domingo, 4 de janeiro de 2015
O Ano de 2015
O ANO DE 2015 = 8 INFINITO.
Será regido pela vibração do número 8. Ou seja, o ANO DA COLHEITA! Aqueles que plantaram coisas boas no decorrer de todo ciclo colherão prosperidade, abundância, união de relacionamentos, encontros de ALMAS GÊMEAS..... Os que plantaram chuvas colherão tempestades porém aqueles que semearam LUZ E AMOR colherão dias ensolarados, bem-aventurança, alegrias, sucesso...
Será um ano MARAVILHOSO, pois traz a energia do INFINITO, o oito invertido, expansão espiritual, ASCENSÃO...
Tempos de usufruir o melhor da vida, aproveitar o
momento para expandir nossa consciência e
despertar para patamares mais elevados...
Este ano foi muito duro, muitas questões vieram a tona para ser trabalhada e transmutada, pois foi regido pela vibração do número 7, kármico, espiritual, onde tudo precisa ser revelado...
No ano de 2016 será um ano revelador, pois será regido pela vibração do número 9, término de ciclo em todos os níveis espiritual, material, pessoal, relacionamentos, etc.
Por isso a importância do ano de 2015...
Tudo que focar em 2015 irá expandir para os próximos anos, seja referente a prosperidade, relacionamento, expansão da consciência, ASCENSÃO!!!
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
Babalòrìsà e Ìyálòrìsà: Babalòrìsà e Ìyálòrìsà: o Sacerdócio Igualitário no Candomblé
Ao longo dos anos, o pensamento de que o homem possui uma importância menor no Candomblé frente à mulher, foi muito difundido. Isso foi reforçado, pelo fato de muitos terreiros tradicionais, durante décadas, não iniciarem homens Adosù e, permitindo que a única figura masculina nas Casas de Candomblé, fosse a dos Ogans (não Adosù). Muitos creem que o surgimento dos homens Adosù e Babalòrìsàs, foi fruto de uma mudança cultural, ocorrida nos últimos 20 anos.
Sobre isso, o objetivo desta publicação é elucidar que, em verdade, tanto o homem quanto a mulher possuem o mesmo grau de importância no Candomblé. É ainda, esclarecer que, a figura do Sacerdote Homem (Babalòrìsà) existe desde a fundação da Religião no Brasil e, muito antes disso, no próprio berço da cultura dos Òrìsàs, a África.
Antes de tudo, é importante salientar que não é o sexo que difere a importância de uma pessoa na Religião dos Òrìsàs, mas sim, o grau hierárquico que essa pessoa possuí. Assim, o que confere a uma pessoa a distinção hierárquica na sociedade religiosa, é o título sacerdotal e não o sexo.
A estrutura do Candomblé do Brasil foi fundamentada e edificada, tendo como a figura máxima do terreiro àquele que zela pelo Òrìsà, que em idioma yorùbá é a Ìyálòrìsà ou Babalòrìsà (Mãe ou Pai que zela pelo Òrìsà). Na África, por exemplo, existe a figura do Arabá, título masculino não existente nos tradicionais Terreiros de Candomblé da Bahia.
A consagração de uma Ìyálòrìsà ou Babalòrìsà ocorre da mesma forma, sendo necessários os mesmos predicados para ambos. Sendo eles: Iniciado (Adosù), ter concluídos as obrigações de 1, 3 e 7 anos e, principalmente, ter recebido essa missão pelo Òrìsà (ou seja, isso deve estar no seu destino e não em sua vontade e como já discorrido em nossas publicações, somente a obrigação de 7 anos, não confere à ninguém o cargo de Sacerdote/Sacerdotisa). Dessa forma, quando um homem recebe um título de Babalòrìsà ele está em igual posição sacerdotal de uma Ìyálòrìsà (não há distinção).
O que existe em nossa religião, é a condição cronológica ou como versado nos Terreiros aqui de Salvador “Idade é Posto”. No entanto, esse ditado se refere quando ambas as pessoas (independente do sexo) possuem o mesmo título Sacerdotal (posto). O Sacerdote/Sacerdotisa, possuí posição igualitária, no entanto, o mais velho sempre terá o maior respeito (nessa visão a idade prevalece).
No início da abordagem desse tema, mencionamos que o Sacerdote homem, existe desde a fundação da Religião no Brasil e mesmo antes, na África. No berço da cultura dos Òrìsàs, sempre existiu a figura do Babalòrìsà, do Babalawo e do Arabá (supremo sacerdote masculino).
No Brasil, contrário do que muitos acreditam, a figura masculina sempre existiu e com grande destaque. Na fundação das mais antigas e tradicionais Casas de Candomblé os homens (Sacerdotes) estavam presentes, com importância singular na formação desses Terreiros.
Podemos exemplificar, com alguns dos nomes mais venerados e ainda hoje reverenciados nos Ipade dos Candomblés da Bahia, tais como; Gbongbose Obitiko e Baba Asesu Bérégédé (que tiveram importância singular na fundação do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho), Okarinde (no Terreiro do Gantois) e Oje Lade – Martiniano Eliseu do Bonfim, no Ilé Asè Opo Afonjá.
Isso, sem mencionar Talabí, o fundador do Terreiro de Òsùmàrè e, por exemplo, o aclamado Manoel Bernadino da Paixão, que fundou o Terreiro do Bate-Folha. Isso evidencia de forma muito clara, que o homem sempre esteve presente no Candomblé da Bahia.
Fato é que, na Bahia, as mulheres negras, tiveram ascensão social mais precoce que os homens, contribuindo de forma decisiva para o seu posicionamento religioso. As mulheres, antes dos homens, conseguiram acumular bens (na grande maioria das vezes, em razão da venda em escala de quitutes), permitindo-lhes a edificação dos Terreiros. Para os homens esse processo foi tardio, contribuindo para o cenário de distinção.
Apesar dessa diferença social à época, a importância do Sacerdote masculino sempre existiu, prova disso, conforme mencionado anteriormente é a evocação desses nomes no Ipade. Lembrando que, os ancestrais (Esá) saudados nessas cerimônias, invariavelmente são de pessoas iniciadas (Adosù), sejam elas mulheres, sejam homens, como os já mencionados; Esa Oburo, Esa Asesu Bérégéde, Esa Okarinde, Esa Danjemi, dentre muitos.
Desse modo, podemos afirmar que, no Candomblé, não existe diferença de grau sacerdotal em razão do sexo. Existem sim, alguns cultos específicos que a liderança masculina ou feminina prevalece à outra, mas isso, em cultos específicos, tais como Egúngún, no qual o homem é o Sacerdote Supremo (Alapini) ou nas Sociedades de Culto às Ìyàmì, Òsun ou Obà (Eleeko), nas quais as mulheres são as grandes matriarcas.
Assim sendo, podemos dizer que o Candomblé talvez seja, uma das poucas religiões, na qual o homem e mulher, desde que com o mesmo titulo hierárquico, possuem a mesma importância diante do clero. Mostrando que, há séculos, já pregamos a igualdade.
Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos uma vez mais, ter contribuído com o esclarecimento da cultura dos Òrìsàs no Brasil.
O Culto aos Ancestrais e a Reencarnação no Candomblé, fundamentos da Casa De Oxumarê
Hoje vamos discorrer sobre o culto aos ancestrais (Egúngún), por sua vez liderado por homens.
Na religião dos yorùbás, cremos que há vida após a morte e que os mortos podem retornar à terra através do Culto à Egúngún.
De forma muito resumida, podemos afirmar que há o culto aos ancestrais “Lese Òrìsà” e o culto aos ancestrais “Lese Egúngún”. O primeiro é realizado nos terreiros de Candomblé – no Ilé Ibó Aku (casa de adoração aos ancestrais), em que os Sacerdotes de Òrìsà cultuam os ancestrais do terreiro, sem que exista a manifestação física desse ancestre. Esses ancestrais chamados de Esá são louvados e evocados em rituais como o Ipade e em cerimônias dedicadas à ancestralidade da Casa de Candomblé.
O segundo, por sua vez, ocorre nos chamados Terreiros de Egúngún, em que o Sacerdote do culto a Egúngún (Alapini, Alagbá e Ojé) cultuam além dos ancestrais daquele terreiro e da família, os ancestrais patronos de cidades inteiras, como ocorre, por exemplo, com Baba Ologbojo, patrono da cidade de Ogbojo na África, ainda hoje cultuado nos Terreiros de Egún da Ilha de Itaparica. Além disso, esses Sacerdotes, trazem à terra, esses Egúngún de forma física, ricamente vestidos com roupas coloridas.
Um Itán de Ifá, narra que na cidade de Oyo (África), existia um fazendeiro chamado Alapini. Esse fazendeiro tinha três filhos (Ojewuni, Ojesami e Ojerinlo). Certo dia, Alapini fez uma viagem e recomendou aos filhos que não comessem um tipo especial de inhame, haja vista ele deixar as pessoas com uma sede desmedida. Os filhos ignoraram a advertência e comeram em excesso o aludido inhame. Como já anunciado pelo Alapini, eles tiverem uma sede imensurável e beberam água até a morte. Quando do seu retorno, o Alapini deparou-se com seus filhos mortos e resolveu procurar um Babalawo. Através do jogo de Ifá, o Babalawo disse que no décimo sétimo dia da morte de seus filhos, o Alapini deveria ir até um bosque que havia perto do rio e pegasse um galho de Àtòrì. Nesse bosque ele deveria bater no chão três vezes o Isan (o bastão feito da árvore Àtòrì) e pronunciar certas palavras mágicas e chamar pelos nomes dos filhos "wa de" (venha), na terceira vez os filhos retornariam à terra e assim aconteceu.
Por isso, o sumo sacerdote do culto aos ancestrais é chamado de Alapini, pois o fazendeiro de nome análogo foi o primeiro homem a materializar um ancestral no aye. Diferente do culto a Ìyàmì, no qual, as mulheres são as grandes líderes, no culto à Egúngún, a liderança pertence aos homens. Há uma antiga história de Ifá, que nos explica a razão disso.
À época dos Òrìsàs, os homens eram os líderes de tudo. As mulheres, no entanto, resolveram punir os homens, mas sem nenhum critério ou limite, abusando desta decisão, humilhando-os. Yansan era a líder dessas mulheres revolucionárias que se reuniam em uma floresta. Oya havia domado e treinado um macaco marrom chamado Ijimere, utilizando para isso, um isan (galho da árvore "Àtòrì". Oya vestia o macaco com uma roupa feita de várias tiras de pano coloridas, de modo que ninguém via o macaco sob os panos. Conforme Oya batia o isan no solo, o macaco pulava de uma árvore para outra, movimentando-se de forma alucinante, como fora treinado por Oya. Deste modo, durante à noite, quando os homens por lá passavam, as mulheres que estavam escondidas, faziam o macaco aparecer e eles fugiam totalmente apavorados, pois acreditavam estar vendo um Egúngún. Cansados de tanta humilhação, os homens foram consultar Ifá através de um babaláwo, a fim de descobrir a causa de tamanha injúria. Através do jogo de Ifá, a farsa das mulheres foi desvendada. Ifá recomendou aos homens, alguns sacrifícios, sendo Ògún, o encarregado de reverter o cenário imposto pelas mulheres. Quando Ògún chegou ao local das aparições, vestiu-se com vários panos coloridos, ficando totalmente encoberto, escondendo-se atrás de uma árvore. Quando as mulheres chegaram, ele apareceu subitamente, correndo, berrando e brandindo sua espada pelos ares, todas as mulheres fugiram assustadas, inclusive Oya. A partir desse dia, os homens dominaram as mulheres e as expulsaram para sempre do culto aos ancestrais. No entanto, Oya Igbale, continua sendo a Divindade que os Egúngún respeitam.
Muitos desacreditam da manifestação dos ancestrais e isso aconteceu até mesmo com os Òrìsàs. Outra história de Ifá, narra que após o Alapini ter evocado presencialmente os seus filhos já falecidos, Sàngó mandou lhe chamar, pois não acreditava que os mortos podiam voltar do além.
Como Sàngó era o grande Rei de Oyo, o Alapini foi prontamente ao palácio, quando chegou lá, Sàngó disse que iria prender Alapini, pois ele dizia que tinha o poder de trazer os mortos do além e isso era uma grande mentira e que se ele realmente conseguia fazer isso, que fizesse diante dos olhos de Sàngó. Alapini respondeu que não poderia evocar os ancestrais diante de Sàngó, mas que sim era possível trazer os mortos do além. Sàngó então mandou que construíssem um quarto dentro do palácio e vistoriou toda a edificação, garantindo que não havia ninguém dentro dela. Sàngó pediu para que o Alapini entrasse no quarto e que se ele tinha realmente esse poder, ele evocasse os ancestrais lá dentro, pois Sàngó tinha certeza que não havia mais ninguém lá. Alapini pediu algumas coisas, como panos, espelhos e um Isan (a grande vara de atori). Sàngó pessoalmente entregou tudo ao Alapini, certificando-se que não havia truques. Feito isso, Sàngó trancou a porta e ordenou que Alapini evocasse os ancestrais. Pouco tempo depois, uma voz rouca começou a sair do quarto. Sàngó irritado, disse que se aquilo fosse um truque, o Alapini seria morto. Passado mais um tempo, o Alapini pediu que abrissem a porta, quando Sàngó abriu, saíram de lá o Alapini e Egúngún, vestido com os panos e espelhos preparados pelo Alapini. Diante disso e impressionado, Sàngó instituiu o culto aos ancestrais em Oyo (seu reinado) e, a partir desse dia, todos os Alaafin (rei de oyo), são empossados pelo Alapini, pois é ele que conhece a ancestralidade de Sàngó.
No Candomblé, o culto aos antepassados é tão importante que, mesmo antes de louvarmos os Òrìsàs, devemos render homenagens aos ancestrais, isso é ainda mais saliente nas casas antigas, em que já houve mais de um Sacerdote, sendo que o líder atual, sempre reverenciará aqueles que o antecederam. Nesse sentido, acreditamos que, quando uma Ìyálòrìsà ou Babalòrìsà falece, ele também servirá como conselheiro para os que o sucederão, no entanto, como ancestral, sendo muitas vezes consultado por meio do oráculo. Há um antigo provérbio yorùbá que diz: “Você só completará a sua missão, se cumprir a missão dos seus antepassados”.
Como exposto acima, no Candomblé nós acreditamos na vida além da morte, em verdade, cremos que a morte é o renascimento para todos. Nós cremos que, quando uma pessoa morre, ela parte para um dos espaços Orùn, a depender da sua conduta no Ayè (que também é considerado um dos Orùn, para os yorùbá).
Acreditamos na existência do Orun Rere (reservado para as pessoas que tiveram uma conduta exemplar no Aye), o Orun Alafia (local de grande paz e harmonia), o Orun Funfun (local da pureza), o Orun Baba Eni (local no qual cremos que residem os Sacerdotes), Orun Isalu (local onde as pessoas serão julgadas), Orun Apadi (local ruim, das coisas que não serão reparadas e que não serão restituídas à vida através da reencarnação), o Orun Buruku (o pior espaço, para onde vão as pessoas más) e o Orun Afefe (onde os espíritos permanecem e tudo é corrigido, e lá ficarão até serem reencarnados).
Desse modo, nós também acreditamos na reencarnação (Atunwa), mas como vimos, nem todos serão reencarnados. A viagem da vida (Ajolaiye) em sua amplitude, não é concedida a todos, mas quando isso ocorre, cremos que seja na mesma família. No Candomblé, quando existe a reencarnação, essa ocorre invariavelmente no mesmo seio familiar daquele que faleceu.
Nesse sentido, essa “sentença” de nascer na mesma família, serve como “premio” ou “punição”. Quando uma pessoa atingiu seu papel no aye, de forma benéfica, ele certamente contribuiu para a edificação de sua família, assim sendo, quando ele retornar para essa família, ele estará retornando para um ambiente que ele mesmo contribuiu para que fosse bom e isso será considerado um prêmio ancestral. No entanto, se ao invés disso, ele tenha causado problemas à sua família, ele retornará para um ambiente que ele contribui para que não fosse bom, sendo assim uma punição, no entanto, com uma oportunidade de virar o jogo.
Na África, essas crianças reencarnadas são descobertas pelo oráculo logo quando do seu nascimento, recebendo nomes que evidenciam isso, como por exemplo, “Babatunde” (o pai retornou).
Há um itan de Ifá, que discorre que uma pessoa só descansará eternamente no Orun, caso ela já tenha conseguido realizar todas as coisas boas que ela tinha que realizar no Ayé. Somente após isso ele poderá descansar, caso contrário, ela retornará ao Aye (Atunwa), para cumprir a sua missão. Isso tem como objetivo, atingir o equilíbrio máximo entre os Orun e Aye.
Nós da Casa de Òsùmàrè, esperamos ter novamente contribuído para o esclarecimento da nossa cultura.
Que Òsùmàrè Aràká, o grande patrono da nossa família, continue olhando e abençoando todos.
Terreiro de Òsùmàrè
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
REGÊNCIA DE ODÚ E ORIXÁS EM 2013
2013. Ano 6, Regido pelo Odu OBARA
O Odu Obará foi gerado de um bloco de ouro. Suas arestas representam a riqueza. Obará fez a fecundação com Eji-Lasebora (13).
De Obará veio Ajé saluga (Ajê Salugá é a irmã mais nova de Yemoja. Ambas são as filhas prediletas de Olokun), e de Lasebora veio Araiun, (que não toma a cabeça de ninguém, porém gerou 12 qualidades de Sango e todos os Orisas). Os Orixas regentes deste ano serão Olokun e Xango.
Este é um Odu masculino e individual, por isso toda as previsões são pessoais e vão depender da postura de cada um perante a vida.
Ele atrai riquezas, mas não uma riqueza coletiva e sim algo que resulta de um sonho pessoal, porisso “Se você quer ter um negocio, esta é a hora”.
Este Odu nos diz para sermos espertos: "a natureza deu-nos duas orelhas e uma só boca, para nos advertir que se impões mais ouvir do que falar"; para não disperdiçar o que conseguir: " Quem come e guarda, tem mesa duas vezes"; para não usar a mentira como ferramenta, porque: "Da mentira nasce a verdade".
Não acontecem mortes ou catastrofes coletivas no ano regido pelo odu de Obará.
Fica claro que é o odu certo para se trabalhar o crescimento pessoal, profissional, intelectual, financeiro ou espiritual. Positive seu Odu pessoal e traga o Odu de Obara para dentro da sua casa, para dentro do seu negocio, para dentro do seu coração.
Os orixás que carregam o Odu de Obara:
• Ketu: Sòngó, Òsóòssi e Lògún Ode. Você luta
• Vodum (Jejê): Dã, Lisa, Hoho e Tovodum.
• Nagô: Sàngó, Yansá, Yemonjá, Obá, Ewá e Ipori (O ìpòri é um dos três elementos que constituem a alma. Ele simboliza a energia advinda diretamente de nossos ancestrais. Esta energia é ligada a nossa cabeça (orí), ao nosso eledá (guia ancestral, Orixá) e ao nosso destino (odù) ).
Regência Corpórea para tratamento e cura: rins e aparelho urinário
Cuidados especiais para quem é propenso as seguintes doenças: infecção urinária, parto, dores fortes de cabeça, circulação sanguínea. depressão, testículos.
Quem não é regido por esse Odu, deve evitar: emprestar dinheiro, vestir roupa usada por outrem, ter contato com miséria, dar esmola, participar de jogo de carteado, gente bêbada.
Símbolo gráfico: Uma corda, vertical, de 6 metros de comprimento, com 6 nós
Faça de 2013 o melhor ano de sua vida!
quarta-feira, 25 de julho de 2012
COMO SURGIU O CANDOMBLÉ
Gostaria de expor que o relato a seguir é baseado em lendas, contudo como nossa religião é basicamente seguida por lendas é bem valido e bem interessante esse ponto de vista
• No começo não havia separação entre o Orum,
o Céu dos orixás, e o Aiê, a Terra dos humanos.
Homens e divindades iam e vinham, coabitando e dividindo vidas e aventuras.
Conta-se que, quando o Orum fazia limite com o Aiê, um ser humano tocou o Orum com as mãos sujas.
O céu imaculado do Orixá fora conspurcado.
O branco imaculado de Obatalá se perdera.
Oxalá foi reclamar a Olorum.
Olorum, Senhor do Céu, Deus Supremo, irado com a sujeira, o desperdício e a displicência dos mortais, soprou enfurecido seu sopro divino e separou para sempre o Céu da Terra.
Assim, o Orum separou-se do mundo dos homens e nenhum homem poderia ir ao Orum e retornar de lá com vida.
E os orixás também não podiam vir à Terra com seus corpos.
Agora havia o mundo dos homens e o dos orixás, separados.
Isoladas dos humanos habitantes do Aiê, as divindades entristeceram.
Os orixás tinham saudades de suas peripécias entre os humanos e andavam tristes e amuados.
Foram queixar-se com Olodumare, que acabou consentindo
que os orixás pudessem vez por outra retornar à Terra.
Para isso, entretanto, teriam que tomar o corpo material de seus devotos.
Foi a condição imposta por Olodumare
Oxum, que antes gostava de vir à Terra brincar com as mulheres, dividindo com elas sua formosura e vaidade,
ensinando-lhes feitiços de adorável sedução e irresistível encanto, recebeu de Olorum um novo encargo: preparar os mortais para receberem em seus corpos os orixás. Oxum fez oferendas a Exu para propiciar sua delicada missão.
De seu sucesso dependia a alegria dos seus irmãos e amigos orixás.
Veio ao Aiê e juntou as mulheres à sua volta,
banhou seus corpos com ervas preciosas,
cortou seus cabelos, raspou suas cabeças,
pintou seus corpos.
Pintou suas cabeças com pintinhas brancas,
como as pintas das penas da conquém,
como as penas da galinha-d?angola.
Vestiu-as com belíssimos panos e fartos laços,
enfeitou-as com jóias e coroas.
O ori, a cabeça, ela adornou ainda com a pena ecodidé,
pluma vermelha, rara e misteriosa do papagaio-da-costa.
Nas mãos as fez levar abebés, espadas, cetros,
e nos pulsos, dúzias de dourados indés.
O colo cobriu com voltas e voltas de coloridas contas
e múltiplas fieiras de búzios, cerâmicas e corais.
Na cabeça pôs um cone feito de manteiga de ori,
finas ervas e obi mascado,
com todo condimento de que gostam os orixás.
Esse oxo atrairia o orixá ao ori da iniciada e
o orixá não tinha como se enganar em seu retorno ao Aiê.
Finalmente as pequenas esposas estavam feitas,
estavam prontas, e estavam odara.
As iaôs eram a noivas mais bonitas
que a vaidade de Oxum conseguia imaginar.
Estavam prontas para os deuses.
Os orixás agora tinham seus cavalos,
podiam retornar com segurança ao Aiê,
podiam cavalgar o corpo das devotas.
Os humanos faziam oferendas aos orixás,
convidando-os à Terra, aos corpos das iaôs.
Então os orixás vinham e tomavam seus cavalos.
E, enquanto os homens tocavam seus tambores,
vibrando os batás e agogôs, soando os xequerês e adjás,
enquanto os homens cantavam e davam vivas e aplaudiam,
convidando todos os humanos iniciados para a roda do xirê,
os orixás dançavam e dançavam e dançavam.
Os orixás podiam de novo conviver com os mortais.
Os orixás estavam felizes.
Na roda das feitas, no corpo das iaôs,
eles dançavam e dançavam e dançavam.
Estava inventado o candomblé.
sábado, 12 de maio de 2012
JUREMA CATIMBÓ
Jurema Catimbó: magia e conhecimento
Jurema Catimbó. Magia e Conhecimento. A Religião que surgiu no Nordeste Brasileiro.
no De: Alberto Junior. Xamanismo Brasil. Ver todos os tópicos | Criar novo tópico Mensagem 1. Jurema Catimbó. Magia e
Conhecimento. A Religião que surgiu no Enviado por: "Alberto Junior. Xamanismo Brasil." luz_holistica@globo.com
luz_holistica Sex, 7 de Dez de 2007 10:38 am Jurema Catimbó. Magia e Conhecimento.
A Religião que surgiu no Nordeste Brasileiro.
Origem:
A Jurema Catimbó é uma religião que surgiu nas regiões das matas de Pernambuco, Recife, Olinda, Paraíba, Alagoas e
Bahia. As crenças Indígenas se misturaram com os Kilombos e a pratica de Bruxaria Portuguesa e o Catolicismo.
Pesquisadores afirmam que esta tradição chega atingir 400 anos de Idade.
Falar sobre a reconstrução da Jurema e Catimbó, é um pouco mais complicado. Meus Padrinhos Mestres Juremeiros, os
meus mais antigos me contam que Jurema é uma coisa, e o Catimbó é outra, são coisas totalmente distintas, com o
passar dos anos estas duas práticas se uniram, formando assim a Jurema Catimbó como é conhecida em todo o nosso
Brasil.
A Jurema tem sua raiz na Pajelança, onde só os Mestres Juremeiros (Espíritos) baixam, são espíritos encantados dos
Nativos (Indígenas), Caboclos descendentes de Índios com o Branco, e os Mamelucos (mistura de brancos com negros
ou Nativos), todos trabalham em nome do Astral superior, trabalham para o bem, realizando benzessões e curas
miraculosas.
Jurei, Jurei,
Jurei Torno a Jurar (bis)
Jurei por toda Jurema.
Jurei torno a jurar
Jurei por toda jurema de Nunca fazer o Mal
O Catimbó segundos os mais antigos, era a prática de feitiçaria ou baixa magia. Por ter uma ligação maior com a Bruxaria
Portuguesa. Existia transe de alguns Mestres Juremeiros e Mestres da Magia que faziam o bem e o Mal, coisa proibida
dentro da Jurema. Faziam trabalhos de Amor, derrota de inimigos e todo tipo da arte negra.
Padrinho me conta que se antigamente você fosse, em uma sessão de Jurema e fala-se que você era Catimbozeiro,
dava até briga. Seria como se o bem e o mal estivessem juntos, obviamente viria a pergunta o que você esta fazendo
aqui...
Com o passar dos anos estas duas práticas distintas se unificaram, hoje em dia não tem como falar de Jurema sem
falar do Catimbó, e vise versa.
A Influência da Pajelança Juremeira, Cultura Nativa Brasileira, dentro da Jurema Catimbó:
Graças ao nosso bom Deus, tive a oportunidade de estar aprendendo a Jurema Catimbó assim como a Pajelança
Juremeira e o Tore de forma muito pura. O meu encontro com o Pajé Cacique Takai da Tribo kariri-Xoco do Pátio do
Colégio de Alagoas, confirma a origem da Jurema Catimbó, as Tribos Indígenas assim como os Negros dos Kilombos, se
embrenhavam nas matas fugidos dos colonizadores que queriam escravizar e recapturar os índios e negros.
Por muitos séculos, a Jurema Catimbó assim como outras manifestações religiosas e culturas eram praticadas dentro da
mata, as escondidas, por causa da perseguição da Policia por questões Políticas e Religiosas.
Após muitos esforços, dos Iniciados Mestres Juremeiros, as primeiras tendas Juremeiras se instalaram nas casas dos
fieis, que bravamente brigavam pelo direito de praticar sua religião, para facilitar a prática elementos da Religião Católica
como Santos foram inseridos nos cultos de origem Juremeira Nativa.
Começou a se criar a necessidade de trazer o elementos da natureza para lugares fechados, dos Kilombos ou da cultura
Africana vieram técnicas de preparar os Troncos de Jurema para os assentamentos ou firmeza dos Mestres Espirituais
Juremeiros. Começa então a baixar os primeiros Mestres Juremados de descendência Africana, ou mestiços dentro das
Tendas de Jurema Catimbó. A Bruxaria Portuguesa e Italiana também aporta no Brasil, como estas artes mágicas eram
praticadas dentro das matas, as Bruxas e Bruxos Europeus acabaram se integrando aos perseguidos Nativos, Africanos
e seus descendentes, trazendo elementos desta antiga e primitiva arte para junto da Jurema e Catimbo.
A Tradição Juremeira também adentra nos Candomblés de Pernambuco, que ficaram sendo conhecidos como
Candomblé de Caboclo, e comum também, os Candomblés de Nagô, Xangô e Angola, tocarem seus tambores e fazerem
festas para Caboclo, tamanha é a influência e a amizade que os ancestrais dos negros escravos fizeram com os
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Nativos Brasileiros, reconhecendo sua força, brilho e sabedoria. Muitos Babalorixas e Yalorixas também são iniciados na
Jurema Catimbo, receberam Juremação (iniciação). Foi através desta amizade que também os sacerdotes de cultos
Afros, conseguirarm adaptar muitas ervas que só existem em África dentro dos Cultos Afro-Brasileiros.
Se molda assim a Tradição Juremeira Catimbo, a união de varias culturas, esta bonita mistura do nosso belo povo. Tem
um Linho (cânticos) que mostra bem a sabedoria popular dos praticantes desta Seita Religião.
Eita, Eita Jurema
Eita, Eita Jurema (bis)
Seja branco
Seja Negro
A Jurema é Sagrada
No Tore na Pajelança
Aprendi a Respeitar
No Reino da malandragem
Do Anjico do Juca
Pedra Grande Mais que Grande
No Reino do Fundo Do Mar
Eita, Eita Jurema
Eita, Eita Jurema (bis)
Os vários Significados da Jurema Sagrada:
Jurema é um Pau Sagrado
onde Jesus descansou,
da força a ciência ao bom mestre Curador
Ramificações da Jurema:
Segundo José Francisco Miguel Henriques Bairrão, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto -
USP a Jurema possui muitas ramificações, veja texto adaptado por mim para melhor compreensão popular:
"" Jurema é uma árvore. A sua identificação botânica, permanece relativamente indefinida. Pertence aos gêneros
Mimosa, Acácia e Pithecellobium (Sangirardi Jr, 1983, citado por Grünewald, 1999a), existem outras denominações
populares de várias árvores de Jurema (Preta, Branca, Vermelha, etc.).
Jurema é uma bebida. Extraídas de partes especificas da arvore de Jurema, nem sempre as mesmas (as mais referidas
são a Mimosa tenuiflora e a Mimosa verrucosa), obtém-se um líquido de uso religioso e medicinal. As fórmulas do seu
preparo, os tecidos vegetais utilizados e as dosagens, assim como a combinação com outros ingredientes, são variáveis.
O segredo do preparo da bebida de Jurema Sagrada tem uma variação de um Mestre Juremeiro para outro.
Jurema é uma cerimônia religiosa (diversamente celebrada por índios ou caboclos) , aonde os bebem a Jurema Sagrada
e comungam a bebida. Às vezes distinguida como uma religião específica no complexo cenário da espiritualidade
brasileira, mais comumente o culto da Jurema apresenta-se difuso em práticas religiosas nas quais pode ter um papel
mais ou menos central: Pajelança, Toré, Catimbó, Umbanda, Candomblé de Caboclo, Nago etc.
Jurema é uma "entidade" espiritual que se manifesta no transe de adeptos dessas religiões. Ou uma classe, um tipo de
"entidades", havendo muitas Juremas. A Jurema que se manifesta nesses cultos pode caracterizar-se de maneira
bastante variada em diferentes práticas e em diversos núcleos da mesma religião. Às vezes, a sua caracterização pode
ser diversa no mesmo núcleo, ou até mesmo Juremas diversas podem incorporar na mesma médium.
Jurema também pode ser o local de culto e oração: a mesa da Jurema Catimbo ou o "congá" Umbandista. Alguns
Candomblés principalmente o de Caboclo e Nagô, tem um canto reservado para a pratica da Jurema Catimbó.
Jurema é o "mundo espiritual" de onde provêm os encantados (espíritos muito evoluídos, que não fazem mais parte do
proscesso de reencarnação) que se manifestam nas sessões.
Jurema é o "plano espiritual" dos espíritos cultuados na difusa "espiritualidade brasileira", que se apresentam como
índios.
Jurema é uma índia metafísica. Atende pelo nome de Jurema uma apresentação antropomórfica do sagrado florestal. Em
rituais, convivem, a bebida e a "cabocla" do mesmo nome. Una ou duas?
Jurema pode ser uma "linha". A "linha" das "caboclas de Oxossi" (antropomorfoses femininas de epifanias florestais,
"encantos da mata"). É uma e múltiplas.
A cromoterapia na Umbanda
A CROMOTERAPIA NA UMBANDA
I. INTRODUÇÃO
A utilização da cor em qualquer religião, ou melhor, em qualquer
processo mágico remonta aos tempos mais antigos. A luz é uma vibração
energética, da mesma forma que as vibrações mais sutis empregadas na Magia.
É perfeitamente sabido da utilização das cores nas mais diversas áreas do
conhecimento.
Hoje em dia, o processo de planejamento de hospitais, como foi o caso do
Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, obedece às técnicas de
Cromoterapia.
Desde a mais remota Antigüidade, o ser humano vem fazendo uso da cor
com as mais diferentes aplicações. Recentemente, uma grande pesquisadora
sueca, desenvolveu uma técnica de harmonização baseada na aplicação das
cores com o nome de aura-soma.
Os egípcios da antigüidade, povo de origem da nossa querida Umbanda,
sabiam perfeitamente utilizar as cores nos seus diversos rituais. Por exemplo,
quando um sacerdote fazia uso de cores nos seus lábios ou nos seus olhos o fazia
dentro de uma rígida técnica cromoterápica. Quando embalsamavam seus
mortos utilizavam, também, as cores adequadas ao ritual.
Assim, foi se difundindo todo o estudo desta grande ciência, que aliada ao
uso da radiestesia, ou seja, o pêndulo, nos ajuda tanto na realização de nossos
rituais.
II. AS CORES E A UMBANDA
Fazendo agora um paralelo entre a Cromoterapia e a Umbanda, iremos
verificar um perfeito casamento entre a religião e a ciência (sim, a Cromoterapia
está fundamentada em conceitos científicos).
Iremos verificar que a exuberância de cores nos rituais Umbandistas tem
seus fundamentos no estudo da Cromoterapia.
A seguir farei uma abordagem de cada Orixá, sua cor e seu significado.
Antes porém, cabe-nos lembrar que o Orixá é uma vibração, da mesma forma
que a luz. Quando utilizo as cores de um dado Orixá para um trabalho de Magia,
é como se estivesse utilizando das mesmas vibrações coloridas da luz para a
mesma finalidade.
OXALÁ
Iniciando por Oxalá, Orixá da paz, da harmonia e do amor. Suas cores são
o branco e o dourado. O branco representando muito bem a paz evocada por este
Orixá e o dourado a vibração luminosa que faz a conexão perfeita com a
Divindade. Que outro Orixá não traduz melhor esta conexão divina.
OMULU
O preto e o amarelo. O preto simboliza o retorno. É Omulu que faz este
retorno através do mundo dos mortos. O amarelo é a mente. Poder mental que
unido a este retorno, realiza todas as mudanças necessárias à nossa vida. Omulu
é o grande Senhor da Transformação, daí muitas vezes, sua representação estar
calcada nas cores roxo e amarela. O roxo é a maior vibração de transmutação
que pode ser sentida. Omulu transmuta todas as nossas dores em alegria, a
doença e saúde.
YEMANJÁ
No azul temos a mais perfeita tradução das deusas femininas. Yemanjá é o
símbolo maior da força feminina. Todas as grandes deusas ostentam a cor azul,
uma vez que esta cor é considerada a mais feminina de todas as cores. O azul,
que da mesma forma que a mãe, acalanta e aconchega. No branco a paz. Assim
segunda-feira, 30 de abril de 2012
CENTRO DE CULTURA AFRO BRASILEIRA
CENTRO DE CULTURA AFRO BRASILEIRA: Participe da minha vaquinha!
JÁ ESTÁ A TODO VAPOR NOSSA VAKINHA PARA CRIÁRMOS O MAIOR PROJETO SOCIAL DA HISTÓRIA DE JACUTINGA, CONTO COM A SOLIDARIEDADE DE TODOS!
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JOGO DE BÚZIOS
SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
“Deus não impôs aos ignorantes a obrigação de aprender,
sem antes ter tomado dos que sabem, o juramento de ensinar!
O JOGO DE BÚZIOS POR ODÚ
O ser humano sempre questionou o motivo de sua estadia sobre a terra e,
principalmente, o mistério que envolve o seu futuro.
A insegurança em relação ao porvir fez com que o homem tentasse, de diferentes
maneiras, prever o que lhe estava reservado, precavendo-se desta forma da má sorte, ao
mesmo tempo em que assegurava a efetivação de acontecimentos tidos com benefícios.
Muitos são os processos utilizados nesta finalidade e, no decorrer dos séculos,
diversos sistemas oraculares foram desenvolvidos e largamente acessados com maior ou
menor possibilidades de erros e acertos.
Dentre os sistemas oraculares utilizados pelos humanos, na ânsia de descobrir o
futuro, ou contactar as deidades com a finalidade de desvendar o motivo de suas provações,
destacamos alguns como, a astrologia, a cartomancia, a quiromancia e a geomancia, que por
sua popularidade e confiabilidade, continuam a ser muito solicitadas nos dias atuais.
Quase todos os oráculos, independente de sua origem cultural, tendem ao aspecto
religioso, sugerindo sempre uma prática ritualística de caráter muito mais místico do que
cientifico.
No Brasil, o sistema divinatório mais amplamente divulgado, aceito e praticado, é o
popularmente denominado “Jogo de Búzios”, que tem suas origens nas religiões africanas,
mais especificamente no culto de Orunmilá, o Deus da Sabedoria e da Adivinhação.
Nossa cultura assimilou de forma notável os costumes oriundos do continente africano,
legados pelos escravos que, no decorrer de vários séculos, foram para aqui trazidos de forma
trágica e brutal.
A música, a culinária, a maneira de ser e de agir do brasileiro testemunham, de forma
inequívoca, esta influência, de que não poderia deixar de ser verificada também, na postura
de nosso povo diante das religiões, quando, independente de sua opção ou credo, adota
sempre uma atitude pautada no profundo misticismo.
Para o brasileiro, como para o africano, não cai uma folha de uma árvore sem que
para isto não haja uma pré determinação espiritual ou um motivo de fundo religioso.
As forças superiores são sempre solicitadas na solução dos problemas do quotidiano +
e, seja qual for a religião professada pelo indivíduo, a prática da magia é sempre adotada na
busca de suas soluções, mesmo que esta prática mágica seja velada ou mascarada com
outros nomes.
O presente trabalho configura-se como uma proposta essencialmente didática que por
isto mesmo, não assegura as pessoas não iniciadas o direito de acessar o oráculo, garantido-
lhes, isto sim, a possibilidade de conhecer a mecânica de seu funcionamento, sua
interpretação e a forma como pode apresentar soluções para os problemas que
diuturnamente apliquem as nossas existências.
Sentimo-nos na obrigação de esclarecer ainda que, o Jogo de Búzios como base
como todos os demais processos divinatórios, exige como pré requisito para que possa ser
acessado, algum tipo de iniciação por parte do adivinho, assim com a consagração dos
objetos concernentes a prática oracular
O Oráculo Divinatório de Ifá.
Denomina-se Oráculo Divinatório de Ifa, o sistema de adivinhação utilizado pelos
Babalawo, sacerdotes consagrados ao culto de Orunmila “O Deus da adivinhação e da
sabedoria”, considerado como a principal divindade do sistema religioso de culto aos Orishas.
O Babalawo (Pai que possui o segredo), é o sacerdote de maior importância dentro do
sistema em questão. Todos os procedimentos ritualísticos e iniciáticos dependem de sua
1
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
orientação e nada pode escapar de seu controle. Para absoluta segurança e garantia de sua
função o Babalawo dispõe de três formas distintas de acessar o Oráculo e, por intermédio
delas, interpretar os desejos e determinações das Divindades e de outros Seres Espirituais.
Estas diferentes formas são escolhidas pelo próprio Babalawo, de acordo com a importância
do evento a ser realizado, de sua gravidade e significado religioso.
O Jogo de Ikin ou o Grande Jogo.
Por sua importância e precisão o Jogo de Ikin é utilizado exclusivamente em
cerimônias de maior relevância e só pode ser acessado pelos Babalawo, sendo direito
exclusivo desta casta sacerdotal.
Compõe-se de vinte e uma nozes de dendezeiro, que são manipuladas pelo adivinho,
de forma a proporcionarem o surgimento de figuras denominadas Odú, portadoras de
mensagem que devem ser codificadas e interpretadas para que sejam corretamente
transmitidas aos interessados.
Os Odú são portadores, de forma cifrada, dos conselhos, exigências e orientações dos
Seres Espirituais, determinam o tipo de sacrifício exigido e a que tipo de Entidade deverá ser
oferecido.
Os Ikin são selecionados e dos vinte e um, somente dezesseis são colocados na
palma da mão esquerda do advinho que, com a mão direita num golpe rápido, tenta retira-los
dali de uma só vez.
A Configuração do Odú é determinada de acordo com a quantidade de Ikin que
sobrem na sua mão esquerda. Se restarem duas nozes, o advinho fará sobre o seu Opon
(tabuleiro de madeira recoberto de um pó sagrado conhecido como yerosun), um sinal
simples, pressionando com o dedo médio da mão direita, o pó espalhado sobre a superfície
do tabuleiro. se ao contrario restar apenas uma noz o sinal será duplo e marcado com a
pressão simultânea dos dedos anular e médio.
Esta operação é repetida tantas vezes quantas forem necessárias para que se
obtenha duas figuras compostas, cada uma, de quatro sinais simples ou duplos, superpostos
verticalmente, o que proporcionará o surgimento de duas colunas, inscritas da direita para a
esquerda, uma ao lado da outra.
Se na tentativa de pegar os Ikin, sobrarem mais de dois ou nenhum, a jogada é nula e
deve ser repetida.
As duas figuras surgidas desta operação indicarão o signo ou Odú que estará regendo
a questão, apresentando-se como responsável por sua solução, más outros deverão ser
“sacados” para o completo desenvolvimento da consulta.
Todo este procedimento é revestido de um verdadeiro ritual e cada figura surgida é
inscrita no tabuleiro, é saudada com cânticos e rezas específicos, que tem por finalidade
garantir sua fixação e proteção assim como ressaltar o respeito com que são tratadas.
Por sua complexidade, o Jogo de Ikin exigiria, para ser descrito integralmente, uma
obra composta de muitas e muitas páginas, como por exemplo o magnifico trabalho de
Bernard Maupil, “La Geomancie a I’ancienne Cote des Eclaves”, que versa sobre o tema com
excepcional propriedade.
Para melhor compreensão, apresentamos as representações indiciais dos 16
(dezesseis) Odú Meji ou figuras principais do sistema oracular, adotando para isto a ordem de
chegada aceita pelos Babalawo nigerianos.
1 - Eji Ogbe II
II
II
I I
2 - Oyeku MejiI II I
I II I
I II I
I II I
2
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
3 - Iwori MejiI II I
I I
I I
I II I
4 -Odi Meji I I
I II I
I I I I
I I
5 -Irosun Meji I I
I I
I II I
I II I
6 -Oworin Meji I II I
I II I
I I
I I
7 -Obara Meji I I
I II I
I II I
I I I I
8 -Okanran Meji I II I
I II I
I II I
I I
9 - Ogunda Meji I I
I I
I I
I II I
10 - Osa Meji I II I
I I
I I
I I
11 - Ika Meji I I I I
I I
I II I
I II I
12 - Oturukpon Meji I II I
I II I
I I
3
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
I II I
13 -Otura Meji I I
I II I
I I
I I
14 - Irete Meji I I
I I
I II I
I I
15 - Ose Meji I I
I II I
I I
I II I
16 - Ofun Meji I II I
I I
I II I
I I
O JOGO DE OPELE
O Jogo do Okpele obedece a mesma ritualistica exigida pelos Ikin, sendo como este,
exclusividade dos Babalawo. Trata-se no entanto de um processo mais rápido, já que um
único lançamento do rosário divinatório proporciona o surgimento de duas figuras que
combinadas formam um Odu.
O colar ou rosário aqui usado, é formado por uma corrente de qualquer metal, onde
são presas oito favas, conchas, ou quaisquer objetos de forma e tamanhos idênticos, que
possuam um lado côncavo e outro convexo, que irão possibilitar de acordo com suas
disposições em cada lançamento a “leitura” do Odu que se apresenta.
Existem correntes confeccionadas com pedaços de marfim, pedaços de osso, cascas
de coco, etc., sendo que a preferência da maioria dos Babalawo, recai sobre um determinado
tipo de semente natural da África Ocidental, conhecida como “fava de Okpele” que por sua
forma, adapta-se perfeitamente as necessidades do rosário divinatório de Ifá.
As favas ou outros materiais utilizados para este fim, são presas pelas extremidades a
corrente, mantendo entre si uma distância sempre igual. com exceção das quartas e quintas
favas, que guardam entre si, uma distância um pouco maior do que a que separa as demais,
o que torna possível a sua manipulação por parte de advinhos.
Na hora do lançamento, a corrente é segura neste exato local pelos dedos indicador e
polegar da mão direita, suas pontas pendentes são batidas de leve sobre o solo, o que
permite que suas favas se agitem livremente, balançadas algumas vezes e lançadas com as
pontas voltadas pra o advinho.
Cada “perna” da corrente contendo quatro favas, apresenta uma figura considerando-
se as fechadas como um sinal duplo e as abertas como um sinal simples, que deverão ser
transcritos para a superfície do tabuleiro Opon Ifá.
Todo o procedimento é idêntico ao do Jogo de Ikin, as figuras são inscritas no Opon,
saudadas interpretadas e decodificadas pelo Babalawo. As rezas e cânticos são os mesmos,
só o processo de apuração é diferente.
MERINDILOGUN - O JOGO DE 4 BÚZIOS.
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
O Jogo de Búzios ou Merindilogun, tornou-se no Brasil, o sistema oracular mais
amplamente aceito e difundido. Raros são os indivíduos residentes em nossa terra que nunca
tenha recorrido aos seus serviços quer seja por simples curiosidade, que seja por real
necessidade.
A preferência do brasileiro por este sistema verifica-se, provavelmente pela
inexistência de Babalawo no Brasil, o que torna absolutamente impossível o acesso aos dois
processos adivinhatórios anteriormente descritos, enquanto que os búzios podem ser jogados
por qualquer um que seja iniciado no culto dos Orishás, independente de cargo, grau ou
hierarquia.
É Eshú quem através dos búzios, intermedía a comunicação entre os homens e os
habitantes dos mundos espirituais, levando os pedidos e trazendo os conselhos e
orientações, os recados e as exigências.
Uma outra vantagem que o jogo de búzios apresenta sobre os outros sistemas
oraculares existentes em nossa terra é o fato de não somente diagnosticar o problema, como
também apresentar a solução através de um procedimento mágico denominado ebó.
Nossa proposta é descrever minuciosamente a técnica e a magia do verdadeiro jogo
de búzios, na forma exata como é praticada pelos advinhos africanos e se fizermos uma
ligeira referência sobre os demais processos divinatórios(Ikin e Okpele), foi com o objetivo de
ressaltar a sua maior importância e esclarecer que aqueles procedimentos não podem nem
devem ser acessados por pessoas não iniciadas no culto de Orunmila, sendo sua prática
terminantemente proibida a pessoas do sexo feminino, assim como a todos os que pratiquem
o homossexualismo.
Necessária se faz uma explicação sobre a principal chave do sistema divinatório objeto
de nossos estudos, as figuras ou signos denominados Odú, portadoras das revelações e
mensagens que tornam possível a existência do Oráculo assim como sua coerência.
O que é Odú? - Qual a sua relação com o sistema divinatório e com o ser humano? -
Não faz muito tempo, o tema era considerado segredo e o termo Odú, assim como o nome
das dezesseis figuras eram considerados tabu. A simples menção de um destes nomes na
presença de iniciados de alta hierarquia era dita e havida como falta de respeito, como um
verdadeiro sacrilégio. Esta postura radical concorreu para que a maior parte do conhecimento
sobre o tema desaparecesse através dos anos, na medida em que aqueles que o detinham,
negavam-se a transmiti-lo, levando para a sepultura o que lhes havia sido legado por seus
antepassados, colocando desta forma, para o efetivo esclarecimento de subsídios
fundamentais e indispensáveis ao correto procedimento oracular.
Na década de 80, o Brasil formalizou um contrato de intercâmbio cultural com a
Nigéria, o que possibilitou a vinda de inúmeros estudantes nigerianos para nosso país. Este
grupo relativamente numeroso, foi dividido entre as cidades do Rio de Janeiro e de São
Paulo, onde passaram a fazer parte das diversas faculdades para nelas cursarem diferentes
cadeiras de nível superior. Ocorreu então um fenômeno muito interessante. Aqueles jovens,
quase todos de formação evangélica, ao sentirem o interesse dos brasileiros pela religião
original de sua terra, vislumbraram ai a possibilidade de auferir algum lucro e sem o menor
escrúpulo, passaram a divulgar os conhecimentos que trataram de adquirir através de livros
especializados e publicados em Yoruba.
O retorno financeiro era rápido e substancial e a avidez dos menos escrupulosos
levou-os de proceder iniciações e até mesmo de formar grupos de Babalawo, abusando de
forma vil da boa fé e do espirito hospitaleiro de nossa gente.
Isto provocou a divulgação desordenada e pior que isto, deformada do significado dos
Odu de Ifá e a partir de então, antigos manuscritos pertencentes a tradicionais famílias
sacerdotais, caíram de forma espúria nas mão de pessoas nem sempre bem intencionadas,
que deram a eles o uso e a interpretação que melhor convinha aos seus interesses pessoais,
uma vez que lhes faltava o subsidio essencial para a prática oracular que é a interação com o
sagrado, só obtida através da iniciação e do ritual.
Independente de todo o malefício que os jovens estudantes africanos nos trouxeram,
não seria justo que omitíssemos os muitos benefícios que também foram por eles prestados à
nossa religião. Alguns poucos, dentre estes estudantes, pertenciam a famílias que praticam
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
ainda hoje o culto aos Orishas e foram estes que assustados com a atitude desrespeitosa de
seus colegas procuraram colaborar através de esclarecimentos, para um melhor
direcionamento de nossas práticas, através de cursos de idioma Yoruba e da tradução de itan,
ese e oriki, que foram a estrutura de nossa religião e onde estão contidos quase sempre de
forma alegórica, os seus originais fundamentos.
Odu tornou-se, a partir de então, assunto corriqueiro, cada um quer saber mais do que
o outro, mas a grande maioria carece de esclarecimentos e subsídios suficientemente sólidos
para que possam declarar-se, como ousam fazer, profundos conhecedores do assunto.
Trata-se na verdade de uma abstração muitíssimo complexa de difícil compreensão,
desprovida de individualidade, podendo ser vista ora como determinante de um
acontecimento, de uma situação eventual, ora como um caminho, um acesso, um canal de
comunicação ou um carma individual ou coletivo.
Os Odu de Ifá são divididos em duas categorias distintas, a saber:
Os Odu Meji (duplo ou repetidos duas vezes). São em números de dezesseis e compõem a
base do sistema, sendo por isto conhecido também como Odu Principais.
Os Omo Odu ou Amolu, resultado da combinação dos 16 Meji entre si, o que proporciona a
possibilidade de surgimento de 240 figuras compostas ou combinadas que somadas aos
dezesseis principais totalizam o numero de 256 figuras oraculares.
Para melhor compreensão, apresentamos algumas figuras combinadas para que se possa
visualizar a diferença existente entre suas representações indiciais em comparação as 16
figuras anteriormente relacionadas:
Ogbebara: * *
* * *
* * *
* * *Interpretação de Ogbe com Obara.
Oshetura: * *
* ** *
* *
* * *Interpretação de Oshe com Otura.
Odisa: ** *
* * *
* * *
* * Interpretação de Odi com Osa.
Ogbeyuno * *
* *
* *
* * *Interpretação de Ogbe com Ogundá
Examinados os exemplos apresentados, podemos observar que os signos são
inscritos e lidos da direita para a esquerda, ao contrário da maneira ocidental de ler e escrever
e de acordo com o costume árabe de cuja cultura é originário este Oráculo.
Somente os Jogos de Ikin e de Okpele permitem acessar os 256 Odu que totalizam as
possibilidades de revelação do sistema. O merindilogun se reporta somente a interpretação
dos 16 Meji, pois cada lançamento condiciona-se ao surgimento de um Odu Meji,
impossibilitando o encontro e conseqüente combinação entre eles.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Para melhor compreensão desta limitação, cabe-nos explicar que nos demais
processos, os Odu são inscritos no Opon, consecutivamente, para que possam ser invocados
combinados, o que torna-se impossível numa caída de Búzios onde cada Odu se apresenta
individualmente de acordo com o número de búzios abertos.
Segundo uma lenda de Ifá, o acesso a adivinhação não era permitido as mulheres,
numa época em que só se conheciam os jogos de Ikin e de Okpele. Instigados por Oshun,
Eshú Elegbara, assistente direto de Orunmila, apoderou-se do segredo dos 16 Meji,
revelando-o a Oshun para que pudesse advinhar através dos búzios. Em pagamento, Eshú
exigiu que todos os sacrifícios determinados pelo Oráculo fossem a partir de então, entregues
a ele, até mesmo os destinados aos outros Orishas, dos quais retira sempre para si, uma boa
parte.
Ao contrário do que muitos pensam, todos os Odu de Ifá são portadores de coisas
boas e de coisas ruins, o que nos leva a concluir que não existem Odu positivos ou negativos.
Esta acertiva faz com que se complique ainda mais a adivinhação, na medida em que o
advinho tem que interpretar se a mensagem trazida pelo Odu que se faz presente é boa ou
ruim. Existem algumas figuras que são na maioria das vezes portadoras de boas notícias mas
que podem também prenunciar coisas terríveis, acontecimentos nefastos, loucura miséria e
morte.
A ignorância deste fato tem proporcionado grandes absurdos, como o costume de se
“assentar” este ou aquele Odu considerado benfazejo e despachar outros considerados
malfazejos.
Destes costumes surgiu o que se convencionou chamar “Obaramania”, procedimento
através do que todos devem “agradar” Obara Meji, para garantir seus benefícios e
“despachar” Odi Meji, evitando ser atingido por sua carga de negatividade.
A verdade é que nenhum dos signos de Ifá podem ou devem ser assentados,
agradados ou despachados, uma vez que são determinantes de procedimentos ritualisticos,
portadores de conselhos e orientações relativas ao comportamento de cada indivíduo,
indicadores de remédios e de sacrifícios que sempre são oferecidos a Elegbara, em sua
honra ou para que seja por ele conduzido e entre as demais Entidades Espirituais de todas as
classes e hierarquias.
É indispensável portanto a qualquer pessoa que pretenda jogar búzios, um
conhecimento no mínimo razoável dos 16 Odu Meji, seus significados, suas características,
suas recomendações e interdições, os tipos de bênçãos ou de maus augúrios dos quais
podem ser portadores, com quais Orixá e demais entidades podem estar relacionados, os
tipos de sacrifícios que determinam, etc.
Como vemos, trata-se de uma tarefa que por sua importância e responsabilidade
exige, além da iniciação especifica, muita dedicação, muito sacrifício e principalmente, muitas
e muitas horas de estudo.
Para deixar ainda mais evidente a impossibilidade de acesso dos 256 Odu que
compõem o Oráculo, devemos observar que aqueles que integram o jogo de búzios possuem,
em grande parte, nomes diferentes dos utilizados no Ikin ou Okpele, como se pode observar
na relação que se segue:
Okanran Meji 01 búzio aberto - Correspondente a Okanran Meji-8
EjiokoMeji 02 búzios abertos - Correspondente a Oturukpon Meji -12
Etaogunda Meji 03 búzios abertos - Correspondente a Ogunda Meji-9
Irosun Meji 04 búzios abertos - Correspondente a Irosun Meji-5
Oshe Meji 05 búzios abertos - Correspondente a Oshe Meji- 15
Obara Meji 06 búzios abertos - Correspondente a Obara Meji- 7
Odi Meji 07 búzios abertos - Correspondente a Odi Meji-4
Ejionile Meji 08 búzios abertos - Correspondente a Eji Ogbe- 1
Osa Meji 09 búzios abertos - Correspondente a Osa Meji-10
Ofun Meji 10 búzios abertos - Correspondente a Ofun Meji- 16
Owonrin Meji 11 búzios abertos - Correspondente a Owonrin Meji-6
EjilasheboraMeji 12 búzios abertos - Correspondente a Iwori Meji-3
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Ejiologbon Meji 13 búzios abertos - Correspondente a Oyeku Meji-2
Ika Meji 14 búzios abertos - Correspondente a Ika Meji-11
Obeogunda Meji 15 búzios abertos - Correspondente a Irete Meji-14
Alafia Onan 16 búzios abertos - Correspondente a Otura Meji-13
Opira00 búzios abertos determina fechamento do jogo.
A TÉCNICA DO JOGO
Acima de qualquer outra coisa, o jogo de Búzios exige um ritual diário que objetiva
assegurar bons resultados nas consultas.
Todos os dias ao despertar, o advinho tem que proceder ao ritual de “abrir o Jogo” o
que exige a recitação de rezas apropriadas, denominadas “mojuba”, por intermédio das quais
Orunmila, os Orishas, os Ancestrais, os Elementos da Natureza e outras entidades são
reverenciadas e convidados a participarem do Jogo, permitindo que este seja afetuado sob
seus auspícios e proteção.
Após seu banho matinal indispensável e sem que tenha dirigido uma só palavra a
qualquer pessoa, o advinho dirige-se ao aposento onde pratica a adivinhação e ali dá
iniciação ao ritual que deverá seguir a seguinte ordem:
Coloca um copo com água limpa e fresca a direita de sua mesa, peneira ou esteira de jogo.
Acenda uma vela a esquerda.
Coloca seus búzios e demais objetos que compõem o jogo no centro do ate.
Dispõe de cinco símbolos indicadores da natureza da consulta na posição Ire. Os símbolos e
suas disposições serão explicados mais adiante.
Coloca entre as duas mãos espalmadas os 21 Búzios que compõem seu jogo.
Reza o Mojuba do jogo.
Repões no centro de sua mesa os 16 Búzios selecionados para as consultas do dia, podendo
a partir dai, proceder a primeira consulta ou tomar seu desjejum.
A MOJUBA
Com os 21 Búzios entre as mãos o advinho diz:
Ifá ji o Orunmila!
Bi olo loko, ki o wa le o!
Bi olo odo, ki o wa le o!
Bi olo lode, ki o la le o!
Em seguida segura todos os Búzios na mão esquerda e recita:
Mo fi ese re te le bayi! (bate o pé esquerdo no chão).
Passa os Búzios para a mão direita e recita:
Mo fi ese re te ori eni bayi,
Mo gbe oka l’ori ate Fa,
Ki o le gbe mi ka l’ori ate Fa titi lai! (bate o pé direito no chão).
Deposita os Búzios no centro do ate e com os dedos médio e anular, traça um circulo no
sentido anti-horário, em redor dos Búzios e diz:
Mo ko le yi o ka,
Ki o le ko le yi mi ka,
Ki o le jeki owo yi mi ka!
Ki o le jeki owo yi mi ka!
Com os mesmos dedos traça um circulo em sentido contrário e diz:
Mo juba o!
Mo juba o!
Iba shé!
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Iba shé!
Iba!
Em seguida, salpicando água no solo, diz:
Ile mo juba - iba ashé
Traçando uma linha que vai de seu corpo aos búzios:
Mo la ona fun o tororo!
Ki o le jeki owo to ona yi wa sodo mi!
Novamente salpicando água no solo diz:
Mo shé ile bayi!
Salpicando água sobre a peneira diz:
Mo she ate bayi!
Pegando todos os Búzios entre as mãos recita:
A gun shé o, a gun she!
Bi akoko g’ori igui a she!
A gun she o, a gun shé!
Bi agbe ji a ma shé!
A gun shé o, a gun shé!
Bi aluko ji a ma shé!
A gun shé o, a gun shé
Elegbara, iba o!
Ogun shé!
Oshun a ma shé!
Shango iba e o, iba!
Obatala a ma shé!
Bogbo Osha a ma shé!
Oba Aiye, ati Oba Orun, Iba yin o!
Ile iba e o!
Orunmilá Ború!
Orunmilá Boiyé!
Orunmilá Bosise!
Adupe o!
Recoloca todos os Búzios no centro do ate e diz:
A tun ka li ashiwere ika owo re!
Com a mão direita, vai pegando um Búzio de cada vez e depositando na mão esquerda. Para
cada Búzio vai falando:
Búzio: Iba Oluwo!
Búzio: Iba Ojugbona!
Búzio: A ko en li Fa,
Búzio: A te ni l’ere,
Búzio: A Ko bayi,
Búzio: A te bayi,
Búzio: A shé bayi!
Búzio: Iba kukubole
Búzio: Iba Oba,
Búzio: Iba Oyinbo!
Búzio: Iba Olopa!
Búzio: Iba ejo!
Búzio: Iba ofo!
9
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Búzio: Iba ayalu igui!
Búzio: Iba ibon!
Búzios Iba okuta!
Depositando as 16 búzios recolhidos no meio do ate e vai separando o restante para um lado
dizendo:
Búzio: Iba Ibaju!
Búzio: Iba efin!
Búzio: Iba loko!
Búzio: Iba lodo!
Búzio: Iba lodan!
Estes 5 últimos búzios separados, são cobertos com metade de uma cabacinha e com eles
dentro da cabaça, se diz:
Oro kan sho ko si awo n’ile; (girando a cabaça no sentido anti-horário).
Oro kan sho ko si n’ile! (girando a cabaça no sentido inverso).
TRADUÇÃO DA MOJUBA:
Ifá eu te invoco, óh Orunmilá!
Se você foi para a fazenda, volte para casa!
Se você foi ao rio, volte para casa!
Se você foi caçar, volte para casa!
Eu seguro o seu pé esquerdo e bato o meu com força no solo!
Seguro o seu pé direito e bato o meu com força no solo!
Eu o convido para sentar-se na esteira para que você permita que eu me sente nela para
sempre!
Eu o convido para ficar na bandeja, para que você me permita ficar sempre nela!
Eu construo uma casa ao seu redor, para que possa construir uma casa ao meu redor! Só
você pode colocar muitos filhos em minha vida! Só você pode colocar muito dinheiro ao meu
alcance!
Eu te reverencio! Eu te reverencio!
Terra, eu te presto homenagem!
Eu abro um caminho através do qual a revelação virá a mim!
Só tu podes permitir que, através deste caminho, o dinheiro chegue as minhas mãos!
Eu refresco a terra!
Eu refresco a peneira!
Enquanto o Akoko for maior entre as árvores!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Enquanto a agbé me der permissão!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Enquanto o aluko me der permissão!
Subir e permanecer! Subir e permanecer!
Salve Elegbara!
Ogun me de permissão!
Oshun me de permissão!
Salve Shango! Salve!
Obatala me de permissão!
Que todos os Orisha me deem permissão!
Reis da Terra e Reis dos Céus, minhas reverências!
Terra, eu te presto homenagens!
Orunmilá, indique o ebó!
Orunmila receba o ebó!
Orunmila aceite o ebó!
Eu agradeço!
Eu conto e reconto como um homem avaro reconta sempre o seu dinheiro!
10
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Salve o meu Oluwo!
Salve meu Ojugbona!
E todos os que oferecem sacrifícios a Ifá!
E todos os que propagam o seu nome!
E todos os advinhos que recorrem ao seu oráculo!
E todos os que utilizam suas marcas!
E todos os que reconhecem seu poder!
Salve as formigas da montanha!
Salve os Reis!
Salve os homens brancos!
Salve a policia!
Salve os casos de justiça!
Salve as perdas
Salve as folhas dos arvoredos!
Salve os metais
Salve as pedras!
Salve as pancadas!
Salve a fumaça!
Salve as matas!
Salve os rios!
Salve os campos!
Uma só palavra pronunciada não pode colocar um advinho dentro de casa:
Uma só palavra omitida não pode colocar um advinho fora de casa!
ATENDIMENTO AO CONSULENTE
Cada pessoa que procura um jogo de búzios ou qualquer outro oráculo, é motivado
por algum tipo de problema que a aflige e tira a sua tranqüilidade.
A função do advinho é, através do Oráculo, contactar o problema, disseca-lo e
apresentar soluções para o mesmo.
Para que isto possa ocorrer com absoluta segurança, é indispensável que exista um
clima propicio de concentração e religiosidade total, não se podendo esquecer que as
entidades invocadas durante a Mojuba estão presentes, assistindo e emprestando auxílio ao
advinho ao mesmo tempo em que testemunham seu procedimento, a sinceridade com que
passa as informações obtidas através do jogo, assim como o respeito pela condição do
consulente que, pelo simples fato de estar presente a consulta, demonstra uma confiança que
não pode nem deve ser traída, sem que isto implique em severas penas e punições para o
advinho.
É indispensável que os Guias Protetores do consulente e principalmente seu Olori,
concedam permissão para que seus segredos sejam exteriorizados, para que sua intimidade
seja invadida e vasculhada.
A obtenção desta permissão é solicitada através de um procedimento simples e rápido
más indispensável e que deve ser repetido para cada cliente.
Pegando entre as mãos, ou somente na direita, os 16 búzios selecionados para as
consultas do dia, o advinho vai tocando leve e rapidamente determinados pontos do corpo do
consulente, com a mão onde estão encerrados os búzios e vai rezando um deste pontos, da
forma que se segue:
Tocando o alto da cabeça diz: Ago leri.
Tocando o centro da testa diz: Ka jeri be burú.
Tocando a garganta diz: Ala koko tutu.
Tocando a nuca diz: Eshú ni pa ko.
Tocando o ombro direito diz: Kele opá otun.
Tocando o ombro esquerdo diz: Kele opá osi.
Tocando o centro do peito diz: Elese keta burunuku.
11
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Tocando o joelho direito diz: Elesentele.
Tocando o joelho esquerdo diz: Elesentele ka ma fa sete.
Tocando o peito do pé direito diz: Ikan burukú.
Tocando o peito do pé esquerdo diz: Ikan burukú lode.
Tocando as costas da mão direita diz: Lo wa ri ku.
Tocando as costas da mão esquerda diz: Lo wa ri ku Baba wa.
Em seguida, coloca os búzios nas mãos do consulente, para que segrede a eles seus
pedidos, avisando-lhes de que nada de mau pode ser pedido neste momento. Somente
coisas boas e acontecimentos felizes podem ser invocados.
Isto feito, o advinho recolhe os búzios e esfregando-os entre as mãos, direciona-os para:
o alto e diz: Ati Orun!
O solo e diz: Ati Aye!
Para o lado direito e diz! Ati Lode!
Para o lado esquerdo e diz! Ati Kantari!
A primeira jogada é então efetuada e, ao lançar os búzios o advinho diz as seguintes
palavras: Oshá re o! (Esta frase deverá ser pronunciada todas as vezes que os búzios forem
lançados durante o decorrer de toda a consulta).
O ODU OPOLE.
A primeira jogada, ou primeira mão lançada, é a mais importante de cada consulta,
pois o ODU Opole (que está com os pés sobre o solo), ou seja, o Odu que se apresenta como
orientador, regente é responsável pela consulta que está sendo feita. Este Odu é anotado ou
memorizado, restando agora, que já se identificou através da contagem dos búzios abertos,
saber se é portador de um bom ou mau augúrio.
Para saber se o Odu Opole esta Ire (positivo, portador de coisas boas), ou se está
Osogbo (negativo, portador de acontecimentos nefastos), é utilizada a técnica conhecida
como “amarração do Igbo” que descrevemos em todos os seus detalhes e minúcias.
São quatro os tipos de Igbo utilizados como elementos de apoio ao advinho e que
fornecem uma segurança absoluta na medida em que respondem sim ou não às perguntas
formuladas no decorrer da consulta.
Igbo - Okuta - Uma pedra lisa, redonda e pequena, geralmente branca ou bem clara,
responde sim, Ire, afirmativo.
Igbo - Oju malu - Trata-se da nossa conhecida fava “olho-de-boi”, Responde não,
Osogbo negativo.
Igbo - Leri Adie - A parte superior do crânio de uma galinha que tenha sido sacrificada a
Esú Elegbara. Substitui o Okuta, assim que se descubra que o Odu Opole está Osogbo.
Como o elemento que substitui, responde sim, Ire, positivo.
Igbo - Aje - Pequeno caramujo do mar, de forma cônica e espiralada. Substitui o okuta
quando o Odu Opole estiver em Ire Aje, um bem relacionado a dinheiro. Responde sim,
Ire, afirmativo. Só participa do jogo se a mensagem for positiva e relacionada a dinheiro.
Para apurar se o Odu Opole está Ire ou Osogbo, o adivinho pega o Okuta, toca com
ele a testa do cliente e diz “Ire”! Na tentativa de obter uma resposta auspiciosa do Odu Opole.
E em seguida entrega o Okuta ao cliente dizendo:
“Okuta bonihem”.
Entrega também o Oju Malu e diz:
“Oju Malu be ko”.
Manda que o cliente sacuda os dois símbolos entre as mãos e que os separe
aleatoriamente, devendo ficar um em cada mão, sem que o advinho possa saber em que mão
se encontra este ou aquele.
Os búzios são novamente lançados por duas vezes consecutivas e os resultados
destas caídas, ou seja, os Odu que se apresentarem é que irão determinar quais das mãos
deverá ser aberta pelo consulente, observando-se para isto, a seguinte regra:
O primeiro lançamento corresponde a mão esquerda do consulente.
O segundo lançamento corresponde a mão direita.
12
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
O Odu mais velho, (menor número de búzios abertos), determina que mão deverá ser aberta.
Em caso de empate, a mão esquerda deverá ser aberta.
Se a mão escolhida encontrar-se o OKUTÁ, o Odu Opole esta IRE.
Se ao contrário, na mão escolhida estiver o OJU MALU, o Odu Opole esta OSOGBO e o Oju
Malu e imediatamente substituído pelo Leri Adie.
A cada lançamento a frase “OSHA RE O” é repetida.
Vamos exemplificar este procedimento descrevendo um jogo imaginário:
O cliente depois de devidamente mojubado, faz seus pedidos aos búzios que são
imediatamente devolvidos ao advinho que, após os procedimentos de praxe, lança a primeira
mão, ao mesmo tempo em que pronuncia a frase “Osha re o”.
Contados os búzios abertos, verifica-se que o Odu Opole é Oshe com 5 Búzios abertos.
O advinho pega o Okuta, toca de leve a testa do consulente pedindo Ire.
Entrega o Okuta ao cliente dizendo: “Okuta bonihem”.
Entrega o Oju Malu e diz: “Oju Malu beko”.
Solicita que o cliente agite os dois Igbo entre as mãos e que os separe aleatoriamente em
cada mão, que deverão ser mantidas fechadas para que o advinho não possa saber em qual
delas se encontra este ou aquele Igbo.
Faz outro lançamento que corresponde a mão esquerda do cliente. Verificando o surgimento
de Obará Meji com 6 búzios abertos.
Mais um lançamento e desta vez apresenta-se Odi Meji, representado por 7 búzios abertos.
Como o Odu da jogada que corresponde a mão esquerda do cliente é considerado mais velho
identifica-se através de um menor número de búzios abertos, o advinho solicita que o cliente
abra a mão esquerda.
Aberta a mão esquerda, verifica-se que o Igbo que ali se encontra é o Oju Malu, o que revela
que o Odu Opole (no caso Oshe Meji), está Osogbo, ou seja, é portador de alguma coisa
ruim, negativa, maléfica.
O Okuta é imediatamente substituído pelo Leri Adie que deverá permanecer até o final da
consulta.
A ORIGEM DO PROBLEMA.
Agora que já conhecemos o Odu Opole e que já sabemos se é portador de uma
benção (Ire) ou de um malefício (Osogbo), precisamos conhecer a natureza do problema que
trouxe o consulente até nossa presença e a presença de Ifá. Para isto, dispomos de outros
cinco símbolos que servem para indicar que tipo de Ire ou de Osogbo esta sendo prenunciado
pelo Odu Opole.
Estes símbolos devem estar sempre presentes na mesa de jogo e na disposição
relativa a Ire, só mudando para a disposição de Osogbo após verificarmos que o Odu
Opole esta Osogbo.
OS SÍMBOLOS DE ORIENTAÇÃO, SEUS SIGNIFICADOS E DISPOSIÇÕES.
Os símbolos utilizados para a identificação do problema são cinco, a saber:
Okuta Keke - (Pedra pequena).
Igbi - (ponta da casca da lesma consagrada aos Orixás Funfun).
Cawri Meji - (dois búzios abertos e unidos de forma que as frestas naturais fiquem
viradas para fora).
Egun - (pedaço de osso de um animal que tenha sido sacrificado a Eshú Elegbara,
pedaços de vértebras sãos os mais usados).
Apadi - (caco de porcelana de qualquer objeto deste material).
Os símbolos devem permanecer sempre na disposição Ire, que é a seguinte (da direita para a
esquerda):
(5)(4)(3)(2)(1)
ApadiEgunIgbiCawriokuta
13
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
: : : :
:
Ire ishekun Ire omo Ire aiya
Ire aje Ire aiku
: : ou oko :
:
:
vitória sobre descendentes cônjuge
dinheiro não ver a
inimigos filhos
morte
A DISPOSIÇÃO DOS SÍMBOLOS EM OSOGBO
Logo que verifique que o Odu Opole está Osogbo de acordo com o surgimento do Oju
Malu na primeira amarração do Igbo, o advinho, depois de substituir o Okuta pelo Leri Adie,
troca a disposição dos símbolos, que em Osogbo, são arrumados, sempre da direita para a
esquerda, da
forma que se segue:
(5)(4)(3)(2)(1)
ApadiCawriOkutaIgbiEgun
: : : : :
Osogbo Osogbo Osogbo
Osogbo Osogbo
ofu. aje. ija. arun. iku.
: : : : :
Perdas. Falta de dinheiro Problemas judiciais
Doenças. Morte
necessidades. brigas, confusões.
Como podemos verificar, não é só a disposição dos símbolos que muda, seus
significados também variam quando o Odu Opole está em Osogbo.
A ESCOLHA DO SÍMBOLO DETERMINANTE DA ORIGEM DA CONSULTA
Para que possamos saber que tipo de problema aflige nosso consulente, recorremos
ao auxílio dos cinco símbolos anteriormente descritos e é o próprio jogo que irá eleger o
símbolo, indicando assim, qual o problema do consulente
O procedimento é simples e constitui-se em cinco lançamentos dos búzios, um para
cada símbolo, começando do primeiro situado à direita e seguindo em direção à esquerda até
o quinto e último símbolo.
Assim sendo, teremos em Osogbo, a seguinte seqüência de jogadas:
1 - jogada: Relativa ao símbolo Egun (osso)
2 - jogada: Relativa ao símbolo Igbi (casca do caracol)
3 - jogada: Relativa ao símbolo Okuta (pedra)
4 - jogada: Relativa ao símbolo Cawri (búzios)
5 - jogada: Relativa ao símbolo Apadi (caco de porcelana).
Para que se apure qual o símbolo determinado pelas cinco jogadas, devemos observar
a seguinte regra:
a - O Odu mais velho (menor número de búzios abertos), determina o símbolo.
b - Em caso de empate, é escolhido o símbolo que tenha sido indicado primeiro pelo Odu
mais velho.
c - O surgimento de Ofun Meji (10 búzios abertos) determina que o símbolo para o qual surgiu
e o escolhido, não havendo necessidade de se efetuar os lançamentos que faltem.
d - O surgimento de Eji Onile (8 búzios abertos) determina, da mesma forma que Ofun Meji, o
símbolo indicador do problema, não é necessário complementar os lançamentos que faltam.
Voltemos, então, ao nosso exemplo:
14
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Havíamos constatado, com o surgimento do Oju Malu não mão esquerda do cliente
que o Odu Opole (Oshe Meji) estava em Osogbo, agora depois de havermos efetuado os
cinco lançamentos correspondentes aos cinco símbolos, anotamos o surgimento dos
seguintes Odu:
(Posição Osogbo)
1 símbolo = Egun - Osa Meji (9 búzios abertos).
2 símbolo = Igbi - Odi Meji(7 búzios abertos).
3 símbolo = Okuta - Eji Oko(2 búzios abertos).
4 símbolo = Cawri - Oshe Meji(5 búzios abertos).
5 símbolo = Apadi - Obara Meji(6 búzios abertos).
Efetuados os cinco lançamentos conforme o gráfico acima, pode-se verificar que o
Odu mais velho surgido nesta seqüência é Eji Oko, respondendo na 3a. mão, referente ao
okuta, do que apuramos que o consulente está envolvido em algum tipo de confusão e agora,
pela técnica da amarração do Igbo, poderemos verificar de que tipo de confusão se trata,
perguntando se é problema de justiça, envolvimento com polícia, briga em família, briga de
rua, etc. É neste momento que o conhecimento das mensagens do Odu Opolé (no caso Oshe
Meji é de grande valia para um melhor encaminhamento da consulta).
Jogadas duplas com amarração do Igbo, são efetuadas até que se tenha certeza de
que o Osogbo ija é referente por exemplo, à uma questão de justiça que se configura de
forma desfavorável para o nosso consulente. Sua derrota é iminente e os resultados serão
muito desfavoráveis.
Amarra-se novamente o Igbo para saber se existe um meio de amenizar o problema,
se a resposta for não, deve ser transmitida ao cliente: se for sim, pergunta-se a Elegbara se
basta um dos ebó especificados de Oshe Meji: se a resposta for sim, prescreve-se o ebó e
pergunta-se a Eshú se isto basta. Se ao contrário a resposta for não, pergunta-se a Eshú se
que algum sacrifício animal, que tipo de sacrifício deseja (começa-se sempre a oferecer o
mais simples e menos dispendioso, levando-se em consideração que Elegbara aceita os mais
diversos tipos de sacrifícios animais, desde um simples peixe, um pinto, ou uma codorna, até
um boi ou outro animal de grande porte).
Terminada a negociação com Elegbara, pergunta-se se o sacrifício a ele oferecido é
bastante para solucionar o problema. Em caso de resposta afirmativa, encerra-se o jogo. Se a
resposta for não, devemos novamente recorrer aos símbolos auxiliadores, para saber desta
vez, quem além de Elegbara, pode agir favoravelmente, se é possível modificar o que esta
sendo preconizado e o que deverá ser providenciado a nível de sacrifício e oferenda para que
o resultado passe a ser favorável.
Os símbolos são reagrupados em nova ordem para que nos indiquem agora, se é
Egun, Orixá, Ebora, Orunmilá ou o próprio Ipori do cliente quem deverá receber o sacrifício
para assegurar um final feliz para a questão.
Neste caso, os significados dos símbolos passam a ser os seguintes:
Egun ... a solução do problema será confiada a um Egun, que tanto pode ser Baba
Egun, como um ancestral familiar do consulente, um Guia Espiritual como Caboclo, Preto
Velho, Eshú ou Pomba Gira de Umbanda, etc...
Igbi...significa que é orixá Funfun quem se encarrega da solução.
Cawri...significa que Orunmilá se encarrega do problema.
Okuta...significa que quem se encarrega de resolver o problema é um Ebora.
Apadi...significa que é o próprio Ipori do consulente quem vai se encarregar do
problema.
Como nas ocasiões em que se apura o tipo de Ire ou o tipo de Oshobo, lança-se então
os búzios por cinco vezes consecutivas, uma para cada símbolo. A regra de apuração é a
mesma, ou seja, o Odu com menor número de búzios abertos determina o símbolo escolhido.
Em caso de empate ganha o símbolo em que o Odu surgir primeiro. O surgimento de Ofun
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Meji ou Eji Onile representa ser, o símbolo para o qual tenham saído o elemento. A pesquisa
para aqui.
Imaginemos uma situação em que o adivinho tenta apurar que entidade se
encarregará de resolver uma determinada situação vislumbrada no decorrer de uma consulta:
Joga para o 1o. símbolo - (Egun) cai Obara Meji (6 búzios abertos).
Joga para o 2o. símbolo - (Igbi) cai Odi Meji (7 búzios abertos).
Joga para o 3o. símbolo - (Cawri) cai Oshe Meji (5 búzios abertos).
Joga para o 4o. símbolo - (Okuta) cai Eta Ogunda (3 búzios abertos).
O Odu com menor número de búzios abertos na seqüência de jogadas descritas, é Eta
Ogunda, com 3 búzios abertos. No caso, este Odu surgiu duas vezes (4a. e 5a., jogadas).
Segundo a regra anteriormente descrita, prevalece o símbolo para o qual este Odu
surgiu primeiro, concluindo-se então que o símbolo eleito seja o Okuta.
De posse desta informação, o adivinho sabe que quem se encarrega de solucionar o
problema é um Ebora, restando saber qual Ebora.
Ebora, como todos sabemos, são os nossos Orishas, que por este nome, diferenciam-
se dos denominados Funfun:
A diferença é fundamental e está relacionada ao diferente posicionamento hierárquico
entre estas e aquelas divindades.
Orisha - Funfun ou Orishas Brancos são aqueles que participaram da Kosmogeneses,
ou seja, da elaboração de todo o universo. Segundo os ensinamentos de Ifá são inumeráveis
e citamos dentre eles, alguns mais conhecidos entre nós, como Oshalufan, Oshaguian, Baba
Ajala, Osha Oko, Oduduwa, Obatala, Oban La, Osha Oke, Baba Elejugbe, etc...
Os Ebora são de hierarquia imediatamente inferior e teriam participado da criação do
nosso planeta, quiçás do nosso sistema planetário e dentre eles citamos apenas alguns,
como Ogun, Oshossi, Omolú, Shangô, Ossain, Ayra, Aganju, Logunedé, Oshumaré etc., todos
considerados masculinos e também Yemonja, Oshun, Oiya, Yewa, Oba, Nana, etc., estes
últimos portadores de características femininas.
Agora o adivinho terá que saber qual o Ebora que se apresenta em auxílio de seu
cliente, e para isto, terá que novamente recorrer a amarração, perguntando primeiro, se é
Ebora masculino. Se a respostas for sim, segue perguntando se é Ogun, se é Shangô, se é
Oshossi, etc., até que o Igbo forneça um sim como resposta. O mesmo ocorrerá se a resposta
for não, só que agora, as perguntas formuladas serão em relação as Iyabas, é Oshun? é
Oiya?, etc., até obter uma resposta afirmativa.
Identificado o Ebora - convencionemos que tenha sido Oshun, o adivinho procurará
saber o que deseja para resolver o problema e para isto, pergunta primeiro se Oshun quer
adimu (presente) ou agrado que se oferece à uma divindade e que não requer sacrifícios
animal.
Se Oshun aceitar, pesquisa, sempre amarrando o Igbo - qual o tipo de adimu. Se não,
pergunta se quer sacrifício animal (pombo? galinha?, cabra?, etc.), até se defina o tipo de
sacrifício exigido pela Iyaba.
Algumas vezes, a coisa se complica e por mais que se ofereça, o Ebora responde não.
Nestes casos é preciso perguntar se o Ebora em questão é Olori do consulente e se quer
feitura, obrigação, assentamento, etc.
Uma vez apurado o sacrifício e a quem deve ser destinado, o adivinho completa sobre
o que foi contactado no jogo e passada ao cliente, acrescida de conselhos e orientações
contidas nas mensagens, Itans e eses do Odu Opole.
O jogo de búzios deve sempre ser cobrado. Segundo um Itan, “quem provoca o ruído
produzido pela queda dos búzios, do Okpele ou dos Ikin, deve pagar por isto”. Se o cliente for
por demais desfavorecido pela sorte ou se esta atravessando uma fase de absoluta miséria,
deverá mesmo assim, colocar uma moeda, de valor insignificante, nos pés de Elegbara.
OS DIVERSOS TIPOS DE IRE E DE OSOBGO.
16
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Sabemos que cada símbolo utilizado na adivinhação é determinante de um tipo de Ire
ou de Osogbo e que tem um sentido genérico, funcionando como uma espécie de pista que
deverá ser trilhada até que a essência do problema seja trazida à superfície.
Tentaremos dissecar, de forma mais aprofundada, os significados de cada um dos
símbolos.
OS SÍMBOLOS EM IRE.
Okuta - Ire aiku ou ariku- Significa um bem que não vê a morte. Assegura que não haverá
morte, seja qual for o problema que a pessoa esta enfrentando. O consulente, embora esta
ou venha a estar em confronto com a morte, escapará com vida. Pode fazer referência a uma
doença, uma cirurgia, um acidente, uma ameaça pessoal, etc., assegurando, contudo, que a
pessoa não morrerá.
Cawri - Ire aje - Um bem que chega através ou em forma de dinheiro. Pode significar solução
de um problema financeiro, melhorias de posição econômica por diversos meios, como
aquisição de emprego, recebimento de herança, aumento de salário, obtenção de empréstimo
ou financiamento, ganhos em jogos, etc. Refere-se sempre a aquisição de recursos
pecuniários. Refere-se sempre a aquisição de recursos peculiares. (Todas as vezes que surgir
este tipo de Ire, o okuta utilizado na amarração do Igbo, deve ser substituído por um pequeno
caramujo aje, que será usado até o final da consulta. Este procedimento é indispensável e
exclusivo de Ire Aje).
Igbi - Ire Okunrin (para mulheres) ou Ire Obinrin (para homens) - Um bem que chega através
do cônjuge, noivo(a), namorado(a), amante, ou qualquer pessoa com qual o consulente se
relacione sexualmente. Pode anunciar reatamento de uma relação rompida, volta da pessoa
amada, conquista de um amor, ou um benefício de qualquer espécie adquirido por intermédio
desta pessoa.
Egun - Ire Omo - Um bem que chega através do(s) filho(s) - É prognóstico de alegria
adquiridas por intermédio dos filhos. Pode prenunciar o nascimento de um filho desejado; o
retorno de um filho pródigo; sucesso dos filhos em qualquer atividade que exerçam;
benefícios adquiridos por intermédio dos filhos.
Apadi - Ire ashekun ota - Um bem de vitória sobre os inimigos. Prenuncia qualquer tipo de
vitória em situações que envolvam disputas com outras pessoas. Fala de vitória judiciais,
concorrências comerciais, concursos, questões pessoais, brigas, etc.
OS SÍMBOLOS EM OSOGBO
Egun - Osogbo Iku - Pode significar a morte do consulente ou de alguém a ele ligado. É
indispensável que se pergunte quem está ameaçado de morte, se é o próprio cliente, se seu
cônjuge, pai, mãe, filho, etc. A evidência da morte é sempre assustadora, más este tipo de
preconização nem sempre é irremediável. É necessário que se apure o que deve ser feito,
para evitar o evento nefasto, se para isto houve consentimento.
Igbi - Osogbo Arun - Um mal relativo a doença. Se a pessoa não estiver doente ou se não
houver alguém de suas relações preso de alguma enfermidade, seguramente isto está
prestes a acontecer. Pode também prenunciar um acidente que resultará em seqüelas mais
ou menos graves. Cirurgias, internações hospitalares geradas nos mais diversos motivos, etc.
É necessário que se tenha uma compreensão bastante ampla deste Osogbo que pode por
vezes, ser visto como um benefício, principalmente quando se consulta para uma pessoa já
doente e consciente de seu mal. Neste caso, o Osogbo assegura a existência da enfermidade
mas não prenuncia morte em decorrência dela.
Okuta - Osogbo Ija ou Ejo - Anuncia qualquer tipo de confusão na qual o consulente se meteu
ou ira se meter. Fala de questões judiciais, envolvimento com policia, brigas em casa ou na
rua, falatórios desabonadores da honra, etc., sempre tendo o envolvimento do cliente e em
seu prejuízo.
Cawri - Osogbo Aje - Prenuncia toda a sorte de dificuldades financeiras, fala em miséria, falta
de recursos que supram as necessidades mais imediatas, absoluta falta de dinheiro agravada
pela ausência de meios para obte-lo. Este Osogbo traz uma mensagem inversa, mas
perfeitamente relacionada com o Ire Aje.
17
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Apadi - Osogbo Ofu - Fala principalmente em perdas que já ocorreram ou estão para
acontecer. É necessário aprofundar-se bastante na interpretação deste Osogbo, levando-se
em consideração que as perdas a que se refere nem sempre são patrimoniais ou financeiras,
podendo tratar-se de outros tipos de perdas como de amizades, cargos, empregos,
relacionamentos afetivos, oportunidades, vitalidade, energia física ou psíquica, etc...
SIGNIFICADOS E INTERPRETAÇÃO
OKANRAN MEJI
Okanran Meji é o primeiro Odu no jogo de búzios e corresponde ao 8º na ordem de
chegada no sistema de Ifá, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com um búzio aberto.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Aklan Meji” ou “Akãlã Meji”.
O significado do termo “Okanran” em Yoruba seria: “Uma só palavra” ou “A primeira
palavra é a boa” - (Okan o lan).
Sua representação indicial em Ifá é : * ** *
* ** *
* ** *
* *
que corresponde, na Geomância européia a figura denominada “tristitia”.
Okanran Meji é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Água, com
predominância do primeiro, o que indica a sensação de sufoco, vácuo, saturação e
estreitamento.
Corresponde ao ponto cardeal Noroeste, a carta numero 18 do Tarot (A Lua) e seu
valor numérico é o 15. Suas cores são o vermelho, o negro, o branco e o azul. É um Odu
feminino, representado esotericamente por dois perfis humanos enquadrados num retângulo,
numa referência inequívoca ao culto dos orixás Gêmeos (Ibeji).
Okanran Meji é o chefe dos gêmeos e simboliza o mistério que envolve a sua
existência. Segundo os ensinamentos de Orunmila, todos os gêmeos são gerados neste signo
e dependem dele e de sua influência.
A fala humana foi introduzida por este Odu e com ela todos os idiomas existentes. Por
este motivo, Okanran Meji é considerado o protetor da oratória.
As pessoas nascidas sob este signo não recebem qualquer reconhecimento por parte
de seus semelhantes, por mais que lhes façam o bem. Assegura invulnerabilidade contra
feitiços e bruxarias.
Prenuncia morte súbita, riscos de cirurgias no ventre e no aparelho urinário, briga em
família, independência, incapacidade de realizar o que se queira.
Os filhos deste Odu são desconfiados, esquivos, medrosos e tristes.
Okanran Meji indica situações de perigo diante das quais, a pessoa está indefesa e
sem possibilidades de ser socorrida.
Indica depressão física e moral, má nutrição celular, hipotensão, todos os tipos de
enfermidades causadas por insuficiências e deficiências, diminuição da força vital.
Demonstra fanatismo religioso, impossibilitando a capacidade de um raciocínio lógico e
filosófico.
É um Odu de prenúncios quase sempre negativos, como a noite que chega, a
tempestade que se aproxima.
SAUDAÇÕES DE OKANRAN MEJI:
Em Nagô: Okanran ki kara ko ma fonja
ki ma fikan iya kosi kan.
Em Fon: Mi kan Aklan Meji.
emi site sin, nontõ ñãnlu do me,
bo jijõ dãgbe be me!
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Tradução: Saudemos Okanran Meji!
Eu me perdi num local onde imperam a falsidade e a traição,
Más agora parto em busca de um lugar melhor, Onde exista apenas
sinceridade.
OKANRAN MEJI EM IRE:
Quando em Ire, Okanran Meji pode indicar, principalmente: Vocação religiosa,
eloquência, solução de problemas por intermédio de simples entendimentos, nascimento de
uma criança, nascimento de gêmeos, virilidade no homem, sexualidade na mulher, progresso
ou enriquecimento repentino.
OKANRAN MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo. este Odu pode indicar: Fanatismo religioso exacerbado, injustiça,
ingratidão, inquietude, abandono, lágrimas, perigo iminente e irremediável, inimigos ocultos,
novidades, barulhos, alvoroços, visita estranha, coisas negativas em todos os sentidos, ou
negativa até certo ponto, susto, grandes perigos, roubo, prisão, ruína e perda de tudo.
Neste Odu falam as seguintes divindades:
Vodun (Jeje): Hohovi, Legba, Dã, Sakpata, Xevioso e Toxosu.
Orixás (Nagô): Ibeje, Exú, Oshumaré, Omolú e Egungun geralmente, (os Egun que se
comunicam por este Odu são ancestrais consangüíneos do consulente).
INTERPRETAÇÕES DE OKANRAN MEJI:
Okanran Meji proíbe a seus filhos: Comer acaçá envolvido em folhas que não tenham
sido colhidas com preceito ritualístico; carne de cão; de búfalo; feijão akpakun; carne de
macaco. Cortar ou queimar galhos ou ramos de Iroko; amarrar feixes de lenha; tocar em
cipós.
SENTENÇAS DE OKANRAN MEJI:
Se alguém soldar dois pedaços de ferro, jamais poderá separa-los. (Os inimigos do
consulente são impotentes para ocasionar-lhe qualquer malefício).
Consultaram para saber sobre a enxada e ninguém ousou dizer, que ela fora destruída. (Não
adianta ao consulente, persistir numa empreitada em que ele se meteu, pois ela não lhe trará
o menor proveito).
A água com que se lavam as mãos depois de cair no chão, será absorvida pela terra e dela
nada restará. (Se alguém pretende de alguma forma, prejudicar o cliente, basta que ele faça o
ebó determinado pelo jogo, para que o mal que estejam desejando, seja absorvido pela terra,
da mesma forma que a água com que lavamos as mãos).
Se o saco de carregar crianças estiver bem amarrado ao colo, mesmo que vire, a criança não
cairá no chão. (Está é a resposta dada a uma mulher com mais de três meses de gravidez e
que tendo sofrido uma pequena hemorragia esteja com medo de abortar. Neste caso, deve
ser feito o seguinte sacrifício:
A mulher deverá preparar, com suas próprias mãos dois saquinhos de tamanhos diferentes.
No saco menor serão colocados 16 grãos de milho branco e no saco maior 16 grãos de milho
vermelho. Uma galinha que já tenha gerando pintinhos é sacrificada para Elegbara e dela, 16
penas serão separadas. Feito isto, o Awo marca Okanran Meji no yerosun, sobre seu Opon,
recolhe um pouco do pó e o coloca, junto com os grãos contidos no saco menor e as penas
da galinha oferecida a Elegbara, dentro do saco maior. O saco é então amarrado com muita
segurança, enfeitado com os traços indiciais de Okanran Meji e pendurado, de boca para
baixo, sobre a cama da mulher. A boca do saco deverá estar muito bem amarrada, para que
nada se derrame do seu interior.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
o outro saco será preparado da mesma forma, sendo que os grãos de milho branco que
haviam sido colocados inicialmente em seu interior, serão substituídos por outro tantos de
milho vermelho, devendo ser entregue ao marido, para que o pendure sobre sua cama, de
boca para baixo. Este procedimento evitará que a mulher venha a abortar.
Uma árvore abatida, deixa em pé, uma parte de seu tronco. (Sempre que morre um gêmeo, a
mãe deve mandar entalhar uma estatueta de madeira com as características do falecido,
dando a ela o nome do filho morto oferecendo uma parte de tudo o que o gêmeo sobrevivente
venha a consumir como alimentação).
A rede de pesca não pode capturar o hipopótamo. (O consulente vencerá as dificuldades
pelas quais está passando).
ITAN DE OKANRAN MEJI:
(1) Buru, Boye e Boshe, eram os nomes dos Babalawo que consultaram Ifá para os macacos.
Naquela época, os macacos possuíam penas muito fracas, o que os impediam de
trepar em árvores, permitindo-lhes apenas movimentarem-se com muita dificuldade sobre o
solo.
Expostos a perigos constantes, resolveram consultar os três advinhos, para saberem o
motivo de tanta adversidade e de que forma poderiam fortalecerem-se um pouco mais.
Quando foi feita a consulta para os macacos, surgiu Okanran Meji, que mandou-os
recolher todas as frutas que encontrassem e que as trouxessem junto com duas cabaças,
duas galinhas, uma pequena talha com alças, uma outra de igual tamanho sem alça, duas
estacas de madeira do tamanho de pernas humanas e oferecessem a Elegbara todas estas
coisas, para que pudessem se tornar semelhantes aos homens.
Imediatamente os macacos saíram em busca do material necessário, voltando pouco
depois com tudo, que entregaram aos advinhos para procederem ao ebó.
Os advinhos fizeram o ebó e recomendaram aos macacos, que voltassem no dia
seguinte.
No outro dia, os advinhos entregaram aos macacos um amasi, para que fosse utilizado
em banhos durante 15 dias, garantindo que no décimo sexto dia, tudo estaria mudado, suas
pernas estariam tão fortes que poderiam andar sobre dois pés como qualquer ser humano.
Acontece que os homens, dando falta das frutas da floresta e preocupados com o
procedimento dos macacos foram também consultar os adivinhos, para saberem o que estava
acontecendo.
Na consulta surgiu novamente Okanran Meji, que ordenou que fossem trazidas duas
galinhas, duas cabaças e todas as frutas encontradas, para que fosse feita uma oferenda,
que deveria ser transportada por duas pessoas.
As duas cabaças foram repartidas em dezesseis pedaços e, em cada um desse
pedaços, foram colocadas as frutas mais deliciosas. Um homem foi encarregado de oferecer
um pedaço a Mawu-Ji (Oeste) e se esconder nas proximidades. Um outro pedaço foi
oferecido por outro homem, a Lisa-Ji (Leste), e o ofertante se escondeu ali por perto. Um
terceiro e um quarto pedaços foram oferecidos, respectivamente a Vovoliwe e a Xu-Ji (Norte e
Sul), restando portanto, doze pedaços, dos quais, quatro deveriam ser colocados da seguinte
maneira: um entre Mawu-Ji e Lisa-Ji, um entre Lisa-Ji e Vovoliwe, um entre Vovoliwe e Xu-Ji e
o quarto entre Xu-Ji e Lisa-Ji.
Os oito pedaços restantes foram dispostos, simetricamente, entre cada um dos
pedaços já oferecidos, permanecendo um homem escondido, perto de cada um deles.
Quando Ifá concedeu aos macacos a graça desejada, obrigou-os a jurar que jamais
revelariam aos homens o ocorrido e também que jamais ficariam de pé diante deles, até que
se passassem dezesseis dias, sob pena de nada dar certo.
Os macacos, sempre que encontravam um seu humano, punham-se de quatro, a fim
de manter em segredo a dadiva recebida.
No décimo sexto dia, os macacos resolveram a se reunir, para fazerem o ultimo
preceito e, antes da cerimonia, encontram os pedaços de cabaça com as frutas que os
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
homens haviam sacrificado, sem saber no entanto, que cada um estava sendo vigiado por um
humano.
Neste momento, o macaco Lwe, chamou o macaco Xã e disse: “Xã, veja o que os
nossos Bokono fizeram para nós! Está tudo bem, amanhã teremos o que comer em nossa
floresta”, Xã passou a notícia a Kran, que avisou a Tokran, que comunicou a Ziwo, que avisou
a todos os macacos: “Falta apenas um dia para que possamos fazer tudo na frente de todo
mundo!”.
Empolgado, Kran ficou de pé. Como Lwe o reprovasse, afirmou em altos brados: “Não!
Acabou! Nós podemos fazer tudo o que quisermos diante de todo mundo!” e caminhou
imponente, apoiado nas pernas traseiras... e todos os macaco o imitaram, marchando e
cantando:
“Meu Ashe disse que me levantarei amanhã,
Eu me levantarei amanhã,
Sim, eu me levantarei amanhã...”
Os homens que a tudo assistiam, de repente se mostraram: “Então é assim? Vocês
são animais peludos, não são como nós! Se desejam ser semelhantes a nós, preferimos
voltar a nossa origem em Mawu!”
E os macacos somente puderam ficar um pouco parecido com os homens, esboços de
seres humanos, dos quais só tem semelhanças nos membros e nas nádegas.
Ainda hoje, cheios de inveja, os macacos gritam pela floresta:
“Kran we!
Kran we!
Akran we”!
(Foi Kran que errou! Foi Kran que errou! Foi Okanran que puniu!)!
Este Itan determina que a pessoa tem a sua posição ameaçada por outras pessoas
que lhe tem inveja e querem vê-la derrotada. Um ebó deverá ser oferecido, para que o mal
que lhe desejam, volte para quem o desejar.
Ebó: Duas cabaças grandes dezesseis espécies de frutas diferentes, duas galinhas.
As galinhas são sacrificadas a Elegbara, as cabaças são divididas, cada uma em oito
pedaços. Em cada pedaço das cabaças coloca-se uma fruta e arruma-se em volta de
Elegbara, seguindo-se a ordem determinado no Itan.
(2) Na antigüidade o Galo era um dos maiores Babalawo e sua fama corria longe.
O Rei de um povoado, mandou convida-lo, para lhe fazer uma consulta sobre a grande
seca que assolava aquela terra.
Antes de partir, o Galo Consultou o seu Ifá, surgindo Okanran Meji, que exigiu um
sacrifício de sete cacetes, sete acarajés, um preá, epo pupa, mel e velas.
Oferecido o ebó, lá se foi o galo.
Quando chegou a porta da cidade, o porteiro lhe advertiu que não poderia entrar
assim, sem fazer alguma declaração sobre sua procedência.
Ouvindo estas palavras, o Galo revoltou-se e tirando-se debaixo das asas os
cacetinhos que trazia, fez uso deles, dando na cabeça do porteiro, provocando um grande
derramamento de sangue.
Indignado, o homem rogou-lhe pragas de uma forma tal, que em poucos minutos os
astros se transformaram em tempestade. Roncou muita trovoada, foi um verdadeiro horror.
Debaixo da tempestade seguiu o galo, direto para a casa do Rei do lugar e lá
chegando, o soberano lhe disse: “É grande é teu poder! Só a tua presença faz chover
abundantemente!”.
Mandou seus servos dar-lhe alimentos e um poleiro no fundo da casa, com grandes
admirações e louvores.
Para quem se aplica, este Itan prediz que a pessoa se acha diante de um grande
perigo, que deverá enfrentar com muita coragem e disposição, para que saia vitorioso.
Ebó: um ekú, sete cacetes de madeira, sete acarajés, epo pupa, mel, aguardente e
sete moedas. Passa-se tudo no corpo do cliente, arruma-se em um alguidar, sacrifica-se o eku
em cima, entrega-se a Exú e despacha-se em uma estrada longa.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(3) Mandaram Esú fazer um ebó, com o objetivo de obter fortuna rapidamente e de forma
imprevista.
Depois de oferecer o sacrifício, Exú empreendeu viagem rumo a cidade de Ijelu.
Lá chegando, foi hospedar-se na casa de um morador qualquer da cidade,
contrariando os costumes da época, que determinavam que qualquer estrangeiro recém
chegado receberia acolhida no palácio real.
Alta madrugada, enquanto todos dormiam, Exú levantou-se sorrateiramente e ateou
fogo as palhas que serviam de telhado à construção em que estava abrigado, depois do que,
começou a gritar por socorro, produzindo enorme alarido, o que acordou todos os moradores
da localidade.
Eshú gritava e esbravejava, afirmando que o fogo, cuja origem desconhecia, havia
consumido uma enorme fortuna, que trouxera embrulhada em seus pertences, que como
muitos testemunharam, foram confiados ao dono da casa.
Na verdade, ao chegar, Exú entregou ao seu hospedeiro um grande fardo, dentro do
qual, segundo declaração sua, havia um grande tesouro, fato este, que foi testemunhado por
enumeras pessoas do local.
Rapidamente, a notícia chegou aos ouvidos do Rei que, segundo a lei do país deveria
indenizar à vitima de todo o prejuízo ocasionado pelo sinistro.
Ao tomar conhecimento do grande valor da indenização e ciente de não possuir meios
para salda-la, o rei encontrou, como única solução, entregar seu trono e sua coroa a Eshú,
com a condição de poder continuar, com toda sua família, residindo no palácio.
Diante da proposta, Eshú aceitou imediatamente, passando a ser deste então o rei de
Ijelu.
Para quem se faz esta consulta, pode-se garantir a aquisição de fortuna ou melhora
substancial de situação financeira, fim de dificuldades e estabilização.
Ebó: um galo, uma talha adornada com búzios e contas, o restante deve ser
perguntado no jogo.
(4) Havia um homem que não tinha paradeiro, não conseguia fixar-se em nenhum lugar, por
mais que para isso se esforçasse.
Sempre que se estabelecia em algum lugar, depois de trabalhar a terra e fazer sua
plantação, acabava sendo expulso dali e outra pessoa se beneficiava de seu trabalho, ficando
dono de tudo o que por direito deveria ser dele.
Certo dia, desesperado com sua sina, foi consultar Ifá e na consulta surgiu Okanran
Meji que lhe determinou fazer um sacrifício de um cão em honra de Ogun, o que deveria ser
feito no interior de uma floresta ou mata fechada.
Logo que o sacrifício foi feito, ouviu-se um barulho ensurdecedor, e diante do homem,
surgiu Ogum, o dono daquela terra.
Apavorado diante da terrível visão do Orishá, o homem lançou-se ao chão implorando
misericórdia e proteção ao Deus da Guerra e da Agricultura.
Ogun, penalizado pela sua situação e pelo respeito demonstrado, concedeu-lhe
permissão para estabelecer-se ali mesmo, em terra de sua propriedade.
A partir de então, o lavrador pode trabalhar a terra: plantar e colher, usufruindo assim,
o resultado do seu trabalho, sem que ninguém viesse mais apossar-se do que era seu
conhecendo então, a fartura e a riqueza.
Ebó: Torra-se uma boa quantidade de milho, coloca-se em um alguidar grande,
sacrifica-se um cabrito, limpa-se, tempera-se com bastante epo pupa e ataré moído, assa-se
no braseiro, coloca-se no alguidar com o milho torrado, enfeita-se em volta com bastante
Mariwo e oferece a Ogun, junto com emu ou uma bebida de boa qualidade, dentro de uma
mata. Outros ingredientes podem ser acrescentados, dependendo de se perguntar no jogo o
que o Orixá quer mais.
Se houver necessidade de desvencilhar-se da pessoa que está ocasionando o
problema, recolhe-se um pouco do sangue do animal sacrificado e com ele, marca-se a porta
da casa da pessoa em questão. Este ultimo procedimento não é recomendado, pois ira
despertar a fúria de Ogun, que se lançará contra a casa marcada ocasionando ali um grande
mal, provavelmente a morte de alguém.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(Este Itan aplica-se para as pessoas que, por mais que se esforce-se não conseguem
desfrutar do seu trabalho, não vendo seus esforços reconhecidos ou devidamente
recompensados. Serve também para aqueles que empreendem em qualquer tipo de atividade
que depois de concluída, e usurpada por terceiros).
(5) Okanran Meji tentava de tudo para progredir na vida, más seus esforços de nada
adiantarem, se dava um passo a frente, imediatamente dava dois para trás.
Um dia, resolveu fazer um ebó que lhe assegura-se algum tipo de poder e por
intermédio do qual, pudesse garantir uma vida de fartura e conforto.
Feito o sacrifício que lhe determinara Ifá, resolveu entregar um bode, único bem que
possuía, aos cuidados de Ikú, para que o criasse de meias.
Pouco tempo depois, o animal apareceu morto e Okanran Meji resolveu exigir que Iku
o indenizasse, já que o bode fora entregue a sua responsabilidade.
A Morte concordou com a exigência do Odu e perguntou-lhe o que queria por tua parte
do bode morto. Astucioso, Okanran exigiu, não só a metade do valor do animal como também
a metade de tudo o que ele poderia gerar durante o tempo em que poderia ainda ter vivido e,
ao valor do bode, foi acrescentado o valor de toda a sua possível geração de muitas cabra e
cabritos.
Diante do valor da indenização exigida, Ikú assustada, propôs ao Odu que pedisse
outra coisa qualquer, que estivesse ao seu alcance, pois não tinha como satisfazer o exigido.
Astutamente, Okanran Meji exigiu o poder de interferir na missão de Ikú sobre a terra,
que se resume na obrigação de periodicamente, carregar homens e animais para os seus
domínios no outro mundo.
Sem contestar, Iku delegou a Okanran este poder e deste então, podemos pedir que
interfira junto a Morte, para evitar que alguém, por muito mal que esteja, venha a falecer.
Ebó: três galos, uma cabaça inteira, (mais ou menos do tamanho e forma de uma
cabeça humana), epo pupa, mel, aguardente, efun, ataré, velas, alguidar grande, pano
branco, um chocalho. Sacrificam-se os galos a Elegbara sobre a cabaça arruma-se os
animais sacrificados dentro do alguidar com a cabaça por cima, rega-se com mel, epo e oti,
tempera-se com alguns grãos de ataré, cobre-se com muito pó de efun, deixa-se algumas
horas nos pés de Exú, depois do que embrulha-se com o pano branco e se carrega para o
local determinado no jogo. O chocalho é para ser agitado sobre o ebó, enquanto se faz a
saudação do Odu, deve sair com o carrego e ser deixado ao seu lado, com velas acesas.
Este Ifa é para ser feito em casos de Osogbo Ikú, Osogbo Arun ou Ire Aikú.
(6) Shangô, queria ser muito poderoso e respeitado e para isto consultou Ifá. Na consulta
surgiu Okanran Meji, que determinou um sacrifício, que iria garantir ao orixás, tudo que
desejava.
Feito o ebó, Todas as vezes que Shangô abria a boca para falar, sua voz saia
possante como um trovão e inúmeras labaredas acompanhavam suas palavras.
Diante do poder de seu marido Oya resolveu consultar o Oráculo com a finalidade de
se tornar tão poderoso quanto ele. Na consulta surgiu Okanran Meji, que lhe determinou o
mesmo ebó.
Quando Shangô descobriu que sua mulher havia adquirido um poder igual ao seu,
ficou furioso e começou a maldizer Ifá por haver proporcionado tamanho poder a uma simples
mulher.
Humilhada, Oiya recorreu a Olorun para que desse um paradeiro ao impasse. Olorun
determinou então que a partir daquele dia, a vós de Shangô soaria como o trovão e que
provocaria incêndios onde ele bem intendesse, mas para que isto pudesse acontecer, seria
necessário que Oya, falasse primeiro, para que o fogo de suas palavras (os raios)
provocassem o surgimento do som das palavras de Shangô (o trovão), assim como o fogo
que elas produzem sobre a terra (os incêndios provocados pelos raios que se projetam sobre
a terra).
E por este motivo até hoje, não se pode ouvir o ribombar do trovão sem que antes, um
raio ilumine o céu.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Este Ifá garante bom resultado naquilo que se pretende, por mais difícil que possa
parecer principalmente se o Ebora que se apresentar para solucionar o problema, for Shangô
ou Oya.
Ebó: fósforos, pólvora, dois galhos de arvore seco, um produto inflamável, algodão,
quatro galos, carneiro, e muitas pedrinhas. Com o algodão enrolados nas pontas dos galhos
secos, fazem-se dois archotes, que deverão ser embebidos no produto inflamável (álcool,
querosene, gasolina, ou qualquer outro). Os animais são sacrificados ao Ebora a quem se
esteja oferecendo o ebó, sendo que dois galos são para Elegbara. Os archotes são acesos e
colocados ao lado do ebó, Até que se apague naturalmente. (Se o Ebora, for Oya, substituir o
carneiro por cabra). Depois que os archotes se apagarem despacha-se tudo, de acordo com a
orientação apurada no jogo.
(7) Olorun fez o homem a sua imagem e semelhança, dando o nome de Ishele.
Como o Isele vivia muito só, pediu uma companheira a Olorun.
O Criador determinou então, que seu mais puro e belo orishá, ajudasse Ishele naquilo
que fosse necessário.
O Orishá não aceitou as determinações e revoltou-se, negando-se a obedecer as
ordens de Olorun.
Aborrecido diante de tal insubordinação, Olorun ordenou-lhe que descesse a uma
grande fossa, com todos os seus pecados, para que ali fosse transformado no Odu Okanran
Meji.
Ebó: morim vermelho, acarajés, akasa branco, akasa vermelho, velas, charuto, frango
branco, padê de mel, padê de dendê, padê de água, osun, nós moscada. Abre-se o frango,
coloca-se tudo dentro, despacha-se numa encruzilhada. O banho de ervas é indispensável
depois deste ebó.
Este ebó, é para quando Okanran Meji estiver em qualquer tipo de Osogbo.
(8) Naquele tempo, o céu e a terra estavam tão perto um do outro, como o teto do chão sendo
que a terra era habitada por homens muito pequenos, muitíssimo menores do que os de hoje
existem.
Céu e Terra eram então muito amigos e costumavam ir juntos a caça de animais, que
sempre dividiam irmãmente entre si.
Sempre que Céu capturava alguma caça, oferecia uma parte a Terra, que agia da
mesma maneira quando abatia qualquer animal.
Certo dia durante a caçada Terra capturou um emon. Na hora de repartir o animal,
Terra falou: “Como Sou mais velha, ficarei com a parte da cabeça”. Ao que Céu retrucou:
“Sabes muito bem que sou maior e portanto a parte da cabeça deste animal, cabe a mim por
direito. Dá-me logo essa parte e não se fala mais nisso!”.
Como não chegasse a nenhum acordo, Céu furioso, resolveu afastar-se de Terra, indo
morar muito distante de seu ex-amigo.
Com o distanciamento de Céu, Terra ficou muito árida, por falta de chuva, o que
provocou um total desequilíbrio no ciclo de vida. As sementes deixaram de germinar, as
fêmeas deixaram de gerar filhos e desta forma, tudo estava condenado a desaparecer.
Diante do problema, os homens e, dirigindo-se a Terra, recomendaram: “Para
apaziguar a ira de Céu, deves caçar outro emon e enviá-lo a seu ex-amigo”.
Terra tratou então, de abater outro emon, que foi transportado pelos pássaros, a nova
morada de Céu. Foi o pássaro Aklãsu, o encarregado de fazer o transporte, sob a promessa
de lhe ser construída uma casa, em pagamento. Quando Aklãsu voltava de sua missão, foi
apanhado a meio caminho, por uma forte chuva, que Céu enviara em agradecimento a
gentileza recebida.
Ao chegar à Terra, Aklasu percebeu que a casa que lhe haviam prometido não fôra
sequer construída, tendo que permanecer ao desabrigo.
Diante disto, disse aborrecido: “Vocês não foram fiéis ao que me prometeram, más não
faz mal, minhas grandes asas são mais que suficientes para me protegerem da chuva!”.
É por isto, até hoje, não se vê o Aklasu se esconder da chuva por mais forte que ela
seja. Pousado nos galhos das mais altas árvores, protege a cabeça com as próprias asas e
pensa: “Amanhã, logo que esta chuva passar, construirei uma casa para mim!” E logo que a
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
chuva passa ele diz: “Para que preciso de uma casa? Não existem inúmeras casas para mim,
entre todas as árvores?” E voa feliz sob os raios do Sol, agitando suas imensas asas para
seca-las.
(9) Quando o Vodum Xevioso veio ao mundo, não passava de um pequeno covarde que só
possuía um galo que cantava e um cabrito que berrava. Convencendo-se de que não poderia
viver desta forma, resolveu consultar Ifá, em busca de auxílio.
Seu Babalawo chamava-se Afeke e foi ele quem, consultando Ifá, encontrou Okanran
Meji, que exigiu que Xevioso oferecesse um ebó composto de duzentos e uma pedrinhas, um
saco, uma cabra, cento e cinqüenta moedas do mesmo valor e mais quinze de valor diferente.
As pedras foram colocadas dentro de um saco e entregues a Xevioso depois do
sacrifício, representando o seu poder e a sua força.
As moedas foram dadas ao Babalawo, em pagamento.
Na verdade depois que Xevioso passou a possuir estas pedras, seus olhos tingiram-se
de vermelho, passou a ser muito corajoso e as pessoas tremem a sua aproximação. Quando
encolerizado, enfia a mão no saco e lança suas pedras em forma de raio, destruindo quem
quer que o tenha provocado.
Foi assim que Xevioso, o covarde, tornou-se um exemplo de coragem para todos os
homens.
OUTROS EBÓ DE OKANRAN MEJI EM OSOGBO:
(1) Uma vela, uma garrafa de aguardente, folhas de mamona com talo e sementes; quatro
tipos de padê (dendê, mel, cachaça e água), um ovo, um bolo de farinha, efun, pipoca, um
charuto, uma rosa vermelha, frango ou galinha, fósforos, pano branco, linha branca, um acaça
branco, um acarajé. Passa-se tudo no cliente e despacha-se na encruzilhada ou no mato.
(2) Sete folhas de mamona com talos e sementes; quatro tipos de padê (dendê, mel água e
aguardente), um metro de morim preto, vermelho, branco, velas, frango. Arriar as sete folhas
no chão, colocar um pouco de cada pade dentro de cada uma delas, passar e bater as folhas
nas costas da pessoa. Sacrifica-se o frango, dividir em sete pedaços, colocar um em cada
folha. Despachar em sete encruzilhadas diferentes, sendo uma folha em cada encruzilhada.
Depois de despachado o ebó, tem que dar banho de ervas na pessoa e oferecer comida seca
ao seu Orishá.
(3) Um galo, farofa de dendê, uma folha de mamona, pano preto, pano branco, sete ovos,
sete velas, sete bolos pequenos de farinha com água. Fazer sara yeye no cliente, sacrificar
o galo a Eshú abrir o bicho pelas costas, colocar tudo dentro, enrolar nos panos e
despachar na rua. Banho de ervas no cliente.
EBÓ DE OKANRAN MEJI EM IRE:
(1) Dendê, aguardente, mel. um coração de boi, um pedaço de fígado, uma vela, uma moeda.
Passar no cliente, arrumar no alguidar, regar com mel, dendê e aguardente, levar para a rua e
oferecer a Elegbara.
(2) Sete tipos de pade (mel, dendê, água, cachaça, água de arroz, azeite doce, champanhe),
sete akasas branco, velas, fósforo, cigarrilhas, rosas, galinha. Despachar no alto de uma
ladeira.
(3) Pade de mel, de água, de cachaça, vinte e um akasa, um metro de corda, um metro de
morim branco, ebó de Oxalá, milho verde cozido. Passa-se tudo no cliente, recolhe-se no
morim e despacha-se em uma encruzilhada.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÕES
EJIOKO
Ejioko é o 2º Odu no jogo de búzios e corresponde ao 12º na ordem de chegada do
sistema de Ifá, onde é conhecido pelo nome de Oturukpon.
Responde com dois búzios abertos.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Em Ifá é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Turukpon” ou “Turukpon Meji”, onde o
“r” é consequentemente substituído pelo “l”. Alguns o chamam ainda de “Bokono Lelo”,
“Awonõ lelo”, Lelojime, ou simplesmente “Lelo”.
Em Yoruba os termos “Lelo”, “Lero”, “Ilero”, (de “Ile-Oro”), significam “Terra firme”.
Sua representação indicial em Ifá é: * ** *
* ** *
* *
* ** *
que corresponde, na Geomancia, à figura denominada “Albus”.
Ejioko é um Odu composto pelos Elementos Terra sobre Ar, com predominância do
primeiro, sua figuração indicial evoca luminosidade, transparência.
Corresponde ao ponto cardeal Oeste-Noroeste, a carta no. 5 do Tarot (O Hierofante)
seu valor numérico é 14.
Suas cores são todas aquelas derivadas do vermelho, aceitando também o negro e
tudo o que for estampado com estas duas cores.
É um Odu feminino, representado esotéricamente por um feto dentro de um útero,
referência inequívoca à sua influência sobre os estados de gravidez.
Representa a gravidez, as inchações e de forma geral, tudo o que é arredondado,
rostos redondos, seios grandes, protuberâncias anormais como hérnias, elefantíase,
furúnculos, tumores e inchações diversas.
E um Odú ligado as Kennesi e segundo dizem, foi criado da diarréia.
É muito temido pelas mulheres gravidas, pelo seu poder de provocar abortos e partos
prematuros.
Aqui, segue as ordens de Ofun Meji, foi criada a Terra e por este motivo é um signo ligado a
abundância e a riqueza.
Foi este signo que criou as montanhas e é também um dos Odu dos gêmeos Hoho
(Ibeji).
Sempre que este Odu surgir numa consulta, o advinho deve tocar o solo com as
pontas dos dedos e depois tocar, de leve seu próprio peito, pronunciando: “Ilero” ou “Lero”,
como forma de saudação à Terra, gesto este que deve ser imitado pelo consulente.
Fala de inversões sexuais e de bruxarias feitas através de comidas ou bebidas.
Foi por intermédio deste Odu, que Orunmila transmitiu sua ciência aos sábios, para
que eles a transmitissem aos homens comuns.
Indica que a mulher trai o marido e que se ainda não o fez, é por falta de
oportunidade.
Determina separação de mãe e filho e muita tristeza por este motivo.
Os filhos deste Odu são pessoas destinadas ao sucesso, a galgarem altos postos,
devendo para isso, submeterem-se, com muito boa vontade, aos sacrifícios exigidos.
É uma figura quase sempre boa, que propõe paz interior e equilíbrio nas ações
SAUDAÇÕES DE EJIOKO:
Em Yoruba:Ejioko ejife
Owo ejife owo.
Em Fon: Mi kan Turukpon,
Turukpon Lelo!
Kagbeto nogbe ko-a!
Emi kun naje goto,
hun kponshõ o!
Tradução: Saudemos Oturukpon,
Oturukpon Lelo!
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Que jamais sejamos atingidos pelas doenças que se
escondem debaixo dos panos (Doenças venéreas).
EJIOKO EM IRE:
Quando em Ire, Ejioko pode indicar, principalmente: Atitudes puras e inocentes,
sensibilidade artísticas, dignidade, evolução material ou espiritual, conquistas de posições
elevadas, progresso em todos os aspectos, vitórias, honrarias, encontro de dois corações,
casamento, convivência sexual, empreendimento bem sucedido.
EJIOKO EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Possibilidades de aborto prematuro, inveja de
terceiros, atraso de vida por olho grande, trabalho de feitiçaria feito contra a pessoa,
problemas gerados por má interpretação de palavras ou atitudes, melancolia, perdição por
amor, separação de família (principalmente da mãe), frigidez nas mulheres, impotência nos
homens, inimigos ocultos.
TIPOS DE DOENÇAS INDICADAS POR ESTE ODU:
Órgãos sexuais internos nos homens, órgãos reprodutores nas mulheres, sífilis,
doenças adquiridas sexualmente, inchações em geral, elefantíase, diarréias, indisposições da
gravidez, anomalias sensoriais, impotência sexual, inversões sexuais (para ambos os sexos).
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Sakpata, Dã Aydohwedo, Gu, Xeviosso, Na, Hoho, Mawu e Kpo Vodun.
Orishá (Nagô): Omolú, Oshumarê, Ogun, Shangô, Oduduwa, Nanã, Ibeji.
INTERDIÇÕES DE EJIOKO:
Ejioko proíbe aos seus filhos: o mamão: uma certa corcubitácia muito utilizada na
prática da feitiçaria e conhecida entre os Fon, como “ayikpen”: O galo; a galinha d’Angola; as
serpentes; o leopardo; o elefante; a hiena; o sorgo; todos os tipos de pássaros usados em
feitiçaria, os macacos; o cão e o gato.
SENTENÇA DE EJIOKO:
(1) “Aquele que trança uma corda não saberá trançar a Terra, não pode levantar a mão e
agarrar o Sol”. (Ninguém pode causar danos aquele que, tendo encontrado este signo,
ofereça os sacrifícios exigidos).
(2) “A Terra não se assenta sobre a cabeça de uma criança”.
(Ejioko - Segundo Odu no merindilogun, corresponde a Oturukpon, décimo segundo
signo na ordem de chegada em Ifá e último de uma série de forças misteriosas que, segundo
se afirma, estão associadas aos signos do zodíaco. Os doze primeiros signos estão como que
reunidos no símbolo do último. Aquele que encontra Oturukpon Meji supostamente encontra
todos que o antecedem).
“Le”, assim como “Lo”, designa aquilo que não se deve fazer, dizer, entender, tocar e
ver e na presente sentença evoca os doze primeiro signos de Ifá.
A criança a que se refere a sentença, é o próprio consulente, indefeso diante dos
perigos desencadeados pelas energias contidas nos doze primeiros Odu Meji, energias estas
que sua cabeça é incapaz de suportar.
“Quando “Le”- a Terra - exige um sacrifício que substitua a morte próxima de sua mãe,
seu pai, mulher ou filho, pressupõe-se que o sacrifício será considerável, uma vez que tem
por objetivo enganar a morte”.
No mesmo dia em que o signo for encontrado, o cliente adquire o cabrito mais bonito
que puder encontrar e uma cabaça suficientemente grande para que possa comportar uma
galinha, a polpa de uma abóbora, um mamão e akaças.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
O sacerdote sacrifica o cabrito, derrama o seu sangue dentro da cabaça, retira seus
intestinos que são esvaziados, limpos e lavados com muito cuidado; o coração, os pulmões,
os rins, o fígado e a gordura. Sacrifica a galinha, junta suas vísceras ao conteúdo da cabaça.
Antes de iniciar este ritual, os traços indiciais dos dezesseis Odu Meji devem ser
traçados no yerosum, que é despejado dentro da cabaça depois das vísceras da galinha.
Depois disto, vai colocando dentro da cabaça um número de búzios correspondente ao
número de parentes vivos do consulente. Os búzios são colocados um a um dentro da cabaça
e a cada búzio colocado, o cliente diz: “Eis aqui minha mãe, ela pagou! Eis aqui o meu pai,
ele pagou! Eis aqui minha mulher (ou marido) ela (ele) pagou! Eis aqui meu filho fulano, ele
pagou! Eis aqui meu filho sicrano, ele pagou”! E assim, até chegar ao nome do último parente
vivo. Depois de oferecido o búzio correspondente ao filho ou neto mais novo, o cliente
colocará um último búzio, dizendo as seguintes palavras: “Eis aqui, este sou eu e também
estou pagando”!.
Este ebó exige muito critério e muita atenção, se o nome de algum parente for omitido,
propositadamente ou não, durante a entrega dos búzios, a pessoa cujo nome não tenha sido
relacionado, estará irremediavelmente condenada a morte. Somente Mawu, e nenhum outro
Vodun, poderá modificar este destino. O Sacerdote deverá prescrever, além deste, outros
sacrifícios considerados de segurança, tanto sua, como do cliente.
O Sacerdote, acompanhado do cliente, penetra numa floresta, constrói um monte de
terra limpa sobre o qual coloca toalhas brancas e toalhas vermelhas; traça os doze primeiros
signos e, por deferência, os quatro últimos. Na medida em que vai traçando cada signo, vai
fazendo suas saudações, depois despeja o yerosun em que foram traçadas, sobre o sacrifício
que está oferecendo.
A cabaça, com todo o seu conteúdo, é depositada sobre os panos vermelhos. Junta-se
(10) obi bata dentro de uma quartinha com água a esquerda da cabaça. Depois disto, todos
os presentes batem cabeça em homenagem a Terra e retiram-se no mais absoluto silêncio.
(Este sacrifício serve para todos os Odu).
(3) “A casa de estuque é muito bonita, más dentro dela faz muito calor”.
(A casa de estuque representa o útero da mulher do consulente, ou da própria consulente,
que se encontra sob risco de sofrer um parto prematuro ou um aborto).
(4) “A mulher está no meio da gravidez e seu filho já tem os pés sobre a Terra”.
(Mesma interpretação da sentença anterior).
(5) “Se o bracelete de ferro, filho do rei Aja, for colocado no fogo, sairá dali incólume; mas tu
não sairás do fogo em que agora te encontras”. (O consulente corre o risco de sofrer um
acidente do qual não sairá com vida).
(6) “Um belo dia, Kaja, com todos os seus amuletos, será vítima de uma acidente”.
(Mesma) interpretação da sentença anterior).
(7) “O rio que atravesso corre sobre um leito repleto de vegetação”.
(O consulente encontrará satisfação naquilo que deseja).
ITAN DE EJIOKO
(1) Naquele tempo, os macacos não sabiam trepar em árvores e por este motivo viviam
assustados e inseguros, pois eram presas fácil dos outros animais.
Resolveram consultar um Babalawo e na consulta surgiu Ejioko, que lhes determinou
um ebó, composto de dois preás e comidas caseiras de vários tipos.
No mesmo dia, os macacos ofereceram o sacrifício e logo começou a chover
copiosamente. O rio que passava perto do local onde se encontravam, avolumou-se e
transbordando, inundou toda aquela região.
Apavorados, os animais corriam de um lado para outro, sendo irremediavelmente
apanhados e arrastados pelas águas revoltas.
Foi então que os macacos, pela primeira vez, escalaram as árvores para não serem
arrastados pelas águas e a partir deste dia, sempre que se sentem em perigo, é nos galhos
mais altos dos arvoredos que encontram refúgio e segurança.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Este Itan indica que a pessoa passa por grandes dificuldades, insegurança e
intranqüilidade. O ebó indicado trará ótimos resultados, com a proteção dos Ibeji.
Ebó: dois preás, arroz, feijão, farinha, etc., (comida preparada normalmente, como a
que se faz para as pessoas da casa), duas velas, dois alguidares, cachaça. Os preás são
sacrificados a Elegbara, no igba, as comidas são servidas nos dois alguidares e arriadas ao
lado. Os preás são limpos e seus couros permanecem na casa de Eshú depois que o ebó
tenha sido despachado no mato.
(2) Ha muito tempo, dois príncipes disputavam entre si, o trono de Abeokuta. O primeiro
príncipe, chamado Kun, foi consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver
favoravelmente a questão e na consulta surgiu Ejioko, que determinou que fosse oferecido
um sacrifício a Eshú, de um etu e vários pregos, além de todas as coisas que fazem parte dos
sacrifícios oferecidos a Eshu. Kin, no entanto, afirmou para si mesmo: “Não preciso oferecer
nada a Eshú para que o trono de Abeokuta me seja entregue. Sou mais forte que meu
concorrente e vou derrota-lo numa luta corporal, resolvendo a questão definitivamente”.
O segundo príncipe, conhecido pelo nome de Koogun, também foi se ver com Ifá,
saindo na sua consulta o mesmo Odu, que lhe recomendou oferecer o mesmo ebó.
Feito o ebó, Elegbara surgiu diante de Koogun e mandou que, no dia da decisão sobre
quem iria ocupar o trono, vestisse uma roupa inteiramente branca e levasse consigo uma
pequena bandeira da mesma cor.
No dia da decisão, os anciãos da tribo se reuniram na praça da cidade e todo o povo
também se fez presente naquele local.
Kun foi o primeiro a chegar, trazendo nas mãos suas armas de guerra, completamente
despido, com o corpo untado de óleo de palma, o que fazia ressaltar sua esplêndida
musculatura.
Logo em seguida chegou Koogun, trajando asho funfun e acenando para todos com
uma pequena bandeira branca.
Ao ver aquilo, Kun foi acometido de fúria incontrolável, lançando-se sobre seu
adversário com a intenção de terminar logo com a questão.
Os anciãos, que a tudo assistiam, ordenaram que os guardas detivessem o impetuoso
Kun e que o expulsassem da cidade por não saber respeitar os sinais de paz ostentados por
Koogun.
Foi assim que, tendo seguido as orientações de Ifá, Koogun pode ser coroado rei de
Abeokuta.
Este Itan indica que existe luta acirrada por bens ou posições e que o consulente
deve, além de oferecer o ebó determinado, proceder com muita cautela e diplomacia,
evitando qualquer tipo de confronto direto.
Ebó: Um etu, dois pregos de cumeeira, dendê, mel, oti, farinha crua, pano branco,
efun. Prepara-se pade de mel, dendê e oti num mesmo alguidar, sacrifica-se o etu sobre Eshú
e coloca-se arrumado no alguidar com o pade, cobre-se tudo com pó de efun. Os pregos de
cumeeira recebem eje do etu e são colocados no igba de Eshú. Prepara-se uma bandeira
branca, envolvendo-se o ebó em pano branco e despacha-se numa praça, com a bandeira
branca espetada em cima.
(3) Um certo casal, apesar de se amarem muito, viviam brigando por absoluta falta de
compreensão.
A desarmonia superava o amor e a convivência já era insuportável, por este motivo,
foram procurar o Bokono do lugar, em busca de orientação.
Feita a consulta, surgiu Ejioko, que determinou um sacrifício composto de um casal de
eyele funfun, fitas de várias cores, ori da costa, igbi meji, etc.
Como o casal não possuísse recursos suficientes, foi preciso que a mulher preparasse
muito mingau de acaça, que o marido ia vender no mercado para obter dinheiro para o
material do ebó.
Oferecido o ebó, o que só foi possível pelo trabalho conjunto do casal, voltou a reinar a
paz e a compreensão entre os dois, que continuaram a trabalhar da forma que fizeram para
obter o dinheiro do sacrifício.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Ebó: Um casal de pombos brancos, vários pedaços de fitas de cores diversas, dois
igbi, mingau de acaça, um alguidar de tamanho médio. Unta-se o alguidar com bastante ori da
costa, sacrifica-se os igbi deixando o soro escorrer sobre Elegbara, coloca-se os igbi dentro
do alguidar, cobre-se com o mingau de acaça, sacrifica-se os eyele a Elegbara (eje no igba),
arruma-se em cima, mel, dendê e oti, enfeita-se a gosto com as fitas coloridas, deixando-se
no pé de Eshú por algumas horas e depois se leva a beira de um rio.
Este ebó deve ser feito com muito carinho, para reunir casais que estão separados, ou
trazer paz aqueles que vivem brigando.
(4) Tela Oko era o nome de um príncipe que, apesar de ser um dos pretendentes ao trono de
Arara, era muito pobre, sendo por este motivo, muito humilhado e desprezado pelos demais
pretendentes a coroa.
Para poder sobreviver, Tela Oko tinha que trabalhar na roça como qualquer lavrador
humilde, apesar de sua descendência nobre.
Certo dia, foi procurar o Oluwo do local, para fazer uma consulta, durante a qual surgiu
Ejioko, pedindo, para Eshú, um ebó com galinhas, orogbo, um avental e uma enxada usada.
Feito o ebó, passaram-se alguns dias, até que, ao roçar perto do local onde havia oferecido o
sacrifício, Tela encontrou um poço muito fundo. Imediatamente convocou os companheiros
que trabalhavam nas cercanias, que o ajudaram a descer ao fundo do poço.
Ao chegar no fundo, qual foi sua alegria ao deparar com uma imensa fortuna. Voltando
a superfície e indagado pelos colegas, Tela Oko, muito excitado, afirmou haver encontrado
muito “owo ila” (dinheiro-quiabo). motivo pelo qual foi dado como louco por seus
companheiros, que imediatamente voltaram aos seus afazeres, deixando-o sozinho.
Tela Oko amarrou a corda em sua cintura e novamente desceu ao fundo do poço, de
onde voltou carregado de muitas moedas de prata, tornando-se então imensamente rico.
Este Itan determina que a pessoa que está passando por sérias dificuldades
financeiras, deverá oferecer o sacrifício indicado, para que seus problemas sejam resolvidos e
seus caminhos de dinheiro abertos.
Ebó: Adie Meji, orogbo meji, avental novo, uma enxada usada. Com a enxada cava-se
um buraco dentro de uma mata, sacrifica-se as adie dentro do buraco, coloca-se um orogbo
no bico de cada uma, cobre-se com o avental e coloca-se um punhado de moedas por cima.
O buraco deve permanecer aberto depois de entregue o sacrifico. rega-se tudo com dendê,
mel e oti.
(5) Quem faz um filho deve carrega-lo às costas. Oturu fez dois filhos e carrega os dois.
Como é possível uma só pessoa carregar duas crianças?
Quatro Babalawo consultaram para Abi Maku (Eu fiz um filho imortal), e este era o
nome da montanha. Abi Maku ofereceu um sacrifício; a Montanha ofereceu um sacrifício e ela
gerou um filho que é imortal.
Montanha imutável, imutável montanha! Foi Oturukpon Meji quem engendrou esta criatura
que não morrerá jamais!
Montanha imutável, imutável montanha! A ira é impotente diante de ti!
Imutável montanha! inalterável montanha!
(Aquele que encontrar este signo perderá muitos filhos sob o estigma de Abiku. Deve ser feito
um ebó para que um de seus descendentes possa sobreviver com força e saúde, mas antes
perderá dois gêmeos, cujos espíritos retornarão em filhos que sobreviverão.
O consulente e a mãe de gêmeos que padecem com terríveis dores lombares, deverão
oferecer um ebó composto de duas jarras, dinheiro e dois panos estampados nas cores
brancos, preto e vermelho. Um amassi é preparado e colocado nas duas jarras, o consulente
e sua mulher guardarão as jarras envolvidas nos panos e tomarão banhos diários com o seu
conteúdo.
Receita de amasi: Tritura-se folhas de cedro em água de poço, depois de quinadas as
folhas, sacrifica-se eyele dudu meji, deixando o eje correr dentro do banho; pega-se uma
brasa viva de carvão vegetal e atira-se dentro do banho, junta-se um pouco de efun, dois
pedacinhos de ori da costa., um pouco de mel e açúcar mascavo. Divide-se nos dois potes e
completa-se com água de poço. O banho deve ser tomado diariamente, inclusive na cabeça.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(6) Ifa chegou a este mundo antes de seus mensageiros Legba, Miñona e Abi, que estão sob
suas ordens, ao contrário de Igbadu que esta acima dele.
Criado por Mawu, Ifa desceu do céu trazendo para a terra todas as arvores, todas as
plantas, todos os animais, todos os pássaros e todas as pedras.
Naquela época, existia sobre a terra somente um protótipo de ser humano, muito
pequeno, negro e muito parecido com o homem.
Ao chegar ao Aye, Ifa transmitiu todo o seu conhecimento a este estranho ser, a que,
deu o nome de “Koto”.
Logo que Mawu criou os seres humanos, Koto transmitiu-lhes toda a ciência que havia
recebido de Ifa: o conhecimento de todas as coisas e principalmente, o conhecimento do
próprio Ifa.
Koto, que sabia o nome de tudo quanto existia, ensinou-os aos homens, esquecendo-
se, no entanto, de transmitir o nome de uma única arvore, a qual os homens chamaram de
“Kotoble” e depois de Wugo.
Assim, foi apenas a uma única arvore, dentre as coisas que existem no mundo, que os
homens deram nome.
(7) Num tempo em que Ifa era pobre, consultou seu Kpoli para saber de que forma poderia
mudar de vida e conquistar a simpatia de Metolõfi, que não gostava dele.
Na consulta, surgiu Oturukpon Meji, que mandou que pegasse um cabrito, uma
cabaça, todas as frutas redondas que encontrasse e preparasse um ebó, que deveria ser
levado a sua mãe e entregue com as seguintes palavras: “Veja minha mãe, eu nunca recebi
desta vida qualquer alegria. O rei deste pais não gosta de mim. Oturukpon Meji me disse que
oferecesse este sacrifício, pois de ti depende minha sorte nesta vida”!
Ifa, no entanto respondeu: Isto é impossível. Minha mãe não está aqui. Ela partiu ha
algumas semanas para uma reunião em lugar muito remoto. De que maneira, estando ela
ausente, poderei oferecer-lhe o ebó?
Legba intervindo disse: “Em troca de alguma coisa que me ofereças, reaproximarei tua
mãe de ti. Em pagamento quero um galo e alguns bolos”.
Ifa pagou o exigido a Legba que, durante a noite, procurou sua mãe e lhe disse: “Seu
filho está morto já fazem quinze dias e não há ninguém para oficiar seus funerais. Anda, vá ao
pais de Metolõfi para fazer a cerimônia”.
Desesperada a velha pôs-se a chorar, dizendo: “Que fazer? Sou tão velha, mal posso
andar...”
“Dá-me qualquer coisa que te transportarei”, disse Legba.
A velha possuía um bode que tinha doze chifres na cabeça, ao vê-lo Legba falou: “Se
me deres este bode de doze chifres, te levarei, agora mesmo, para junto de teu filho”.
“Mas este bode não é meu...”Respondeu a velha. “...ele pertence a Vida. Ele me foi
confiado e está sob minha responsabilidade”.
“Se não me deres o bode, sem dúvida não poderei ajuda-la”.
“Tudo bem, carrega-o! Eu já perdi tudo o que tinha para perder, o bode não fará
diferença!”
Legba, pegando o bode, matou-o. O sangue que escorria do corpo do animal era fogo
que espalhando-se, cobriu o corpo de Legba. Aterrorizado como tão estranho acontecimento,
Legba foi consultar Ifa e na consulta surgiu Oturukpon Meji, ordenando que os intestinos do
bode fosse retirados e oferecidos em sacrifício, num caminho qualquer.
Naquele tempo, Legba não possuía cabeça e pegando a cabeça do bode, colocou na
panela para cozinha-la. Durante dias e dias, Legba insistiu na tentativa de cozinhar a cabeça
por mais que gastasse lenha, nada conseguia.
Cansado, resolveu procurar a mãe de Ifa e, para isto, transportou a cabeça e a carne
do animal até o reino de Metolõfi.
Para conduzir a enorme panela, Legba derramou a água nela contida, preparou uma
rodilha que depositou sobre os ombros pra servir de base a panela que estava
completamente enegrecida pela fumaça. A rodilha fixou-se em seus ombros, transformando-
se em pescoço e a panela transformou-se um cabeça e Legba descobriu que agora, como
todo o mundo, também possuía uma cabeça. Alegre pôs-se a cantar:
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Eu operei uma magia em meu caminho,
Assim adquiri uma cabeça!
Eu saí sem cabeça para uma viagem,
retorno agora para casa com cabeça!
Desta forma, chegou diante de Ifa, que também era desprovido de cabeça.
Ao tomar conhecimento do destino do bode, Ifa exclamou revoltado: “Como? Já paguei
a Legba por seus serviços! Ele recebeu de mim o exigido e ainda consegui uma cabeça!...”
Zangado, preparou seu ebó composto de várias frutas redondas e o entregou a sua
mãe, para que o conduzisse a Metolõfi.
Entregando as frutas ao rei a mulher disse: “Eu venho de muito longe em
reconhecimento ao seu nome. Como não sou rica, aceite estas coisas. É tudo o que tenho
para oferecer!”
Metolõfi, ordenou que a mulher pegasse um mamão e que o cortasse em duas partes
iguais. As sementes negras se derramaram e o mamão, colocado sobre os ombros de Ifa, ali
se fixou, transformando-se em cabeça.
Notando que a mulher estava cansada, o rei mandou que lhe oferecessem uma
esteira, mas ela negou-se a sentar-se na presença de Sua Majestade. De tanto que o rei
insistisse, a mulher acabou sentando-se sobre algumas almofadas.
Vendo-a acomodada e mais calma, o rei perguntou qual era o seu nome, ao que lhe
respondeu, afirmando chamar-se “Nã”. Metolõfi então disse: “Nã Taxonumeto” (aquela que
coloca uma cabeça nas pessoas).
Depois deste fato, pra que as crianças possam receber uma cabeça, as mães devem,
durante a gestação, pedir a proteção de Nã Taxonumeto todos os dias.
É sob este signo que as crianças vem ao mundo “de cabeça”.
Ifá tornou-se muito conhecido graças a sua mãe e ao bode de doze chifres que não
era outro senão o próprio Sol.
Foi através do fogo misterioso do bode, que Legba adquiriu controle sobre as chamas
e visão para compreender as mensagens surgidas no Oráculo.
Foi desta forma que Legba e Ifa, conseguiram cabeças, graças a Oturukpon Meji que
rege tudo o que e redondo, como redondas são as cabeças.
Aquele que encontrar este signo, deve oferecer um sacrifício para não ser perseguido
pela má sorte. Sua mãe terá um papel muito importante em sua vida, cujo sucesso depende,
quase que exclusivamente, dela.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
ETA OGUNDA
Eta Ogunda é o 3º Odu no jogo de búzios e corresponde ao 9º na ordem de chegada
do sistema de Ifá, onde é conhecido pelo nome de Ogunda Meji.
Responde com 3 (três) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Guda Meji” ou “Gudoji”.
Etmologicamente, propõe-se a seguinte análise: Ogun (Yoruba) ou Gu (Fon) - Orishá
ou Vodun do ferro e por extensão da guerra e Da - repartir, dividir, separar. Ogunda Meji
significa, então “Ogun dividido em dois”.
O termo Yoruba, “Ogunda Meji, propõe ainda outra interpretação: “Ogun da eja meji”-
Ogun partiu o peixe em dois, numa alusão a uma lenda de Ogunda Meji.
Sua representação indicial em Ifá é: * *
* *
* *
* ** *
que corresponde, na Geomancía européia, a figura denominada “Cauda Dracônis”.
Eta Ogunda é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Ar, com predominância
do primeiro, o que representa o dinamismo transformado em obstáculo, o esforço voltando-se
contra quem o desprendeu e levando ao fracasso.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Corresponde ao ponto cardeal Nornordeste, a carta “O Diabo” no Tarot e seu valor
numérico é o 2.
Suas cores são o negro, o branco e o azul. É um Odu masculino, representado
esotericamente por um punhal ou facão, numa referência inequívoca ao orisha Ogun, ou a
ereção do membro viril. (Gun em Yoruba evoca a idéia de ereção. Agun-do no Baixo Dahome,
o sentido de membro viril”).
Este Odu, assim como o Orisha Ogun, rege todos os metais negros tudo o que é de
ferro e o trabalho realizado nas forjas, ocupando-se também, do arco e da flecha.
Considerado um símbolo muitíssimo perigoso, comanda o membro viril, os testículos, a
ereção, o esperma e determina, ate certo ponto, os hábitos sexuais e as doenças venéreas.
Foi sob este signo que Shango desceu a Terra. Segundo alguns Bokono, Gu (Ogun) e
Xevioso (Shango), possuem origens idênticas e a diferença reside apenas em suas
manifestações. Eta Ogunda preside os partos e desta forma, todas as crianças vem ao
mundo sob sua ação e responsabilidade.
A noção de corte, de separação, esta ligada a Eta Ogunda, no entanto a decapitação
não é de seu domínio, embora esteja sempre presente a esse tipo de acontecimento,
somente como instrumento do mesmo.
As pessoas nascidas sob este signo, possuem um sentido de moral não muito sólido,
são ciumentas, enganadoras e dissimuladas. Dotadas de inteligência muito bem
desenvolvida, costumam usá-la de forma astuta e diabólica.
Prenuncia duvidas, falsidade oculta, prisão, briga, caso de justiça, perigo, vícios,
depravação e guerra.
Aconselha a não confiar nos outros, para não sofrer decepções. Se o consulente for
do sexo masculino, é pessoa volúvel e sem fé.
E um Odu de prenúncios quase sempre negativos, quase sempre diz não e sua ação é
destrutiva e dissolvente.
SAUDAÇÕES DE ETA OGUNDA
Em Fon: Mikã Guda Meji
Ma saglagla ka ie o!
Tradução: Saudamos Ogunda Meji
Para que sua força nunca se volta contra nós!
Em Yoruba:Ogunda teteii,
Farale, afesule,
Lesi losun.
ETA OGUNDA EM IRE:
Quando em Ire, Eta Ogunda pode indicar, principalmente: desmascaramento de
pessoas que vem agindo com falsidade, descoberta de uma traição, vitórias sobre inimigos,
guerra ou disputa em que a vitória está assegurada, vigor físico, virilidade, nascimento de uma
criança, sobrevivência de uma situação de extremo perigo, (Ire Aiku).
ETA OGUNDA EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Violência imposta ou sofrida, corrupção moral,
toxicomania, alcoolismo, falta de escrúpulos, guerra, disputas acirradas que levam a
desenlaces violentos, acidentes, morte violenta, agressões, perigos em viagens, inversões e
perversões sexuais, traição, morte por envenenamento, conduta imoral.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje):Lisa, Age, Dã, Ke, Toxosu, Hoho, Gu e Xevioso.
Orixás (nagô):Ogun, Shango, Oshossi, Oxumare, Ibeji, Oshaguian, Eshú e Ajé.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
INTERDIÇÕES DE ETA OGUNDA:
Eta Ogunda, proíbe seus filhos: Carne de galo, inhame pilado, bebidas alcóolicas,
mandioca, crocodilo, antílopes, as serpentes, cavar sepulturas ou buracos, transportar armas
ou guardá-las em baixo da cama (principalmente facas e punhais).
Os animais oferecidos sob as ordens desse Odu, devem ser decapitados em
decorrência da idéia de divisão incluída o próprio nome do signo. Proíbe ainda, a seus filhos o
uso de certas vestimentas como o “godo” (espécie de tapa-sexo) e um tipo de culote,
denominado “shokoto shaka”.
SENTENÇAS DE ETA OGUNDA:
(1) A árvore que conhece o aço, terá seu desenvolvimento interrompido. (Existe uma ameaça
de morte pairando sobre o consulente, que deve fazer ebó, para se livrar do perigo).
(2) A faca que ataca o sorgo, come o seu cadáver (a espiga do sorgo). (Se o consulente não
morrer, derrotara seu inimigos).
Ebó: Com uma faca, cortas algumas espigas de sorgo(pode substituir por milho) e
embrulha-lhas num pano, juntando a elas várias frutas que possam ser cortadas com faca. O
Sacerdote sacrifica um cabrito, pila alguns grãos de sorgo e mistura a farinha obtida a um
pouco de yerosun, coloca tudo dentro de uma almofada que será entregue ao cliente, que
depois de enfeitá-la com contas verdes e amarelas, oferecerá a Ifá. Enquanto este objeto
permanecer no local onde for colocado, o cliente triunfará sobre seu inimigos.
No forro da almofada, são colocados os chifres do cabrito sacrificado, o yerosun misturado
com a farinha e vários grãos inteiros do sorgo. O embrulho com as espigas e as frutas, é
oferecido a Elegbara, junto com o cabrito sacrificado. A faca utilizada também fica dentro da
almofada.
3- A mulher do caçador não grita em vão, a flecha de seu marido penetrou o corpo de um
animal. (Os desejos do consulente serão realizados).
Ebó: O consulente devera oferecer a Elegbara uma lança de ferro, sobre a qual deverá
ser sacrificado um galo. A lança devera permanecer para sempre, no igba de Elegbara.
Prece do Ebó:Guda gbãun
Gun!
Gbãun!
Te!
Gbãun!
Tete!
Tete gbãun!
Te!
Gbãun!
(4) A maneira recurvada não precisa mais preocupar-se com suas costas. (O consulente, não
tendo mais ereções, não precisa mais preocupar-se com o cansaço ocasionado pelo ato
sexual)
Ebó: Um pequeno arco de ferro (gã-da ou ofá), deverá ser colocado sob o pênis do
consulente, um galo é imolado sobre o conjunto, de forma que o ejé escorra sobre o pênis e o
arco e caia sobre o igba de Ogun ou de Eshú, (apura-se a quem será oferecido o sacrifício). O
arco deverá ser mantido para sempre, no igba.
(5) Se o machado foi ao campo e cortou muita madeira, voltará para casa. (Ogun está dando
uma chance ao cliente, dependendo deste, saber aproveitá-la).
(6) Guda entrou em ereção: se o pênis de Elegba Adingbã ficou ereto, todas as vaginas serão
penetradas. (O consulente, embora esteja com as funções sexuais em forma, terá em breve,
problema de impotência).
Ebó: O mesmo da sentença no 4, apenas substituindo o ofá por um parafuso de linha
de trem.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
ITAN DE ETA OGUNDA
(1) O antílope Agbãli, lançava seu brado em Ife e as pessoas morriam.
O mocho Agbigbi, lança seu brado nesta vida e as pessoas morrem.
Ifá foi consultado por Oshossi e recomendou-lhe que fizesse um sacrifício porque,
mesmo fazendo o bem aos outros, nunca conseguia tirar disso o menor proveito, ficando sem
ter sequer o que comer.
O sacrifício constava de vasos quebrados, flechas, duas galinhas e um cabrito, mais
Oshosi, negou-se a oferecer o ebó.
Como a cada grito do antílope Agbãli as pessoas morressem, o rei Metolonfin, não
sabia o que fazer para caça-lo. Sabendo disto, Oshosi se apresentou ao rei, dizendo que, se
lhe construíssem uma casa em forma de circulo e o colocassem dentro e lhe desse uma
flecha e se todo o povo do pais se reunisse ao redor, lançaria a flecha que iria atingir a marca
branca, existente no pelo do antílope e que ficava justamente na direção de seu coração.
Tudo foi feito de acordo com a orientação do caçador e no dia que o animal surgiu, uma
flecha foi atirada, indo atingir a marca branca que ficava na altura de seu coração.
Oshosi gritava feliz: “Eu o matei!” - E o povo, olhando na direção Agbãli, via que era
verdade.
Quando o mocho Agbigbi se aproximou, Oshosi disse: “É na garganta que devo atingi-
lo” e lançando sua flecha, atravessou com ela o pescoço do animal.
Todos reunidos foram ver o que estava acontecendo e assustados comentaram:
“Aquele que prendemos na choupana onde não existem partas nem janelas consegue abater
qualquer tipo de caça! Quando não mais existirem animais para serem caçados no pais, sem
dúvida caçará o próprio rei!”.
Mais havia muita caça na região e Oshosi construiu sua casa no interior da floresta,
reforçando as paredes com os cacos de muitos vasos quebrados.
O caçador recusara-se a oferecer o sacrifício determinado pelo Odu e por isto, todo o
bem que fizesse aos homens não lhe resultaria em nenhum proveito. Mesmo assim, Elegbara
fez dele o caçador do pais. Depois disto, os muros de seu templo devem ser incrustados de
cacos de vaso de barro Para que o bem praticado pelo consulente obtenha o merecido
reconhecimento, deve ser oferecido um sacrifício com o seguinte elemento:
- Vários cacos de vasos quebrados, um galo, um cabrito, dezesseis flechas, um pequeno
arco, uma aljava (seteira).
(o sacrifício é oferecido a Oshosi e os animais sacrificados em seu igba).
(2) Quem procura o combate? E a vez de Ogun lutar contra Meji!
Metolonfin tinha uma linda filha chamada Meji. O rei, por muito que tentasse, não
conseguia arrumar marido para a jovem.
Meji era muito belicosa e guerreira valente, todos os que se apresentavam com a
intenção de desposa-la, eram desafiados para um combate singular, e acabaram derrotados
pela poderosa princesa.
Desesperado com a situação e temendo que a filha jamais viesse a encontrar um
marido, Metolonfin convidou os reis de Aja, de Ke, de Hun e de Ayo, para candidatarem-se ao
casamento.
Atendendo ao convite, os quatros reis vieram acompanhados de toda sua corte. Mas
Meji não abriu mão de suas exigências, só se casaria com o homem que conseguisse derrota-
la em combate.
O primeiro a amargar a humilhação de derrota, foi Aja Xosu e em seguida, de nobres
componentes de sua comitiva: depois foi a vez de Ke Xosu e seus amigos foram derrotados
pela bela princesa.
Ogun, que a tudo assistia, foi perguntar a Ifa sob que Odu poderia encontrar proteção
para derrotar a nobre guerreira, conquistando assim, o direito de desposa-la.
Na consulta surgiu Ogunda Meji, que ordenou: “Traga um galo, acaça, azeite de
dendê, uma cabaça, um pombo, uma corda e vários pedaços de pano”.
Quando Ogun lhe entregou o material, Ifa enfiou na corda, algumas contas, com ela
amarrou os pedaços de pano e as pernas do pombo, pegou o galo e enfiou debaixo de suas
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
asa, varias folhas de kpelegun e entregando tudo a Ogun, disse: “Quando partires, deixe o
galo em casa e amarre a corda em volta de tua cintura”.
No mesmo dia, Ogun desafiou a bela Meji para o combate, durante o qual, a corda que
trazia a cintura, rompeu-se e caindo ao chão, embaraçou as pernas da princesa que
desequilibrada, caiu derrotada aos pés de Ogun.
No mesmo instante, o galo começou a cantar:
Gbo gbo gbo,
Guda Mejiiii!
(Ogun desposou Meji!).
Ebó: Conforme indicado no itan. O galo é solto no quintal e o pombo sacrificado para
Ogun é oferecido dentro da cabaça, com acaça e azeite de dendê. O fio de contas com os
pedacinhos de pano, é colocado em volta do igba Ogun.
(3) Havia um homem que, por sua enorme sabedoria, era muito procurado por seus vizinhos e
demais moradores da cidade.
Certo dia, o sábio adoeceu e sua morte era aguardada a qualquer momento.
Usando de seus conhecimentos, o ancião resolveu enganar a morte e para isto,
preparou um ebó com o igbi, dois pombos, um preá, mel e efun, colocando tudo num buraco
que cavou no chão.
Quando a morte aproximou-se sob a forma de um grande pássaro, o homem correu
ate o local onde havia depositado o ebó e pegando o igbi, colocou-o sobre sua cabeça, que
antes havia untado com bastante mel.
O pássaro Iku, pensando tratar-se do ori do sábio, cravou as garras afiadas no igbi,
carregando-o para o mundo dos mortos.
Desta forma, o velho, com seu saber, conseguiu ludibriar a morte.
Ebó: Um igbi, dois pombos, um preá, mel e efun ralado.
Cava-se um buraco no chão, sacrifica-se, dentro dele, os dois pombos e o preá, rega-se tudo
com mel e cobre-se com o efun ralado. Unta-se a cabeça da pessoa doente com mel, puxa-se
o igbi e envolve-se o ori com um pano branco. Em seguida, coloca-se a carne do igbi dentro
do buraco e sobre ela mais um pouco de mel e pó de efun, tapa-se o buraco sepultando os
animais sacrificados. Sobre o buraco, coloca-se o casco do igbi, coberto de mel e pó de efun.
O cliente deve permanecer em repouso absoluto e guardar resguardo total por um período de
24 horas, findo o qual, deve tomar banho com ervas frias e usar roupas brancas por 7 dias. O
sacerdote deve fazer sara iyeiye em seu próprio corpo, tomar banho de ervas e guardar o
mesmo resguardo do cliente. Trata-se de um ebó muito perigoso, que exige o maior cuidado,
é aconselhável dar comida a Eshú antes do ebó, para garantir seu sucesso.
(4) Enure era o nome do homem que, apesar de muito trabalhador e esforçado, não
conseguia progredir na vida, por ser perseguido permanentemente por dois inimigos muito
poderosos, chamados Perseguição e Inveja.
Orientado por amigos que testemunhavam sua penúria, Enure foi consultar o Oluwo,
surgindo Eta Ogunda, que determinou um sacrifício para Eshú.
Feito o ebó, Enure conseguiu livrar-se de Perseguição e Inveja, que pela ação de
Eshú, esqueceram seu endereço, passando, a partir de então, a ser visitado constantemente,
por Progresso e Riqueza.
Ebó: Uma galinha d’Angola, pólvora, moedas correntes, mel, dendê, oti e uma
bandeira branca.
Passa-se tudo no cliente, sacrifica-se o etu a Eshú, dá-se ponto de fogo com a tuia,
despacha-se na encruzilhada, com a bandeira branca asteada em cima.
(5) Ogunda Meji foi procurado por Nã, Vodun mãe de Ifá, que não conseguia parir, uma vez
que não possuía nádegas.
Naquele tempo, Ifá tinha seu conhecimento restrito aos acontecimentos do local onde
se encontrava. Consultando seu próprio jogo, na esperança de obter uma maior capacidade
de predição, encontrou Ogunda Meji, que lhe pediu um peixe como sacrifício.
Sabedor de que Nã possuía em sua casa um poço para criação de peixes (Togodo).
Ifa pediu-lhe que lhe trouxesse um, para que pudesse fazer o ebó.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Os dias se passaram e como Nã não trouxesse o eja, Ifá, que possuía uma cabaça,
pegou-a e dirigiu-se a casa de Nã.
Lá chegando, dirigiu-se ao poço e com sua cabaça, começou a retirar água de seu
interior, para deixar os peixes a seco, o que facilitaria sua tarefa.
Vendo o que estava acontecendo, Nã protestou, afirmando que o Babalawo que havia
consultado, também havia lhe pedido um peixe como sacrifício, mas ela não possuía cabaça,
o que impedia que capturasse um peixe em seu próprio poço.
Combinaram, que quando toda a água tivesse sido retirada, os peixes encontrados
seriam repartidos entre os dois, acontecendo no entretanto, que quando a água acabou,
somente um único peixe foi encontrado no fundo do poço.
Nã reclamou o peixe para si sob a alegação de que o poço se encontrava em seu
quintal e que tudo o que estivesse dentro dele lhe pertencia.
Por sua vez, Ifá considerava-se dono do peixe, já que fora ele quem com a cabaça de
sua propriedade, o havia capturado, o que certamente não poderia ter sido feito por Nã.
A discussão prolongava-se sem que ninguém cedesse seu direito sobre o peixe.
Naquele tempo, o Vodun Gu, que já havia consultado o Oráculo e feito o seu sacrifício,
recebeu um gubasa. do qual jamais se separava. Como passasse pelo local em suas
andanças em busca de caça, foi chamado a intervir como arbitro da questão.
Gu ordenou então, que Ifá segurasse o peixe pela cabeça e que Nã o segurasse pelo
rabo, puxando com firmeza, cada qual para seu lado, ao mesmo tempo em que mantinham os
olhos bem fechados.
Com um rápido golpe de seu afiado gubasa, Gu dividiu o eja em duas partes e depois,
ordenou que Nã ficasse com a cauda do peixe e fizesse com ela o sacrifício, para que
pudesse obter nádegas, que permitiriam que viesse a parir filhos como todas as mulheres. Ifá
ficou com a parte da cabeça, que ofereceu em sacrifício ao seu próprio Ori, para fortifica-lo
em melhor capacita-lo para suas funções.
Foi assim que Nã, colocando a cauda do Peixe abaixo de sua cintura, logrou vê-la
transformada em nádegas, enquanto Ifá oferecendo a cabeça do peixe ao seu ori, teve sua
capacidade de previsão aumentada infinitamente.
Depois disto, costuma-se dizer:
“Gu da eja-meji”
(Ogun partiu o peixe em dois).
Ebó - Uma cabaça, um peixe de água doce, uma faca nova e bem afiada. Corta-
se a cabaça em duas partes, o peixe e dividido, com auxilio de faca, em duas partes. A parte
da cabeça é colocada dentro de uma das metades da cabaça é oferecida a Orunmila, a parte
do rabo, colocada na outra metade da cabaça, é oferecida a Nanã. Tudo deve ser muito bem
temperado com mel, dendê e grãos de Lelekun e oferecido aos orisha correspondente a
Orunmila, fica a Este e a parte de Nanã, no lado oposto ao poço (Oeste). A faca utilizada no
ebó, é oferecida a Ogun e deve ficar no seu Igba, para ser utilizada em outros ebó.
Este ebó, é indicado para pessoas que estejam com dificuldades de assimilação em
qualquer tipo de aprendizado e também para mulheres que, por qualquer motivo, não
conseguem engravidar.
(6) Um certo príncipe, tendo ficado na mais absoluta miséria e não agüentando as privações
às quais estava sendo submetido, resolveu dar fim a própria vida.
Munido de uma corda, internou-se na floresta em busca de uma árvore onde pudesse
enforcar-se.
Já no interior da floresta, encontrou um pobre leproso coberto de chagas, sem roupas
nem comida, que apesar de tanta infelicidade, lutava para sobreviver, procurando naquele
lugar, folhas e raízes, que pudesse matar sua fome e amenizar suas dores. No desespero de
seu sofrimento, o leproso tentava colocar a água de um igbi sobre sua própria cabeça, com a
intenção de refresca-la e alivia-la do terrível calor que a tudo castigava. Chocado com o que
viu, o príncipe retornou a sua aldeia e lá chagando, ofereceu um ebó que lhe determinou o
Oluwo.
Poucos dias depois de haver oferecido o sacrifício, chegou a noticia de que o rei do
pais havia falecido e ele, como parente mais próximo, fora indicado para substitui-lo no trono.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Em sinal de agradecimento, o novo rei mandou buscar o pobre leproso que vivia
internado na floresta, oferecendo-lhe conforto e tratamento para sua doença.
Este Itan indica que o cliente apesar das dificuldades por que vem passando,
oferecido o ebó, sairá vitorioso ao final.
Ebó: Uma corda do tamanho da pessoa, dois pombos, um igbi, obi, efun, mel dendê,
muitas moedas e ataré. Passa-se tudo no cliente, coloca-se a corda no fundo de um alguidar,
sacrifica-se os bichos em cima e arruma-se no mesmo alguidar, tempera-se com os demais
ingredientes e espalha-se as moedas por cima de tudo. Despacha-se no alto de um morro por
onde passe uma estrada.
(7) A vida não será ruim para aquele que encontrar dois ovos negros de pássaro adowe.
Adowe, conhecido entre os yoruba como leke-leke, é um pássaro de plumagem
inteiramente branca e seus ovos, como ele próprio, são completamente brancos. As penas do
adowe são utilizadas nas cerimonias de Obatala, cuja cor é também o branco.
Este pássaro, é uma espécie de garça que se alimenta das parasitas existentes na
pele dos búfalos que vivem nos pântanos.
Agbogbo nla fo laga le gã.
(quando o agbogbo voa, ouve-se ao longe o ruído de suas asas).
Os dois adivinhos que consultaram Ifá para Tela, filho do rei, deram a ele este nome.
Quatro advinhos que consultaram Ifá pra Tolo, advinho da floresta de Were.
E Tolo comeu, Tolo bebeu, ela caminhou levantando os dois pés ao mesmo tempo
(com facilidade, com leveza): ele demorou vinte anos antes de retornar a sua floresta.
Um filho do rei de Ayo, chamado Tela, encontrava-se certa ocasião, muito endividado.
Querendo se casar, pegou emprestado, dinheiro para o dote, comprometendo-se a efetuar o
pagamento com seu trabalho no campo.
Seu credor, que era um homem muito ganancioso, explorava terrivelmente o pobre
rapaz, exigindo dele, cada dia mais e mais trabalho no campo.
Desesperado, Tela foi consultar os pássaros Leke-leke e agbogbo que, entre os
pássaros, eram conhecidos como excelentes Babalawo.
“Como fazer? “- perguntou ele - “Para livrar-se desta dívida e voltar novamente a ser
livre?”.
Os pássaros prescreveram sacrifícios e disseram que depois de oferecidos os ebó, a
pessoa que o escravizava seria duramente castigada e para ele, adviria uma grande riqueza e
muita felicidade, só não podendo revelar a ninguém o que seria feito.
Tela teria que comprar dois cabritos para serem oferecidos a Ifá. O que não foi
possível, devido a extrema miséria em que se encontrava.
Voltando ao campo de seu amo, enquanto trabalhava a terra, Tela encontrou um
buraco onde havia esquecida um grande quantidade de dinheiro.
Feliz com o achado, o jovem pagou a divida e passou a viver como um nababo,
organizando banquetes onde, em companhia de seus amigos, consumia muita comida,
bebida, dinheiro e conversa.
Numa destas reuniões, já tendo bebido e comido demais, Tela contou a seus amigos
tudo o que se passara entre ele e os pássaros advinhos, quebrando a promessa de manter
segredo sobre o que acontecera.
Os amigos e as farras levaram Tela novamente a ruína. Se tivesse oferecido os
cabritos, o segredo não teria sido revelado e nada de mal poderia lhe acontecer.
Ao saber do acontecido, Agbogbo disse a Tela: “Olhe só, todo mundo sabe do nosso
segredo, da mesma forma que todo mundo sabe quando levanto vou. Os teus azares
surgiram de tua indiscrição, nada temos com isso!”.
Ebó: Dois cabritos devem ser oferecidos a Exú e sacrificados, obedecendo o ritual de
praxe. Coloca-se em Exú, como adorno, duas penas de Leke-leke e duas penas de Aloko.
Este trabalho, é para solucionar problemas de pessoas que estejam demasiadamente
endividadas.
(8) Ogun Badagli, era o chefe das tropas de Oduduwa. Um dia, Oduduwa ordenou que seu
general, a frente de seus exércitos, invadisse e dominasse a cidade de Igbo, para ali
estabelecer o seu domínio.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Quando Ogun Badagli invadiu a cidade, conheceu ali uma belíssima jovem, filha do rei
de Igbo, por quem se apaixonou e tomou como mulher.
Era costume, que todos os despojos de guerra, deveriam ser entregues ao rei
vencedor e Ogun Badagli entregou a Oduduwa, tudo o que havia trazido da cidade saqueada,
com exceção da mulher pela qual havia se apaixonado.
Informado de que seu general havia ocultado uma prisioneira, Oduduwa exigiu que
esta lhe fosse entregue. Maravilhado pela beleza da jovem, o rei conduziu-a a seus
aposentos, onde a possuiu. Dez luas depois, a mulher deu a luz a um menino, que tinha o
lado esquerdo negro e o lado direito inteiramente branco, filho que era de dois pais. Ogun
Badagli, de pele negra e Oduduwa, de pele branca como a neve.
Ao recém nascido foi dado o nome de Oraniyan.
Este itan não é determinante de nenhum tipo de ebó, servindo apenas, como muitos
outros, como narração sobre a origem de um Orishá.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO.
IROSUN MEJI
Irosun Meji é o 4º Odu no jogo de búzios e o 5º na ordem de chegada do sistema de
Ifá, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 4 (quatro) búzios abertos.
Em Ifa, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Loso Meji”, “Losun” ou “Olosun Meji”.
Os Nagô o chamam também de Oji Orosun.
Irosun, designa uma tintura vegetal vermelho - sangue, conhecida pelos Fon por
sokpepe é utilizada ritualistica e medicinalmente, como cicatrizaste. Irosun Meji é por vezes
chamado “Akpan”, nome de um pequeno pássaro negro, muito esquivo dos demais pássaros
e que tem a fama de costumar defecar sobre as cabeças das outra aves.
Sua representação indicial em Ifa é: * *
* *
* ** *
* ** *
que corresponde, na Geomancia Européia, a figura denominada “Fortuna Minor”.
Irosun Meji é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Terra, com
predominância do primeiro, o que indica escasses, parcimônia, insuficiência de recursos para
que a meta seja atingida em toda a plenitude. Corresponde ao ponto cardeal, Este-Nordeste,
a carta 3a do Tarot, (A Imperatriz ) seu número é o 4.
Suas cores são o vermelho e o laranja. É um Odu masculino, representado
esotericamente por uma espiral, ou por dois círculos concêntricos, representação de um
“do”(buraco ou cavidade).
Irosun Meji é muito forte e muito temido. Expressa a idéia de maldade, de miséria, de
sangue. Segundo informações, Irosun Meji teria dado aos reis da terra o sabre de Ogunda
Meji, para que fizessem derramar o sangue humano.
Foi este Odu quem criou as catacumbas e as sepulturas.
Sempre que surgir durante uma consulta, deve-se imediatamente, passar pó de efun
nas pálpebras, por três vezes.
Exatamente por ser um signo muito negativo e estar sua negatividade diretamente
associada a cor vermelha, e que se recomenda, tanto ao advinho, quanto ao cunsulente e aos
assistentes, neutralizarem os malefícios da cor vermelha, através da proteção da cor branca
do efun.
Irosun Meji, rege todos os buracos da Terra, sendo esta a sua mais importante
atribuição. Por ele foram criados os macacos “Xlan”, a planta “sokpepe”, cuja cor faz lembrar o
sangue, a menstruação feminina (inclusive dos animais), o pássaro “dregbawe”, que segundo
dizem , teria inventado os jogos de azar, ao jogar contra a morte e continuar vivo: o pássaro
“Ge”, de plumagem vermelha, além de inumeráveis outras coisas.
A mentira descende de Oyeku Meji (Eji Ologbon) - mentiras que visam conservar a
vida: de Ogunda Meji (mentiras dos caçadores - engodos, armadilhas, arapucas); de Otura
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Meji - mãe da mentira, cujo pai é o roubo e de Irosun Meji - que pretende ter domínio sobre o
sangue, mas não possui faca para fazê-lo escorrer.
Irosun Meji comanda todos os metais vermelhos, como o cobre, o bronze, o ouro, etc...
Prenuncia acidentes, miséria, fraudes, sofrimentos, ambição e impetuosidade.
Pequenas vitórias, aquisições de pouca importância, satisfação com pouca coisa são também
prenúncios deste signo.
Os filhos deste odu são predestinados a adquirirem conhecimentos dentro de Ifá, para
que não permaneçam precocemente. Para que a morte não ocorra de forma precoce, faz-se
um ebó, composto de uma vara do tamanho da pessoa, a qual se sacrifica eyele Meji e se
enterra no pátio ou quintal da residência, junto com os pombos, bastante efun, mel e dendê,
tendo-se antes lavado a vara com omi-ero de erva pombinha e sempre viva.
São pessoas orgulhosas, animadas, exaltadas, realizadoras, muito agressivas e que
se deixam dominar pela cólera com muita facilidade.
Indica problemas relacionados ao ritmo cardíaco, inflamações e avermelhamento das
vistas, paralisia do sistema motor, inflamações cerebrais e intestinais, problemas circulatórios
em geral.
É um Odu de prenúncios medianos, que fala do bem e do mal com a mesma
intensidade.
SAUDAÇÕES DE IROSUN MEJI:
Em Fon:Mi Kã Loso-Meji
Ma do nu kun mia ni e o!
Tradução: Saudemos Irosun Meji, para que nossos olhos
jamais se anuviem.
Em Yoruba: Irosun Meji, Ojiroso apantaritá
Begbe ojoroko
To begbe lojokun.
IROSUN MEJI EM IRE:
Quando em Ire: Irosun Meji pode indicar, principalmente: Vitória pelo esforço
despendido, conformação, trabalho que surge, início de uma nova empresa, peregrinação
religiosa, conquista de bem de pouco valor mas que irão trazer satisfação, obtenção de
recursos suficientes para satisfazer as necessidades, sorte no jogo.
IROSUN MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Ofensas, calunias, perigos de acidente,
derramamento de sangue, homem que deve ser evitado, mulher perigosa e faladeira, notícias
ruins, doença em casa ou na família, miséria, recursos insuficientes.
Neste odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Nã, Lisa, Xevioso, Dã, Iyalode e Tovodun.
Orisha (nagô): Iyansã, Oshosi, Obaluaie, Osain, Iyemanja e Egun.
INTERDIÇÕES DE IROSUN MEJI:
Irosun Meji proíbe os seus filhos: O uso de roupas e objetos vermelhos, as frutas e
cereais de casca vermelhas, relacionamento sexual com filhos de Omolu ou de Shango,
envolvimento em brigas, discussões ou questões judiciais (das quais saem sempre como
perdedores, carne de macaco, de antílope, de galo e de elefante. Não devem comunicar a
ninguém seus planos, sob pena de não vê-los realizados. Não podem roer ou chupar ossos
de animais, principalmente da cabeça; saltar sobre valas, buracos e fossas; caminhas por
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
locais onde existam mangues e, se isto for inevitável, devem fazer limpeza de corpo, com
ovos e velas.
SENTENÇAS DE IROSUN MEJI:
(1) Ninguém conhece tudo o que existe no fundo do mar.
(o cliente deve controlar a sua curiosidade, pois o fato de conhecer determinados segredos,
pode colocar sua vida em perigo).
(2) Se um pássaro pretende capturar um alaxa (espécie de verme provido de pele espinhosa
e urticante), deve adaptar ao seu bico uma pinça de ferro.
(Alguém que quer o mal do consulente, verá este mal virar-se contra si).
(3) Todos os pássaros compraram roupas brancas, mas Ge, por vaidade, comprou um seda
vermelha como sangue e dentro da floresta ficou parecendo uma chispa de fogo. Guando os
caçadores o viam de longe não hesitavam em abatê-lo, atraídos por sua beleza.
(O consulente deve conservar a modéstia, para não atrair atenção sobre sua pessoa).
(4) Quando o Akpan está encolerizado, todos os pássaros se escondem. Quando os homens
se encontram com o rei, também devem se esconder.
(O consulente deverá oferecer sacrifícios, para livrar-se de uma situação embaraçosa com
alguém de autoridade).
(5) Enquanto existir homem, a águia, o pássaro vermelho Ge, não pode intitular-se rei).
(O consulente herdará os bens e a autoridade de seu pai, devendo para isso, oferecer os
sacrifícios determinados).
(6) Quem diz azeite vermelho, não diz azeite rançoso. Todos estão sujeitos aos sofrimentos e
provas impostos pela vida e ninguém morre por isso.
(O consulente conhecerá a dor e o sofrimento mas, se oferecer os sacrifícios determinados,
sobreviverá a tudo).
(7) Todo fogo se apaga, mas o fogo que ilumina a cauda do pássaro Kesse, não se extinguirá
jamais.
(O consulente terá todos os seus sacrifícios recompensados).
Obs.: Esta sentença, embora pertencendo originalmente a Owonrin Meji, adapta-se
perfeitamente a proposta de Irosun Meji.
(8) É embaixo do Sol que o martelo malha a bigorna pesadamente.
(O consulente triunfará sobre seus inimigos se realizar o ebó determinado).
ITAN DE IROSUN MEJI
(1) Fogo e Chuva disputavam o amor de uma mulher, mas os esforços tanto de um como de
outro, não adiantavam nada. A discórdia passou a reinar entre os dois, a mulher os separaria
para sempre.
A questão tornou-se publica, uma vez que a disputa entre eles era feita abertamente.
O escândalo foi tamanho, que Metolonfi, convocou a sua presença todos os envolvidos,
inclusive a mulher.
Diante do rei, cada um expôs suas razões e foram intimados a cessarem a disputa por
um período de nove dias, findo os quais, certamente já se teria encontrado uma solução
definitiva para o problema.
Depois da audiência, cada um procurou se destino.
Fogo foi consultar seu advinho, Ina Pupa (Fogo Vermelho) e durante a consulta surgiu
Irosun Meji, determinando que Fogo fizesse um sacrifício composto de duas cabras, dois
panos negros, dois panos brancos, vinte moedas e mais nove moedas. Fogo no entanto, não
levando em consideração a orientação, não ofereceu o ebó.
Chuva também tratou de procurar o seu advinho, Ojo Dudu Nimije (Eu sou a Chuva
Negra) e durante a consulta, apareceu também Irosun Meji, que exigiu que fosse oferecido o
mesmo sacrifício. Ao contrário de seu adversário, Chuva cumpriu sua obrigação, segundo a
orientação do Oluwo.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Fogo morava a uma distância do palácio real, como a que separa Porto Novo de
Sakete (38 Km) e Chuva morava a uma distância, como a que separa Porto Novo de Shotonu
(32 Km).
Quando chegou o nono dia, o rei convocou os três interessados para uma nova
reunião no palácio.
Fogo já se pusera a caminho, antes da convocação do rei, queimando tudo o que
encontrava em seu caminho, provocando toda a luminosidade que era capaz.
Chuva, depois da consulta, envolveu-se num tecido negro que obscurecia a própria
natureza e ninguém caminhava ao seu redor.
Apesar de Fogo haver saído primeiro, Chuva, talvez por residir um pouco mais
próximo, chegou primeiro ao palácio real. Quando Fogo, com enorme alarido, se aproximou
do palácio, Chuva precipitou-se sobre ele, apagando-o antes mesmo que pudesse se
apresentar a Metolofin.
Foi desta forma que Chuva, provando ter mais força que Fogo, conquistou o coração
da mulher, que cantava diante do combate:
O Fogo Vermelho brilha de fúria!
Chuva é tomada da mesma cólera!
Grande é a minha glória!
Meu coração preferiu o frescor (de Chuva).
Ebó: Duas Cabras, dois panos brancos, dois panos pretos, efun, epô pupa, mel, osun,
efun, uma pena de ekodide. As cabras são sacrificadas a Elegbara. Uma é coberta com pó de
Osun, mel dendê e um pouco de ataré. É embrulhada, primeiro no pano branco, depois no
pano preto, tendo-se antes, colocado a pena de ekodide entre os chifres e finalmente, é
despachada na beira de um rio ou lagoa. A segunda cabra tem o ori recoberto com efun,
devendo permanecer algumas horas nos pés de Elegbara. Sua carne e limpa e comida pelas
pessoas da casa do consulente, ou distribuídas entre seus amigos. O ori deve ser enterrado
perto de um formigueiro, sendo retirado depois de nove dias e colocado para sempre, na casa
de Elegbara.
Este ebó é recomendado para qualquer pessoa que esteja envolvida numa disputa de
ordem sentimental, servindo tanto pra homem quanto para mulher.
(2) Kpo, o Leopardo, era, por sua força e astúcia, o animal mais temido e odiado da floresta.
Um dia, todos os bichos reuniram-se para arquitetar uma maneira de se livrar
definitivamente do tão indesejável vizinho.
Informado do que estava ocorrendo, Kpo consultou o Bokonõ, surgindo Irosun Meji na
consulta, que lhe determinou ser oferecido um sacrifício composto de dois galos, um etu, epo
pupá, mel, oti e bastante algodão.
No dia do ebó, depois de oferecer o sacrifício, o Bokonõ envolveu cuidadosamente, as
patas do Kpo com o algodão, libertando-o em seguida.
Ao aproximar-se da praça onde todos os bichos estavam reunidos, o leopardo caiu
num grande buraco, que haviam preparado como armadilha para ele e no fundo do qual
haviam colocado muitos espinhos, com a intenção de provocar-lhe sérios ferimentos nas
patas, o que o deixaria indefeso diante de seus inimigos.
O algodão colocado ao redor de suas patas, serviu de defesa contra os espinhos e
Kpo incólume, saltou do interior do buraco, colocando em fuga aqueles que pretendiam fazer-
lhe mal.
Este Itan faz referência a uma grande falsidade que estão tramando contra o cliente
que, feito o sacrifício indicado, sairá vitorioso depois de desmascarar seus inimigos.
Ebó: Dois galos, um etú, dendê, mel de abelha, oti e algodão em rama. Cava-se um
buraco, dentro do qual os animais são sacrificados em louvor a Eshú, cobre-se tudo com mel,
epo e oti e tapa-se a boca do buraco com folhas, não enchendo-o de terra. As patas dos
animais oferecidos, são envolvidas em algodão e todo o sacrifício também é recoberto com o
mesmo material, dentro do buraco.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(3) Certo homem, encontrando-se doente e na mais absoluta miséria, resolveu consultar Ifá,
em busca de solução para seus males, Irosun Meji apareceu na consulta, determinando que
fosse oferecido um sacrifício e que depois disto, o homem deveria partir pra Savalu, onde
deveria, aos pés de um araba, protestar publicamente contra a situação de miséria em que se
encontrava.
Oferecido o ebó o homem dirigiu-se a Savalu e ali, na praça principal, pôs-se a
esbravejar, com um obi em cada mão, atribuindo ao rei do lugar, toda a sua miséria.
Ao tomar conhecimento do escândalo que estava sendo promovido, o rei ordenou que
o infeliz fosse conduzido a sua presença, com o objetivo de fazer alguma coisa pelo homem e
desta forma, calar a sua boca.
Chegando ao palácio, o doente disse que não tinha descanso nem saúde e que tudo o
que desejava era uma vida normal e confortável.
Penalizado, o rei mandou que lhe fosse dispensado tratamento e meios de subsistir
com dignidade, até o final de seus dias, recebendo do pobre enfermo, como sinal de
agradecimento, os dois boi que trouxera consigo.
Ebó: Akuko Meji, um igbi, uma moringa com água, vários tipos de bebidas, dendê, mel,
boi bala Meji. Sacrifica-se os bichos a Eshú, normalmente, com todos os demais ingredientes
do ebó. Os dois obii são oferecidos aos Orisha que se encarregar da solução, conforme
indicado pelo jogo. O sacrifício deve ser oferecido aos pés de um grande arvoredo, de
preferência um Araba. Os obi oferecidos ao Orisha, devem permanecer, durante todo o
tempo, nas mãos do cliente, que, terminado o sacrifício a Eshú, fará seus pedidos, em voz
alta, de frente para a árvore.
Este ebó é indicado para pessoas que estejam com problemas de saúde ou de ordem
financeira.
(4) Ifá havia esquecido suas roupas em Ifé e não conseguia encontra-las, porque não havia
luz. Sentindo-se por demais inquieto, consultou seu Kpoli, surgindo Irosun Meji.
O Fogo, para vir ao mundo, utilizou-se do mesmo signo, mas foi impedido pela Chuva.
O Bokono que consultava para o Fogo, chamava-se Bedezo (O Grande Fogo).
O Odu ordenou que fosse oferecido por Ifá, dezessete insetos diversos, um cabrito e
um carneiro. Fogo recusou-se, sob a alegação de que um simples pedaço de pano o
protegeria melhor de Chuva, que um cabrito e um carneiro.
Zõfloñeñe, o Vaga-lume, consultando por causa da Chuva que apagava o seu fogo,
encontrou o mesmo signo. Toda vez que a Chuva apagava o seu fogo, Zofloñeñe ficava sem
ter o que comer, pois era seu fogo que clareava sua caça.
O advinho prescreveu o mesmo sacrifício: um carneiro e um cabrito. Como o Vaga-
lume não dispunha de meios para fazer o ebó, suplicou a Ifá: “Eu nada tenho, não sei ao
menos onde poderei encontrar estas coisas...”.
Naquela noite Zofloñeñe se encontrava na beira do rio, quando surgiu Legba que
vinha pegar água. Como estivesse muito escuro, Legba murmurou: “Onde poderei encontrar
um pouco de luz para poder colocar minha cabaça na água?”. E direcionando-se aos insetos:
Vocês têm luz?”. Ouvindo aquilo, Zofloñeñe gritou. “Eu tenho luz!”. Legba respondeu:
“Empresta-me tua luz para que eu encontre água e te darei os componentes para o teu
sacrifício!”.
Zofloñeñe imediatamente forneceu luz a Legba e, depois de recolhida a água,
acompanhou-o até sua casa, onde ficou com ele.
Na manhã seguinte, Legba entregou-lhe um carneiro e um cabrito, para que pudesse
oferecer em sacrifício.
Enquanto isso, Ifá reunia os dezessete insetos exigidos para o seu sacrifício e dentre
eles estava o Vaga-lume, que de sua parte, já havia feito o ebó.
Depois disto, Ifá ordenou a Zofloñeñe, que se dirigisse a Ifé e utilizando sua
luminosidade, trouxesse a quinta folha que encontrasse. Não poderia ser a primeira, nem a
segunda, nem a terceira ou a quarta folha, mas somente a quinta folha encontrada. “Tu
colherás a quinta folha que encontrares e a trarás para mim!” A quinta folha encontrada pelo
Vaga-lume era um ewe Kpaklesi (Ologun sheshe), que recolheu e levou para Ifa.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
No caminho de volta, a Chuva caiu com muita intensidade, mas desta vez não
conseguiu apagar o fogo do Vaga-lume. Ifá, muito grato, não hesitou em recompensar
regiamente o inseto, pelo valioso serviço prestado.
Naquela época, o rei Metolõfin possuía uma filha muito bela, que rejeitava tantos
quantos se apresentassem como candidatos a desposa-la.
Fogo e Zofloñeñe, conduzidos por Ifá, apresentaram-se como candidatos a mão da
princesa e disseram ao rei: “Nós viemos nos apresentar pra que sua filha escolha um de nós
como esposo. “A princesa encantada com o brilho e as cores de Fogo, não hesitou em
escolhe-lo recusando assim, as pretensões do Vaga-lume.
Diante disto, Metolofin ordenou que os candidatos voltassem dali a nove dias, para
que se realizasse o casamento e todos os súditos foram convidados para comparecerem e
presentearem os nubentes.
Ao saber da novidade, Elegbara perguntou: “Agbo afa kan Meji te ko si?” “(Qual dos
dois candidatos não ofereceu o sacrifício?)”. E lhes reponderam que o Grande Fogo não
havia feito o ebó. “Como pretende então, desposar a filha do rei Metolofin? Jamais permitirei
que isto aconteça!”. E enviou uma mensagem ao orun: “A mulher que Xevioso pretende tomar
como esposa aqui na Terra, está prestes a casar-se com Fogo”.
Ao receber a mensagem, Xevioso encolerizado, rasgou os céus com seus raios,
clareando a Terra, para que pudesse ver quem era o atrevido chamado Fogo, que pretendia
desposar sua amada. Foi somente a partir deste dia que os raios puderam ser vistos aqui da
Terra.
Em seguida, o Vodun preparou-se para descer à Terra. Todo o céu tornou-se negro.
Fogo, cheio de pavor perguntava: “Como posso ir ao encontro de minha noiva, se não para de
chover?”. E procurou seu Bokono, para saber o que fazer. Na consulta, Ifa cobrou o sacrifício
que havia sido determinado e que Fogo negligenciara. “Se é por isso!”. Disse Fogo, “...vou
faze-lo imediatamente”. Primeiro vou pegar minha noiva e farei o sacrifício logo em seguida.”
No dia das núpcias, Ifa foi o primeiro a chegar ao palácio, em seguida, chegou Xevioso
acompanhado de Legbara.
Fogo, chegando ao local, colocou-se de lado e tocando seu tambor cantava: “Ajuba
Gegezõ...”. E tudo brilhava a sua passagem e as folhas, mesmo as menores, dançavam ao
som de seu tantã.
Xevioso, desejando estragar a festa trovejou: “Búuu!”, e a Chuva caiu com tanta
intensidade, que Fogo se extinguiu. Xevioso, penetrando no palácio, queixou-se por ter Fogo
como rival.
Zofloñeñe, aproveitando-se da confusão, penetrou também no palácio, fazendo com
que sua luz iluminasse o ambiente, enquanto cantava:
“Afete naun! Able ñaun!
Afete naun! Able ñaun!”
(Meu fogo é branco mas pode ficar vermelho subitamente)!
Metolofin defendendo-se: “Foi minha filha quem quis desposar Fogo. Para evitar
qualquer demanda, fica decidido que nenhum de vocês a terá como esposa. A partir de agora,
sempre que qualquer um se habilite a tirar uma jovem da casa de seus pais para com ela se
casar, se neste momento a Chuva começar a cair, o casamento não deverá ser realizado.”
Xevioso, muito aborrecido com a decisão do rei, sentenciou: “Foi por causa de Fogo
que eu perdi esta bela mulher! Sendo assim, eu o controlarei sempre e serei seu chefe e
senhor!”
É por isto, que sempre que chove num dia de casamento, a cerimônia dever ser
adiada para outra data.
Zõ si, ñañe Zõ mon non si, Loso Jime!
(Todo fogo se apaga, mas o do Vaga-lume jamais se apagará, Irosun Meji”).
Ebó: um carneiro e um cabrito, brasas, uma jarra com água, um vaga-lume vivo.
Sacrificam-se os bichos a Elegbara, apagam-se as brasas derramando sobre elas a
água da jarra e solta-se o vaga-lume com vida. A saudação descrita no final do Itan, deve ser
repetida três vezes no momento em que o vaga-lume é posto em liberdade. Este ebó se
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
aplica para pessoas envolvidas em qualquer tipo de disputa, principalmente aquelas
relacionadas a conquista de um amor proibido.
(5) Certo dia, Sol, Lua, Fogo e Kese o Papagaio-de-Cauda-Vermelha, resolveram disputar
entre si, o poder sobre a Terra.
Kese, tratou logo de consultar Ifá, para saber de que forma poderia resolver a disputa
a seu favor. Durante a consulta, o Odu Irosun Meji apareceu, prescrevendo um sacrifico
composto de Igbi, etu e ekodide.
Oferecido o ebó, uma chuva torrencial abateu-se sobre a Terra, apagando o Fogo. Por
muitos dias e noites, as nuvens cobriram os céus, impedindo que o Sol durante o dia e a Lua
durante a noite, pudessem ser vistos pelos habitantes da Terra. Aproveitando-se da ausência
de seus adversários, Kese, que apesar de muito molhado não perdeu o vermelho de sua
cauda, estabeleceu definitivamente seu reino sobre a Terra, saindo vitorioso da disputa.
Ebó: Uma galinha da Angola, um Igbi, quatro penas de ekodidé, mel, dendê, efun e
ataré. Sacrifica-se a galinha da Angola a Eshú, de acordo com o rito normal, cobre-se com
mel, dendê, oti e grãos de ataré. Puxa-se o Igbi, deixando sua água escorrer sobre o ebó,
cobre-se com bastante pó de efun e despacha-se num lugar alto, enfeitando com as quatro
penas vermelhas. Este sacrifício deve ser feito em noite de lua nova ou em qualquer lua,
desde que o céu esteja encoberto de nuvens. É recomendado para pessoas envolvidas em
disputas com adversários poderosos, contando com pouca chances de sair vitoriosa.
(6) Macaco encontrava-se em sérias dificuldades, resolvendo por isto, consultar seu Oluwo.
Na consulta, o advinho encontrou Irosun Meji, que prescreveu um sacrifício de edie funfun,
adie dudu, etú, Igbi, epo pupa, obé e um braseiro cheio de brasas vivas, onde deverão ser
depositadas, depois do sacrifício dos animais, bogbo ata pupa.
Quando o Macaco estava colocando as pimentas no braseiro, desprendeu-se uma
fumaça que penetrando em seus olhos, provocou-se grande irritação, seguida de um forte
lacrimejamento.
O herdeiro do trono, que neste exato momento passava pelo local, ao ver o Macaco
banhado de lagrimas, penalizado quis saber o motivo de tanto choro.
Astucioso, o Macaco descreveu sua desdita, exagerando bastante em suas
necessidades.
O nobre príncipe, condoído com a triste história, ordenou que os guardas conduzissem
o Macaco até o palácio, onde passou a residir, cercado de muito conforto e fartura.
Ebó: Uma galinha branca, uma galinha preta, uma galinha d’Angola, um Igbi, uma faca
virgem, dendê, mel, aguardente, um braseiro, carvão e uma boa quantidade de pimentas
vermelhas. Acende-se o braseiro, cuidando-se que as brasas fiquem bem vivas, proceda-se o
sacrifício dos bichos, utilizando-se para isto a faca nova, tempera-se normalmente com os
demais ingredientes, colocam-se as pimentas vermelhas sobre as brasas acesas defumando-
se, com a fumaça desprendida, o cliente. Despacha-se no lugar determinado pelo jogo. Este
ebó, deve ser aplicado para pessoas que estejam passando por vexames ocasionados por
falta de recursos financeiros, ou em Osogbo ofo ou aje, quando o Opole for Irosun Meji.
(7) Certa mulher, que possuía um pequeno negócio em que fornecia mingau de acaça e de
inhame, estava passando por sérias dificuldades e por isto, foi orientada, por seu advinho a
oferecer um ebó com galos, pombos, acaça e inhame assado.
Feito o ebó, encontrava-se a mulher em seu pequeno negócio quando chegou o
Balogun do pais, acompanhado de toda a sua tropa de guerreiros. Os homens, que
regressavam de uma campanha, estavam famintos e embora não possuíssem dinheiro, foram
servidos pela mulher, que confiando na palavra do General, serviu-lhes toda a comida de que
dispunha, tendo mesmo que pegar emprestado com seus vizinhos, para poder atender a
todos os soldados.
Sete dias depois, o General retornou ao mercado e dividiu com a mulher o produto do
saque obtido em sua campanha, o que representava uma fortuna capaz de assegurar a
bondosa comerciante, uma vida de muito conforto.
Quando procurou seus vizinhos para pagar-lhes o que devia, estes se negaram a
receber, alegando que não lhes devia nada, uma pessoa que vivia sob a proteção de um
guerreiro tão poderoso como Balogun.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Ebó: Dois galos, dois pombos, quatorze acaças, um inhame. Sacrifica-se um galo a
Eshú, com tudo o que lhe cabe por direito, acrescentando a tudo, sete acaças. Isto feito,
sacrifica-se o outro galo e os pombos a Ogun, deixando-se o eje correr sobre a ferramenta e
um pouco sobre o mingau de inhame pilado que já deve estar num alguidar à parte. Arruma-
se o galo da maneira usual, sobre o mingau, e enfeita-se com sete acaças. Devendo-se
indagar onde será despachado. todos os ingredientes, são passados no corpo do cliente.
Este ebó é indicado para pessoas que não conseguem progredir em seus negócios,
passando por dificuldades referentes a dinheiro.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OSHE MEJI.
Oshe Meji é o 5º Odu no jogo de búzios e o 15º na ordem de chegada do sistema de
Ifá onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 5 (cinco) búzios abertos.
Em Ifá é conhecido entre os Fon (Jeje), como “She Meji”. Os Nagô o chamam Oshe
Meji e também, de Oji Oshe, para melhor eufonia. A palavra evoca, em Yoruba, a idéia de
partir, quebrar, separar em dois. O nome é desagradável. Este Odu teria cometido incesto (16)
com sua mãe Ofun Meji e foi por isto, separado dos outros signos.
Sua representação indicial em Ifa é: * *
* ** *
* *
* ** *
corresponde, na Geomancia Européia a figura denominada “Amissio”.
Oshe Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Ar, o que representa uma
dispersão súbita, a impotência diante de um obstáculo e o surgimento de novos obstáculos.
Corresponde ao ponto cardeal Noroeste, a carta no. l6 do Tarot (A Torre) e se valor
numérico é o 6.
Suas cores são irizadas, matizadas, insípidas. Não têm preferência por nenhuma cor
específica, mas exige que lhe sejam apresentadas sempre três cores diferentes e reunidas,
não importando quais sejam elas.
É um Odu masculino, representado esotericamente por uma lua crescente com as
pontas viradas pra baixo. O signo tem, realmente o poder de dobrar o objeto que deseja partir
em dois.
Oshe Meji comanda tudo que é quebradiço, quebrado, mal cheiroso, decomposto,
putrefato. Todas as articulações e juntas provêm deste Odu e ele representa numerosas
doenças, notadamente os abscessos; ele é a própria representação de Sakpata, a varíola e
está intimamente ligado aos Kenesi. Trata-se, portanto, de um Odu muitíssimo perigoso.
Da mesma forma que Ofun Meji, exige sempre em seus sacrifícios, dezesseis
unidades de cada objeto ou animal a ser oferecido.
Foi Oshe Meji quem ensinou aos homens o hábito de grelhar os alimentos. Criou as
arvores, as presas dos elefantes e a galinha d’Angola.
Apesar de ser um signo de péssimo augúrios, é por vezes portador de riquezas e
longevidade.
Seu nome não deve ser pronunciado jamais em conjunto com o de Irete Meji, dado a
grande carga de negatividade de que ambos são portadores.
Prenuncia a diminuição das energias físicas o que predispõe o organismo,
enfraquecido e sem defesas, e qualquer tipo de doença, principalmente aquelas que se
situam na cavidade abdominal.
Fala muito de perdas de todos os tipos e em todos os setores da vida, através deste
Odu, Oshun costuma comunicar-se para avisar que o consulente é seu filho. Ao contrário do
que muitos afirmam, as pessoas que possuem este Odu não tem cargo para cuidar dos
Orishas de outras pessoas, devendo restringir-se a cuidarem somente de seus Orishas
Os filhos deste Odu são pessoas de comportamento instável, variando segundo a
situação que se configura no momento. Costumam ser pródigos e dispersivos o que os leva a
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
envolver-se constantemente em problemas relacionados a dinheiro. São engenhosos e
possuem iniciativa própria, adaptam-se com muita facilidade as mais diversas situações.
Diplomatas e hábeis, estão sempre prontos a colaborar com o próximo, mostrando neste
aspecto, total desinteresse. É um Odu de prenúncios quase sempre negativos, anunciando
maus tempos e dissolução.
SAUDAÇÃO DE OSHE MEJI:
Em Nagô: Oshe muluku olotoba ogbo
Ashe muluku, muluku dafun.
Undere ebó, iba ogbo,
Iba omo, iba Iyalode odidé.
Em Fon:Mi kan She Meji,
Ku kplakpla,
Azõ akplaakpla,
Emi gbe bi!.
Tradução: (Saudemos Oshe Meji, para que nos defenda
da morte súbita e de qualquer tipo de doença repentina!).
OSHE MEJI EM IRE:
Quando em Ire, Oshe Meji pode indicar, principalmente: Recuperação de coisas
perdidas; enriquecimento súbito; cura de uma doença; capacidade e engenhosidade; intuição
que deve ser seguida; boa inspiração.
OSHE MEJI EM OSOGBO:
Em Oshogbo, este Odu pode indicar: perda de todos os tipos; desperdícios; evasão de
energias físicas; falsidade; cirurgias e doenças (principalmente na barriga); morte ocasionada
por doenças; traição e pranto.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje): Sakpata, Lisa, Xevioso, Gu e Toxosu.
Orisha (Nagô): Oshun, Obatala, Omolu, Logunede, Iyemonja, Shangô e Aje.
INTERDIÇÕES DE OSHE MEJI:
Oshe Meji proíbe aos seus filhos: Transportar feixes de lenha sobre a cabeça, tocar em
madeira apodrecida, usar roupas confeccionadas com tecidos de três cores ou mais, comer
farinha de acaça torrada, inhame assado, galinha d’Angola, perdizes, galo, obi de mais de
dois gomos (só é permitido o obi de dois gomos ou banja, que por sua dureza não pode ser
aberto com as mãos. Também devem ser observadas todas as interdições de Sakpata.
SENTENÇAS DE OSHE MEJI:
(1) O inhame grelhado diz ao homem, além do rio Ajagbe (*): “Se pretendes me comer, deves
apressar-se, senão, o que abre a boca aos teus pés, (**) te impedirá de comer.”
(se o consulente quiser ser bem sucedido, deve apressar-se na realização de seus planos).
(*) Rio legendário que representa a morte.
(**) A morte.
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(2) O crânio velho de um homem diz ao crânio jovem de outro um homem: “Eu já estou
completamente seco, se alguém me golpear não correrá nenhum sangue, mas se te
racharem, correrá algum sangue”.
(O consulente deve oferecer um sacrifico para livrar-se de um acidente que o ameaça).
(3) Oshe! Tudo que fiz, os cânticos que cantei, os sacrifícios que ofereci, não bastaram. Se tu
me vês, tu vês a morte.
(O consulente encontrou o dispensador do mal e da morte. Deve fazer sem demora, os “adra”
(*) do signo).
(*) Sacrifícios expiatórios.
(4) Azagada (*) grilhou o inhame para o visitante e o convidou para comer. Aviti (**) chegou!
(Era costume oferecer inhame assado aos condenados a morte. O sentido interpretativo é o
mesmo da sentença anterior).
(*) A morte.
(**) A morte.
(5) Se o pote que contém o medicamento estiver por perto, a doença não será muito grande.
(O consulente ameaçado por uma doença, deve oferecer os sacrifícios que lhes forem
prescritos).
(6) O inhame não se parte quando é retirado da terra, mas será partido quando for retirado
das cinzas.
(O consulente esta temeroso dos perigos que o ameaçam antes da cerimônia do Fazun (*).
Sua introdução no Ifá não poderá matá-lo se fizer os sacrifícios apropriados).
(*) Cerimônia de iniciação de um neófito ao culto de Ifá.
(7) Não é por possuir muitas folhas que o arvoredo deve se considerar um rei. O excesso de
folhas atrai a atenção do lenhador.
(O consulente deve agir com mais discrição para não se prejudicar de alguma forma).
ITAN DE OSHE MEJI
(1) Owo, filho de Obatala, querendo provar o seu poder, resolveu aprisionar Ikú, que era por
todos temido e respeitado.
Resolvido a cumprir sua determinação, deitou-se no chão de uma encruzilhada e ficou
observando o que diziam as pessoas que o viam ali.
Foi desta forma que ouviu de um ancião do lugar, a seguinte pergunta: “O que faz este
homem assim estendido, com a cabeça para a casa da morte, os pés para o lado da doença e
os lados do corpo para o lugar da desavença?”.
Ouvindo estas palavras, Owo levantou-se e afirmou vitorioso: “Já sei tudo o que
precisava saber”. E em seguida encaminhou-se para a fazenda de Ikú.
Lá chegando, entrou sorrateiramente e pôs-se a tocar o ilu que a Morte fazia soar
sempre que saia para buscar alguém.
Ao ouvir o som do tambor, Ikú saiu indignado com a intenção de punir o atrevido que
ousava tocar seu instrumento ritualistico e na pressa, não viu a rede que Owo havia estendido
no caminho, embaraçando-se e sendo facilmente capturado.
Com a ajuda de uma corda, Owo amarrou Ikú bem amarrado e levou-o em seguida a
presença de seu Pai, dizendo-lhe que, conforme havia prometido, estava trazendo a sua
presença Ikú como prisioneiro. Assustado com tal atitude, Obatala sentenciou: “Vá embora de
minha presença e leva contigo tudo o que, de bom e de mal possa existir na face da Terra,
inclusive a própria Morte. Parte agora pois te é dado o poder de conquistar tudo o que de
material existir no universo”.
Foi a partir deste dia que Owo e Iku passaram a caminhar lado a lado, o primeiro
ensejando sempre o surgimento do segundo.
Ebó: um preá, um peixe assado, ebô, dezesseis acaças, dezesseis bolos de arroz.
Sacrifica-se o preá a Eshú, arruma-se o peixe e os dezesseis acaças num alguidar a parte e
despacha-se numa encruzilhada de rua.
Este ebó é indicado para pessoas envolvidas em disputas ou problemas de dinheiro de
origem ilegal.
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UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(2) Sángó e Efon entraram em atrito pelo amor de uma mulher muito bela, filha de Apako.
Por determinação da mulher, os pretendentes deveriam combater entre si e no fim de
dezesseis dias, ela resolveria qual dos dois seria considerado vencedor, conquistando assim o
direito de desposá-la. Efon armou-se de um poderoso par de chifres e dirigindo-se ao campo
de luta, atacou furiosamente a Shangô que surpreso, bateu em retirada, indo refugiar-se, com
a ajuda de uma corda, em sua morada no Orun.
Naquele tempo, Shangô era ainda muito jovem e inexperiente, mas aconselhado por
Elegbara, consultou Orunmila para saber de que forma poderia vencer a disputa pela mulher
amada. Na consulta surgiu Oshe Meji, que prescreveu um sacrifício com dezesseis pedrinhas,
dezesseis kobo (*), um par de chifres de búfalo, dois galos e dois pombos, além de tudo o que
se oferece normalmente a Eshú.
Enquanto isso, os adversários de Shangô espalhava na Terra, o boato de que ele era
um grande covarde, que havia fugido de Efon sem opor a menor resistência.
Shangô, com a ajuda de alguns amigos tratou logo de oferecer o sacrifício e
imediatamente depois começou a trovejar.
No meio da tempestade, surgiu Shangô e a cada brado que emitia, numeroso raios
saiam de sua boca numa demonstração de seu poder incontestável.
Diante de tão assustadora visão, Efon depôs suas armas e curvando-se, submeteu-se
ao poder do Orisha, suplicando piedade.
Shangô perdoou-o e fez com que todos reconhecessem, a partir de então que o seu
poder estava no Orun.
E o vencedor levou consigo a bela mulher, objetivo de toda a disputa.
(*) moeda Nigeriana que corresponde a uma décima parte da Naira. No Brasil, o Kobo pode
ser substituído nos ebó, pelo vintém.
Ebó: Dezesseis pedras-de-fogo (pequenas), dezesseis vinténs, dois galos, dois
pombos, dendê, mel, osun e aguardente. Sacrifica-se um galo a Eshú, no igba, com ritual
normal. O outro galo é oferecido a Shangô e colocado num alguidar com as pedras e as
moedas. O eje corre também sobre os chifres que, depois de despachado o ebó, deve
permanecer aos pés de Shangô. Os pombos tem seus bicos, pés e pontas das asas tingidos
com osun e em seguida são libertados. Todo o sacrifício, tanto o destinado a Eshú quanto o
destinado a Shangô, é recoberto com muito pó de osun.
(3) Sentar sem se encostar, é como permanecer de pé. Este era o nome do advinho que
interpretou Ifa, junto ao poste central de uma casa de conferências em Ibadan.
O mesmo advinho interpretava Ifa também para os habitantes de Olowu.
Os reis de Ibadan e de Olowu mantinham entre si, um relacionamento de sincera
amizade. O rei de Oluwu era casado com Nde, filha do rei de Ibadan.
Certo dia, o rei de Olowo partiu em missão de guerra para o pais do Gboho. No
caminho, teve sua passagem e de suas tropas impedidas por um rio muito caudaloso. Pediu
ao rio que lhe desse passagem, prometendo pra isso, oferecer-lhe um belo presente quando
voltasse vitorioso da batalha.
O rio cedeu passagem e o rei prosseguiu viagem em busca de seu destino.
Algum tempo depois o rei retornou vitorioso, trazendo muitos cativos, muito gado e
toda a riqueza capturada no pais de Gboho. Ao chegar diante do rio, resolveu pagar o
prometido oferecendo-lhe dezesseis carneiros, dezesseis cabritos, dezesseis bois, dezesseis
homens e dezesseis mulheres, que foram lançados às águas revoltas. O rio, para surpresa de
todos, não aceitou nada do sacrifício oferecido, devolvendo intactos, cada carneiro, cada
cabrito, cada boi, cada homem e cada mulher. O rei, assustado com o ocorrido, procurou o
advinho para saber por que razão Odo não aceitara sua oferenda. Na consulta surgiu Oshe
Meji que informou que o rio queria Nde como sacrifício e nada poderia substitui-la.
Apavorado, o pobre monarca lembrou-se que ao assumir compromisso com o rio,
havia dito em idioma Fon: “Nu dagbe n’de”, (eu te darei belas coisas), e o rio teria interpretado
como “Nu dagbe Nde” (eu te darei Nde - nome de sua esposa). Nde era o nome de sua
esposa... o rei não pagara o prometido!
A partir deste dia a terra começou a secar, as mulheres não tinham filhos, as fêmeas
não davam crias.
49
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Preocupado, o rei voltou a presença do Bokono para saber o motivo de tanta miséria.
Após a consulta o advinho disse: “Tu não entregastes ao rio o que lhe prometeste. Tu
deixastes que o rio ouvisse o nome de Nde. Tu não lhe falastes de escravos e animais... para
acabar com esta maldição terás que lançar tua mulher ao rio”.
Obrigado a cumprir sua promessa, o rei mandou lançar ao rio sua mulher que estava
grávida. No dia seguinte Nde deu a luz, dentro das águas do rio, a um menino e o rio falou:
“Ele não me prometeu nenhuma criança, foi só Nde o que me foi prometido!” e devolveu a
criança que não lhe pertencia.
O rei de Ibadan tomou conhecimento do acontecido e mandou dizer ao rei de Olowu
que não havia dado sua filha para que fosse lançada as águas de um rio, mas para que fosse
transformada em sua esposa, respeitada e amada como tal.
Este fato gerou uma guerra entre os dois reis, que teve a duração de trinta anos,
terminando com a vitória de Ibadan e a total destruição do pais de Olowu.
(4) Uma jovem muito pobre, conhecida pelo nome de Iyalode, era muito astuta e ambiciosa, o
que a tornava perigosa.
Pretendendo melhorar sua situação, Iyalode foi consultar Ifá, na esperança de receber as
orientações necessárias. No decorrer da consulta, surgiu o Odu Oshe Meji, que prescreveu
um sacrifício que Iyalode tratou logo de oferecer.
No dia seguinte, quando passava pela porta do palácio do rei Oba Nla, a jovem foi
acometida de uma fúria inexplicável e pôs-se, em altos brandos, a culpar o rei pela situação
de miséria em que vivia.
“O rei é um perverso insensível.” gritava a jovem, “tem o que deseja e por isso não se
incomoda com a miséria de seus súditos!”. As pessoas que passavam, ao ouvirem as
acusações feitas pela jovem, tomaram partidos diferentes, alguns achando que ela estava
coberta de razão, enquanto outros defendiam Oba Nla, por conhecerem sua bondade e senso
de justiça.
Ao ser informado do que estava ocorrendo, o rei ordenou que a moça fosse
imediatamente conduzida a sua presença, para um entendimento pessoal.
Frente a frente com o rei, Iyalode relatou suas desditas, chorou suas magoas e falou
de seus sonhos de jovem. Impressionado com a coragem da moça e com a sinceridade que
marcava o seu caráter, Oba Nla, mandou que lhe fosse dado um aposento no palácio, onde a
partir de então, a jovem passou a residir cercada de todo o luxo e conforto que sempre
desejou desfrutar, ficando desde então, encarregada de todo o ouro que pertence a Oba Nla.
Ebó: Adie Meji, eiyele Meji, eku, eja assado, oyin, epo pupa, oti, etc... Sacrifica-se um
adie, um eiyele e o eku para Elegbara no igba, de acordo com o rito. A outra adie e o eja são
oferecidos a Oshun e cobertos com muito mel e pó de efun. O segundo eiyele é solto depois
de pintado com efun.
Este ebó é indicado para pessoas que tenha necessidade de resolver problemas que
envolvam grandes somas em dinheiro e que dependam de algum tipo de decisão de outrem,
como no caso de heranças, indenizações, etc...
OUTROS EBÓ DE OSHE MEJI EM OSOGBO:
(1) Para limpeza de casa: Água de cachoeira, mel de abelhas e clara de cinco ovos, mistura-
se tudo e passa-se, durante cinco dias um pano molhado com a mistura por toda a casa.
(2) Para agradar Oshun e obter seu perdão: uma galinha, um peixe fresco, cinco cabacinhas,
cinco idezinhos dourados, cinco moedas e uma pena de ekodide. Numa travessa de louça,
arruma-se o peixe limpo e assado com as cabacinhas, as moedas e os idezinhos em volta. O
peixe deve ficar com o dorso para cima. Sacrifica-se a galinha deixando o sangue correr em
cima da travessa com o peixe e os demais ingredientes, enfeita-se com as penas da galinha
de forma que fique tudo bem coberto. o ekodide é colocado de pé, na cabeça do peixe. A
galinha ter que ser consumida pelas pessoas da casa e seus pés, asas, leri e rabo são
arrumados num alguidar, regados com dendê, mel, e oti e despachados imediatamente, numa
encruzilhada de rua.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
O peixe é arriado aos pés de Oshun e permanece diante do igba de um dia para o
outro, depois do que é levado para um rio ou uma cachoeira. Durante o sacrifício da galinha
não se canta nada nem se reza nenhum oriki. Os pedidos são feitos somente na hora de
arriar a travessa diante de Oshun.
EBÓ DE OSHE MEJI EM IRE:
(1) Grão-de-bico, camarão seco, cebola, um peixe fresco, ori da costa, mel de abelhas.
Refoga-se a cebola e o camarão em banha de ori da Costa, ferve-se ligeiramente o grão-de-
bico e sem que fique muito mole, junta-se ao camarão refogado, mexe-se bem deixando
dourar em fogo brando. Coloca-se tudo numa travessa de barro, coloca-se o peixe (cru) por
cima, rega-se com muito mel de abelhas e entrega-se a Oshun para garantir qualquer tipo de
Ire prenunciado por este Odu.
(2) Um prato branco, cinco laranjas doces, milho torrado, ori da Costa, gordura de coco, peixe
defumado, aguardente, mel de abelhas. Com uma faca bem afiada, corta-se as laranjas no
sentido horizontal, sem no entanto separar as duas metades. No meio de cada laranja coloca-
se um grão de pimenta da costa, um pouquinho de aguardente, mel de abelhas e sobre elas,
um conezinho de ori misturado com a gordura de coco, um pedacinho bem pequeno de peixe
defumado e um grão de milho torrado, de forma que fiquem presos ao cone de ori(como se
fosse um oshú sobre as laranjas). Arruma-se tudo no prato branco e deixa-se diante da
sopeira de Oshun durante cinco dias, findo os quais despacha num rio de águas limpas.
Durante cada um dos cinco dias, pela manhã, acende-se uma vela diante do prato e pede-se
o que se quer obter.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
OBARA MEJI.
Obara Meji é o 6º Odu no jogo de búzios e o 7º na ordem de chegada do sistema de
Ifa, onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 6 (seis) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Abla Meji”. Os Nagô o chamam
também de Obala Meji. Para o termo encontramos duas etimologias. Certa corcubitácia
existente nas regiões Oeste e Centro-Ooeste da África, produz uma fruta grande, cujas
sementes são comestíveis e muito apreciadas pelos nativos. Estas frutas, denominadas
“bara”, não podem no entanto ser cortadas ao meio para retirada das sementes, devendo
para isto, ser arrebentadas com golpes de pau ou pedra. A proibição de se cortar a fruta
(bara) em duas partes (meji), objetiva evitar a coincidência de nome com o sétimo signo de
Ifa.
Por outro lado, Oba Meji significa em Yoruba, “dois reis”, o sétimo signo por origem, o
rei dos ventos, através do qual, costuma comunicar-se com muita freqüência e o Criador lhe
deu muitas atribuições e honrarias, sendo o encarregado de representar os próprios reis. É o
símbolo representativo do rei dos Hausa ( Zowgo-Xosu).
Sua representação indicial em Ifá é: * *
* * * *
* ** *
* ** *
que corresponde na Geomancia Européia a figura denominada “Laetitia”.
Obara Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Terra, com predominância
do primeiro, o que indica a evolução através da experiência adquirida na busca do objetivo
pretendido.
Corresponde ao ponto cardeal Sul-Sudeste, a carta no. 4 do Tarot (O Imperador) e seu
valor numérico é o 8.
Suas cores são o azul e o violeta. É um Odu masculino, representado esotericamente
por uma corda, em referencia ao poder que possui de tudo levantar. Exprime a força, o poder
e a possibilidade de realização humana.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Obara Meji, criou o ar e por extensão os ventos. Dele depende a existência dos
bosques cheios de ramagens, das forquilhas e de todo tipo de bifurcações.
Neste odu nasceram as riquezas, o costume de usar jóias, os mestres e o ensino. Aqui
surgiu o adultério e neste Odu o ser humano aprendeu a mentir e a ser enganoso.
Prenuncia expansão física e moral, regularização, alegria, ambição, questões
relacionadas a dinheiro, processos em andamento, solução de problemas de ordem
financeira.
Os filhos deste Odu são pessoas alegres e festivas, carregadas de religiosidade e que
gostam de observar e manter tradições. Um tanto quanto atraídas pela mentira, criam
situações fantasiosas, nas quais acabam acreditando, como se fossem a mais pura verdade.
Gostam de se envolver em problemas que não lhes dizem respeito, o que quase sempre
acaba por deixa-los em situações delicadas. Devem cuidar-se muito bem, pois tem uma
tendência muito forte pelas ações fantasiosas, o que pode deixar completamente loucas. Bem
dispostas e alegres, são geralmente pessoas saudáveis e que se recuperam com facilidade
de qualquer doença, usando para isto, recursos buscados em si mesmo.
É um odu de prenúncios quase sempre positivos, muito embora seu aspecto negativo
seja terrível e traga fatalidades como loucura, miséria total, traição e calunia.
SAUDAÇÕES DE OBARA MEJI
Em Nagô: Aka emon a l’owo dudu gbe toko
Bori shia-shia botoko bo bi ko ri.
Unkã ja n wen abafe:
A difa fun Liokpo mu pi o lo oko
Ajamo de tan, oloun kpo liokpo nunje.
Tradução: Quando não está comendo, sente-se infeliz.
Ifá ordenou que Liokpo defenda a fazenda.
Até aquelas que Liokpo não pode enganar.
Em Fon:Mi kan Obara Meji
Afafa we nõ kõ dehawã!.
Tradução:Saudemos Obara Meji. Ele é o abano que faz secar o
nosso suor!
(A saudação evoca a idéia de alivio. Da mesma forma que um abono refresca um corpo suado
e cheio de calor. Obara Meji tem o poder de trazer alivio pra os problemas que nos estejam
afligindo).
OBARA MEJI EM IRE:
Quando em Ire, Obara Meji pode indicar, principalmente: Aquisição de bens materiais
de um modo geral, fim de um obstáculo que deve ser o último, expansão física e moral,
ausência de enfermidades, evolução no sentido ascendente.
OBARA MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo, este odu pode indicar: Deslealdade, imoralidade, orgulho nocivo,
injustiças, libertinagem, adultério, maldade, filho adulterino, guerra em família de Santo.
Quando em Osogbo Arun, pode estar indicando uma das seguintes doenças: infecções do
sangue, problemas circulatórios, atrofias musculares, apoplexia, desnutrição, problemas
respiratórios, mania de grandeza, loucura.
Neste odu falam as seguintes Divindades: Vodun (Jeje): Dã, Lisa, Hoho e Tovodun.
Orisa (Nagô): Shangô, Iyansã, Iyemanja, Oba, Ewa e Ipori.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
INTERDIÇÕES DE OBARA MEJI:
Obara Meji proíbe aos seus filhos: Comer peixe defumado, bolos de acaça que tenham
sido enrolados em folhas de bananeiras, farinha de milho, carne de tartaruga, de cobra, de
crocodilo, de antílopes, de macaco, de galo, de elefante, de hiena. São proibidos também, de
usarem roupas tecidas com uma espécie de rafia denominada “devo”, de ajudarem a outras
pessoas a levantar qualquer coisa do chão, para colocar sobre os ombros ou a cabeça, de
relatar fatos que tenha assistido e que não lhe digam respeito.
SENTENÇAS DE OBARA MEJI:
(1) O porco-espinho espetou a fêmea do leopardo e o leopardo não pode fazer nada contra
ele.
(se o consulente sofreu algum dano causado por alguém mais poderoso que ele, é melhor
deixar como está, pois qualquer atitude que venha a tomar, só agravará a situação de forma
desfavorável para ele).
(2) O bem estar que encontramos na água fresca, e o peixe Xwa que vem buscar fora dela
para nela depositar.
(a casa do consulente é pobre, mas tornará rica pelo seu esforço e merecimento. Se o
consulente for rico, deverá oferecer sacrifícios para que a fortuna não o abandone).
(3) Sem a lama estar misturada a água do rio, o peixe Zoken, que tem os olhos claros, verá o
que se passa no fundo.
(O consulente descobrirá coisas que se passam em sua casa e que lhe são ocultas.)
(4) A mulher que come de duas mãos, acabará encontrando a morte... (*)
(se a mulher do consulente estiver enganando-o, morrerá praticando adultério.)
(*) E du alo we, e du bla - (ela come de duas mãos) - Diz-se da mulher adultera.
ITAN DE OBARA MEJI
(1) Ifá e o Male (Muçulmano) eram amigos. Um dia Male disse a Ifá: “Vou procurar uma mulher
gravida, se ela concordar, será instalada em minha casa, pra que não tenha contato com mais
ninguém. Se esta mulher parir uma menina, eu a criarei para que seja minha esposa: sou
muito ciumento para casar-me com uma mulher de cuja inocência não tenha absoluta certeza.
Indo ao mercado, ele encontrou uma mulher grávida, que concordou em colaborar com
seus planos.
Passado algum tempo a mulher deu a luz uma linda menina, para alegria do Male. O
Mulçumano ficou muito contente e logo pôs-se a pensar: “Como poderei evitar que olhos
masculinos vejam esta menina, até o dia em que possa desposa-la!” Depois de muito pensar,
decidiu construir um casa dentro de sua própria casa e ali instalar mãe e filha.
Nenhum homem, nem mesmo ele, tinha acesso a menina, que cresceu rapidamente.
Quando a jovem completou dez anos, sua mãe abandonou a casa, deixando-a
sozinha. Enquanto isso, Ifá contava os anos de idade da menina.
Um dia, achando que ela já deveria estar suficientemente grande, foi visitar Male e
chegando a sua casa, entrou saudando-o cordialmente.
Depois da visita, Ifá pôs-se a pensar: “Como é que pode? O mulçumano contratou
uma mulher gravida que pariu uma menina, esta menina jamais viu ou foi vista por qualquer
pessoa do sexo masculino! Nem mesmo Metolõfi, o rei de nosso pais, viu a criança. Mas eu
vou tentar vê-la!”
Munindo-se de seus instrumentos divinatórios, fez a consulta, surgindo Obara Meji,
que lhe recomendou que tomasse uma caixa, acaça, um galo, azeite de dendê e fizesse uma
oferenda a Legba. Feito isto, teria que entrar na casa de Male e tranca-la por dentro com a
chave.
Ifá preparou tudo e foi a casa do amigo. Lá chagando saudou-o: “Salamaleikun!” E o
muçulmano respondeu: “Alakumasala!” Ifá disse então: “kalafi!” Male respondeu: “Laafia!” Ifá,
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
entrando no quarto do amigo, disse: “amanhã partirei em viagem, gostaria de confiar-lhe a
caixa de meu tesouro. Minha mulher preferida lhe entregará a caixa, para que você a guarde
em lugar tão seguro que nenhum homem possa encontrá-la. “Como não?” disse o Marabú.
“Não somos amigos? Quando partirás?” - “Dentro de três dias e só voltarei daqui a três
meses”.
No terceiro dia pela manhã, Legba disfarçado na esposa preferida de Ifa, foi a casa de
Male e disse: “meu marido encarregou-me de procura-lo para entregar-lhe a caixa que se
encontra embrulhada nestes panos. Ele virá busca-la dentro de três meses, quando
regressará da viagem.
Male chamou a escrava que cuidava da menina, para que guardasse a caixa na casa
onde vivia a jovem, mas a caixa era por demais pesada e a mulher não pode carrega-la.
Diante do impasse, Male resolveu levar ele mesmo a caixa para o quarto da jovem e ao faze-
lo, viu-a pela primeira vez, saindo em seguida e trancando por fora todas as portas.
Ifa, que mantinha-se escondido dentro da caixa, vendo Male sair, trancou por dentro a
porta do quarto da jovem e avistou-a, saudou-a, no que foi correspondido.
“Você me conhece?” perguntou. “Não!” retrucou a moça.
Ifa então colocou-se a vontade e começou a divertir a moça, depois, deitando-se com
ela, possuiu-a. Isto feito aconselhou a jovem a lavar-se com água morna, no que foi atendido.
Ifá só se alimentava de obi. Na hora da refeição, vendo-o comer somente nozes de
kola, a moça perguntou por que não se alimentava das mesmas coisas que ela? e Ifa
respondeu: “Eu como feijão sem pimenta, carne defumada, peixe defumado, tudo temperado
com lelekun. A jovem ordenou então as servas que não mais pusessem pimenta na comida.
Os alimentos passaram desde então a ser preparados com lelekun, Ifa revelou então, que não
come cabrito da forma simples que todo mundo prepara e que também não se lava como as
outras pessoas.
Finalmente, a jovem ficou gravida e Male de nada desconfiou. Como estivesse próximo
de findar-se o terceiro mês, Ifá disse a moça: “se o muçulmano lhe indagar sobre sua barriga,
não fale nunca no meu nome.
Findo, o terceiro mês, Ifá encerrou-se novamente na caixa, que a moça embrulhou nos
panos, da mesma forma que viera.
Legba, novamente disfarçado na mulher de Ifa, apresentou-se ao Male dizendo: “meu
marido chegou de viagem e pediu viesse buscar sua caixa, Assim que se sinta descansado,
virá agradecer pessoalmente pelo grande favor prestado.
Depois de seis meses, o muçulmano resolveu tomar a jovem como mulher. Lavou-se
cuidadosamente, vestiu um belíssimo búbú que lhe havia presenteado Ifa, entrou no quarto e
encontrou a moça com uma enorme barriga... Quase sufocado exigiu explicações. “Eu
pensava que todas as barrigas deveriam crescer como a minha... não sei como são as coisas
do lado de fora desta porta!”
Male correu a contar o acontecido ao rei, que surpreso, mandou que cuidasse do
parto, já que havia uma gravidez.
O dia do parto chegou, a criança, antes de nascer, tinha que ouvir o nome do pai
pronunciado por sua própria mãe.
O Marabu não conseguia entender o que se passava. A mulher gemia e contorcia-se
em dores. A criança teimava em não nascer. Foi então que resolveu pedir os conselhos de
seu amigo Ifa.
Ifa consulta e surge novamente Obara Meji, exigindo que uma perna de antílope seja
sacrificada. O pernil é cortado em sete partes que depois de cozidos, são entregues, uma a
Mawu, uma a Metolõfi, uma a Mingã e é Ifá o encarregado de fazer estas oferendas. O quarto
pedaço, é oferecido a esposa preferida do Male, o quinto, a esposa preferida de Ifa, o sexto
ao Bokono e o último a parturiente, levado pelas mãos de Ifa.
Ao receber a oferenda, a mulher cheia de dores, perguntou: “Quem me envia esta
carme? - “É Ifa quem te oferece!”- “ Ifa? Que Ifa?” - “O que disse?” Perguntou Ifa. - “Ifa!” - “O
que?” - “Ifa! Eu falei Ifa! Foi Ifa que me deu esta carne!”
Quando a mulher acabou de falar, a criança, ouvindo o nome de seu verdadeiro pai,
resolveu sair para o mundo... e era o retrato de Ifa.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Male ficou desconfiado com tudo o que acabara de assistir e aborrecido, levou o
problema ao conhecimento do rei Metolõfi que, achando tudo muito natural, aconselhou o
muçulmano a deixar de desconfiar do amigo.
Um belo dia, Ifa convocou todas as pessoas, inclusive Male e disse a todo o mundo:
“Hoje lhes farei uma revelação. A mulher do muçulmano, que recentemente deu a luz uma
criancinha... “e revelou todo o segredo que envolvia aquele nascimento. Depois concluiu
“Qualquer mulher, mesmo se a prenderem dentro de quarenta caixas, encontrará um dia, um
homem. E um ser no qual não se deve confiar e ao qual não se dever revelar segredos. As
mulheres são pouco mais que os animais!”
Ebó: modela-se um voko (*) de argila semelhante ao homem. O voko é colocado
dentro de uma caixa com cabelos e aparas de unhas da mulher. Embrulha-se tudo, em panos
coloridos e entrega-se a Loko (**). A Elegbara, sacrifica-se um galo, que é entregue com
muitos acaças e epo pupa.
Este ebó é para evitar traição e aborrecimento por parte de mulheres que tem
tendência a pratica do adultério.
(*) imagem, estatueta.
(**) Vodun Jeje, que corresponde ao Iroko dos nagô.
(2) Naquele tempo, as aves foram consultar Ifá, para saberem de que forma poderiam se livrar
das armadilhas que lhes faziam os homens e nas quais, invariavelmente acabavam caindo.
Na consulta, surgiu Obara Meji, determinando que fosse feito um sacrifício que iria livra-las de
tal perigo.
As aves, com exceção da pomba-rola, negligenciaram a recomendação e por este
motivo, continuaram a cair nas armadilhas que os homens lhes preparavam.
Certo dia, os caçadores organizaram uma grande festa e para obterem alimento para o
evento, prepararam uma grande armadilha, próximo a fonte onde as aves constumavam
beber água, impregnando de visgo todos os galhos das arvores vizinhas. Como resultado,
todas as aves foram capturadas, com exceção da pomba-rola que fora anteriormente
orientada por Elegba, para que não se aproximasse da fonte naquele dia e que fosse beber
água em outro local bem distante.
Desta forma, por ter seguido a orientação de Ifa e oferecido o sacrifício indicado, a
pomba-rola livrou-se de ser transformada em alimento para os caçadores.
Ebó: Uma forquilha de qualquer madeira, um eku, um peixe assado, mel, dendê, oti,
farinha de mandioca. Prepara-se um pade de mel e dendê. arruma-se num alguidar com o
peixe assado por cima. O ekú é sacrificado no igba de Eshú e depois de limpo, é ligeiramente
tostado num braseiro. Despacha-se tudo numa bifurcação de rua ou estrada.
Este ebó, é pra defender o cliente de traições e falsidades que estejam perturbando o
andamento de sua vida.
(3) O Guarda-Chuvas e a Bandeira, surgiram no mundo simultaneamente. Os dois ao
chegarem, foram consultar Ifa, para saberem se seriam honrados em suas vidas. Na consulta,
surgiu Obara Meji e Ifa ordenou um sacrifício, que somente Bandeira se dignou a fazer.
Para justificar sua negligência, Guarda-Chuvas dizia: “Por que razão tenho que
oferecer sacrifício, se sei muito bem que minha posição neste mundo será a de permanecer
constantemente, acima das cabeças dos homens, até dos mais poderosos reis?”
Um dia, estourou uma guerra e os dois foram levados, junto com seus donos, para o
campo de batalha. Guarda-Chuvas, aberto sobre a cabeça do rei, enquanto Bandeira, seguia
na frente, conduzida por um simples escravo.
Por arte de Elegbara, a batalha foi desfavorável ao nosso rei, que para salvar a própria
vida, teve que refugiar-se numa floresta de arvores baixas e repletas de ramificações. No
decorrer da fuga, dentro da floresta, bastava baixar a Bandeira, para que ela passasse
incólume entre os galhos, enquanto que Guarda-Chuvas, atingido por ramos incontáveis,
terminou todo rasgado, tornando-se completamente inútil. Quando chegaram do outro lado da
floresta, o rei vendo o estado deplorável em que se encontrava Guarda-Chuvas, jogou-o fora,
pois não mais servia para protege-lo da chuva ou do Sol.
Depois disto, Guarda-Chuvas passou a ser um instrumento utilizado somente quando
há conveniência para tal, ao passo que Bandeira é usada permanentemente, podendo ser
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
encontrada no meio das praças, nas torres dos palácios, nos templos de todas as religiões e
sempre que um rei parte para uma guerra, ela segue a sua frente. Todas as nações do mundo
são por ela simbolizadas e os homens prestam-lhe juramento de fidelidade e muita honrarias.
Este itan determina que o consulente, por sua vaidade e auto valorização excessiva,
encontra-se em perigo eminente de sofrer uma grande derrota.
Ebó: Uma corda, muitos ramos de diferentes arvoredos, moedas, um peixe fresco e
uma bandeirinha de tecido azul claro. Passa-se tudo no corpo do cliente, arruma-se num
alguidar e coloca-se a bandeira estendida por cima. Despacha-se em mata fechada.
Prece do ebó: (para ser dita na hora em que se despacha dentro da mata:.
Hwelexo no zõ kike yi zun an, ku don bo, Azon don bo!
Tradução:O Guarda-Chuvas não pode entrar aberto dentro da mata, que a morte
se afaste, que a doença se afaste!
(4) Foi para roubar nos campos de Ifá, que os muçulmanos vieram à Terra.
Ifá possuía campos imenso, de onde retirava abundantes colheitas.
Certo dia, descobriu que muitos ladrões andavam “visitando” suas terras e praticando
grandes roubos, que causavam enormes prejuízos. Procurou imediatamente os conselhos de
Elegbara, sobre uma maneira de prender os larápios.
Dirigindo-se aos campos na companhia de Ifá, Legba esticou uma corda que do solo,
alcançava o céu.
Pouco depois, inúmeros seres começaram a descer pela corda e sem que Legba
tomasse qualquer atitude, puseram-se a roubar tudo o que podiam alcançar.
Foi só então que Legba, munido de três pedaços de carvão, que havia recebido de Ifá
em pagamento aos seus serviços, produziu uma fogueira, ateando fogo á corda que havia
estendido.
Destruída a corda, os ladrões não puderam voltar, tornando-se assim, escravos de Ifá.
O desespero entre os prisioneiros foi de tal ordem, que se debatiam desordenadamente, em
busca de uma saída e com tal violência, que a maioria deles morreu, sobrando somente treze.
Foram estes treze homens, que propagaram a religião muçulmana e que em sua
emoção gritavam: “Salama Ke kun!”, o que em idioma Fon, significa: Ifa rompeu a corda.
originando-se daí a saudação islâmica “Salamaleikun”.
Este caminho, indica que o consulente está sendo vítima de roubo e traição, devendo
para livrar-se da situação e desmascarar quem quer que o esteja enganando, oferecer o
seguinte sacrifício a Eshú.
Ebó: Um cabrito, três pedaços de carvão vegetal, um pedaço de corda virgem, mel,
dendê, oti, etc. Sacrifica-se o cabrito a Eshú, dentro do procedimento de praxe, acende-se um
braseiro com os três pedaços de carvão e coloca-se a corda sobre as brasas. Pergunta-se no
jogo, o caminho em que deve ser despachado.
(5) Certo dia, Olofin convocou a sua presença, todos os Odu que havia colocado no mundo.
Obara consultou Ifa, recebendo a orientação de não partir, sem antes oferecer um
sacrifico a Egun.
Obara faz o que lhe foi determinado e além disso, preparou comida para seus irmãos,
os quinze outros Odu, que já haviam partido para a audiência com o Criador.
Olofin, dando pela falta de Obara, indagou aos seus irmãos o que era feito dele e ao
saber que se atrasara porque estivera cultuando Egun, ficou plenamente satisfeito.
“Nada tenho para oferecer-lhes como presente , senão um inhame para cada um.
Quando chegarem em suas casas, preparem cada um, o inhame recebido e comam
sozinhos”. Disse Olofin aos Odu.
Sem que ninguém soubesse, Olofin havia introduzido em cada inhame todas as
riquezas da vida: dinheiro, filhos, terras, casas, etc...
Quando voltaram para casa, os quinze encontraram Obara que os aguardava, pra
oferecer-lhes as comidas que havia preparado para eles.
Satisfeitos com a atenção, os Odu tomaram dos alimentos que lhes eram oferecidos e
em sinal de agradecimento, deram a Obara os inhames que lhes havia presenteado Olofin.
56
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
No dia seguinte, Ifá pediu a sua mulher que lhe preparasse um dos inhames
recebidos. Ao cortar o tubérculo, a mulher sentiu que alguma coisa dura impedia que a faca
dividisse-o e depois de muito tentar, pediu auxílio a seu marido.
Ifá, usando de toda a sua força, consegui dividir o inhame em duas partes, foi então
que deparou maravilhado, com a riqueza contida no seu interior.
Ansioso, passou a abrir a todos os inhames que havia ganho e desta forma, com tudo
o que neles encontrou, tornou-se a pessoa mais rica do país.
Três dias depois por ordem de Olofin, todos os Odu voltaram a se reunir no palácio e
qual não foi a surpresa, ao verem Obara aproximando-se, montado num belíssimo cavalo,
vestindo trajes riquíssimos, acompanhado de inúmeras esposas e escravos e guardado por
muitos soldados, numa ostentação de riqueza sem precedentes.
Diante da surpresa dos quinze Odu, Olofin perguntou-lhes: “Que fizeram dos inhames
que lhes dei?”
“Nós os demos a Obara, já que nenhum de nós gosta de inhame!”
“Ignorantes! Obara, que já era rei, tornou-se muito mais rico e poderoso com o que eu
coloquei dentro dos inhames! Ele será agora, “oba di Meji”” (ele é duas vezes rei). Sua realeza
é dupla.
Cânticos do itan: Obara gba i dudu!
G’uu ......!
Obara gba i funfun!
G’uu......!
Tradução: Obara possui o que é negro! (a noite).
G’uu......!
Obara possui o que é branco! (o dia).
G’uu......!
Ebó: Uma cabra, duas galinhas, dezesseis cabaças médias, moedas em quantidades,
dezesseis obi, dezesseis orogbo, mel, dendê, velas. Sacrificam-se a cabra e as galinhas a
Elegbara, abre-se as cabaças e coloca-se dentro de cada uma, um punhado de moedas, um
obi, um orogbo e rega-se tudo com muito mel e dendê. Despacha-se numa estrada. No
momento em que se oferece o sacrifico, faz-se a reza (cântico do itan, que deve ser repetida
três vezes).
Este trabalho é indicado para pessoas que almejem conquistar alguma coisa
importante, que esteja relacionada a dinheiro, como promoções, nomeações, empregos,
assossiações, aumentos, casamento por interesse. etc.
EBÓ DE OBARA MEJI EM OSOGBO:
(1) Para Osogbo Arun: um pedaço de corda do tamanho da pessoa, um eku, um peixe
assado, moedas correntes e uma juriti. Arruma-se o ejá num alguidar ou travessa de barro,
com a corda ao redor, espalha-se as moedas por cima, sacrifica-se o eku a Elegbara, em seu
igba, passa-se a juriti na pessoa e solta-se com vida.
(2) Velas, abanos de palha, forquilhas de madeira, quiabos, bolos de inhame, bolos de arroz,
acaças, (tudo em numero de seis). Passa-se tudo no cliente e vai-se arrumando dentro do
alguidar, quando tudo estivar arrumado, “puxa-se” um pombo em cima, deixando que o eje
escorra sobre o ebó, arruma-se o pombo em cima de tudo e rega-se com mel, dendê e oti.
Leva-se tudo para um lugar bem alto e prossegue-se o trabalho da seguinte forma: Arreia-se o
ebó na sombra de uma arvore frondosa, faz-se a saudação do Odu Obara Meji (nagô ou Fon),
passa-se pó de efun sobre o ebó. (o pó de efun que é espalhado, foi anteriormente colocado
num prato de louça e sobre ele foi traçado a configuração de Obara Meji).
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
ODI MEJI
57
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Odi Meji é o 7º Odu no jogo de búzios e o 4º na ordem de chegada do sistema de Ifa,
onde é conhecido pelo mesmo nome.
Responde com 7 (sete) búzios abertos.
Em Ifa, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Di Meji”.
A palavra Yoruba é “edi” ou “idi”, que significa “nádegas”. Odi Meji significa portanto, “duas
nádegas”.
Sua representação indicial em Ifá é : * *
* ** *
* ** *
* *
que corresponde, na Geomancía Européia a figura denominada “Cárcere”.
Odi Meji é um Odu composto pelos Elementos Ar sobre Água, com predominância do
primeiro, o que indica a renovação dos obstáculos. Representa uma porta fechada, um círculo
mágico, um tabú, limitação, obstrução, aprisionamento. Corresponde ao ponto cardeal Norte,
á carta no. 12 do Tarot (O Enforcado) e se valor numérico é o 7.
Suas cores são o negro ou a mistura de quaisquer outras cores.
É um Odu feminino, representado esotericamente por um circulo dividido ao meio por
uma linha vertical, significando duas nádegas, os ainda, os órgãos sexuais femininos, que
provem de Osa Meji. A palavra nádega, no caso, não passa de um eufemismo que pretende
somente designar a fealdade e as impurezas do órgão sexual feminino. É inconveniente, no
entanto, fixar-se esta opinião como definitiva, principalmente quando o aparecimento deste
signo se relacionar a um Orisha, como Orunmila ou quando surgir em resposta a consulta de
uma pessoa muito idosa ou de posição respeitável.
Odi Meji, representa a mulher (em Fon ñõnu), palavra cuja etimologia costuma ser
explicada por sua tradução literal: ñõ-nu= coisa boa / a mulher = coisa boa). Algumas
correntes dão ao termo outra interpretação: - “ñõ nu, bo nu kpo nu me de”, (um homem depois
de morto, não pode querer ocupar uma mulher).
Dizem ser este signo que incita o ser humano a copular. E por estas razões que
encontramos uma estreita correspondência entre Odi Meji e as Kannesi, a impureza das
mulheres, proporciona-lhe uma tendência natural a pratica da feitiçaria.
Odi Meji corresponde a Vovolive, o Norte. Sob este signo apareceram na Terra as
mulheres, os rios cujas margens tem a aparência de lábios, as nádegas e o costume de
sentarmos sobre elas. Este signo ensinou aos homens o uso de deitarem-se indiferentemente
virados para a direita ou para a esquerda.
Odi Meji ocupa-se dos partos efetuados com a parturiente de cócoras e preside ainda
ao nascimento de gêmeos e de todas as espécies de macacos considerados gêmeos que
são: zin-wo, klã, oxa, zinblawawe, toklã, etc.
As pessoas nascidas sob este signo são perseverantes, duras e inflexíveis. A busca
constante de auxilio para seus problemas, em nada muda a atitude das pessoas em relação a
elas.
Não crêem em nada nem em ninguém, mas podem facilmente ser levadas por
superstições tolas que nem sempre são aceitas pelos demais.
Dotados de muita inteligência e excelente memória, assimilam com facilidade tudo o
que se proponham a aprender, negando-se entretanto, a transmitir seus conhecimentos,
preferindo antes, usá-los como instrumento de manipulação de tantos quantos deles
dependerem.
No amor, são desconfiados, mas muito zelosos do objetivo de seus sentimentos.
Adoram viver isolados e suas ações contribuem efetivamente para que isto ocorra,
independente de sua vontade.
Odi Meji, indica, aprisionamento, possessão demoníaca, prejuízos de toda ordem,
roubo, seqüelas advindas de acidentes ou de enfermidades, sendo portador de mensagens
quase sempre ruins. É um signo muito ruim, malvado mesmo. Responde não e representa
caminhos fechados. Por vezes anuncia estado de gravidez e seu surgimento em questão
sobre se uma mulher está gravida ou não, representa resposta afirmativa.
58
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
SAUDAÇÕES DE ODI MEJI:
Em Fon:Mikã di-Meji Mi hwe kpako do mi o!
Tradução:Saúdo Odi Meji para que as enfermidades não nos
possam molestar!
Em Nagô:Kpanli kpaninkpa o joko bili kale
Baba Iku yeke ofin lon gbã di non
Ode keeku, le egbe ni odon
Ki a to gbo Olodumare
Ota onigbo ku mi.
Tradução: Desconhecida.
ODI MEJI EM IRE:
Quando em Ire, é necessário apurar o tipo, pois pode ser qualquer um. Deve-se
perguntar imediatamente se é Ire Aiku (não ver a morte), ou Ire Omo (um bem vindo através
de um filho, levando-se em consideração que este Odu fala muito em gravidez)
ODI MEJI EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Prisão, condenação, roubo, prejuízo, seqüelas
advindas de acidentes ou moléstias, abandono, perfídia, possessão de maus espíritos, mulher
de maus hábitos e vida sexual desregrada, homossexualismo (só masculino), caminhos
fechados, imobilidade ou dificuldades de ação.
Em Osogbo Arun, indica quase sempre, um dos tipos de doenças que se seguem:
bexiga, bacia, necrose, dermatoses, câncer, lepra, hipocondria, melancolia, neurastemia,
doenças dos ossos.
Neste Odu falam as seguintes Divindades:
Vodun (Jeje):Hoho, Gbaadu e os Toxosu.
Orishas (Nagô): Omolu, Eshú, Obatala, Ogun, Egun e Ajé (neste Odu podem falar
todos os Orishas, mas os aqui relacionados sãos os que mais comunmente se comunicam
através dele).
INTERDIÇÕES DE ODI MEJI:
Odi Meji proíbe aos seus filhos: Consumir carne de lebre ou de coelho, purê de batata
doce, feijão fradinho ou de qualquer tipo de alimento em que esteja incluído como ingrediente,
grão de Angola ou suas folhas. Não podem dormir de barriga para cima (posição em que os
mortos são colocados em seus ataúdes), matar moscas com as mãos, possuir coleção de
objetos em números de sete, participar de reuniões, almoços, festas, etc., em que se
encontrem sete pessoas. (o número sete atrai as energias negativas deste Odu).
É aconselhável, sempre que se vá fazer um sacrifico indicado por Odi Meji, usar
roupas vermelhas ou marrons.
SENTENÇAS DE ODI MEJI:
(1) A morte não pode te alcançar, a doença não pode te alcançar, os processos judiciais não
podem te alcançar, ninguém penetra num bosque de espinhos, envolvido somente num
pedaço de pano.
(Fazendo o ebó indicado, o consulente estará protegido contra tudo).
(2) O leopardo não pode capturar o cão que está protegido por uma grade de ferro.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(mesma interpretação da sentença anterior).
(3) Se um grande pedaço de carne foi perdido, procure-o atras da cerca. Um ladrão não pode
roubar um cadáver e faze-lo desaparecer.
(O consulente é um malvado muito bem instruído, que embora consiga concretizar a maldade
que está arquitetando, jamais poderá tirar nenhum proveito de seu ato).
(4) Um rio não pode mudar seu curso para fazer guerra com outro rio.
(O cunsulente tem inimigos dentro de sua própria casa, mas nenhum deles podem lhe fazer
nenhum mal).
(5) A ira do homem que tem uma chaga, não pode espantar a mosca que pousa na ferida. A
vontade do homem é bater na mosca que o incomoda, mas o medo da dor impede que ele
bata na ferida.
(O consulente, embora conheça a origem de seus problemas, não tem forças para eliminá-la).
(6) Se o vento sopra muito forte nas folhas do espinheiro, as ervas não brotam aos seus pés.
(O cliente, por ser perdulário e não saber administrar o seu dinheiro, jamais chegará a
acumular fortuna).
ITAN DE ODI MEJI.
(1) “A criança que está agora no ventre, fala a sua mãe”.
Certo dia, quando Ifá encontrava-se ainda no ventre de sua mãe, estando ela ocupada em
recolher lenha no interior de uma floresta, foi surpreendida por uma voz que dizia: “Mãe! Eu
vou dizer uma coisa. Trata-se de um segredo que jamais deverá ser revelado!” - Espantada, a
mulher começou a procurar no meio da floresta, pela pessoa que lhe falava, sem encontrar
ninguém. Novamente a voz se fez ouvir: “O que estás procurando? Sou eu, teu filho quem
está falando! Quero prevenir-te que no décimo sexto dia, a partir de hoje, me darás a luz!
neste mesmo dia haverá uma guerra em nossa vila e meu pai será morto pelo inimigo... Tu,
minha mãe, será capturada e separada de mim...”.
No dia seguinte, ao raiar do sol, o menino novamente fez contato com sua mãe,
dizendo-lhe: “Compreendeu bem o que te disse ontem? Faltam somente quinze dias para o
acontecimento!...”. E todos os dias de manhã ele falava com a mãe e no décimo sexto dia
depois do primeiro contato, disse: “Eis que é chegado o dia!” E imediatamente iniciou-se o
parto. No exato momento em que a criança vinha ao mundo, iniciou-se um ataque contra a
cidade. Durante a batalha, o pai do menino foi morto e a mulher foi capturada e levada como
escrava. Ifá, escondido em lugar seguro, viu quando um homem se aproximava e dirigindo-se
a ele, implorou: “Leva-me contigo! Estou só no mundo. meu pai está morto e minha mãe
reduzida a condição de escrava! Leva-me contigo e não te arrependerás por fazeres esta
caridade!”
Comovido, o homem pegou o recém-nascido e levou-o consigo em total segurança,
para sua própria casa. Ifa imediatamente começou a realizar curas miraculosas. Sempre que
alguém adoecia, o menino após identificar o tipo de doenças, receitava ervas que traziam a
cura imediata. Todos os doentes recuperados faziam questão de pagar muito bem pela cura e
desta forma, o homem que recolheu a criança tornou-se muito rico e poderoso. Naquele
tempo, o pais era governado por um rei chamado Lõfin, que logo que soube dos milagres,
chamou a sua presença o responsável pela criança, que ali chegando, narrou de que forma
encontrara o pequenino, o pedido de ajuda e seus maravilhosos poderes sobrenaturais. O rei,
entre espantado e descrente, afirmou: “Se isto é verdade, se este menino for realmente
dotado de tantos poderes, ocupará ao meu lado, um lugar no reino deste pais!”
Logo o menino foi transferido para o palácio e sempre que um familiar do rei adoecia,
era por ele curado. Nada mais se fazia no reino sem uma prévia consulta a Ifa e suas
orientações eram seguidas no mínimos detalhes. Com o passar do tempo, o menino cresceu
e logo que se tornou adolescente, recebeu de Lõfin uma cidade onde foi coroado rei. Seu
milagres se multiplicavam, todos aqueles que sofriam vinham atrás dele em busca de auxílio.
sua fortuna aumentava a cada dia, possuía muitas mulheres e muitos servos, além de todas
as coisas que representam riqueza para os seres humanos. Ifa na esperança de um dia
encontrar sua mãe, adquiria escravas na mão de um mercador. Era chegado o dia em que se
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
deveria comemorar a festa chamada Fanuwiwa que todos os anos se faz em honra a Ifa. As
mulheres de Ifa, junto com suas escravas, ficaram encarregadas de pilar milho para produzir a
farinha que seria usada na festa. Entre as escravas estava a mãe de Ifa, que devido a
situação miserável em que se encontrava, tinha medo de identificar-se e não ser aceita pelo
filho. Enquanto realizava sua tarefa, a mulher entoava uma triste canção, na qual dizia: “Ifa Di-
Meji, Tu não me conheces mais?” Ao ouvir a canção, Ifa ordenou que a mulher fosse levada a
sua presença, interpelando-a da seguinte forma: “Então tu me conheces?” E a mulher
respondeu: “Mas não fostes tu mesmo quem me anunciastes o dia do teu nascimento? Tu me
dissestes que no décimo sexto dia viria ao mundo e que no mesmo dia teu pai seria morto e
eu feita escrava”. “És tu minha mãe!” Gritou Ifa e ordenou que a banhassem e oferecessem
muitos e belíssimos vestidos, além de um torso branco para adornar a cabeça. Em seguida,
Ifa fez com que a mulher se assentasse ao seu lado, sobre uma grande almofada branca
denominada akpakpo e pegando uma cabra, ordenou que a imolasse em honra de sua mãe,
que passou desde então, a viver ao seu lado, cercada de todas as honrarias e reverências
reservadas a mãe de um rei.
É por isto que sempre que se oferece um sacrifico a Odi Meji, dever-se lembrar desta
história e pega-se um akpakpo que serve de assento para Nã, um pano de cabeça (kpokun
abuta), uma cabra, farinha de milho misturada com azeite de dendê (amiwo) e oferece-se a
Nã Naxixe a mãe de Ifa.
(2) Odi Meji disse: “Metolõfi, por avareza, não quis sacrificar um boi, de malhas brancas e a
morte veio busca-lo.”
Quando Ifa estava ainda no ventre de sua mãe, pediu que seu pai pegasse um boi
malhado de branco e oferecesse em sacrifício, a fim de evitar que dentro de três anos, uma
guerra viesse dizimar o seu reino. Seu pai negligenciou o sacrifício e no dia do nascimento de
Ifá, seu pai morreu e sua mãe foi capturada como escrava.
Três anos depois, a guerra arrasou o pais e Ifá mandou que Ajinoto, a parteira, o
encerrasse dentro de uma cabaça, de forma que ninguém o pudesse ver. A parteira foi
encarregada também, de avisa-lo logo que alguém passasse por perto, para que ele
revelasse ao passante, a causa de seus sofrimentos e os remédios e sacrifícios que
resolveriam todos os seus problemas.
Tudo ocorreu da forma como Ifá planejara e o homem que passou naquele local, não
hesitou em levar para sua casa, a cabaça onde Ifa havia sido encerrado.
Para deslumbramento de todos, Ifá, de dentro da cabaça, dava conselhos, receitava
medicamentos e resolvia os mais difíceis problemas.
Um dia, Ifa ordenou que alguém se dirigisse ao mercado onde, pelo preço de quarenta
e um cauris, deveria comprar sua mãe que estava sendo vendida junto com outras escravas.
“A primeira mulher que for oferecida deve ser comprada, pois esta é minha mãe”.
Naquela época, Ifa costumava aceitar sacrifícios humanos no festival de Fanuwiwa.
Quando a escrava adquirida no mercado foi trazida, Ifá ordenou que lhe fosse
entregue certa quantidade de milho, para que pilasse e transformasse em farinha destinada a
preparação do amiwo.
Enquanto pilava o milho, a mulher ouvia os consultantes invocando Ifá, “Orunmila!
Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!” (Orunmila! Akefoye! Se teu nome é Ifá, jamais
esquecerás de mim!). Reconhecendo em Ifá o seu próprio filho, a pobre mulher pôs-se a
cantar em voz alta a saudação que ouvia: “Orunmila! Akefoye! Agbo wi dudu nu do fe to!”
As pessoas contaram a Ifa sobre a mulher que cantava aquela saudação enquanto
pilava o milho e Ifá ordenou que ela largasse aquele trabalho e que, no dia seguinte pela
manhã, chamasse por ele, junto com seus fiéis, para que pudesse mostrar a todos de que
forma deveria ser corretamente alimentado. Ordenou ainda, que fosse preparado um akpakpo
e dois panos brancos de cabeça denominados kpokun abuta, proibindo a todos de olharem
para aqueles objetos.
Como Ifá vivera até então, fechado dentro de sua cabaça, jamais havia sido visto por
ninguém. Quando todos se afastaram, Ifá saiu de sua cabaça coberto por um grande chapéu,
vestindo um avental de pérolas e calçando sandálias, indo sentar-se no alto de um tripé de
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
onde gritou: “Olhem bem, sou eu Ifá! que ninguém viu jamais... A mulher que mandei comprar
no mercado de escravos, deve ser trazida até aqui!”
A mulher foi trazida a sua presença e Ifá mostrou-a a todo mundo, dizendo: “Olhem
bem, esta é minha mãe! Quando eu estava no seu ventre, determinei que meu pai
deveria sacrificar um boi malhado de branco, para evitar malefícios que já estava previstos,
más meu pai não atendeu minha orientação e todo mal acabou por se concretizar.
Tanto tempo se passou e eu comprei esta escrava para ser sacrificada em minha
honra. Entretanto não sacrificarei, não poderia trair minha própria mãe, mesmo que ela me
tenha traído.”
Dito isto, ordenou que cortassem os longos cabelos de sua mãe, que envolvessem sua
cabeça com um belo torso branco e que a instalassem sobre a almofada akpakpo. Depois
pediu um boi e um cabrito para serem sacrificados. Com a farinha moída por sua mãe,
mandou preparar um amiwo para ela, que não poderia ser comido em sua presença.
Desta forma, assentada sobre um akpakpo, transformou-se ela em Nã, mãe de um rei.
Aos jovens que prepararam as carnes do boi e do cabrito, assim como o amiwo,
ordenou que fosse dado uma parte de cada coisa, para que comessem depois da cerimônia.
Depois das cerimônias de Nã, aqueles que prepararam os alimentos a ela oferecidos,
recebem uma pequena parte destes alimentos, parte esta que recebe o nome de kle ou kele e
que só pode ser consumido depois que o Vodun for servido. (Este rito acompanha as
cerimônias às Divindades Nagô sob o nome Atowo e as divindades Fon sob o nome de
Nudide).
A mãe de Ifá disse então a seu filho que sentia-se muito envergonhada pois não
merecia tantas honrarias e que naquela dia iria encontrar-se em Lõ (local para onde vão os
espíritos dos mortos), com seu finado esposo.
“A partir de hoje, quando fizerem uma cerimônia em minha honra, digam: “Nã Kuagba!
(Nã seja bem vinda!) e virei receber as oferendas.” Disse a mulher.
Nã disse ainda, que faria o Sol tornar-se mais brando ou mais quente, comandando-o
de cima de seu akpakpo.
A partir de então, realiza-se sempre o ritual de Xe Nã (dar comida a Nã), quando
terminam os festivais Fanuwiwa.
(3) Odi Meji diz: “Não se pode ocultar um cadáver de uma mosca!” O rei Metolõfi não gosta da
mosca porque não conseguia ocultar nada dela. Um dia, resolveu coloca-la a prova, sob pena
de morrer se acaso falhasse no teste.
Certo dia, a Mosca teve um sonho, atraves do qual foi avisada para manter-se em
guarda, pois a menor distração poderia representar sua morte. Pela manhã, logo ao
despertar, Mosca foi consultar Ifá, que lhe mandou oferecer um sacrifício de quatro galinhas,
quatro pombos e farinha. A Mosca ofereceu os bichos, más preferiu entregar a farinha a sua
mãe, para ser por ela vendida.
Enquanto isto, Metolõfi mandou preparar duas grandes esteiras em forma de sacos.
Numa das esteiras, pintada de fuligem negra, colocou um Xla (hiena), na outra, pintada de
branco e vermelho, enfiou um Kpo (leopardo), sendo que os dois animais estavam vivos. Dois
carregadores foram encarregados pelo rei de levarem as esteiras, com seus perigosos
conteúdos, até a casa de Mosca, para que esta adivinhasse o que havia dentro, sobe pena
de, em caso de erro, ser punida com a morte.
Chegando a cidade, os carregadores encontraram uma mulher que vendia mingau de
farinha e arriando seus pesados fardos, comeram do mingau ali vendido, sem saber que a
mulher era a mãe de Mosca.
Tendo acabado de comer, o primeiro carregador dirigiu-se à sua carga e perguntou em
voz alta: “Xla! Queres comer um pouco de mingau de farinha?” e como a hiena aceitasse,
entregou-lhe uma porção do alimento.
O segundo carregador, seguindo o exemplo de seu companheiro, dirigiu-se a sua
carga e perguntou: “Kpo! Kpo! Queres mingau de farinha?” e o leopardo aceitou.
Descobrindo a armadilha, a mãe da mosca tratou de arquitetar um plano para deter os
carregadores, enquanto ia avisar à sua filha e dirigindo-se a eles, falou: “Tomem conta de
minhas coisas enquanto vou em casa buscar água fresca para beberem.”
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Chegando em casa, avisou a mosca que na esteira pintada de preto, havia uma hiena
e que na outra de branco e vermelho, havia um leopardo, retornando em seguida com a água
para os homens.
Depois de saciarem a sede, os homens perguntaram à mulher onde ficava a casa de
Mosca. “Estão vendo aquela casa ali a frente? é de lá que vejo sair todas as manhãs. Vão até
lá e a encontrarão.”
Chegando a casa da Mosca, os carregadores bateram e foram atendidos pela própria.
“Somos mensageiros do rei Metolõfi que nos mandou procura-la.”
“Procurar por mim? E com estas feras sobre as cabeças? Tu carregas um Xla, um Xla
vivo! Trate de deixa-lo bem longe de mim! E tu... tu trazes um kpo vivo e não o quero aqui em
minha casa! Tratem de levar esta feras para o local de onde as trouxeram!”
Os carregadores, sem ao menos arriarem os seus fardos, voltaram a presença do rei a
quem disseram: “Esta mosca é terrível, nem chagamos a depositar nossas cargas no chão e
ela já havia identificado o conteúdo!”
Desolado o rei respondeu: “É, ela é mesmo terrível. Não pude elimina-la desta vez e
ela continuará a viver e a descobrir tudo, ainda que esteja muito bem oculto.”
Ebó: Quatro eiyele, quatro adie, bastante mingau de farinha. Prepara-se dois sacos
confeccionados com esteiras (tipo nagô); um dos sacos é tingido de negro e o outro de
vermelho e branco (usar carvão, efun e osun). Em cada um dos sacos, coloca-se um boa
quantidade de mingau de farinha, sacrifica-se os bichos à Elegbara (ejé no igba), coloca-se os
animais mortos dentro dos sacos, dividindo em partes iguais e despacha-se próximo a uma
lixeira.
Este ebó é indicado para pessoas que tenha sua liberdade ou suas vidas ameaçadas.
(4) Havia naquele tempo, uma tribo de selvagens que costumava atacar as aldeias
circunvizinhas, onde faziam prisioneiros pra serem transformados em escravos.
Foi assim que Olatunde foi transformado em escravo e penava sob maltratos e a mais
absoluta miséria.
Certo dia, o pobre escravo retornava de sua labuta diária, quando encontrou caído no
chão um pedaço de obi. Cheio de fome, pegou o achado e tratou imediatamente de come-lo,
no que foi pilhado por seu cruel senhor, que sem hesitar, acusou-o de haver roubado o obi de
seu celeiro.
Levado a julgamento, o infeliz foi condenado a morte, embora protestasse por sua
inocência.
Era costume daquele povo, encerrarem os condenados a morte em uma grande caixa
de madeira, que depois de devidamente lacrada, era atirada do alto de um penhasco às
águas revoltas do rio que por ali passava, cabendo ao condenado a chance de realizar sua
última vontade.
Indagado sobre o que gostaria de fazer antes de ser executado, o prisioneiro
expressou o desejo de oferecer um sacrifico em louvor de seus ancestrais, para que quando
chegasse em Ló (*), pudesse ser recebido de maneira satisfatória.
Concedida a permissão, recebeu de seus algozes o material necessário para o
sacrifício. Dentro de um jacá (cesto com tampa), sacrificou uma cabra, duas galinhas, um preá
e dois galos, que foram depositados dentro do cesto. Por cima dos animais sacrificados,
colocou dois peixes assados, aguardente, epô e todas as coisas que agradam a Egun. O jacá
foi então fechado e muito bem amarrado com cordas sem uso anterior, sendo em seguida
atirado às águas do rio. Logo que terminou seu ritual, o homem foi amarrado e encerrado na
caixa, que depois de bem fechada, foi atirada do alto do abismo, nas águas do rio.
Ao chocar-se com a superfície das águas, a caixa não se quebrou e flutuando, foi
arrastada até uma localidade muito distante, onde foi resgatada por pescadores que ficaram
estarrecidos com seu achado. Verificando que o condenado ainda estava vivo, conduziram-no
até a cidade para apresenta-lo as autoridades locais.
Ora, os pescadores estavam longe da cidade há muitos dias e desconheciam o fato de
que, depois de sua partida, o rei havia falecido e seus funerais estavam sendo realizados.
Segundo as leis do país, quando morria um rei sem deixar filho varão, o primeiro estrangeiro
que surgisse na cidade, seria coroado rei e desta forma, Olatunde, que por força do sacrifício
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
que oferecera a seus ancestrais, fora salvo da morte, tornou-se rei daquele pais, livrando-se
para sempre da miséria e do sofrimento.
(*) Lugar para onde vão os espíritos dos mortos.
Ebó: Conforme descrito no itan, este sacrifício é indicado para pessoas que se
encontrem em dificuldades de todos os tipos, principalmente em relação a condenações,
desemprego ou falta de recursos financeiros.
(5) Odi Meji foi o signo que as mulheres encontraram, no tempo em que não tinham nádegas
e desejavam ter.
Para resolver o problema, as mulheres foram consultar Azwi a lebre, que advinhava
por intermédio das folhas Kwelekun (Cajanus Indicus).
A própria Azwi, quando chegou a este mundo, consultou Ifá, que lhe determinou um
sacrifício com uma galinha, um sosiovi (pedra de raio, também conhecida como edun ara
entre os Yoruba), um bastão de caça e um ofa.
No entanto, mesmo tendo negligenciado seu próprio sacrifício, a lebre metia-se a dar
consulta com as folhas, como se para isso tivesse permissão.
Na consulta das mulheres, Azwi pediu em sacrifício, duas galinhas e duas grandes
porções de farinha e quando as mulheres trouxeram os ingredientes, ele fez o ebó.
Legba no entanto, recusou o sacrifício dizendo: “Quem mandou fazer este ebó?” E
Azwi respondeu: “Foram as mulheres que consultaram para adquirirem nádega:. E Legba
exasperado: Agbo afa kan me ji te ka sin? Esin do Azwiji! (Quem é que está consultando sem
ter feito seu sacrifício? É a lebre!) Como Azwiji, tu não fizestes teu próprio sacrifício e te
permites prescrever coisas aos outros? isto não ficará assim!”
Legba convocou todos os caçadores do país e fazendo-os entrar entre as folhagens
de kwelekun, falou: “Os grãos de Angola que vocês tanto apreciam, estão sendo guardados
por um animal, para seu próprio consumo.” Os caçadores, com suas armas de caça, saíram
em perseguição a lebre, gritando: “Matem! Matem!”
Morta a lebre, sua carme foi comida e só então descobriram o quanto é deliciosa.
Foi então que Legba sentenciou: “Aquele que pretende oferecer uma cadeira a
outrem, deve cuidar antes, que ele mesmo tenha uma. A lebre que nada tinha e quis dar
alguma coisa aos outros, está morta!”
Aquele para quem surgir este signo, oferecerá em sacrifício, dois bastões de caça
(dãkpo), um ofa em miniatura e uma pedra de raio, para que não tenha o mesmo destino da
lebre.
(6) Oderere era o nome do advinho que consultou Ifá para Orinrere e sua mulher, que viviam
da venda de folhas de palma que recolhiam na floresta, mas que tendo perdido o seu facão,
não tinham como realizar o seu trabalho.
Na consulta, surgiu Odi Meji, que determinou um ebó que deveria ser entregue
próximo ao local onde o facão havia desaparecido.
Feito o ebó, o casal embrenhou-se mata a dentro, na esperança de encontrar a
ferramenta, quando depararam com as ruínas de um palácio muito antigo e abandonado.
Penetrando no que em tempos passados fora o salão principal do palácio,
encontraram meio encoberto pela vegetação, um grande pote de barro, no interior do qual
alguém havia guardado muitos objetos de valor. Recolhidos os objetos e vendidos, pode o
casal apurar uma substancial importância em dinheiro, o que lhes garantiu uma sobrevivência
confortável para o resto da vida.
Ebó: Adié meji, um facão de mato, epo, oti, mel. Sacrifica-se as adie a Elegbara,
deixando o eje correr sobre o facão e o igba. Procede-se normalmente com os demais
ingredientes. O facão sai junto com o carrego que deve ser despachado dentro de uma casa
em ruínas e tomada pela vegetação.
Este caminho indica possibilidades de melhoras financeiras ou recuperação de
emprego, cargo ou negócio perdido.
(7) Naquele tempo, Odi era considerado como um grande Babalawo, muito respeitado por sua
competência de prever o futuro. Sabedores de sua fama, dois sujeitos foram procura-lo, em
diferentes oportunidades, para saberem como deveriam proceder para que tudo lhes corresse
bem nesta vida.
64
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Ao primeiro consulente, Odi determinou um sacrifício com um carneiro e ao segundo
que era cego, um sacrifico com um galo.
Odi, no entanto, não havia cumprido com o seu próprio preceito, que era o de fazer um
certo ebó sempre que consultasse qualquer pessoa.
O homem a quem fora determinado o sacrifico do carneiro, padecia de uma moléstia
nas pernas, que lhe trazia sofrimento. Na hora do ebó, o homem segurou o carneiro e pediu
com muita devoção que o Egun de seu pai aceitasse o sacrifício e aliviasse seus males.
Repentinamente o carneiro atacou-o com violenta cabeçada, que atingiu em cheio seus
testículos. Uma dor insuportável fez com que o pobre homem rolasse no chão desesperado,
enquanto uma grande quantidade de liquido maligno, que durante muitos anos havia se
acumulado em seus órgãos ocasionando todo o sofrimento, era expelido completamente.
Desta forma, assim que passou a dor, o homem pode observar que estava
completamente curado.
No dia seguinte, chegou o cego com o galo pra ser oferecido ao Egun de seu próprio
pai. Na hora do sacrifício, o galo debateu-se furiosamente e suas unhas, atingindo as vistas
do homem, retiraram delas, não sem muita dor, uma pele que impedia sua visão. Depois de
estancada a hemorragia, o homem descobriu que já podia enxergar com perfeição.
Dias depois, os dois homens resolveram regressar a casa de Odi para agradecerem
pelas graças recebidas e coincidentemente encontraram-se no caminho.
Ao chegarem ao seu destino, encontraram Odi acorrentado a uma cadeira e souberam
que aquilo era um castigo que deveria ser cumprido, porque Odi havia negligenciado seu
próprio sacrifício.
Em agradecimento pelas curas em que haviam sido submetidos, os dois homens
propuseram-se a comprar os ingredientes para que Odi pudesse oferecer o seu ebó e assim
fizeram eles mesmos o sacrifico em favor de Odi.
No mesmo dia, a filha do rei daquele pais, foi acometida de um desmaio que a deixou
fora de si por muito tempo. Conhecedor dos poderes curativos de Odi, o rei ordenou que ele
fosse solto imediatamente e levado a sua presença, implorando-lhe que curasse sua filha.
Sem perda de tempo, Odi providenciou uma medicina que curou a menina
imediatamente e o rei, como prova de gratidão, fez com que Odi desposasse sua filha.
A partir de então, Odi passou a residir no palácio real, com honras de príncipe e nunca
mais conheceu dificuldades.
Ebó: Um carneiro, um galo, um preá, um garfo, uma colher, uma faca de mesa e um
prato. O preá é sacrificado a Elegbara, o carneiro e o galo são sacrificados a Egun (ancestrais
familiares da pessoa), junto com o prato e os talheres.
Este trabalho é indicado para problemas de saúde e de sofrimentos causados por
ingratidão.
SIGNIFICADO E INTERPRETAÇÃO
EJIONILE MEJI
Ejionile é o 8º Odu no jogo de búzios e o 1º na ordem de chegada do sistema de Ifa,
onde é conhecido pelo nome de Ejiogbe.
Responde com 8 (oito) búzios abertos.
Em Ifá, é conhecido entre os Fon (Jeje), como “Jiogbe”. Para melhor eufonia dos
cânticos, costuma ter as silabas invertidas para Gbe-Jime.
Um outro nome com que é muito conhecido é Ogbe Meji, dentro do sistema divinatório
de Ifá.
Ejionile, Jionile ou Jionle, devem ser contrações das palavras Oji lo n’ile, cuja tradução
é: “Aquele que possui a Terra (o mundo). “Este Odu recebe ainda, em nagô, os seguintes
nomes:
Ogbe Oji - Duas palavras (vida e morte).
Oji Nimor Gbe - Eu recebi duas dádivas.
Alafia - Coisas boas.
Awulele - Cumpra com seu sacrificio e serás bem sucedido.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Aluku Gbayi - Aquele que, conhecendo a morte, se ergue sobre o mundo. Ele sabe se agitar
ao redor do Sol.
Sua representação indicial em Ifá é:**
**
* *
**
que corresponde, na Geomancia Europeia, a figura denominada “Via”.
Ejionile é um Odu composto pelos Elementos Fogo sobre Fogo, o que indica
dinamismo puro que impede, de forma instintiva, à conquista do objetivo.
Corresponde ao ponto cardeal Leste, a carta n. 1 do Tarot (O Mago) e seu valor
numérico é o 1.
Sua cor é o branco, podendo por vezes aceitar também o azul. É um Odu masculino,
representado esotericamente por um circulo inteiramente branco.
O circulo representando Ejionile (Ejiogbe), chama-se Gbe-Me, seu interior é branco,
como branco é o amanhecer do dia. ë o universo conhecido e o desconhecido, chama-se em
fon, Keze e em yoruba, Aye.
Ejionile é considerado o pai dos demais Odu, sendo portanto, o mais velho de todos,
com excessão de Ofun Meji, de quem foi gerado.
Sua principal função é de proteger o nosso mundo, suprindo-o em todas as suas
necessidades e cuidando de sua permanente renovação. Representa o Oriente, é o senhor
do dia e de tudo o que acontece durante ele. É responsável pelo movimento de rotação, que
provoca, depois de cada noite, o surgimento de um novo dia.
Controla os rios, as chuvas e os mares, a cabeça humana e as dos animais. O pássaro
lekeleke - consagrado a Oshalá, o elefante, o cão, a arvore Iroko, as montanhas, a terra e o
mar pertencem a este signo, assim como todas as coisas naturalmente brancas.
Rege o sistema respiratório e tem também, sob suas ordens a coluna vertebral, além
de todo o complexo de vasos sanguineos do corpo humano, embora se saiba que o sangue
não lhe pertence, mas a Osa Meji.
As pessoas pertencentes a este odu, são impulsivas, chegando quase a
irracionalidade. Seus objetivos devem ser atingidos a qualquer preço, mesmo que represente
o sacrifico de outrem.
Possuem desenvolvimento intelectual mediano, alimentado por uma curiosidade
incontrolavel e enfraquecido por imaginação excessiva, que os leva a criar fantasias
demasiadamente absurdas.
Tendem ao vulgar, ao mais facil, ao comum, não se importando muito com a qualidade
das coisas.
Costumam ser diretos e sutileza é coisa que desconhecem quase que totalmente.
SAUDAÇÕES DE EJIONILE:
Em Nago:
Baba Ejionile alalekun moni lekun oko lola
Omodu aboshun omo eni ko shé
Ileke ri shi ka mu
Ileke omo lori adifafun aladeshe
Imaparo tin babeledi agogo.
Em Fon:
Mi kan Jiogbe.
Ku li ma nun nu mi o!
Tradução:
Salve Ejiogbe.
Que os caminhos da morte não a conduzam a nós!
66
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
EJIONILE EM IRE:
Quando em Ire, Ejionile pode indicar, principalmente: Independência, determinação,
um caminho aberto e que deve ser seguido, auto suficiência, vitória sobre o inimigo,
dedicação em face de problema próprio ou alheio, desenvolvimento intelectual pela vontade
de saber, vitória em problemas de órdem financeira.
EJIONILE EM OSOGBO:
Em Osogbo, este Odu pode indicar: Perdição pelo jogo, estupidez, teimosia,
irracionalidade, ações impensadas que ocasionam problemas, confusão, agressividade, fúria
incontrolada, casos judiciais, uma aventura que terá final desastroso, falta de escrupulos,
adultério (por parte do cliente), sexualidade excessiva. Fala de doenças (Osogbo Arun) como:
anemias, males do estômago, das mamas, da garganta e do ventre, loucura por imaginação
excessiva, problemas da coluna vertebral e do olho esquerdo.
Neste Odu, falam as seguintes Divindades:
Voduns (Jeje): Xevioso, Sakpata, Lisa, Mawu, Gu e Gbaadu.
Orisha (nagô): Obatala, Shangô, Ayra, Ogun e Omolu.
INTERDIÇÕES DE EJIONILE:
Ejionile proibe aos seus filhos: Roupas vermelhas, pretas ou de cores
demasiadamente escuras; emú (vinho de palma); carne de galo, de cobra e de elefante; bolo
de acassa que tenha sido enrrolado em folha de bananeira, pérolas negras, corais negros e
onix. Não devem também matar ratos.
SENTENÇAS DE EJIONILE:
(1) Óh Ejiogbe! Que o cheiro da morte jamais se oculte do cão. Que Aklasu (*) possa sempre
farejar no ar, o cheiro da morte!
(O cliente vem sendo enganado dentro de sua própria casa e o ebó prescrito, fará com que a
verdade seja descoberta).
(2) O buraco abriu a boca. O buraco não abre a boca se nada houver para ser engolido.
(O cliente encontra-se em perigo eminente de morte).
(3) Aklasu encontra um corpo sem vida e diz: “Graças a Ejiogbe, ainda existe alimento para
mim”.
(O Odu Ejiogbe, determina que o aklasu se alimente de carniça. Por este motivo, toda vez que
o animal encontra um cadáver, dá graças a Ejiogbe. O cliente pra quem for determinada esta
sentença, encontra-se em sérias dificuldades).
(4) O Iroko (árvore) e a parasita ava que o envolve, uma vez que se uniram, devem
envelhecer juntos.
(O cliente não deve abrir mão do que é seu ou separar-se de um ente querido. Qualquer
atitude nesse sentido, lhe trará grandes conseqüências).
(5) Óh, Ifá Ejiogbe! O brilho do Sol desbotará a bela coloração vermelha do agidibaun (**) que
vive nas montanhas!
(O cliente não deve expor-se em demasia, para não ver seu prestigio abalado ou diminuído).
(6) As pequenas contas brancas dos colares das sacerdotisas de Obatala, demonstram que
inegavelmente, elas são suas esposas.
(O cliente não deve pretender obter coisas, que por direito não lhe pertençam, usando para
isto métodos espúrios).
(*) Cão selvagem que habita as savanas).
(**) Espécie de preá de pelo avermelhado.
ITAN TI EJI-ONILE
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(1) Os olhos chegaram ao mundo primeiro que a cabeça, sendo por isso seu irmão mais
velho.
Certo dia, Ashé - criador de todas as coisas, encheu uma cabaça com carne de
carneiro conservada em óleo de palma e embrulhou-a num belo corte de seda. Numa
segunda cabaça, Ashé colocou ouro, prata e pedras preciosas, embrulhando depois, em
panos comuns e de pouco valor.
Isto feito, chamou seus filhos Olhos e Cabeça, para que cada um escolhece uma
cabaça para si.
Deslumbrado com a beleza da seda, Olhos escolheu a primeira cabaça, deixando a
outra para seu irmão.
Desembrulhando a cabaça, deparou com a vianda nela contida e sem exitar, tratou de
come-la na companhia de alguns amigos.
Ao abrir a cabaça que lhe restou, Cabeça perguntou decepcionado: “Que farei com
estas coisas se não posso comer? enfim, como foi meu pai quem me deu, vou guarda-las
com muito carinho.”
No dia seguinte, Cabeça resolveu reexaminar o conteúdo de sua cabaça, derramando-
o sobre sua esteira. Só então percebeu do que se tratava e pôs-se a gritar: “Estou rico! Minha
cabaça vale infinitamente mais do que a de meu irmão!”
Tempos depois, Ashé reuniu seus filhos e lhes perguntou: “Muito bem, que
encontraram dentro das cabaças que lhes presenteei?”
“Na minha havia uma bela vianda que tratei logo de comer.” Disse Olhos.
“Dentro da minha, encontrei tudo o que representa riqueza e sou grato a meu pai por
me haver regalado com tão maravilhoso presente”. Afirmou Cabeça.
Então, Ashé sentenciou: Olhos, tu és muito avido! A visão te atrabalha, tu enxergas
sem ver. Cabeça, que melhor refletiu, escolheu a cabaça que, embora envolta em pano
comum, guardava em seu interior uma enorme fortuna. Por este motivo, será Cabeça quem, a
partir de hoje, tomará todas as decisões, sem se deixar enganar pelas aparências.
Depois disto, sempre que tivermos chanche, devemos dizer: “Minha cabeça é boa e
não meus olhos são bons”.
Canticos do Itan: Ta she dokpo we nõ nu, bo ta yi yo.
Ori bo ge, aboge, aboge
Ori she! Ori ta dokpo,
O gboge, gboge, gboge!
Tradução: Eu não tenho mais que uma cabeça que pensa.
E ela provem de muitas outras cabeças!
Minha cabeça é forte e pensante,
Oh! Cabeça, eu não tenho mais que uma!
Mas ela é forte e pensante!
Ebó: Duas cabaças médias, um pedaço de pano branco, um pedaço de pano
estampado de boa qualidade, um pedaço de carne de carneiro ou de bode, azeite de dendê,
ataré, 8 moedas, 8 búzios, 8 pedrinhas brancas pequenas, um pedacinho pequenino de ouro
e outro de prata. Abre-se as duas cabaças pelo meio, retira-se as sementes, deixando-as bem
limpas por dentro, pinta-se por dentro e por fora com efun. Numa delas se coloca o pedaço de
carne, dendê e vários grãos de ataré e embrulha-se no pano estampado. Na outra, coloca-se
as moedas, os búzios, as pedrinhas, o ouro e a prata, fecha-se e embrulha-se no pano
branco. Oferece-se as duas cabaças a cabeça do cliente e despacha-se a que contem a
carne, numa mata. A outra, deve ficar guardada na casa do cliente e participar, todas as vezes
em que a pessoa tomar bori.
Este ebó é indicado para melhorar a sorte e fortalecer a cabeça. Pode ser indicado
sempre que, na consulta, surgir o símbolo indicador de que é o Ori do cliente, quem se
encarrega de solucionar o problema. Recomenda-se dar Oshebili ao Ori, depois do ebó.
(2) Ejiogbe desposou uma mulher, que lhe deu dois gêmeos em sua primeira gravidez.
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JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
Dois meses depois do parto, a mãe teve relações com um homem, que queria a
qualquer preço, leva-la para longe de seu marido. A mulher concordava em fugir com seu
amante, mas não descobria de que maneira poderia assumir seu ato, sem trágicas
conseqüências.
Certo dia, o sedutor entregou à mulher um pó negro, poderoso veneno, que deveria
ser misturado à comida do esposo, o que segundo ele, iria solucionar definitivamente os seus
problemas.
No dia seguinte, a mulher preparou um nunsunun (*) e aproveitando-se da ausência do
marido, derramou sobre o alimento uma grande quantidade do veneno que lhe presenteara
seu amante, tendo antes o cuidado de separar uma parte num recipiente a parte.
Quando o marido regressou, a mulher serviu-lhe a comida envenenada, retirando-se
em seguida, sob a alegação de que iria buscar um pouco de água fresca, no poço próximo de
casa.
Acontece que, na hora em que a mulher envenenou a comida, Zinsu, o mais novo dos
gêmeos, que a tudo assistira, marcou o recipiente com a parte envenenada.
Antes do nascimento dos gêmeos, o Bokonõ do local, previra que tal acontecimento,
seria seguido de uma grande desgraça para aquela família e para evitar que a profecia se
cumprisse. Zinsu resolveu avisar a seu pai, da trama que estava sendo preparada contra ele,
mostrando-lhe onde estava a porção boa de alimento, que a mulher havia separado pra seu
próprio consumo.
Incontinente, o pai trocou a comida envenenada, para o recipiente em que se
encontrava a parte boa, tratando de come-la imediatamente, o que foi presenciado pelo outro
gêmeo, chamado Sagbo.
Quando a mulher voltou com a água, Sagbo contou-lhe tudo o que acontecera em sua
ausência e a mulher, com grande alarido, convocou a presença de toda a vizinhança, gritando
que o marido tentara envenena-la.
O acontecimento foi levado ao conhecimento do rei Metolõfi que, imediatamente,
intimou a sua presença o marido, interrogando-lhe sobre as acusações que lhe fazia a mulher.
Ouvindo as alegações do homem, o rei resolveu tomar depoimento dos gêmeos que,
apesar da pouca idade, foram ouvidos como se fossem adultos, depondo em separado.
Interrogado primeiro, Zinsu afirmou não conhecer a origem do veneno que sua mãe
colocará na comida de seu pai, mas que considerava o seu nascimento e o de seu irmão,
como um sinal de azar para a familia, principalmente se seu pai viesse a morrer, decorridos
apenas dois meses de seu nascimento e que por este motivo, havia denunciado a trama de
sua mãe.
Sagbo, por sua vez, declarou que sua mãe havia realmente envenenado a comida
destinada a seu pai que, sabedor disto, trocara os alimentos de prato, consumindo o bom e
deixando o envenenado pra sua mulher, com a intenção de castiga-la. Tomara a decisão de
avisar sua mãe sobre o ocorrido, por achar que, se ela tivesse morrido, não haveria dúvida de
que a culpa seria atribuida ao seu nascimento e de seu irmão que, segundo a previsão do
advinho, traria desgraça a sua família.
Foi então que Metolonfi disse ao pai dos gemeos: “Tu es defendido por duas pessoas.
Tu chamaras sempre pelo seu nome, em sua proteção, este nome é Ibeje.”
O consulente que corre o risco de sofrer uma traição, descobrirá tudo em tempo e se
livrará do mal que lhe estiverem tramando.
(*) Prato tipico do Benin.
Ebó: Dois pombos brancos, um pedaço de fita vermelha, um pedaço de fita azul, ori da
costa. Enfeita-se os pombos com laços de fitas no pescoço (um com cada cor), durante oito
dias a pessoa que vai fazer o ebó, deve cuidar dos pombos com todo carinho, dando-lhes
água e alimentação e passando-os no corpo uma vez por dia. No oitavo dia, os pombos
deverão ser levados a uma mata e ali, depois de serem passados pela ultima vez no corpo da
pessoa, devem ser soltos com vida e levando suas fitas ao pescoço, devendo ter seus pés e
bicos, untados com a banha de ori. Depois de obtido o resultado desejado, oferece-se um
caruru aos Ibeje.
69
JOGO DE BÚZIOS
UM BREVE ENSAIO AO SISTEMA ORACULAR – MERINDILOGUN
(3) Naquele tempo, a Terra havia sido criada e sua extensão ainda era muito pequena,
estando a maioria do globo, coberta pelas águas do oceano.
Olofin ordenou que os orishas, viessem habitar sobre a pequena faixa de terra firme
então existente, pra ali estabelecerem o ambiente nescessário, para o surgimento da vida
humana.
Todos foram consultar Orunmilá e na consulta, surgiu a figura de Ejiogbe (Ejionile),
sendo determinado um sacrificio, que todos os Orishas deveriam oferecer, para que suas
missões fossem coroadas de sucesso.
Como o ebó determinado fosse muito despendioso, todos, com excessão de Orishala,
negligenciaram-se a fazê-lo e assim, rumaram para a terra recem criada.
Como Orishala oferecera o seu sacrificio, foi o primeiro a chegar, já que Eshú lhe
indicara o caminho mais curto e sem qualquer obstáculo. Aos outros, Eshú criou todos os
tipos de dificuldades e desta forma, ao chegarem a terra, encontraram Orishala já
estabelecido.
Durante o tempo em que Orishala permaneceu sozinho sobre a terra, teve que fazer,
com suas próprias mãos, todo tipo de serviço pesado, como cortar e carregar lenha para a
construção de seu palácio, o que lhe provocou uma deformação nas costas, passando, a
partir de então, a caminhar apoiado num cajado.
Um a um, os Orishas foram chegando e todas as terras já estava cercadas e
plantadas, sendo Orishala seu legítimo dono.
Sem ter onde ficar e estabelecer seus reinos, reuniram-se em assembléia, para
deliberarem de que maneira iria proceder, para que pudessem cumprir suas missões e a esta
reunião, orishala também compareceu.
“Que desejam, agora que realizei todo o trabalho pesado? ”Perguntou o poderoso
Funfun. “Só lhes resta habitarem as profundezas de Okun (*), já que ao chegarem,
encontraram toda a terra trabalhada por mim!”
Diante da posição do Orishala, os demais Orishas prostraram-se diante dele e com os
rostos encostados no solo, suplicaram que lhes desse um pedaço de terra firme, para que
pudessem realizar seus trabalhos e que ficasse ele mesmo com os mares e toda a riqueza
neles contidas.
Orishalá então, nomeou Olokun, seu filho mais velho, para reinar sobre os Oceanos,
enquanto ele reinava sobre todo o planeta, concordando em distribuir, entre todos os Orishas,
um setor da natureza, para que ali pudesse estabelecer os seus reinados, sempre prestando
obediências a ele, coroado e aclamado por todos, como o rei dos reis.
A partir de então, por ter feito o ebó determinado, Orishalá passou a ser o mais
importante dentre todos os Orishas, seus reinos se expandiram, na medida em que as águas
do mar iam deixando mais e mais terras habitáveis e os demais Orishas puderam cumprir
suas missões, governando os elementos e as diversas manifestações da natureza.
Este itan se aplica as pessoas que por seus próprios esforços e méritos, pretendem
obter um lugar de destaque na vida.
Ebó: Oito espigas de milho verde bem tenras, mel de abelhas, efun, ori. Descascam-se
as espigas, assam-se ligeiramente num braseiro. Depois de assadas, passa-se ori e rega-se
com mel; arruma-se numa tigela branca. Pulveriza-se com pó de efun, pó de peixe e de preá.
Cobre-se tudo com algodão e deixa-se por oito dias nos pés de Oshalá, mantendo iluminado
com velas ou lamparina de óleo de algodão. No oitavo dia, leva-se à uma mata e despacha-se
sob uma árvore velha e frondosa, forrando o chão com pano branco. O pó de peixe e de preá
devem ser preparados em casa, torrando-se os bichos e reduzindo a pó, num ralador. (é bom
ter-se em casa estes ingredientes guardados em vidros, pois são muito utilizados em
trabalhos de Ifa.).
(4) Naquele tempo, Orunmila não era mais que um jovem, que de excepcional, possuía
apenas uma vontade imensa de saber tudo o que pudesse.
Em suas andanças sobre os países então conhecidos, soube da existência de um
grande palácio, onde havia dezesseis quartos, num dos quais encontrava-se aprisionada uma
belíssima donzela denominada Sabedoria.
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