
Àjàká òké Òrìsá O orixá do monte Ájàká.

Ò be ri ó, ní Dàda sókun, Ele existe, eu vi, e é Dada quem chora
Àwa ri ó ó ní Dada sókun. Ele existe, eu vi, e é Dada quem chora

Ajaká mesmo destronado não implora clemência, mas após 7 anos ele retorna a ser o Oba da cidade de Oió em virtude de Xangô ter sido forçado à abdicar. O Canto a seguir faz referencia a fundação da cidade de Oió por Oranian no topo de um monte chamado Àjàká e assim o meio irmão de Xangô tomou este nome para si. Àjàká também conhecido por Dadá, durante seu primeiro reinado impunha pesados impostos a seus súditos a fim de financiar as guerras empreendidas, e quando os recursos demoravam a chegar punha-se a chorar, e dançava alegre quando estes chegavam em boa hora.

Aé aé ó gbè lê mònsó ojú omon Aê aê ele reconhece pelo olhar seus filhos.
Aé aé ó gbè lê mònsó ojú omon Aê aê ele reconhece pelo olhar seus filhos.
Oba olórí légé ó ni yé oba olórí Chefe dos Reis, fino e agradável
Ilú Àfonjá dé ó, aé aé bé, ri ó Chefe da terra, ele é Àfonjá que chega aê aê
aé aé bé, ri ó aé aé bé, ri ó Ele existe, eu o vi, aê aê ele existe, eu o vi,
Ò bé, ri ó ( ikú kójáàdé-ó kótà èrú) eu o vi, (ele levou a morte para fora - ele vende os medrosos)

Áfonjá foi um general, isto é, Kakanfô, do Alafin Aolé. Empreendeu inúmeras batalhas, sendo considerado um grande comandante militar. O cântico fala do “chefe da terra”, comandante que reconhece os seus pelo olhar.
Agonjú Órìsá awo Ògbóni Aganjú orixá do culto Ògbóni
Agonjú Órìsá awo Ògbóni Aganjú orixá do culto Ògbóni
Àwúre, Sàngò àwúre Nos dê boa sorte, Xangô, nos dê Boa sorte.
Ògbóni, Ògbóni, Ògbóni Ògbóni, Ògbóni, Ògbóni
Àwúre, Sàngò àwúre Nos dê boa sorte, Xangô, nos dê Boa sorte.

Aganjú um dos Alafin Oió, filho de Ajaká, e seu nome consta das genealogias levantadas pelo Instituto Francês da África Negra e por diversos historiadores dedicados à historia Yorubá. Ògbóni é um das sociedades secretas extremamente poderosa em território Yorubá, e uma das mais antiga. É uma sociedade que presta homenagens a “ONILÉ”, o "dono da terra” e zela pela ordem dos velhos costumes.

...E A FESTA CONTINUA NO ILÉ DE OBALADÔ

Káwòóo, Káwòóo Sàngò Dàhòmì Vossa Alteza Real,
Káwòóo Ka biyè si e Sua Real Majestade !!
Sàngò Dàhòmì Poderoso Xangô! Proteja-nos das guerras do Dàhòmi.

As guerras pontuaram a trajetória de Xangô o canto refere-se às disputas travadas entre os de Oió e os Dahomeanos, na disputa pelo imenso território pertencente ao reino de Oió.

Oba sérée òwa fé yìí sìn É para o rei que tocamos o xere, e é a este rei que queremos cultuar
Oba sérée òwa fé yìí sìn É para o rei que tocamos o xere, e é a este rei que queremos cultuar
Oba àwa òjòó oro ní oba Nosso rei da tempestade, ele é o rei
Oba sérée oba fé yìí sìn É para o rei que tocamos o xere, e é a este rei que queremos cultuar

Os Xeres, instrumentos musicais que, segundo as comunidades-terreiros e alguns autores reproduzem o barulho das chuvas quando tocados juntos, soariam como o das tempestades. Instrumento sagrado utilizado para invocar Xangô o senhor dos trovões e das tempestades.

Kíní ba, kíní ba, àrá won pè Poderoso Senhor que racha o pilão e oculta-se
Kíní ba, o sérée alado àwúre. Que impõe os raios e os chama de volta, abençoe-nos.

Obaladô é um dos títulos de Xangô significando “o rei que racha o pilão”

Àwúre lê, Àwúre lé kólé Abençoe-nos e traga boa sorte à nossa casa, que ela não seja roubada.
Àwúre lê, Àwúre lé kólé Abençoe-nos e traga boa sorte à nossa casa, que ela não seja roubada.
Àwa bo nyin maá ri àwa jalè Nós que o cultuamos, jamais veremos nossa casa roubada.
Àwúre lê, Àwúre lé kólé Abençoe-nos e traga boa sorte à nossa casa, e que não venham ladrões.

Trata-se de uma louvação ao orixá justiceiro que protege a comunidade contra os mal feitores. Verger(1999), ao descrever os rituais na África, destaca as bolsas de couro que adornam os eleguns de Xangô. Delas é dito que contêm as edun ara, as pedras de raio, símbolo deste orixá. Verger(1999:307) fala de inúmeros templos dedicados a Xangô distribuídos entre as diversas cidades iorubas
edificados em sua homenagem. É disto que fala os próximos dois cânticos.

Ó fì làbà, làbà.... Ò fì làbà Ele usa bolsa de couro...
Ó fì làbà, làbà.... Ò fì làbà Ele usa bolsa de couro.

Ó jìgòn àwa lé npé ó jìgòn nlá Ele é imenso, o maior de nossa casa, ele é gigantesco
Jìgòn àwa lé npé ó jìgòn nlá Em nossa casa o chamamos de o maior entre os gigantes.

O cântico que se segue faz alusão a Tapa, território dos Nupes, situado a noroeste da cidades de Oió.

E kí Yemonjá ago, Tapa Tapa Cumprimentemos Iemanjá pedindo licença a nação Tapa.
E kí Yemonjá ago, Tapa Tapa Cumprimentemos Iemanjá pedindo licença a nação Tapa.

Xangô é considerado sempre como muito rico e poderoso, sendo destacado em seus mitos a vaidade como um dos elementos que compõe a sua principal característica. A tradição oral dos terreiros sempre destaca a riqueza do Obá e os tesouros por ele acumulados.
E assim falam as próximas cantigas.

Oba sà rewà ele mi jéé jéé Rei que ama o belo, senhor que me conduz serenamente
Kù tù kù tù awo dé rè sé antes do culto chega com o seu oxê
Oba sà rewà O rei que ama o belo

Sòngó tó rí olá È imensa, é imensa a riqueza que eu vi
Tó e tó rí olá tó Xangô, é imensa a riqueza que eu vi
Sòngó tó rí olá
Tó e tó rí olá to

....A CORTE REAL CELEBRA

Os comentários sobre Xangô, suas roupas e danças cessam quando se ouvem os sons dos atabaques. O canto saúda Ogun, também ligado ao fogo. Da assistência eclodem saudações ao “Senhor dos caminhos” Ogun lê, é o momentos de louvar o grande ferreiro, aquele que produz as ferramentas dos orixás. Ogum de mãos ás costas, caminha para iniciar seu bailado rápido e guerreiro, exibindo sua espada, e vês por outra empreendendo uma luta contra inimigos invisíveis, porém conhecidos de todos.

Ké kìkì alákòró Grite somente alakorô
Ké kìkì alákòró O chefe dos mundo gosta de cumprimentar,
Olùàiyé ki fé Ògún senhor de Irê e do Akorô, chefe do mundo
Àkòró Oniré que acendeu a fogueira, chefe do mundo
Olùàiyé ìtònnón que acendeu a fogueira.

Ogum, senhor de Irê , cidade Nigeriana onde ele é cultuado, com o título de Onirê, o grande ferreiro.

Kàtà-Kàtà ó gbín méje Em distâncias iguais ele plantou 7 sementes.
Ó gbín méjé ònòn gbogbo Ele plantou 7 sementes em todos os caminhos.

A luta, as guerras são aspectos associados a Ogum, na África porém, além de guerreiro, ele é o grande protetor de todos aqueles que vivem da agricultura. No Brasil como no continente Africano ele é patrono de todos aqueles que trabalham com o ferro assim como na proteção dos Ilês é colocado nos portais o Mariô, folhas novas de palmeiras que são desfiadas para poder afastar os espíritos dos mortos e das influências negativas do mundo profano, e é disto que fala o cântico .

Ògún ni aláàgbède Ogum é o senhor da forja(ferreiro) e caçador
Mòrìwò ode que se veste de folhas novas de palmeiras.
Ode mòrìwò

Um novo canto saúda agora Iemanjá, e é Ogum, seu filho mítico que, dirigindo-se até o local onde sua mãe estava placidamente sentada, a saúda. Ele levanta-a com carinho e se despede de todos, retirando-se.

E kà máà ro ni ngbà ÒRÌSÁ rè Que nos jamais sejamos magoados por você Orixá do rio
Lodò e
E kà máà ro ni ru ngbà òrìsá rè que você carregue( a magoa ) em seu rio Orixá.
Lodò e

Na qualidade de progenitora dos seres humanos, possui o título de Iá Orí, isto é, “ mãe de todas as cabeças” e é, com este título, que é saudada nas principais cerimônias do Candomblé.

E ìyá kékeré a kí ri dò ó kí Mãezinha Senhora do rio (da existência) é a mãezinha
Olùwa odò , e ìyá kékeré aquela que é a senhora do rio.
Àwa je omon àwa je omon Nós somos seus filhos, ela é a mãezinha.

Yemonjá sàgbàwí, sàgbàwí rere
Yemonjá sàgbàwí, sàgbàwí rere Iemanjá intercedeu a nosso favor
Ò Sàgbàwí rere Yemonjá intercedeu para nosso bem Iemanjá
sàgbàwí rere intercedeu para nosso bem.

Os cânticos a Iemanjá ressaltam sempre a sua relação maternal, a imagem da grande mãe protetora é o que se no seu culto. Na África o local preferido para colocar suas oferendas é no rio Iemanjá. Sua louvação é sempre entoada com entusiasmo, Odô ia, além do seu lado maternal, também tem seu lado guerreiro, portando por vezes uma espada, para defender aqueles que necessitam de sua proteção. Terminado o bailado de Iemanjá, começa o ritmo forte, rápido e vibrante de Oiá/Iansã, a esposa guerreira de Xangô. Oyá a senhora dos raios, das tempestades, mãe de todos os ancestrais-egunguns. O frenesi toma conta do barracão ao ritmo rápido e alucinante dos atabaques. Deslumbrante ela chega, belamente vestida, na sua mão esquerda traz o erú-kerê ou eruexím feito de crina de cavalo, na mão direita uma pequena espada lembrando uma cimitarra.

Oyá kooro nilé ó geere-geere Oiá ressoou na casa incandescente e brilhante.
Oyá kooro nlá ó gè àrá gè àrá Oiá ressoou com grande barulho, ela corta com o raio.
Obìrim sapa kooro nílé geere-geere Ela corta com o raio, é divindade arrasadora que ressoou na casa.
Oyá Kíì mò rè ló Saudamos a Oiá para conhece-la melhor.

Odò hò yà-yà-yà Redemoinho dos rios.

Dá ni a padá lóodò Quem pode cessa-lo para podermos voltar pelo rio Oyá
Oyá ó odò hò yà-yà-yà O redemoinho do rio, quem pode cessar é Oiá.

No primeiro cântico nos mitos relativos ao fogo ela sempre está presente, ora como emissária e portadora deste poder, dividindo com seu real esposo Xangô, o medo e a admiração por ele infundido.
No próximo, Oiá está relacionada como as outras Iabás às águas. O rio Oiá, na Nigéria é a ela dedicado, suas águas turbulentas forma em alguns trechos redemoinhos. Aplacar a ira de Oiá é garantir uma boa travessia.
Após vários cânticos e danças cessam os atabaques, Oiá está dirigindo-se à orquestra ritual, abraça todos os músicos e se despede dos presentes.
Ecoa no barracão o ritmo forte e cadenciado do ijexa , se faz presente agora a, “senhora da beleza e das riquezas” Oxum. Todos se levantam para admirá-la, e , em passos miúdos e graciosos, começa a evoluir em uma dança que empolga a todos os presentes. Começa assim a evoluir uma dança graciosa ao som dos Ilús......

A ri ide gbé o !!! Aquela que consegue fazer soar as pulseiras como uma canção.
Omi ro a!! wàrá-wàrá omi ro Soam como o barulho das águas rápidas.
O fi’de se’mo l’Òyó Ela balança as pulseiras em Oyó.
Omi ro a!! wàrá-wàrá omi ro Soam como o barulho das águas rápidas.
O fi’de se’mo l’owo Ela balança as pulseiras com respeito.
Omi ro a!! wàrá-wàrá omi ro Soam como o barulho das águas rápidas.
O fi’de se’mo l’òrun Ela balança as pulseiras no Orun.

Oxum, orixá vaidosa e feminina, suas pulseiras lembram o murmúrio das águas dos rios, quando ela vai banhar-se faceira, exibindo sua riqueza e encanto. A palavra Wàrá-wàrá, além de significar rapidamente, tem o sentido de uma onomatopéia, que lembra o ruído das águas, como das pulseiras de Oxum no cântico.

Òsun e lóolá imolè lóomi Oxum, senhora que é tratada com todas as honras.
Òsun e lòolá Senhora dos espíritos das águas
Ayaba imolè lòomi Oxum, senhora que é tratada com todas as honras.

Yèyé yé olóomi ó, yèyé yé, Mãe compreensiva, dona das águas
Olóomi ó...

Ayaba balè Òsun A grande mãe Oxum toca (reverencia) o chão ( a terra ).
Ayaba balè Òsun

Ìyá dò sìn máa gbè ìyá wa oro A mãe do rio a quem cultuamos nos protegerá.
Ìyá dò sìn máa gbè ìyá wa oro Mãe que nos guiará nas tradições e costumes.

Os cânticos reverenciam a Senhora dos espíritos das águas e dos rios. Foi na beira de um riacho que o Rei Larô, o primeiro Ataojá, título dos Obás da região de Ijexá, na Nigéria, fez um pacto com este Orixá. Sob a forma de peixe, ela dirige-se ao rei, que faz construir, neste local mítico, o templo de Oxum, em Osogbo, onde ainda se cultua o orixá Oxum. Os iyêiyê, aves míticas ligadas aos ancestrais femininos, são lembrados também nos cânticos e de forma especial nas louvações dedicadas a Oxum – ora Iyêiyê ô – saudando uma das mais prestigiosas e muitas vezes temida, mãe ancestral. Dela também se diz ser a grande feiticeira.

E MAIS UM CÂNTICO ECOA.....

Igbá ìyawó igbá si Òsun ó réwà Ibá iawó(cabaça contendo tecidos, roupas. alimentos e pertences
Igbá ìyawó igbá si Òsun ó réwà da noiva)é para Oxum no dia do seu casamento.
Àwá sin e ki igbá réwà réwà Nós cultuamos a formosa noiva que recebeu linda cabaça de
Igbá ìyawó igbá si Òsun ó réwà presente de casamento. Oxum estava linda no dia do seu casamento.

O Ibá Iaô, a cabaça da noiva, pode também aludir a um outro tipo de aliança ou de compromisso. Como as noivas de hoje e de antigamente, os Iaôs, quando de sua iniciação preparam seu enxoval , recebendo também presentes dos mais próximos de sua futura família mítica, para que este possa brilhar no dia da cerimônia do enlace ou da sua iniciação. Lentamente a senhora dos rios, despede-se dos convidados, e outros acordes são executados para saudar Obá, As Ekejis certificam-se de que Oxum não esteja mais presente na sala. Os convivas de Obaladô estão radiantes, seguindo a cadencia dos ilús, uma batida mais forte do run, vem ela Oba a Yabá guerreira, a grande caçadora das florestas. Ao compasso do som suavemente retira a adaga presa o ao busto, colocando em seu lugar o ofá. Elegantemente com a adaga em punho avança graciosamente e começa seu bailado cadenciado ao cântico de.....

Obá e’léékò àjà òsì Obá da sociedade Elekó, guardiã da esquerda.
Àjàgbà e’léékó àjà òsì Anciã, guardiã da esquerda na sociedade Elekó.
Orò awo mò gbo Oba O ritual do mistério é entendido e ouvido por Obá.
Àjàgbà e’lééko àjà òsì Anciã, guardiã da esquerda na sociedade Elekó.

O Cântico fala da sociedade Elekó, informando que Obá é sua suprema guardiã. Pouco se sabe desta sociedade secreta de mulheres no Brasil, “se bem que seu título principal de Ìyà-Egbé é o que ostenta a chefe da comunidade nos ‘terreiros’ Lésé Egún. Por outro lado, Oba representação coletivas dos ancestres femininos, venerados nesta sociedade, é cultuada nos ‘terreiros’ Lese Òrìsà. Terminado este primeiro cântico, relembrando o papel de guardiã dos segredos da sociedade Elekó, Obá retoma o seu Ofá guardado no atacã e, com um gesto incisivo, solicita o escudo, que ela confiara a um dos presentes. Um novo ritmo laudatório se aproxima saudando a guerreira das florestas, através de passos rápidos, numa caçada, onde numa das mãos, exibe o arco e flecha, mostrando destreza daquela que se rivaliza, no ofício, com o maior dos caçadores, Oxossi.

Ìtí wéré Do trono de madeira rapidamente ela constrói
Ofà e rè wé seu arco e flechas que saem serpenteando.

Pó` pò pò Soando como um tambor abafado, o Ofá
Fà de wá, ni chegou até nós.
Pò pò pò Soando como um tambor abafado,
Ele nú o !! A proprietária o perdeu.

Ìya ele nú o (Quando) A mãe está enfraquecida.
Obà e’léékò délé Obá da sociedade Elekô, volta para casa,
Obà Sábà o faz adivinhação, prepara uma armadilha e
Obà ó dìbò ké ré volta a sair.

E bárin è pò E vai em direção ( à casa )
Ó dìbò ké ré Faz adivinhação, prepara armadilha e volta a sair.

Obá é rápida como a sua flecha. Dela é dito ser uma caçadora ta eficiente, e talvez melhor, que a maioria dos caçadores. Foi por isso que teve o respeito de Oxossi, o grande caçador. Dizem que foi ele quem ensinou a ela esta arte, e ela aprendeu com maestria. Oba é obsessiva, e seu instinto guerreiro sempre a faz pelejar. Porém, quando sente que as forças acabam, volta para casa ( floresta ), recupera-se e retorna rapidamente. A casa é o lugar da magia, da consulta a Ifá, deus da adivinhação. E é disto que falam os cânticos acima. Terminada a homenagem a grande guerreira, a mesma despede-se de todos com ar imponente. Uma pausa se faz no Ilê de Obaladô......
O toque dos atabaques anuncia que todos devem retornar ao barracão. O ritmo do Igbin anuncia aos presentes que Oxalá se faz presente nas celebrações de Xangô, e que o final da festa está para chegar. O canto explode com um entusiasmo muito especial. A melodia de rara beleza ecoa por todo o terreiro e é cantada com muita emoção por todos. Os versos dirigidos ao Pai-da-criação chega a ser quase uma súplica.

Oní sé a àwúre a nlá jé Senhor que faz com que tenhamos boa sorte
Oní sé a àwúre ó bèrì omon e com que sejamos grandes.
Oní sé a àwúre Senhor que nos dá o encantamento da boa sorte
A nlá jé Bàbá cumprimenta os filhos.
Oní sé a àwúre ó bèrì omon Pai, Senhor que nos dá boa sorte e nos torna grande.

O Orixá do branco e da calma está presente, lembrando a todos a importância de serem tão grandes quanto ele nos atos, tão calmos, porém dignos e conscientes de seus direitos e obrigações. Agora quem dança majestoso, tranqüilo e de porte altivo é Oxaguiã, o mais novo e guerreiro dos Orixás Funfun, empunhando uma espada evolui em passos firmes e cadenciados. Segundo antigas lendas, ele faz parte da trilogia dos Orixás guerreiros juntamente com Ogunjá e Iemanjá-Ogunté.

Ajagùnnòn (n)gbá wa o !!! Ajagùnnòn Ajagunan ( guerreiro ) nos acuda nos socorra, Ajagunan
Elémòsó, Bàbá Òssóòginyón Senhor dos lindos ornamentos, Pai Oxaguiã
Ajagùnnòn (n)gbá wa o !!! Ajagunan ( guerreiro ) nos acuda nos socorra.
Elémòsó ,Bàbá olóroògùn Pai das guerras ( guerreiro ), Senhor de Elemesó,
Ajagùnnòn (n)gbá wa o !!! nos acuda nos socorra.

O povo ioruba o relaciona como um dos filhos de Odudua que, a partir de Ifé, povoam o mundo, e assim funda a cidade de Elejigbo, sendo este considerado seu primeiro Obá ou Rei.

É hora da partida, as exclamações de Exeuê babá são pronunciadas com entusiasmo ao rei da benevolência. Todos solicitam a sua boa vontade. Seu afeto e imprescindível, e mais do que isso, sua estima, para que possa nos envolver com a ternura do seu abraço e a proteção de sua espada que ampara e luta ao nosso lado.

O dia amanhece, os primeiros raios de sol acordam a natureza. Ouvem-se os primeiros cantos dos pássaros que também anunciam a presença de um novo dia.

À calma e tranqüilidade no Ilê de Obaladô.....

...... o fogo lentamente se extingue na fogueira de Xangô......

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